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PRINCÍPIOS DA PEDAGOGIA WALDORF NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Francielly Martins de Souza Costa
Gislaine Favin de Souza
Gizelma Lisboa Alves
Lais Tuliana Martins da Hungria
Telma Negris Araujo

 

RESUMO

Os sete primeiros anos de vida, conhecidos como primeiro setênio pela pedagogia Waldorf, são cruciais para o desenvolvimento do indivíduo e devem ser respeitados e impulsionados de acordo com a necessidade de cada criança. Na educação infantil a criança está se tornando hábil na sua própria casa que é o corpo. Então, basicamente, a criança precisa ter: autonomia para mover, correr, saltar, pular, são ações derivadas do aprendizado do andar. Sendo assim, o que ela mais precisa é ativar o seu corpo a partir da postura ereta que ela conquistou. Esse lado da movimentação é privilegiado se a criança tem um espaço que ela possa explorar por conta própria. Também a criança é bem aberta para o que ela percebe no mundo. Então, o espaço com muitas informações imprime nela vivências que podem inibir seus movimentos autônomos.

 

Palavras-chave: Pedagogia Waldorf. Autonomia. Criança. Vivências.

 

INTRODUÇÃO

 

O presente artigo sobre a concepção pedagógica Waldorf, percorrendo desde a concepção do professor, do currículo e os conteúdos nesta perspectiva perpassando pela abordagem fenomenológica do conhecimento bem como concepções humanistas da educação, visto que o objetivo da pesquisa é conhecer e compreender como se dá na pratica o ensino na pedagogia Waldorf.

 Para embasar a referente pesquisa recorri aos teóricos como Freire (2011), Lanz (1999), Mello (2005), Morin (2003) entre outros.

 

  1. Pedagogia Waldorf e a Antroposofia

 

Para desenvolver essa parte do trabalho foi desenvolvida uma pesquisa de campo e bibliográfica para ser possível adentrar na pedagógica Waldorf.

A pesquisa em questão teve como objetivo conhecer e revelar a educação na concepção pedagógica Waldorf, a qual perpassa pela perspectiva fenomenológica e será retratado o contexto pedagógico desenhado pelo filosofo e cientista austríaco Rudolf Steiner.

“Procura no próprio ser: E tu encontrarás o mundo; procura na ação do mundo: E tu encontrarás a ti próprio.” (Rudolf Steiner)

A pedagogia Waldorf tem como fundador o Dr. Rudolf Steiner, calcada em uma antropologia sedimentada na Ciência espiritual, seus relatos posicionam-se em virtude da escola em relação a vida cultural, econômica e social da época de caos, resquícios herdados ao final da primeira guerra mundial.

 Segundo Richter, a escola Waldorf foi inaugurada em fevereiro de 1919 em Stuttgart, como Escola Integrada de Ensino fundamental e Médio e desde seu inicio todos tinham acesso a ela. Pode ser considerada como a primeira escola comunitária da Alemanha, devido a sua expansão por toda Alemanha e outros países, o regime nazista proibiu tais escolas, voltando a se fortalecer e expandir para o mundo inteiro em 1945.

 Hoje em dia é notório o crescente o interesse em busca de escolas que propagam a pedagogia Waldorf pela sociedade que prima por uma formação mais humana em contraposição a formação mecanizada e de memorização.

 A perspectiva Waldorf é embasada pela ciência empírica e moderna, levando a uma compreensão diferenciada das fases evolutivas da infância e da adolescência, no decorrer das quais se transformam as relações com o mundo e a disponibilidade em aprender,

 

Uma das nossas grandes preocupações é dar uma formação integral ao homem: ao seu pensar, sentir, querer, dirigido, portanto, a cabeça, ao coração e a sua mão. Queremos que ele conheça, no momento certo, tudo que o envolve, quanto a natureza e a Vida Humana. (LANZ, 1999, p.30)

 

Segundo a Sociedade Antroposófica no Brasil, a antroposofia, remontando as suas raízes linguísticas é formada pelas palavras “antroposofia” do grego anthro pós homem e sophia- sabedoria significando assim “sabedoria a respeito do homem”.

A antroposofia tende a satisfazer a busca de conhecimento do homem moderno a respeito de si mesmo e de suas relações com todo o universo, respondendo, de forma condizente ao seu nível de consciência, as antigas e recorrentes perguntas do ser humano: - Quem sou eu? De onde venho? Aonde vou? Qual o sentido de minha existência?

 O homem atual obstante em apenas crer na verdade, almeja desvelar enigmas e mistérios envoltos a sua existência, os quais não esclarecidos tão poucos resolvidos nem na religião nem nas ciências modernas. Uma vez que o viés do misticismo lhe cobra a renúncia a qualquer cogitação racional, e a ciência lhe oferece um cego intelectualismo que contrapõe a legitimidade de seus anseios espirituais.

 É nesse sentido que se pode denominar a antroposofia também como ciência do espírito, aplicável na prática, a todas as esferas da vida humana. Uma psicologia espiritual em pleno desenvolvimento, uma pedagogia social voltada para o desenvolvimento de pessoas, grupos e organizações. Citem-se ainda, no âmbito das artes, a euritmia que é a arte do movimento abrangendo os planos cênico, pedagógico e terapêutico e a arte da fala, cultivo da linguagem mediante princípios espirituais.

 De acordo com Sociedade Antroposófica no Brasil, a antroposofia não se atém ao plano meramente teórico, ela se liga intimamente a realidade do mundo, contribuindo com suas descobertas para uma vida mais integra. Para a antroposofia a imagem do homem em toda a sua complexidade físicoespiritual, quando considerada em todos os âmbitos da vida, colabora para dignificar as realizações da humanidade em direção sua meta evolutiva.

 A sociedade Antroposófica no Brasil é uma instituição congregadora dos conteúdos e ideias que norteiam as atividades descritas, tem sua sede em São Paulo-SP e dentre suas metas destaca-se a divulgação da antroposofia por meio de cursos, palestras e publicações.

 

  1. Currículo na perspectiva Waldorf

 

Estudos acerca da concepção do currículo escolar permeiam ao que ensinar na escola de acordo com a intencionalidade educacional de uma dada escola, Lopes (2011) preceitua que as concepções de currículo se modificam em função das diferentes finalidades educacionais pretendidas e dos contextos sociais nos quais são produzidas.

 Já no que concerne a concretização do currículo na concepção Waldorf é oriunda da imagem do ser humano. A legitimação dos conteúdos na concepção pedagógica Waldorf é baseada em função da faixa etária dos alunos, diante de tal fato, a composição de cada série/ano segue estritamente ao princípio da idade, denominado de setênios, uma vez que o que prevalece é o rendimento possível de cada aluno.

Doutor Samir Rahme esclarece que teoria dos setênios foi elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza, da qual nós humanos fazemos parte. Baseia-se em dividir a vida em fases de sete em sete anos. Os setênios demonstram como se podem entender os ciclos de vida de uma maneira prática e sábia. Os setênios fazem parte da antroposofia, ciência que parte da compreensão do ser humano, para que ele entenda não apenas a si próprio, mas todo o universo.

 Nessa perspectiva Arroyo (2004) reporta ao aprendizado escolar dizendo:

 

Sabemos que os aprendizados têm tudo a ver com as vivencia, representações, lógicas e culturas escolares em que são ensinados e aprendidos. Não é difícil perceber que essas vivências, lógicas e culturas escolares são aprendidas de maneira diversa por uma criança iniciante ou por um adolescente ou jovem com vários anos de aprendizado do ofício do aluno. Como ignorar esses tempos? Dependendo do trato que o ordenamento escolar der a essa heterogeneidade de vivencias abriremos ou bloqueando possibilidades de construção e apreensão do conhecimento. (p.224)

 

 As disciplinas para a obtenção do conhecimento cognitivo têm o mesmo peso das disciplinas biológico-tecnológicas e das prático-artísticas. Os variados conteúdos das aulas e dos exercícios tem caráter instrumental de um recurso pedagógico. Conforme Richter (2002, p.6):

 

Há que se plantar “sementes”, tanto em relação aos conteúdos, quanto a estrutura do ensino. Isto significa que mais tarde, dentro de novos contextos, a matéria aprendida deve servir de estímulo para o desenvolvimento dos conteúdos de novas questões e de novo ponto de vistas. É preciso estimular e preservar a vontade espontânea de aprender, o espírito de investigação, a disposição para a atividade criativa e para a participação na formação na sociedade. Assim a educação pode ser reconhecida como instrumento para o desenvolvimento e para a transformação.

 

Segundo Rudolf Steiner, todo ensino deveria ser permeado pela ciência da vida, questões técnicas e atuais devem ser ministradas em consonância com a idade dos alunos. Entre os temas atuais próximos a realidade como pedagogia social, ecologia, higiene e saúde, sexualidade, educação ambiental e outros devem fazer parte da grade curricular e Silva (1999, p.40 e 41) preceitua que o currículo,

 

Na perspectiva fenomenológica, não é, pois, constituído de fatos, nem mesmo de conceitos teóricos e abstratos: o currículo é local no qual docentes e aprendizes tem a oportunidade de examinar, de forma renovada, aqueles significados da vida cotidiana que se acostumaram a ver como dados naturais. O currículo é visto como experiência e como local de interrogação e questionamento da experiência.

 

A liberdade do ensino é condição essencial para prática de uma educação com vistas para a liberdade. Uma escola que visa ser viva tem que instigar os professores a aprofundarem seus métodos e currículos. O mesmo princípio deve valer para a estruturação curricular e para elencar os temas adequados para ser trabalhado no ambiente escolar. O princípio do exemplo é fundamental para a materialização do currículo global na escola Waldorf.

 Dentro das possibilidades do currículo, as matérias teóricas, artísticas e práticas são agrupadas de forma que o trabalho no ambiente escolar permita tal alternância, incluindo intervalos que propiciem a assimilação duradoura do aprendizado das matérias. Em consonância com tal processo, Silva (2002, p.41) pontua que:

 

Enquanto no currículo tradicional os estudantes eram encorajados a adotar uma atitude supostamente cientifica que caracterizava as disciplinas acadêmicas, no currículo fenomenológico eles são encorajados a aplicar a sua própria experiência, ao seu próprio mundo vivido.

 

A relação harmoniosa entre o conteúdo do ensino e o desenvolvimento da criança constituiu um dos fundamentos da pedagogia de Steiner, segundo ele, o conteúdo apropriado a idade deve ser considerado como algo terapêutico, obedecendo a máxima que diz “educar sempre significa curar”. Lanz(1999,p.12) aponta que

 

O que é essencial no plano de ensino Waldorf não são os conteúdos das matérias são as capacidades anímicas que se desenvolvem pelo estudo. Os conteúdos são sugeridos porque é por meio deles que os alunos podem adquirir o essencialmente importante para a vida.

 

Delineando uma concepção pedagógica voltada para a formação do ser humano, enquanto pessoa e desvelando o seu pensar sobre o mundo e o que o rodeia,

 

Nessa medida, a metodologia de ensino e aprendizagem se baseia na sequencia rítmica das três fases de cada processo autônomo: no reconhecimento, na compreensão e no domínio dos conteúdos. 1) vivenciar, observar, experimentar, 2) recordar, descrever, caracterizar, anotar, 3) processar, analisar, abstrair, generalizar (elaboração de teorias). (RICHTER,2002, p.9).

 

 Rompendo com paradigmas de fórmulas prontas e acabadas para todos os alunos, não considerando a individualidade e ritmo de cada um, o tornando um aluno mecânico e conteudista, com o pensamento predeterminado tal qual apregoa a concepção tradicional de educação.

 Há que se falar que nas escolas Waldorf não há diferenciação dos trabalhos a serem realizadas em relação ao sexo dos alunos, assim as matérias referentes a trabalhos manuais como tricô, artesanato, jardinagem e tecnologia são destinadas tanto para meninas como para meninos. Freire (2011) aponta que ensinar não é transferir conhecimento, mas sim criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Professor e uma figura principal da sala de aula e em nossas vidas enquanto alunos no decorrer de nossa aprendizagem, são eles que nos motivam, instigam e permitem dar asas a nossa imaginação bem como nos proporcionam a sonhar com um futuro diferente, mais digno e humano.

Entretanto, sabemos que ser professor não é tarefa fácil e tão pouco descomprometida, nós professores somos porta vozes da educação de nosso país e em nome da educação devemos propiciar aos alunos meios que os torne cidadãos, cultos, emancipados, autônomos e críticos em todas as dimensões que circunda nossa sociedade além de formar um ser humano ético e preocupado com o seu próximo.

Educar é muito mais do que ensinar letras e números é contribuir para construção de uma sociedade com pessoas mais justas, criativas, autônoma e principalmente que pensa no seu próximo.

Parafraseando Paulo Freire, a educação não pode ser neutra, tem que ser um ato político, um meio de reivindicar melhoras e oportunidades a todos os cidadãos de nosso país.

Experiência a prática docente, como iniciante proporcionou desmitificar alguns mitos que envolvem o ambiente escolar bem como reforçar relações ocultas que ocorrem no interior da escola, relações essas que muitas vezes que impedem o bom funcionamento da escola.

Rudolf Steiner preconiza em seus escritos no século XX e continuam em voga quando o assunto é uma educação voltada para o aluno em especial para a essência do ser humano.

Conhecer a pedagogia Waldorf ampliou nosso olhar de educadoras, permitindo entender que a educação assume nuances e princípios de acordo com que o educador acredita e materializa em sua prática.

A pedagogia waldorf busca antes de formar um educando, formar um homem pleno e com virtudes que a humanidade foi enterrando conforme foi evoluindo nas dimensões sociais, tecnológicas, cientificas e econômicas, fazendo que a essência humana fosse perdida tornando os homens insatisfeitos e incompleto e sempre querendo mais e mais, presos em suas próprias mazelas e desventuras.

Esse reencontro com o seu eu e sua essência são promovidos pela educação na perspectiva a Waldorf. Mesmo em contextos educacionais diferenciados, a essência da criança é a mesma e deve ser cultivada e regada para que crescer bonita e forte, a educação deve transpassar os cadernos até o interior da criança, o eu da criança e compartilhar para evolução do corpo e da alma.

 

  1. REFERÊNCIAS

 

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 LANZ, Rudolf. Projeto Pedagógico elaborado pela Seção Pedagógica do Goetheanum e pelo Centro de Pesquisas Pedagógicas da Federação das Escolas Waldorf. São Paulo-SP: 1999. Federação das Escolas Waldorf no Brasil.

 

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