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A CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE E EMÍLIA FERREIRO NA CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADULTOS

Simone de Fátima Arantes

 

RESUMO

Sabemos que a educação é uma das maiores riquezas de um país. Contudo, a educação popular, esteve por muitos anos, marginalizada pela escola oficial. O objetivo de estudo foi realizar uma comparação das ideias destes autores refletindo nas contribuições deixadas eles, entendidas como um apelo contra o ensino tradicional que busca mecanizar os alunos. O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa. Realizou-se no primeiro semestre de 2022 a busca das publicações indexadas nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico e na biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO).  O método desenvolvido por Paulo Freire vinha de encontro com a exclusão e silenciamento de brasileiros, altas taxas de analfabetismo, uma vez que o modelo de ensino estava baseado em métodos tratava adultos como crianças, alienando os estudantes e que só os afastava da construção do conhecimento, propondo algo para mudar esse cenário. Emília Ferreiro promoveu várias discussões relacionadas à concepção de “que não são os métodos que alfabetizam, nem os testes que auxiliam o processo de alfabetização, mas são as crianças que (re) constroem o conhecimento sobre a língua escrita, por meio de hipóteses que formulam. No final deste estudo, pode-se afirmar que tanto Paulo Freire e Emília Ferreiro preocupavam em socializar o papel do aprendizado. Ambos mudaram a antiga concepção de ensino, de aprendizagem, de homem, de sociedade, de professor, de aluno, aqui visto como um ser cognoscitivo e reflexivo.

 

Palavras-chaves:  Educação, Influência, Paulo Freire e Emília Ferreiro.

 

INTRODUÇÃO

 

Sabemos que a educação é uma das maiores riquezas de um país. Contudo, a educação popular, esteve por muitos anos, marginalizada pela escola oficial. No Brasil, nos anos de 1950 com a eclosão de um modo diferente de educar de Paulo Freire e dos círculos populares de cultura, foi possível organizar um conjunto de ideias e de experiências, denominada nos dias de hoje como educação popular.

Outro marco que merece destaque para a educação no Brasil ocorreu em 1980, com a publicação dos livros de Emília Ferreiro no país. Nessa ocasião, uma grande repercussão é causada em relação à visão que se tinha do método de alfabetização exercendo influência sobre as diretrizes do governo para o setor, refletidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Nesse sentido, será apresentado a seguir como objetivo de estudo uma comparação das ideias destes autores refletindo nas contribuições deixadas eles, entendidas como um apelo contra o ensino tradicional que busca mecanizar os alunos.

Esse estudo me proporcionou um resgate de grande parte do aprendizado que recebi durante a vida acadêmica em que me dediquei aos estudos na universidade, aprofundando ainda outros tantos conhecimentos teórico-metodológicos a minha formação profissional.

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa. Segundo Gil (2008) a revisão de literatura é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

Segundo Minayo (2007) uma pesquisa de cunho qualitativo preocupa-se em analisar e interpretar aspectos profundos, fazendo a descrição da complexidade do comportamento humano. Ela não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social.

Realizou-se no primeiro semestre de 2022 a busca das publicações indexadas nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico e na biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO). Optou-se por estas bases de dados e biblioteca por entender que atingem a literatura publicada nos países da América Latina, sobretudo no Brasil, sendo referências técnico-científicas brasileiras em enfermagem e em outras áreas da saúde. Foram utilizadas as palavras chaves: Educação, Influência, Paulo Freire e Emília Ferreiro.

Para análise e síntese do material observaram-se os seguintes procedimentos: leitura informativa ou exploratória, que constituiu na visualização ampla do conteúdo que o material bibliográfico tem a contribuir; leitura seletiva, que explanaram partes relevantes para o estudo que está sendo trabalhado e leitura crítica ou reflexiva que buscou um significado a partir dos arquivos pesquisados, interagindo o conhecimento textual e do leitor, onde o mesmo pode identificar as ações de enfermagem na sessão de hemodiálise e sua significância no processo de qualidade de vida do paciente.

 

REVISÃO DE LITERATURA

CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE E EMÍLIA FERREIRO

Contribuições de Paulo Freire para a educação

 

Paulo Reglus Neves Freire, educador, filósofo, escritor, político e militante das causas sociais, nasceu em 19 de setembro de 192,1 na cidade de Recife no Pernambuco. Iniciam-se lá suas primeiras reflexões sobre sua ideologia, posto que o local seja marcado, em seu âmago e maioria populacional, pela pobreza e precariedade (REIS, 2012).

De acordo com Maciel (2011) tanto sua existência quanto sua obra se mantêm como orientação e referência para a Educação Popular, dando resposta às necessidades da aprendizagem e das questões políticas e sociais da própria educação. Freire desenvolveu uma teoria do conhecimento e buscou a essência da educação, focando suas análises na associação entre ‘educação e vida’, se posicionando as pedagogias tecnicistas da sua época.

O método desenvolvido por Paulo Freire vinha de encontro com a exclusão e silenciamento de brasileiros, altas taxas de analfabetismo, uma vez que o modelo de ensino estava baseado em métodos tratava adultos como crianças, alienando os estudantes e que só os afastava da construção do conhecimento, propondo algo para mudar esse cenário (OLIVEIRA; LEITE, 2012).

Então, Freire cria um método sem cartilha, que dessa voz ao aluno. O que pontuo como uma das suas maiores contribuições para a educação.  Segundo Arroyo (2001), o método é baseado na estimulação dos adultos levando-os a entenderem a lógica do registro escrito através de seus próprios conhecimentos, assumindo que o aprendizado acontece também fora da sala de aula.

Conforme Nunes e Castro (2012) apontam que dividido em fases, o método do educador explora junto ao educando palavras e assuntos que fazem parte do seu vocabulário, discute o significado dela e depois ele mostra como as sílabas formam as palavras e como elas podem ser utilizadas para formar outras palavras conhecidas. Durante esse processo, todos conversam a respeito do poder das palavras, para que tornem capazes de se apoderar delas também no registro escrito sem distanciamento, proprietários delas.

Para os autores citados acima, os resultados desse método foram depois testados no mundo inteiro e também utilizados por várias organizações não governamentais que desenvolvem programas de alfabetização de jovens e adultos. Considerado um método poderoso, sem protecionismos, é baseado na esperança de uma democracia onde todos tenham liberdade para se manifestar.

Assim, pode-se dizer que o legado que Paulo Freire deixa para a educação, entre tantas contribuições, é uma herança de esperança, de compreender a educação como espaço de transformação social, mostrando que ler e escrever só terá sentido quando o educando entende o sentido político da aprendizagem, com essa nova concepção de mundo para poder transformar sua realidade (MEDEIROS, 2005).

 

Contribuições de Emília Ferreiro à alfabetização

 

Discípula de Jean Piaget, Emília Beatriz Maria Ferreiro Schavi é psicóloga e pedagoga argentina, nascida em 1936. Doutora pela Universidade de Genebra e residindo hoje na cidade do México, onde foi professora titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, da Cidade do México (MOREIRA, 2015).

Segundo Mello (2007) em 1971, quando retornou a Buenos Aires, Emília Ferreiro criou um grupo de pesquisa sobre alfabetização e publicou uma tese com o título Les relations temporelles dans le langage de l'enfant (As relações temporais na linguagem infantil) já sinalizando as contribuições que daria ao Brasil e o mundo.

Ao realizar as reflexões sobre as contribuições da autora para a Educação, posso dizer que são muitas, especialmente se considerarmos sua envoltura com o processo de alfabetização.      

Ainda para Mello (2007), a autora promoveu várias discussões relacionadas à concepção de “que não são os métodos que alfabetizam, nem os testes que auxiliam o processo de alfabetização, mas são as crianças que (re) constroem o conhecimento sobre a língua escrita, por meio de hipóteses que formulam” (p. 88).

 

A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções de existência (especialmente nas concentrações urbanas). O escrito aparece, para a criança, como objeto com propriedades específicas e como suporte de ações e intercâmbios sociais. Existem inúmeras amostras de inscrições nos mais variados contextos (letreiros, embalagens, tevê, roupas, periódicos, etc.) (FERREIRO, 2001a, p 43).

 

Nesse sentido, Ferreiro (2001b) aponta que a escrita precisa ser desescolarizada para revelar seu verdadeiro papel, excedendo os limites da sala de aula e assumindo suas várias facetas desde a construção da base alfabética para que esta seja importante.

Conforme a autora citada, os indivíduos não alfabetizados já detêm conhecimento sobre a língua, indo de encontro com Paulo Freire, quando este ressalta que o aluno não é “taboa rasa”, como o professor da educação Tradicional costuma pensar, mas trás conhecimentos obtidos na comunidade que vive.

Assim, Emília Ferreiro considerando esse saber cultural do indivíduo, revela que é de extrema importância que o educador avalie em que fase eles estão no processo de alfabetização, com vistas de que se possam produzir métodos mais elaborados. Para ela, a metodologia Tradicionalista freia o sistema alfabético e o fragmenta em razão das regras impostas ao sistema linguístico, o que acarreta a descontextualização do indivíduo e prejudica a alfabetização e quando isso acontece o aluno acaba produzindo automaticamente frases sem nexo e sem nenhuma intenção comunicativa.

É, portanto, pela psicogênese, de Emília Ferreiro, que o indivíduo constrói significado ao aprender a ler e escrever, ampliando, assim, seus conhecimentos linguísticos. As obras de Emília Ferreira foram tão importantes que inspiraram, também, projetos e planos governamentais, visto que colocaram à vista os métodos usados pelas crianças para a aprendizagem, influindo, ainda, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, desenvolvidos no ano de 1997, em que os “objetivos se definem em termos de capacidades de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal e inserção social, ética e estética, tendo em vista uma formação ampla” (BRASIL, 1997, p. 47).

Suas ideias construtivistas foram tão fortes que a Secretaria de Educação de São Paulo, adotou como referencial teórico o Construtivismo para o Ciclo Básico de Alfabetização (CBA).  Desse modo, assim como citado por Duarte e Rossi (2008) o construtivismo se revela como uma “revolução conceitual”, excluindo as teorias e práticas tradicionalistas, desmetodizando o processo de alfabetização e questionando a necessidade de livros abecedários.

Para finalizar, diante do que foi exposto é possível dizer que as práticas de Emília Ferreiro possibilitaram que os educandos buscassem na vida social recursos para aprender a ler e escrever, gerando uma evolução dos conhecimentos, sugerindo a comunicação entre alunos e a troca de experiências, uma condição fundamental para a construção do sentido.

 

CONCLUSÃO

 

É possível ainda reafirmar a importância de suas contribuições para o desenvolvimento de uma prática educativa dialógica, que atenda as necessidades dos alunos, valorizando os conhecimentos adquiridos por eles ao longo de suas trajetórias de vida.

Nesse sentido, pode-se dizer que a revisão apresentada e discutida anteriormente, permite afirmar que o objetivo da presente pesquisa foi alcançado, pois a maior parte dos resultados foi coerente com os encontrados na literatura, bem como acredita-se que estudos desta natureza podem vir a contribuir com a construção do conhecimento nessa área, pois tais achados possibilitam uma maior compreensão acerca do tema.

Entretanto, deve-se ter em mente que as variáveis aqui investigadas não são as únicas no conhecimento sobre a contribuição de Paulo Freire e Emília Ferreiro na construção da leitura e da escrita no processo de alfabetização de crianças e adultos, de modo que se sugerem novos estudos para verificar diferentes variáveis nessa área em questão.

  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ARROYO, Miguel G. Paulo Freire em tempos de exclusão. In: FREIRE, Ana Maria Araújo (Org.). Pedagogia da libertação em Paulo Freire. São Paulo: Unesp, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

 

DUARTE, Karina; ROSSI, Karla. O processo de alfabetização da criança segundo Emilia Ferreiro. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia; Ano VI, n. 11, jan. 2008.  Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Pedagogia/aprocesso_alfab_ferreiro.pdf Acesso em: 09 mar. 2022.

 

FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo. São Paulo: Cortez, 1996.

______. Significado da escrita no mundo atual. In: Revista Criança. n. 35, p. 3-9. Brasília: MEC, 2001a.

________. Com todas as letras. Trad. Maria Zilda da Cunha Lopes. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2001b.

MACIEL, Karen de Fátima. O pensamento de Paulo Freire na trajetória da educação popular. Educação em Perspectiva; v. 2, n. 2, p. 326-344, jul./dez. 2011. Disponível em: http://www.seer.ufv.br/seer/educacaoemperspectiva/index.php/ppgeufv/article/viewFile/196/70Acesso em: 09 mar. 2022.

MEDEIROS, Maria Neves de. A educação de jovens e adultos como expressão da educação popular: a contribuição do pensamento de Paulo Freire. In: V Colóquio Internacional Paulo Freire, Recife, 2005. Disponível em: http://www.paulofreire.org.br/pdf/comunicacoes_orais/A%20EDUCA%C3%87%C3.pdf  Acesso em: 09 mar. 2022.

MELLO, Márcia Cristina de Oliveira. O pensamento de Emilia Ferreiro sobre alfabetização. Revista Moçambras: acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa; ano 1, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.mocambras.org>. Publicado em: março de 2007. Acessado em: 09 mar. 2022.

MOREIRA, Geraldo Eustáquio. O processo de alfabetização e as contribuições de Emília Ferreiro. 2015. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RL/article/viewFile/5041/3838 Acesso em: 09 mar. 2022.

 

NUNES, Dalma Persia Nelly Alves; CASTRO, Letícia Rodrigues de. Contribuições da perspectiva freiriana na Educação de Jovens e Adultos: alfabetização e identidade. Rev. Ed. Popularar; v. 12, n. 1, p. 41-55, jan./jun. 2013. Disponível em: www.seer.ufu.br/index.php/reveducpop/article/download/20305/12510 Acesso em: 09 mar. 2022.

 

OLIVEIRA, Fernanda Silva de; LEITE, Lúcia Helena Alvarez. A atualidade do

pensamento de Paulo Freire e sua contribuição para a educação no Brasil. Paidéia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum., Soc. e da Saú., n.13 p. 43-56 jul./dez. 2012. Disponível em: www.fumec.br/.../1049&ei=fbnbveayn8apwgtcipaybq&usg=afqjcngkxyof23m-ntebr Acesso em: 09 mar. 2022.

 

REIS, Pollyanna Júnia Fernandes Maia. Paulo Freire – análise de uma história de vida. 2012. Dissertação (Mestrado em Letras), Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, 2012.