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O LETRAMENTO COMO PRÁTICA INDISPENSÁVEL À FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO

Luzinete da Silva Mussi

 

RESUMO

Observa-se, atualmente, que parte significativa dos brasileiros adultos, mesmo sendo capazes de ler e escrever são incapazes de entender o que leem e ainda mais incapacitados a escreverem textos mesmo que pequenos. Tal fato se deve à deficiência do processo de letramento em sua formação, ou mesmo à ausência de tal processo. É notório ainda que, mesmo atualmente, parte de nossas crianças estão sendo alfabetizadas sem que se leve em consideração o processo de letramento. Tal problema mostra-se preocupante, já que não basta ensinar a ler e escrever e não capacitar os indivíduos para utilizarem tais habilidades em suas interações sociais. Frente a este preocupante cenário, esta pesquisa elege como foco o estudo da importância de se alfabetizar letrando como a base do processo de escolarização e formação de indivíduos plenamente aptos a interagir de forma consciente em sociedade. Para tanto, foi utilizada a metodologia de revisão bibliográfica à luz dos trabalhos de: CARVALHO (2011), COELHO e PISONI (2012), ESTEVES (2012), GONTIJO (2018), MUSSI (2021), ROCHA (2020), entre outros autores. Por fim, destacou-se a importância da alfabetização acompanhada do letramento na formação dos indivíduos, bem como o papel fundamental da escola nesse processo e a grande responsabilidade do professor para o sucesso de seus alunos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização. Formação do cidadão. Letramento. Práticas Pedagógicas.

 

INTRODUÇÃO

 

Ainda hoje, pode-se perceber que parte significativa dos brasileiros adultos considerados alfabetização mostram-se incapazes de entender o que leem e ainda mais incapacitados de escreverem textos mesmo que pequenos. Isto se deve à deficiência, ou ausência, do processo de letramento em sua formação. Deste modo, estas pessoas são incapazes de interagir de forma plena na sociedade, já que tudo o que se relaciona à comunicação escrita se mostra a elas como uma barreira difícil de ser transposta.

Entretanto, percebe-se que a deficiência do processo de letramento na formação escolar não é algo que tenha sido superada por nosso sistema de ensino. Ainda atualmente, parte de nossas crianças estão sendo alfabetizadas sem que se leve em consideração o processo de letramento.

Esse problema mostra-se muito preocupante, tendo em vista que não basta ensinar um indivíduo a ler e escrever, é preciso capacitá-lo a utilizar tais habilidades em sua vida cotidiana, em suas interações sociais.

Frente a este preocupante cenário, a presente pesquisa elege como foco o estudo da importância de se alfabetizar letrando como a base do processo de escolarização e formação de indivíduos plenamente aptos a interagir de forma consciente em sociedade.

Assim, evidencia-se primeiramente a grande importância de se trabalhar o processo de alfabetização acompanhado de um letramento eficaz e pautado na prática e na função social da leitura e da escrita.

Percebe-se, portanto, a alfabetização e o letramento como dois processos inseparáveis na formação do indivíduo, compondo a base da formação escolar, já que a leitura e a interpretação do que se lê mostram-se fundamentais para todo o processo de ensino/aprendizagem.

Assim, alfabetizar letrando é conferir autonomia e capacidade crítica para o indivíduo, dando-lhe condições para interagir de forma ativa e consciente frente à sociedade.

Chama-se, portanto, a atenção dos profissionais atuantes na educação e, sobretudo dos professores, para a necessidade de dar ao processo de letramento a mesma importância e atenção que é dada à alfabetização levando a criança a aprender desde a Educação Infantil que o ato de ler vai muito além da decodificação do código linguístico e perceber que a leitura é libertadora à medida em que se é capaz de entender a mensagem transmitida, confrontá-la com o conhecimento já acumulado e tirar desse processo um novo conhecimento ou ponto de vista.

Visando cumprir com o objetivo proposto por este trabalho, elegeu-se a metodologia de revisão bibliográfica, à luz dos trabalhos de CARVALHO (2011), COELHO e PISONI (2012), ESTEVES (2012), GONTIJO (2018), MUSSI (2021), ROCHA (2020), entre outros autores.

Em primeiro lugar busca-se um entendimento acerca da importância de se trabalhar o letramento juntamente com a alfabetização, bem como a relevância destes dois processos para a formação do indivíduo. Ressaltam-se ainda algumas implicações geradas na vida adulta da pessoa em virtude de um letramento deficiente, fatores que prejudicam não apenas o indivíduo, mas acabam por afetar a sociedade de uma forma geral.

Em seguida são trabalhados os conceitos de alfabetização e letramento, bem como a importância da escola neste processo e a necessidade de que esta visão atualizada de se alfabetizar letrando seja mais amplamente difundida e trabalhada em nosso sistema de ensino.

Por fim, entende-se a grande importância do professor frente ao processo de alfabetização e letramento, sendo ele o profissional que estará em contanto direto com o aluno na maior parte do tempo em que passa na escola, além de ser a pessoa que elabora e executa as práticas pedagógica visando conduzir e acompanhar o estudante em sua jornada de aprendizado. Cabe, portanto, ao professor a parte mais importante desse processo e a responsabilidade de valorizar e trabalhar o letramento de forma análoga à alfabetização.

 

DESENVOLVIMENTO

 

Ao se analisar a alfabetização e o letramento, percebem-se dois processos distintos, mas claramente indissociáveis, já que o fato de um indivíduo ser capaz de conhecer as letras escritas e transformá-las em palavras, não é garantia de que entenderá a mensagem por elas transmitida. Da mesma forma, não adiante este indivíduo ter uma capacidade de entendimento mais acurada e não entender o código escrito. Assim, na prática educativa, estes dois processos devem estar juntos desde os primeiros momentos de forma que indivíduo aprenda a ler e a entender o que leu, conhecendo assim as faces práticas da leitura na vida do ser humano.

Neste sentido, Martins e Spechela (2012) destacam a necessidade de uma educação focada na qualidade desde o início da escolarização da criança. Nesta fase, a qualidade está enfatizada nos processos de alfabetização e letramento de modo que a língua escrita se mostre como forma de comunicação de fato, onde se aprende a ler, entender e tomar consciência das informações contidas no texto, confrontando-as com a bagagem intelectual já adquirida. Entretanto, os autores destacam ainda a necessidade de fortalecer os processos de alfabetizam e letramento no sentido de formar cidadãos capazes de interagir em sociedade de forma ativa e produtiva.

Contudo, observa-se que, em parte significativa dos casos, a escola brasileira tem contribuído para a formação de indivíduos que apresentam grande dificuldade em ler e maiores dificuldades no entendimento do que foi lido, sendo praticamente incapazes de produzir até mesmo pequenos textos. (Idem)

Tais colocações evidenciam a problemática vivenciada hoje em nosso país, onde parte importante da população é incapaz de ler uma pequena informação e compreendê-la, consequentemente, apresentando dificuldades de interação com o mundo ao seu redor.

Corroborando, Mussi (2021, p.1) acrescenta o seguinte:

 

Percebe-se um descaso muito grande com o processo de formação do educando, que deveria ter como prioridade a formação do ser com ênfase no desenvolvimento de habilidades, socialização e descobertas do saber, que proporcione melhor condição de compreensão, maior criticidade, maior autonomia e melhor interação com o mundo. (MUSSI, 2021, p.1)

 

Fica evidenciada a importância da escola no processo de formação do indivíduo como um ser social portador da plena capacidade de interagir, mas tal processo educativo tem como base a alfabetização juntamente com o letramento, como elementos capazes de levar autonomia ao ser humano e ampliar sua capacidade de entendimento e sua consciência.

Assim, Carvalho afirma que:

 

Uma pessoa alfabetizada conhece o código alfabético, domina as relações grafônicas, em outras palavras, sabe que sons as letras representam, é capaz de ler palavras e textos simples, mas não necessariamente é usuário da leitura e da escrita na vida social. (CARVALHO, 2010, p.66)

 

Martins e Spechela (2012) mostram a necessidade de fortalecimento, em nosso país, da cultura de se alfabetizar letrando, para que esse processo de inclusão da criança na língua escrita se dê por completo. Para tanto, destacam a responsabilidade recaída sobre o professor alfabetizador neste processo, sendo que, tal profissional deve ser possuidor de profundos conhecimentos acerca da alfabetização e do letramento, já que se trata da pessoa que colocará em prática tais processos junto a seus alunos.

Deste modo, o docente aparece como um importante mediador do processo de construção de conhecimento e não mais como o profissional que coloca o conhecimento na cabeça do aluno. Trata-se de valer-se de práticas e criar meios capazes de levar não apenas a decorar, mas acima de tudo pensar e interagir, conforme destacado em seguida:

 

Espera-se que o educando consiga nesse espaço/tempo de construção de saberes e desenvolvimento intelectual, psicológico, afetivo e social, se fortalecer no sentido de transformação, sempre com consciência e autonomia na busca de seu melhor e de novas descobertas, que sempre siga em frente se aliando a outros que dividem os mesmos ideais, sempre acreditando que ser possível ou não, depende primeiro de seu pensar, de seu querer, se achar que será possível, aí então, é partir para a ação de concretização do seu pensar. (MUSSI, 2021, p.1)

 

Entende-se, portanto o professor como aquele capaz de orientar e estimular seus alunos no processo de construção do conhecimento, sempre mostrando as possibilidades e, embora trabalhando os pontos fracos, destacando e enfatizando as conquistas de cada estudante.

Gontijo (2018) acrescente que parte dos professores atuantes na Educação Infantil apresenta o receio de trabalhar a alfabetização e o letramento nesta faixa etária. Para eles, tal processo poderia usurpar a ludicidade e o brincar da vida dos alunos em uma idade em que tais processos se mostram de grande importância para o desenvolvimento dos mesmos. Contudo, a autora enfatiza a possibilidade e a importância de se trabalhar a alfabetização e o letramento através de práticas lúdicas, capazes de levar as crianças a aprenderem brincado, sem que seja sentido o peso da responsabilidade de abandonar as brincadeiras e sentar-se em silêncio na carteira para se dedicar ao estudo. Também não é importante alfabetizar a criança na Educação Infantil, mas é de grande valia iniciar esse processo de alfabetização e letramento nesta faixa etária, ao menos apresentando a criança ao mundo da leitura e escrita.

A autora ainda salienta a importância da adequada alfabetização e letramento para a vida do indivíduo frente à sociedade:

 

O sujeito alfabetizado e letrado ele se transforma e transforma quem está ao seu redor também. Aquele que é letrado está sempre fazendo uso da escrita e também da leitura, então se João pratica o ato de ler e escrever, Maria que convive com João, também estará se familiarizando com essa prática. (GONTIJO, 2018, p.5)

 

Reafirma-se, assim, a importância da boa execução dos processos de alfabetização e letramento na formação do cidadão consciente, ativo e transformador do meio em que vive.

O portal Diferença (2019) define a seguir os termos alfabetização e letramento enfatizando as diferenças entre os dois processos:

 

A alfabetização é o processo de aprendizagem onde se desenvolve a habilidade de ler e escrever, já o letramento desenvolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais. Então, uma das principais diferenças está na qualidade do domínio sobre a leitura e a escrita. Enquanto o sujeito alfabetizado sabe codificar e decodificar o sistema de escrita, o sujeito letrado vai além, sendo capaz de dominar a língua no seu cotidiano, nos mais distintos contextos. (PORTAL DIFERENÇA, 2019, p.1)

 

Assim, Coelho e Pisoni (2012) acrescentam que para haver o letramento juntamente com a alfabetização é preciso trabalhar de forma a se explorar o mundo e a realidade que nos rodeia, sendo necessário ir além da ação de ensinar a criança a reconhecer os elementos da língua escrita, envolvendo tal conhecimento com o cotidiano e as vivências do aluno. Ficando evidente a importância de, ao receber a criança na escola, trazer para as práticas em sala de aula as questões sociais e culturais já vivenciadas por ela antes de chegar à instituição de ensino. Sendo este o primeiro passo para a constituição de um ambiente escolar propício à formação crítica do indivíduo, conforme enfatizam a seguir:

 

A criança   inicia   seu   aprendizado   muito   antes   de   chegar   à   escola, mas o aprendizado escolar vai introduzir elementos novos no seu desenvolvimento.  A aprendizagem é um processo contínuo e a educação é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de aprendizagem a outro, daí a importância das relações sociais. (COELHO E PISONI, 2012, p. 148)

 

Derruba-se, assim, o antigo paradigma que via o aluno como uma folha em branco pronta para receber conhecimento. Destaca-se, na atualidade, a importância de respeitar-se os conhecimentos e a cultura que o estudante traz consigo do meio doméstico para a escola.

Coelho e Pisoni (2012, p.150) acrescentam ainda que:

 

A escola deve estar atenta ao aluno, valorizar seus conhecimentos prévios, trabalhar a partir deles, estimular as potencialidades dando a possibilidade de este   aluno   superar   suas capacidades e   ir   além   ao   seu   desenvolvimento   e aprendizado.  Para que o professor possa fazer um bom trabalho ele precisa conhecer     seu     aluno, suas     descobertas, hipóteses, crenças, opiniões desenvolvendo diálogo, criando situações onde o aluno possa expor aquilo que sabe.   Assim   os   registros, as   observações   são   fundamentais   tanto   para   o planejamento de objetivos quanto para a avaliação. (COELHO  e PISONI, 2012, p. 150)

 

Nota-se, então, que o processo de alfabetizar letrando envolve também os conhecimentos prévios e a cultura do aluno, onde uma prática pedagógica capaz de valer-se de tais saberes prévios para introduzir os novos conceitos de forma a relacionar o novo com o já conhecido fará grande diferença com relação à superação das dificuldades inerentes ao processo de ensino/aprendizagem, como ainda será capaz de melhorar os resultados obtidos em todos os aspectos.

Corroborando, Martins e Spechela (2012) acrescentam que o estudante, ao ser introduzido no ambiente escolar, já possui, em parte das vezes, um letramento adiantado, tendo em vista as relações que já estabelece com o meio em que vive. Assim, tal bagagem cognitiva deve ser aproveitada pelo docente para que o processo de alfabetização e letramento deste aluno seja de fato libertador, gerando autonomia e criticidade.

Gontijo (2018) corrobora ao afirmar ser de fundamental importância que o professor tome consciência de seu papel no desenvolvimento da criança a qual está alfabetizando e letrando. Destaca-se a necessidade de que tal processo transcorra de forma adequada para que as dificuldades inerentes à aquisição da língua escrita sejam superadas e nosso sistema de ensino seja capaz de reduzir a grande quantidade de analfabetismo funcional presente na sociedade brasileira.

Martins e Spechela (2012) trazem à baila a necessidade da observação das especificidades apresentadas por cada criança quanto ao processo de aprendizagem, conforme destaca-se a seguir:

 

É necessário utilizar um método, porém não se pode definir um como o melhor, ou mesmo único, pois o que pode ser bom para aprendizagem de uma criança pode ser ruim para outra, lembrando que quando se utiliza um método e ele não traz bons resultados, deve-se partir para outro. (MARTINS e SPECHELA, 2012, p.6)

 

Fica evidente, deste modo, a necessidade de o professor conhecer seus alunos e as particularidades de cada um, sempre direcionando suas práticas pedagógicas de modo a facilitar a participação e o entendimento de todos.

Rocha (2020, p.1) corrobora com tal pensamento ao afirmar que:

 

Na prática, percebe-se que boa parte das crianças são alfabetizadas sem grandes dificuldades, porém, outras necessitam em maior ou menor grau de atenção e acompanhamento especial. Deste modo, um trabalho promovido de forma geral pelo professor nem sempre é capaz de alcançar resultados satisfatórios, chegando algumas vezes a levar parte significativa dos alunos ao quadro de fracasso escolar.

 

Gontijo (2018) acrescente a importância de, já na Educação Infantil, disponibilizar às crianças tempo e espaço específico para acesso à leitura e também à escrita. A autora exemplifica com a prática de fazer leituras para as crianças em sala de aula e, após a leitura, requisitar que cada uma desenhe a história que acabou de ouvir. Esse, apesar de simplificado, já é um processo de escrita ao qual os alunos terão acesso mesmo sem terem sido alfabetizados ainda. Assim, as crianças já vão entendendo a função da escrita e despertando o interesse em conhecer as letras para serem capazes de escrever palavras e frases.

A autora acima, acrescenta também que atualmente as crianças, em sua maioria, vivenciam um “mundo letrado” ao valerem-se de jogos eletrônicos, celulares, tablets, computadores e Internet. Nestes meios a criança, mesmo sem ter sido alfabetizada ainda, é capaz de entender o funcionamento dos aparelhos, encontrar seus vídeos de interesse e jogar sem dificuldades. Para a autora, as crianças conseguem aprender tudo isso, porque são coisas que se tornaram comuns na rotina delas, deste modo, aumentando o acesso à leitura e escrita e tornando tais saberes também comuns em suas vidas, elas terão maior facilidade no processo de alfabetização e letramento.

Diogo e Gorette (2021) acrescentam que as práticas pedagógicas organizadas pelo professor alfabetizador devem conter elementos do processo de alfabetização e do de letramento, sem negligenciar nenhum dos dois. Deste modo, o processo de ensino do código da língua escrita será acompanhado de sua utilização prática em sociedade nas diversas vivências dos alunos.

Neste sentido, é evidente que o processo de alfabetizar letrando é significativamente mais trabalhoso para o docente que, muitas vezes, acaba optando por priorizar a alfabetização, de modo que seu aluno consiga logo ler e escrever palavras e pequenas frases, apresentando uma falsa ideia de progresso mais rápido.

Percebe-se que essa falta do adequado letramento se mostra como uma das principais causas que leva grande números de brasileiros considerados alfabetizados à incapacidade de interpretar o que leem.  Neste sentido, Esteves, (2012) acrescenta que não basta o indivíduo ser capaz de ler um anúncio, se este não for capaz de entender com clareza a mensagem ali contida. Assim, a alfabetização trará ao indivíduo a habilidade de decodificar o texto, mas as habilidades de interpretar o que foi lido atribuindo-lhe um significado são trazidas pelo letramento adequadamente trabalho em consonância com o processo de alfabetização.

 Esteves (2012, p. 11) ainda destaca que:

 

Por isso é tão importante que a alfabetização tenha passado a ser pensada a partir da  perspectiva  do  letramento,  na  qual  ela  não  fica  mais restrita  à  aprendizagem da  língua  enquanto  código  escrito,  mas  o  aprendiz  é  levado  a  vincular  essa aprendizagem aos usos efetivos em sua  vida (...) um  indivíduo  letrado  é  aquele  que  envolve  as  mais  diversas  práticas da escrita  na  sociedade  e  pode  ir  desde  uma  apropriação  mínima  da  escrita,  tal como  o  indivíduo  que  é  analfabeto,  mas  letrado  na  medida  em  que  identifica  o valor  do  dinheiro,  identifica  o  ônibus  que  deve  tomar,  consegue  fazer  cálculos complexos,  sabe  distinguir  as  mercadorias  pelas  marcas  etc.  Mas não escreve cartas nem lê jornal regularmente, até uma apropriação profunda, como no caso do indivíduo que desenvolve tratados de Filosofia ou escreve romances.  O profissional   dessa   modalidade   de   ensino   deve   conciliar   a   realidade, os conhecimentos adquiridos pela vivencias desses alunos, com o seu aprendizado em sala de aula, se baseando neles para planejar uma aula em que esse aluno possa se identificar, gostar e aprender da melhor forma possível, isso melhora a autoestima do aluno porque o faz perceber sua importância e o seu papel no caminho para uma aprendizagem significativa.

 

Mais uma vez o papel do professor é evidenciado frente a seu trabalho e suas práticas pedagógicas junto aos alunos no sentido de facilitar o processo de ensino/aprendizagem, criando condições para o aprendizado e guiando os estudantes na construção do próprio conhecimento. Deste modo, ao trabalhar uma educação libertadora e capaz de estimular a autonomia, o professor alfabetizador corrobora para a formação de indivíduos mais produtivos e interativos.

Seguindo esta linha de raciocínio, Fernandes (2010, p.) discorre sobre os objetivos da educação frente à sociedade atual:

 

Hoje, os grandes objetivos da Educação são: ensinar a aprender, ensinar a fazer, ensinar a ser, ensinar a conviver em paz, desenvolver a inteligência e ensinar a transformar informações em conhecimento. Para atingir esses objetivos, o trabalho de alfabetização precisa desenvolver o letramento. O letramento é entendido como produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia.

 

De tal forma, o letramento mostra-se como um processo indispensável na escolarização formal. Processo este que deveria, preferencialmente, iniciar-se em casa, junto ao convívio familiar antes mesmo da criança ser inserida no ambiente escolar.

Ampliando a discussão relativa à função social exercida pela alfabetização e o letramento, Diogo e Gorette (2011) citam Freire (1996), conforme apresentado no trecho abaixo:

 

... o sujeito quanto mais amplia sua visão de mundo, mais se liberta da opressão, ou seja, o sujeito letrado que já possui seus conhecimentos prévios, com um determinado   ponto   de   vista, quando   alfabetizado, pode   modificar   seus pensamentos, ampliando-os de forma que passa a refletir criticamente sobre a prática social. (FREIRE, 1996, Aput DIOGO e GORETTE, 2011, p. 12197)

 

Destaca-se, contudo, a indivisibilidade dos processos de alfabetização e letramento, bem como a necessidade de um trabalho intenso abrangendo os dois processos com igual importância para o adequado processo de ensino. Deste modo, mais uma vez o papel do professor é evidenciado como sendo principal ator, no meio educativo, no tocante à escolarização das crianças.

Diogo e Gorette (2011, p.12198) ainda afirmam que:

 

Alfabetizar letrando é uma prática necessária nos dias atuais, para que se possa atingir a educação de qualidade e produzir um ensino em que os educandos não sejam apenas uma caixa de depósito de conhecimentos, mas que venham a ser seres pensantes e transformadores da sociedade.

 

Percebe-se, portanto, uma ressignificação do antigo paradigma da alfabetização onde o foco eram apenas os símbolos. Agora, acompanhada do letramento, a alfabetização mostra-se como uma ferramenta, uma das etapas de um processo mais completo, complexo e libertador.

Segundo o site Gazeta do Povo (2019), a Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em meados de 2019, o Brasil apresentava 6,8% de analfabetismo. São mais de 11,3 milhões de brasileiros com idade acima de 15 anos que não sabem ler e escrever. Na mesma reportagem, o portal ainda aponta que na época estimava-se mais de 750 milhões de pessoas analfabetas no planeta.

Tal situação aponta um sério problema, não só em nosso país, mas tal problema tende a ser mais grave do que parece à primeira vista, a julgar que parte significativa da população alfabetizada não é capaz de compreender de forma adequada os textos que lê, nem tampouco encontra-se apta a redigir nem mesmo textos curtos.

Percebe-se a grande necessidade de esforços no sentido de alfabetizar essas pessoas que ainda hoje não sabem ler e escrever, mas é notória também a importância de que esta alfabetização seja acompanhada do letramento para que de fato estes indivíduos sejam capazes de integrar-se de maneira plena à sociedade. Entretanto há de se atentar com grande cuidado à forma como nossas crianças estão sendo alfabetizadas agora, visto que comporão a sociedade de amanhã. É preciso que o sistema de educação esteja mais focado em alfabetizar letrando, oferecendo aos alunos, desde a Educação Infantil, mas principalmente nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental I, uma educação realmente capaz de alicerçar a formação de cidadãos conscientes e capazes de interagir de forma mais produtiva frente à sociedade.

Neste sentido, Dreyer (2011, p.3594) acrescenta que:

 

... quanto mais se articula o conhecimento frente ao mundo, mais os educandos se sentirão   desafiados   a   buscar   respostas, e   consequentemente, quanto   mais incitados, mais serão levados a um estado de consciência crítica e transformadora frente à realidade. Esta relação dialética é cada vez mais incorporada na medida em que, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo.

 

 Assim, mais uma vez o docente é chamado à responsabilidade, enquanto profissional que atua mais próximo ao aluno no processo de ensino/aprendizagem, de buscar meios e práticas capazes de prender a atenção dos estudantes e instigar-lhes na busca pelo conhecimento, sendo imprescindível atentar-se à necessidade de se alfabetizar letrando.

Neste sentido acrescenta-se que:

 

Para alfabetizar letrando, deve haver um trabalho intencional de sensibilização, por meio de atividades especificas de comunicação, como escrever para alguém que não está presente (bilhetes, correspondências escolares), contar uma história por escrito, produzir um jornal escolar, um cartaz etc. Assim a escrita passa a ter função social. (CARVALHO, 2011, p.69)

 

Assim, percebe-se a necessidade da realização de um trabalho pedagógico voltado também para questões sociais, um trabalho capaz de mostras aos estudantes as funções práticas da escrita e da leitura na sociedade. Neste sentido, o docente deve valer-se das vivências de seus alunos para introduzir práticas relacionadas a tais vivências, de modo que fique mais fácil para a criança experienciar as aplicações práticas do que está aprendendo.

Assim, o professor, ao conhecer o universo vivenciado por seus alunos, torna-se capaz de promover práticas para ampliá-lo, direcionando os estudantes à reflexão e à busca por entendimento e conhecimento.

 

CONCLUSÃO

 

A presente pesquisa evidenciou inicialmente problemas enfrentados por nossa sociedade atual oriundos da falta do adequado processo de letramento junto à alfabetização em parte significativa dos casos. Essa deficiência no letramento no processo educativo levou à formação de uma sociedade na qual muitos indivíduos, mesmo sabendo ler e escrever, mostram-se incapazes de compreender o que leem ou transmitir uma mensagem por escrito. Tal fator limita drasticamente a capacidade de interação de tais pessoas em sociedade, além prejudicar de forma bastante significativa sua capacidade crítica e a tomada de decisões.

Destacou-se ainda, que as deficiências no processo de letramento não são algo vivenciado apenas em nosso passado, ainda hoje nosso sistema de educação formal apresenta falhas capazes de permitir que parte de nossas crianças sejam alfabetizadas sem serem letradas.

O letramento foi aqui evidenciado como um processo indissociável da alfabetização, sendo responsável por ensinar o indivíduo a utilizar de forma prática a leitura e a escrita em sua interação com a sociedade na qual se inseri. Trata-se da parte do processo que lhe dá autonomia, a capacidade crítica e a condição de entender de forma mais eficiente os acontecimentos e relações sociais, conferindo ao indivíduo a condição de interagir de forma mais efetiva e competente no meio social.

Ficou evidente a necessidade de se trabalhar o letramento de forma mais enfática desde à educação infantil, sempre respeitando e considerando a bagagem intelectual já trazida do convívio familiar para a escola, de modo que, a partir de tais conhecimentos e habilidades, o docente possa estruturar suas práticas pedagógicas com o intuito de ligar os novos conhecimentos aos já dominados por seu aluno.

Assim, ficou claro que, ao se trabalhar a leitura e a escrita é de suma importância que trabalhe também suas funções sociais, levando os estudantes a perceberem para que servem tais processos, bem como praticá-los de forma mais concreta e dinâmica.

Frente a esta realidade, ficou evidente a necessidade de uma educação alicerçada na alfabetização e no letramento enquanto processos que juntos e bem executados são processos capazes de conferir autonomia e criticidade ao indivíduo, corroborando de forma indispensável à formação do cidadão consciente e plenamente capaz de interagir e conviver de forma produtiva em sua sociedade.

Contudo, o papel da escola e do sistema de ensino são destaque no processo educativo e devem estar focados nas necessidades da sociedade atual e na adequada formação do indivíduo. Deste modo, carecem de mais atenção e responsabilidade por parte do estado, dos profissionais, dos familiares e da sociedade de modo geral.

Por fim, o docente é apresentado como o profissional de maior importância para a adequada formação do cidadão, já que se mostra como o profissional executor do processo de ensino/aprendizagem, sendo quem elabora as práticas pedagógicas mais adequadas e as coloca em prática junto aos estudantes. É a pessoa mais presente junto ao aluno, acompanhando-o em seu processo de aprendizagem e, portanto, deve ser capaz de estimulá-lo a buscar conhecimento e também a fazer uso de tal conhecimento em sua vida.

 

REFERÊNCIAS

 

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a pratica. 7. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

 

COELHO, Luana.; PISONI, Silene. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação. Revista Modelos–FACOS/CNE C, Osório, v. 2, n. 1, ago. 2012.Disponível em: http://facos.edu.br/publicacoes/revistas/e-ped/agosto_2012/pdf/vygotsky_-_sua_teoria_e_a_influencia_na_educacao.pdf

 

DIOGO, Emilli Moreira; GORETE, Milena da Silva. Letramento e Alfabetização: Uma Prática Pedagógica de Qualidade. I seminário de representações sociais, subjetivas da educação-SIRSSE.Disponível em: http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/5806_2767.pdf.  Acesso set. 2021.

 

DREYER, Loiva. Alfabetização: o olhar de Paulo Freire. In: X CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, Curitiba, 2011. P. 3585 – 3601.

 

ESTEVES, Maria Mara Teixeira. A Alfabetização e o Letramento na Educação de Jovens e Adultos.Teresina, PI: Universidade federal do Piauí-UFPI, 2012. Disponível em: http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/1212eee0f0b15545ebbb586217370e7f_ 2025. pdf.   Acesso set. 2021.

 

FERNANDES, Maria. Os segredos da alfabetização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

 

GAZETA DO POVO. A taxa de analfabetismo no Brasil. Veículo de comunicação. Disponível em: https://infograficos. gazetadopovo.com.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-no-brasil/.  Acesso set. 2021.

 

GONTIJO, Arlete Abade de Melo. Alfabetização e letramento na educação infantil. FANAP. 2018. Aparecida de Goiânia. Disponível em: http://www.fanap.br/Repositorio/159.pdf. Acesso set. 2021.

 

MARTINS, Edson; SPECHELA, Luana Cristine. A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NA ALFABETIZAÇÃO. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET –ISSN 2175-1773 julho de 2012. Disponível em: http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n3/6%20ARTIGO%20LUANA.pdf. Acesso set. 2021.

 

MUSSI, Luzinete da Silva. Afetividade no processo pedagógico. Revista Científica ISCI. Número 2, maio, 2021. Disponível em: http://isciweb.com.br/revista/38-numero-2-2021/2394-afetividade-no-processo-pedagogico.  Acesso set. 2021.

 

PORTAL DIFERENÇA. Alfabetização e letramento. 2019. Disponível em: https://www.diferenca.com/alfabetizacao-e-letramento/. Acesso set. 2021.

 

ROCHA, Simone dos Santos Batista Rocha. Alfabetização e letramento no processo ensino/aprendizagem. Revista Científica ISCI. Número 1, fevereiro, 2020. Disponível em: http://www.isciweb.com.br/revista/33-numero-1-2020/1818-alfabetizacao-e-letramento-no-processo-ensino-aprendizagem.  Acesso set. 2021.