O USO DOS JOGOS COMO RECURSOS DIDÁTICOS NA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Queila Francelina Puger
Rosivania bergamin Durante
Mayara Priscila Brauna
Andréia Fernanda Gonçalves
Thays Regina Lemes Alves
RESUMO:
Este trabalho surge, no decorrer do nosso curso de licenciatura plena em matemática, da necessidade de compreender a importância que a disciplina de matemática exerce em nossa vida cotidiana e como os jogos são utilizados como recurso didático pedagógico para facilitar a aprendizagem. A matemática surgiu na antiguidade pela necessidade da vida cotidiana, serve como instrumento importantíssimo para o conhecimento do mundo, uma vez que se originou da necessidade de calcular, contar, medir as formas e o espaço. Para alguns professores a matemática é uma área do conhecimento de fundamental importância na vida das pessoas, também é a base para construção do conhecimento e está relacionada com as outras áreas das ciências. A disciplina de matemática enquanto atividade humana tem sua história que deve ser considerada na organização curricular, no planejamento e nas atividades de sala de aula, servindo como um mediador na construção do conhecimento. A expansão dos jogos na área da educação surge no século XV, estimuladas pelo crescimento da rede de ensino infantil e pela discussão sobre as relações entre o jogo e educação, visando a aquisição de conhecimento e assim conquistando um espaço definitivo na educação. Para a efetivação deste trabalho utilizamos a pesquisa bibliográfica que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, tese etc. utiliza – se de dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente registradas.
Palavras-chave: Estudos. Jogos. Matemática.
INTRODUÇÃO
No decorrer do curso de licenciatura plena em matemática observamos o quanto a disciplina de matemática é importante à medida que vamos nos integrando ao que se denomina uma sociedade da informação crescentemente globalizada, é importante que a educação se volte para o desenvolvimento das capacidades de comunicação, de resolver problemas, de tomar decisões, de fazer inferências, de criar, de aperfeiçoar conhecimentos e valores. Em um mundo onde as necessidades sociais, culturais e profissionais ganham novos contornos, todas as áreas requerem alguma competência em matemática, e a possibilidade de compreender conceitos e procedimentos é necessária tanto para tirar conclusões e fazer argumentações como quanto para o cidadão tomar decisões em sua vida pessoal e profissional.
A matemática baseada em princípios da teoria construtivista, possibilita ao professor instigar a criatividade e o interesse de seus alunos, para que o conhecimento torne-se significativo. Ele precisa fazer parte da construção do seu próprio conhecimento, manipulando os objetos de estudos e construindo suas relações concretas, de modos que estas lhe permitam abstrair os conceitos. Com estas afirmações é que acreditamos que o jogo como recurso didático pedagógico passa a assumir uma perspectiva de desenvolvimento das habilidades de resolver problemas, tornando o ensino de matemática mais lúdico, agradável, se constituindo como um recurso motivador para a criança pensar e desenvolver com criatividade suas atividades em sala de aula.
Este trabalho está dividido em dois momentos: no primeiro, abordamos sobre a evolução da matemática como área de conhecimento e a matemática enquanto disciplina.
No segundo momento trazemos para discussão teóricos que nos mostram os jogos como recurso didático para contribuir com a melhoria e qualidade do ensino de matemática. Brevemente falamos sobre a pesquisa bibliográfica e terminamos nosso trabalho com as considerações finais, possibilitando a quem ler, uma análise acerca das teorias referente aos jogos como recurso didático pedagógico.
A MATEMÁTICA
No decorrer do nosso curso de graduação observamos o quanto a disciplina de matemática é importante e é uma área de conhecimento muito ampla. Saber matemática é de extrema necessidade no mundo, caracterizado pela complexidade e exigência que a vida nos apresenta a cada instante. Esta disciplina exige a formação de pessoas que dominem as informações corretamente e resolvam problemas de forma simples e que principalmente assimilem situações, como as demais ciências.
Para Dante (2000) a matemática é uma das mais importantes ferramentas da sociedade moderna. Apropriar-se dos conceitos e procedimentos matemáticos básicos, contribui para a formação do futuro cidadão que engajará no mundo do trabalho, das relações sociais, culturais e políticas.
A matemática pode ser considerada como” um componente importante na construção da cidadania, na medida em que a sociedade se utiliza, cada vez mais de conhecimento científicos e recursos tecnológicos dos quais os cidadãos devem se apropriar. (PCN’s, 2000, p.19).
Deste modo, observamos que, todos nós realizamos e resolvemos atividades matemáticas principalmente quando somamos, multiplicamos e dividimos.
Faz parte da vida de todas as pessoas nas experiências mais simples como contar, comparar e operar sobre quantidades. Nos cálculos relativos, salários, pagamentos e consumo, na organização de atividades como agricultura e pesca, a matemática se apresenta como um conhecimento de muita aplicabilidade, também, é um instrumental importante para diferentes áreas do conhecimento, por ser utilizado em estudos tanto ligados as ciências da natureza como as ciências sociais e por estar presente na composição musical, na coreografia, na arte e nos esportes. (PCN’s,2000, p.29).
De acordo, com a citação acima, se faz necessário compreender a matemática como uma disciplina muito importante pela sua utilidade no dia a dia, para o nosso futuro como profissionais e como um conhecimento que está permanentemente em construção auxiliando o conhecimento humano. Sua história deve ser considerada didaticamente como uma atividade humana, que deve estar presente na organização curricular e no planejamento das atividades na sala de aula.
De acordo com a “Escola Ciclada, a matemática é:
Uma atividade criadora do homem que surgiu ao analisar quantitativamente fenômenos naturais e sociais e para resolver situações problemas impostas pelo dia a dia. A matemática como todo conhecimento, é resultado de um longo processo acumulativo de geração, de organização intelectual, de organização social e de difusão. Esse procedimento nos faz considerar a matemática um conhecimento dinâmico e em permanente construção. (MATO GROSSO, 2000, p.155).
Neste sentido devemos levar em conta a importância da matemática como um elemento mediador na construção do conhecimento.
Elves (2004), considera a matemática antiga, como aquela resultante dos primeiros esforços dos homens para explicar conceitos de grandeza, forma e número, focalizando de início o surgimento no homem primitivo do conceito de número e do processo de contar. Para Elves (2004), o conceito de número e o processo de contar desenvolveram-se.
Antes dos primeiros registros históricos (há evidências arqueológicas de que o homem já há uns 50.000, era capaz de contar) a maneira como ocorreram é largamente conjectural. Não é difícil, porém, imaginar como isso provavelmente se deu. É razoável admitir que a espécie humana, mesmo nas épocas mais primitivas, tinha algum senso numérico, pelo menos ao ponto de reconhecer mais e menos quando se acrescentavam ou retiravam alguns objetos de uma coleção pequena. (p.25).
Com base nesta citação, podemos inferir que a maneira de contar naquela época baseava-se em algum tipo de registro simples. Para fazer a contagem de carneiros, podia-se contar dobrando um dedo para cada animal ou fazendo ranhuras no barro ou em pedras, com aprimoramento da escrita, foram surgindo arranjos de símbolos para representação de números.
A MATEMÁTICA COMO DISCIPLINA
Como todo o conhecimento, a matemática é resultado de um vasto processo de organização social e de difusão. Então se pode considerar como um conhecimento dinâmico em constante construção.
A disciplina de matemática enquanto atividade humana tem sua história que deve ser considerada na organização curricular, no planejamento e nas atividades de sala de aula, servindo como um mediador na construção do conhecimento. A matemática é uma ciência viva, seja no dia a dia, nas universidades, nos centros de pesquisas, onde há uma grande produção de novos conhecimentos.
Segundo o PCN de matemática (2000), na década de 60/70, o ensino de matemática, foi influenciado por um movimento que ficou conhecido como matemática moderna. Que foi um movimento educacional inscrito numa política de modernização econômica e foi posta na linha de frente por considerar que juntamente com a área de ciências naturais, ela se constituía via de acesso privilegiada para o pensamento científico e tecnológico. Desse modo a matemática a ser ensinada era aquela concebida como lógica, compreendida a partir das estruturas, conferia um papel fundamental à linguagem matemática. Professores dessa época insistiam na necessidade de uma reforma pedagógica, incluindo a pesquisa de materiais novos e métodos de ensino renovado, iniciam então, o desencadeamento da preocupação com a didática da matemática.
Ao aproximar a Matemática escolar da Matemática pura, centrando o ensino nas estruturas e fazendo uso de uma linguagem unificadora, a reforma deixou de considerar um ponto básico que viria se tornar seu maior problema: o que se propunha estava fora do alcance dos alunos, em especial daqueles das séries iniciais do ensino fundamental. (PCN Matemática, 2000 p.21).
O ensino da matemática passou a ter excessiva preocupação com abstrações, mais voltadas à teoria do que a prática. Nessa época o ensino teve ênfase na aprendizagem de símbolos e de uma terminologia interminável que comprometia o ensino do cálculo, da geometria e das medidas.
O movimento Matemática Moderna teve seu declínio quando foi constatada a inadequação de alguns dos seus princípios e das distorções ocorridas na sua implantação.
Em 1980, o National Council of Teachers of Mathematics – NCTM -, dos estados Unidos, apresentou recomendações para o ensino de Matemática no documento “Agenda para Ação”. Nele destacava-se a resolução de problemas como foco do ensino da Matemática nos anos 80. Também a compreensão da relevância de aspectos sociais, antropológicos, linguísticos, na aprendizagem da Matemática, imprimiu novos rumos às discussões curriculares. (PCN Matemática, 2000 p.22).
Outra distorção perceptível refere-se a uma interpretação equivocada da ideia de cotidiano, ou seja, trabalha-se apenas com o que se supõe fazer parte do dia a dia do aluno. Desse modo, muitos conteúdos importantes são descartados, porque se julga, sem análise adequada, que não são de interesse para os alunos, ou porque não fazem parte de sua realidade, ou seja, não há uma aplicação prática imediata. Essa postura leva ao empobrecimento do trabalho, produzindo efeito contrário ao de enriquecer o processo de ensino aprendizagem.
Entendemos que há problemas antigos e novos a serem enfrentado e solucionados, tarefa que requer operacionalização efetiva das intenções anunciadas nas diretrizes curriculares dos anos 80 e início de 90, e a inclusão de novos elementos à pauta de discussões.
Com todas essas discussões e constatações a respeito da Matemática compreendemos que o aluno deverá vê-la como um conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do raciocínio, da capacidade expressiva, de sua sensibilidade estética e de imaginação, no entanto, o ensino de matemática costuma provocar duas sensações contraditórias, tanto por parte de quem ensina como por parte de quem aprende de um lado, a constatação de que se trata de uma área de conhecimento importante, de outro, a insatisfação diante dos resultados negativos obtidos com muita frequência em relação à sua aprendizagem.
A importância da matemática é constatada diante do papel que esta disciplina desempenha, pois permite resolver os problemas da vida cotidiana é também muito importante, porque prepara a criança para raciocinar com rapidez, porque se deve saber utilizá-la em todos os momentos da vida diária. A matemática também é uma disciplina instrumental como a leitura que ajuda a compreender as demais matérias.
A insatisfação revela que são vários os problemas que precisam ser enfrentados e devemos reverter o ensino descontextualizado, desprovido de significados onde as oportunidades de interação com atividades relevantes e propositivas possam colaborar para emergir novos modos de perceber suas ações no mundo.
Observamos que, o ensino de matemática, se apresenta como uma das áreas mais caóticas em termos da compreensão, pelos alunos, dos conceitos matemáticos nela envolvidas. O elemento jogo se apresenta como forma específica e possui características próprias para possibilitar a compreensão desses conceitos, para muitas das estruturas matemáticas existentes e de difícil assimilação.
É importante que a matemática desempenhe seu papel na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento, na utilização do raciocínio dedutivo do aluno, na sua aplicação a situações da vida cotidiana e atividades do trabalho. Grando (1995).
Autores que trabalham o jogo procuram fundamentar-se em teorias e estudos para elaborar seu ponto de vista no que se refere a palavra jogo, em consonância com seus objetivos específicos. De acordo com Elkonin (1985), o ato de brincar e suas representações, são um fenômeno bastante complexo, cultural e que depende de épocas históricas, condições sócio-histórico e geográficas.
Kishimoto (1994) nos apresenta que a diversificação dos jogos ocorre a partir do movimento científico do século XVIII, popularização dos jogos no ensino.
A matemática segundo o autor é:
Ciência que trata das medidas, propriedades e relações de quantidades e grandezas e que inclui a aritmética, a álgebra, a geometria, a trigonometria entre outros. (2000, p.35).
Para o autor D’Ambrosio: (1994), a verdadeira educação é uma ação enriquecedora para todos os que com ela se envolvem, e sugere que em vez de despejarmos conteúdos desvinculados da realidade nas cabeças dos alunos, devemos aprender com eles, reconhecer seus saberes, e juntos buscarmos novos conhecimentos.
É necessário que as crianças convivam em um ambiente rico de materiais oportunidades, para contribuir e elaboraram seus conhecimentos.
A matemática transforma-se na ciência que estuda as possíveis relações e interdependências quantitativas entre grandezas comportando um vasto campo de teorias, modelos e procedimentos de análise, metodologias próprias de pesquisa, formas de coletar e interpretar dados. Um currículo de matemática deve procurar contribuir para a valorização da pluralidade sociocultural.
CONTEXTUALIZANDO O JOGO
Neste capítulo abordaremos vários conceitos sobre jogos, com o objetivo de entender como essas atividades podem contribuir com a aprendizagem das crianças e facilitar o entendimento dos conceitos matemáticos.
Ao longo da história o ser humano construiu seus conceitos matemáticos por meio da utilização de objetos concretos (pedras, sementes, pedaços de madeira, etc.) para contar seus pertences, limitar seu território e construir objetos de utilização pessoal. Os conceitos matemáticos foram sendo construídos gradativamente até chegarmos ao presente avanço tecnológico.
O mesmo que aconteceu com o homem no decorrer da história acontece com a criança no decorrer de sua infância até atingir uma fase posterior, onde não necessitará tanto de materiais concretos para construir seu raciocínio matemático, pois já será capaz de abstrair conceitos por meio da interação social, produzindo sucessivas transformações em suas estruturas cognitivas.
A criança tem de explorar o mundo que a cerca e tirar dele as informações que lhe são necessárias. Nesse processo o professor deve agir como interventor e proporcionar-lhe o maior número possível de atividades, materiais e oportunidades de situações para que suas experiências sejam enriquecedoras, contribuindo para a construção de seu conhecimento. Sua interação com o meio se faz por intermédio de brincadeiras e da manipulação de diferentes materiais, utilizando os próprios sentidos na descoberta gradual do mundo.
Como diz Commenius (Mello, 1989), “só se aprende a fazer fazendo” e a criança só conseguirá aprender fazendo e não apenas armazenando informações ou preenchendo folhas de exercícios como modo de apresentar as atividades realizadas ao professor.
Entendendo que ao manipular objetos ou realizar atividades através de jogos a criança aprende com maior facilidade é que nos incentiva a pesquisar sobre os jogos como estratégias para o ensino de matemática.
A expansão dos jogos na área da educação surge no século XV, estimuladas pelo crescimento da rede de ensino infantil e pela discussão sobre as relações entre o jogo e educação, visando a aquisição de conhecimento e assim conquistando um espaço definitivo na educação.
No dicionário Magno (1999) encontramos a seguinte definição referente ao jogo.
Jogo: Divertimento; brinquedo; entretenimento que se faz para alegrar o espírito, passa tempo com determinadas regras a serem obedecidas, no qual toma parte grande número de pessoas, procurando conquistar um prêmio; recreação infantil na qual se procura proporcionar a criança exercício físico e muitas vezes intelectual.
Para Kishimoto, o jogo pode ser uma recreação infantil que visa proporcionar a criança um exercício físico e muitas vezes intelectual. Podemos notar que o jogo pode ser uma atividade com o objetivo de ensinar algo a alguém.
Segundo Freire (2001, 2002), o jogo existe por meio de suas manifestações. “O ato de jogar revela o jogo”, ou seja, não são considerados jogos as atividades ou situações específicas, apenas por comum ou culturalmente, serem chamadas de jogo.
A palavra jogo é aplicada de maneira irrestrita com considerável amplitude de sentidos, isso pode ser comprovado por Kishimoto ao tentar definir o que é jogo, brinquedo e brincadeira.
Existem termos que por serem empregados com significados diferentes, acabam se tornando imprecisos, como o jogo, o brinquedo e a brincadeira. A variedade de jogos conhecidos como o faz de conta, simbólicos, motores, intelectuais ou cognitivos, de exterior, de interior, individuais ou coletivos, metafóricos, verbais, de palavras, políticos, de adultos, de animais, de salão, e inúmeros outros, mostra a multiplicidade de fenômenos incluídos na categoria jogo. (1998 p. 1).
A autora continua dizendo que essa dificuldade cresce na medida em que passa a analisar as outras diversas situações que recebem a mesma denominação jogo. “Denomina-se jogo, situações como disputar uma partida de xadrez, um gato que empurra uma bola de lã, um tabuleiro com peões e uma criança que brinca com bonecas” segundo a mesma autora, ela completa salientando que a complexidade aumenta ainda mais quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou não jogo.
É necessário compreender o que outros autores dizem a respeito da caracterização do jogo, mesmo porque foram muitos os que se debruçaram ao estudo deste tema, e assim podemos construir todo processo que nos levou a pesquisar este assunto.
Sendo assim, ao abordar o tema jogo, uma das referencias obrigatórias é a obra Homo Ludens, de Johan Huizinga, que ao longo de sua densa obra apresenta três conceitos de jogo. Logicamente não divergentes, mas em seu discurso, é possível entender algumas características do jogo. Com base em suas três definições, pode-se didaticamente estudar o conceito de jogo proposto pelo autor:
O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. (Huizinga, 1996, p. 33).
[...] é uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais, segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas, e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material. O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo, e torna-se sagrado ou festivo de acordo com as circunstâncias. A ação é acompanhada por um sentimento de exaltação e tensão, e seguida por um estado de alegria e distensão. (Idem, p. 147)
[...] aplicamos a ciência a nossa definição de jogo como atividade desenvolvida dentro de certos limites de espaço, tempo e significado, segundo um sistema de regras fixas [...] limitado no tempo, não tem contato com qualquer realidade exterior a si mesmo e contém o seu fim em sua própria realização. Caracteriza-se, além disso, pela consciência de se tratar de uma atividade agradável, que proporciona um relaxamento das tensões da vida cotidiana. (Idem, p. 225-226).
O autor explicita a característica de ocupação voluntaria presente pelo jogo, em decorrência dessa característica o jogador pode suspender o jogo a qualquer momento, ficando livre de imposições externas, sendo a obrigatoriedade advinda de estímulos internos. Logo o jogo não comporta coação externa. Outra característica ressalta os limites em meio aos quais o jogo se concretiza. Se o jogador extrapolar a emoção, deixa de jogar, o mesmo acontece se encara o jogo com desprezo.
Ressaltamos que todo jogo é organizado com base em regras que possibilitam o aparecimento da ordem em meio a desordem harmônica. Destacamos também que apesar da obrigatoriedade, todas as regras são previamente aceitas pelos jogadores. Dessa forma todos que iniciam o jogo sabem das suas regras e das consequências decorrentes do resultado final.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática do Ensino Fundamental, encontramos a seguinte definição para o jogo:
Além de ser um objeto sociocultural em que a matemática está presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos, supões um “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande exigências, normas e controle. [...] mediante a articulação entre o conhecimento e o imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento – até onde pode chegar – e o conhecimento dos outros – o que se pode esperar e em que circunstâncias. PCNs (2000, p.47)
Na visão de Huizinga, o jogo é um fenômeno cultural carregado de valores éticos, transformando-se em legado ao ser passado de geração em geração. O jogo é ambientado, em virtude de sua subjetividade interna predominante, a qual influencia e é influenciada pela objetividade externa, criando assim um ambiente próprio, específico de jogo.
O JOGO COMO RECURSO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA
Segundo a explicação de Kishimoto o jogo só pode ser jogo quando a escolha é livre e espontânea pela criança, porque do contrário tornara trabalho. O jogo utilizado em sala de aula dá prioridade ao produto, à aprendizagem de noções e habilidades.
Na área da educação, teóricas como Chateau (1979), Abain (1986) falam da importância do jogo infantil como recurso para educar e desenvolver as habilidades da criança, desde que respeitadas as características da atividade lúdica.
Os PCNs de matemática orientam os professores como o jogo pode ser analisado, utilizado como recurso didático. Os professores para utilizarem o jogo como recurso didático em sala de aula precisam ter objetivos bem definidos ao que se pretendem alcançar com este recurso didático e saber qual o benefício que trará a seu aluno.
Mediante o pensar de Kishimoto (2003) sobre o papel importante do professor na utilização do jogo em sala de aula:
O professor vivencia a unicidade do significado do jogo e do material pedagógico, na elaboração da atividade de ensino, ao considerar, nos planos afetivos e cognitivos, os objetivos a capacidade do aluno, os elementos culturais e os instrumentos (materiais e psicológicos) capazes de colocar o pensamento da criança em ação (P.84)
É preciso, entretanto que o professor planeje bem as suas aulas, para a utilização do jogo como recurso didático e reflita se este recurso de fato estimulará a aprendizagem de seus alunos.
Esta mesma autora reafirma que:
O jogo na educação matemática parece justificar-se ao introduzir uma linguagem matemática que pouco a pouco será incorporado aos conceitos matemáticos formais, ao desenvolver a possibilidade de lidar com informações e ao criar significados culturais para os conceitos matemáticos e estudo de novos conteúdos. (p.85).
Com a afirmação desta autora percebemos que os jogos são instrumentos que contribuem com aquisição dos novos conceitos matemáticos e a possibilidade de visualizá-los na aplicação do dia a dia das crianças. O jogo também ajuda o aluno ver uma matemática diferente da tradicional, o professor através de atividades com jogos ensina o aluno a resolver problemas do seu cotidiano.
O jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para gastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral. É uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos, supõe um fazer sem obrigações externas e impostas, além disso, passam a compreender e a utilizar convenções e regras que serão empregadas no processo de ensino aprendizagem. Para Piaget, apud Kishimoto (1967), “[...]´ o jogo é a construção do conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório. [...]” segundo este mesmo autor, agindo sobre os objetivos as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e o seu tempo, desenvolvendo a noção de causalidade e finalmente chegando a lógica. Os jogos com regras têm um aspecto importante, pois neles o fazer e o compreender constituem faces de uma mesma moeda.
Como disse Compaegne, 1989:112. Apud Kishimoto, 1992:28. [...]:
O jogo com sua função lúdica de propiciar diversão, prazer e mesmo desprazer ao ser escolhido de forma voluntária e o jogo com a sua função educativa, aquele que ensina, completando o saber, o conhecimento e descoberta do mundo pela criança [...].
Um aspecto importante nos jogos é o desafio porque eles provocam no aluno, o interesse e o prazer. É importante que os jogos façam parte da cultura, cabe ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver.
Chateau (1987, p.96) entende que o jogo tem fins naturais quando a ação livre permite a expressão do eu. Entretanto, o jogo é um instrumento de adulto para formar a criança. De acordo com este mesmo autor, o papel pedagógico do jogo só pode ser entendido dentro do domínio do jogo enquanto meio, enquanto um fim artificial.
Ele provavelmente faz referenciais aos fins naturais, considerando aspectos biológicos do ser humano, entretanto não podemos esquecer os fatores sociais.
O jogo empregado na escola, desde que tenha o ato lúdico, apresentando o caráter educativo pode receber a denominação de jogo educativo. Sendo assim em qualquer tipo de jogo, a criança sempre se educa.
Dentre os jogos utilizados pela educação e que aparecem com frequência na educação infantil estão os de regras, os de construção, os tradicionais e os faz-de-conta.
Segundo os PCNs de matemática do Ensino Fundamental (2000):
Por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações que se repetem, mas aprendem a lidar com os símbolos, a pensar por analogias (jogos simbólicos). Os significados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagem, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem a regras e dar explicações.
O jogo propicia ao aluno, a compreender e a utilizar convenções e regras, como nos mostram os PCNs de matemática, onde o aluno precisa aprender a lidar com perdas e ganho. E aprender a não desistir até atingir o seu objetivo.
O JOGO COMO INSTRUMENTO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
O papel do professor é desenvolver uma visão de educador, de estimulador que construa, em todos os momentos da ação pedagógica, diretrizes que ampliem os conhecimentos para além dos muros escolares, sem perder de vista os conteúdos, vendo o sujeito histórico, inserido no mundo, para o seu crescimento.
Relevante o pensar de Moura, quando nos apresenta que:
O jogo possibilita a aproximação do sujeito ao conteúdo científico, através da linguagem, informações, significados culturais, compreensão de regras, imitação, bem como pela ludicidade inerente ao próprio jogo, assegura-se assim a construção de conhecimentos mais elaborados, e ainda analisa que nos jogos de regras, há respeito, reciprocidade, confiança, admiração, aprendizagem, melhor relação do professor/aluno, ou mais amplamente, entre seres humanos. (Moura 1994).
A utilização de jogos em ambiente educativo, além dos aspectos cognitivos relevantes para a sua aplicação, não deve ignorar ou menosprezar o aspecto afetivo, desencadeado pela sua ação, na aproximação dos jogadores. Essa ocorrência é verificada pelos ensinamentos de Piaget (1966-1974) apud Brenelli (1993) como “... em toda conduta humana o aspecto cognitivo é inseparável do aspecto afetivo, compreendido como a energia da ação que permeia a motivação, o interesse e o desejo.”
Segundo Kamii & Devries:
As escolas passam por modificações no sentido de possibilitar formas diferentes de aprendizagem. Essas novas formas são apresentadas de modo que o professor seja um facilitador, nas quais permiti-se o aparecimento de novas metodologias, pelas quais o aluno possa também construir o conhecimento no processo interativo. (1991).
Essa afirmativa é também comungada por Jesus & Fini (2001), quando afirmam que a educação é um fenômeno complexo e deve ser considerada que uma ampla forma de fatores pode colaborar no processo aprendizagem. Os mesmos autores salientam que a experiência docente e a análise da literatura evidenciam que o uso de jogos na escola, pode ser um recurso interessante no sentido de tornar atraentes as atividades escolares, bem como testemunha o raciocínio dos alunos.
De acordo com a teoria de Ausubel, Novak & Hanesian (1980):
A assimilação de conceitos ocorre tanto em crianças em idade escolar como em adolescentes e adultos. Quando o indivíduo incorpora em sua estrutura cognitiva, novos conceitos, através de processo de assimilação, aprendem novos significados, esses vão se modificar em contato com os atributos essenciais já existentes. Os sujeitos relacionam os atributos desse novo conceito às ideias relevantes que já estão estabelecidas na estrutura cognitiva.
Isso reforça a importância da utilização do jogo às instituições de educação, como instrumento facilitador da aprendizagem, uma vez que o mesmo é um fenômeno cultural com múltiplas manifestações e significados que variam conforme a época, a cultura e o contexto, pois o que caracteriza uma situação de jogo é a iniciativa do indivíduo, sua intenção e curiosidade.
Quando o jogo é trabalhado desde as idades iniciais, as crianças, em geral, possuem uma forte e notável tendência de envolver essas atividades em grupo, pois estes constituem atividade humana espontânea e satisfatória (Kamii & Devries, 1991). O mesmo apresentado por Riccetti (2001) e Macedo (1993) que enfatizam por meio dessa estrutura, a criança pode construir e assim descobrir e conhecer o outro, assegurando que o jogo tem uma importância sem igual com relação a socialização da criança, uma vez que esta é realizada por meio de regras que representam o limite que regula as relações presentes entre as pessoas além de envolver o lazer.
O jogo pode ser usado, nas escolas tradicionais, modernas e ambientes universitários, como veículos propícios para o educador trabalhar de forma conjunta, a formação de hábitos e atitudes positivas com relação à assimilação de conteúdo das mais diversas disciplinas. Além disso, o jogo impõe o desenvolvimento da capacidade de atuar, criar e obedecer às regras. Como o jogo implica em ação, ao participar de um, o indivíduo passa por uma etapa de envolvimento, adaptação e reconhecimento bem como do desenvolvimento da noção de trabalho cooperativo tão importante para a ação educativa na escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconhecemos a importância que a matemática tem na vida escolar como também fora dela. Ensiná-la requer uma construção dos conceitos que remete ao professor, obrigatoriamente, a leitura histórica para a explicação do presente. Não podemos mais admitir um ensino de matemática, como afirma D’Ambrósio (1996) que o maior problema do ensino da matemática é o fato de a mesma ser apresentada de forma desinteressante, obsoleta e inútil. Faz-se necessário rever nossas concepções e não persistir no tradicional, pois isso demonstra conformismo e acomodação. Devemos também incorporar os jogos, as novas tecnologias no processo educacional, para que tenhamos alternativas didáticas pedagógicas, e que professor e aluno possam extrair todo o aproveitamento que lhes é oferecido.
Consideramos e acreditamos nos teóricos que contribuíram para o embasamento deste trabalho, nos apresentando que a aprendizagem da matemática deve abordar a educação do ser humano em função da realidade em que o aluno está inserido e das perspectivas futuras, relacionadas ao contexto e ao uso da matemática. Porque só assim ela terá alguma razão de ser para o aluno, porque eles merecem um ensino crítico e participativo. Concordamos ainda, que o ensino só se realizará no momento em que o aluno for capaz de transformar o que lhe é ensinado, e assim, aplicar em outras situações, para que este não seja um aluno meramente adestrado, repetindo processos e resoluções criadas por outros.
Por meio das leituras compreendemos a importância dos jogos como recurso didático pedagógico, porque desafiam o aluno a buscar novas estratégias gerando interesse e prazer. Recomendamos o uso dos diferentes tipos de jogos como importante auxiliar na cultura escolar, cabendo ao professor analisar as potencialidades educativas de cada um para contribuir no desenvolvimento das atividades em sala de aula.
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