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A MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL I

Nazirene Sousa da Silva

 

RESUMO

Nos dias atuais são enfrentados problemas no processo de ensino de Matemática no Ensino Fundamental I, tanto por pelos docentes no tocante às práticas pedagógicas, quanto também por parte dos estudantes que se sentem desinteressados pela disciplina pelo fato de não conseguirem encontrar uma utilidade prática para os conceitos estudados, ou ainda, por encontrarem dificuldade em aprendê-los. Assim, o presente trabalho tem como foco o estudo da utilização de práticas lúdicas e jogos no processo de ensino/aprendizagem da Matemática. Embasado em tal conhecimento elaboraram-se, ao final da pesquisa, três práticas pedagógicas focadas no trabalho de três temas da Matemática através de jogos. Tais práticas podem ser executadas com facilidade por qualquer docente, visto que se valem de materiais comuns ao ambiente escolar.

 

PALAVRAS-CHAVE: Atividades lúdicas. Ensino Fundamental I. Jogos. Matemática.

 

1.INTRODUÇÃO

 

Hoje em dia, no Brasil, muitos problemas têm sido enfrentados no processo de ensino da Matemática no Ensino Fundamental I, por parte dos docentes os problemas relacionam-se com suas práticas pedagógicas, por parte dos alunos, que se sentem desestimulados a estudar conceitos que não apresentação ligação com a vida prática, o desinteresse pela disciplina cresce à medida que os conceitos se complicam.

Neste sentido, é possível perceber que parte significativa destas dificuldades se originam na forma como a disciplina vem sendo trabalhada e nas práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula. No entanto, a Matemática é uma ciência de grande importância na vida de qualquer pessoa, tornando-se imprescindível para a adequada formação de cidadãos capazes de interagir na sociedade de maneira positiva.

De forma geral, percebe-se que parte significativa dos estudantes classificam o estudo da Matemática como sendo algo para gênios e não veem utilidade para a disciplina e também não se consideram capazes de compreendê-la. Deste modo, acabem apenas se esforçando para conseguirem a nota necessária à provação, ficando o aprendizado severamente prejudicado.

Assim, este projeto foca no entendimento sobre as práticas lúdicas e a utilização de jogos nas salas de aula de Matemática no Ensino Fundamental I. Utiliza-se o método revisão bibliográfica.

Ao final, são apresentadas três práticas de intervenção que podem ser aplicadas por professores em sua sala de aula de Matemática do Ensino Fundamental I. Tais práticas apresentam formas dinâmicas e divertidas de se trabalhar os conceitos propostos.

 

2.DESENVOLVIMENTO

 

Para Rodrigues (2005), o ensino atual da Matemática se preocupa principalmente com o formalismo dos algoritmos, sendo expresso por fórmulas e regras. Assim, os cálculos tendem a seguir um caráter disciplinador e rígido, como forma de buscar precisão e exatidão para os resultados.

D’Ambrosio (1989), destaca que a forma tradicional de trabalhar a Matemática com os estudantes apresenta pontos negativos:

 

... os alunos passam a acreditar que a aprendizagem da matemática se dá através de um acúmulo de fórmulas e algoritmos. Aliás, nossos alunos hoje acreditam que fazer matemática é seguir e aplicar regras. Regras essas que foram transmitidas pelo professor. Segundo os alunos que a matemática é um corpo de conceitos verdadeiros e estáticos, dos quais não se duvida ou questiona, e nem mesmo se preocupam em compreender porque funciona. Em geral, acreditam também, que esses conceitos foram descobertos ou criados por gênios”. (D’Ambrosio, 1989, p.16)

 

Observa-se, no entanto, nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Matemática a determinação para que o ensino seja voltado para a formação crítica do educando. Deste modo, o processo de ensino/aprendizagem da disciplina deveria estar consonante com a vivência e a realidade dos alunos de forma que os conceitos estudados pudessem, de alguma forma, estar relacionados com esta vivência, para que fosse possível notar a importância da Matemática na vida dos seres humanos, enriquecendo de forma significativa o aprendizado. (DCE, 2008).

Assim, as atividades lúdicas mostram-se como grandes aliadas para o ensino da Matemática no sentido exposto acima, onde as atividades lúdicas colocariam os alunos em confronto com situações práticas, dinâmicas e divertidas.

 

A criança já traz para a escola alguns “conceitos” numéricos que ela já estabelece singularidade, pois são usados em seu dia a dia, como por exemplo, o número da sua casa e que cabe a escola o papel de incentivar a criança para que ela se aproprie do sistema de numeração de forma prazerosa e satisfatória. A criança precisa ter noção de sequência numérica para poder utilizar. (Dantas, Rais, Juy 2012, p. 08)

 

Já para Alves (2021), as brincadeiras são capazes de proporcionar momentos de alegria e descontração para os alunos, fazendo com que os conteúdos trabalhados cheguem a eles de uma forma mais própria às suas linguagens, conforme citado abaixo:

 

... proporciona momentos de alegria, de contato com os colegas fazendo com que o conhecimento científico seja adquirido e sistematizado de uma forma na própria linguagem da criança. A alfabetização lúdica ela é um processo onde se utiliza várias estratégias para trabalhar as linguagens do cotidiano da criança, porque a criança ela aprende com mais naturalidade a partir das brincadeiras. (ALVES, 2021, p.1)

 

Aranão (1996) corrobora ao destacar que o processo de formação do conhecimento ocorre de dentro para fora, aponta ainda a necessidade de o professor respeitar o grau de desenvolvimento cognitivo de cada estudante.

Abaixo, a autora apresenta as fases do desenvolvimento segundo os estudos de Jean Piaget:

 

  • Sensório motor – nessa etapa a criança desenvolve a noção de objeto, ou seja, a inserção de informações da realidade à parte cognitiva do sujeito (assimilação) e a transformação da parte cognitiva para assimilar as novas informações (acomodação).

  • Pré-operacional – essa fase a criança constrói imagens e ajusta-as entre si para formar classes intuitivas.

  • Operacional-concreto – nessa fase a tarefa da criança é coordenar as ações, na qual a ação é uma ação interiorizada.

  • Operacional formal – nessa fase compete ao adolescente arquitetar as ações formais próprias da inteligência formal. (ARANÃO, 1996)

 

Neste sentido, atribui-se grande importância aos jogos como ferramentas didáticas no processo de ensino/aprendizagem de qualquer disciplina, inclusive da Matemática. Percebe-se também que os jogos são abordados nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) como recursos a serem utilizados em sala de aula:

 

Os jogos constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permite que estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração de estratégia de resolução e busca de soluções para os problemas. (BRASIL, 1998, p.46).

 

Para Walle (2009), a Matemática trabalhada no Ensino Fundamental deve ser apresentada impreterivelmente, de forma que faça sentido para as crianças. Assim, elas devem experienciar constantemente o que estão aprendendo para entenderem por suas próprias experiências o sentido da Matemática, bem como sua utilização e sua importância. Para tanto, o professor deve ir além da exposição “clássica” de conteúdos e os jogos mostram-se como importantes parceiros nesta tarefa. Entretanto, faz-se necessária muita atenção ao planejamento para que os jogos sejam capazes de cumprir seu papel pedagógico junto à aula. Garcia et. al. (2021) corroboram ao acrescentar que o papel da escola no sentido de valer-se de estratégias capazes de levar os alunos a refletirem, estimulando a criticidade, mas sem impor o conhecimento.

Destaca-se ainda o seguinte:

 

Percebemos a importância de o professor avaliar sua prática, ser crítico em relação a ela, e a todo o momento abordar se o que se propõe em sala de aula, terá algum significado na vida do educando. Apesar das escolas terem um currículo a seguir, é indispensável que o educador destine um tempo para conversar sobre assuntos que frequentemente ficam de lado, pela preocupação em “vencer” os conteúdos do ano letivo. (GARCIA et. al., 2021, p.1)

 

Fica assim evidente a responsabilidade do professor na busca por práticas pedagógicas capazes de atrair a tenção de seus alunos para o conteúdo a ser trabalhado.

 

3.RELATO DE ESTUDO

 

Com base na pesquisa realizada na primeira parte deste projeto, elaboraram-se três práticas de jogos para serem trabalhados conceitos matemáticos aplicáveis aos estudantes do Ensino Fundamental I do ensino regular. Tratam-se de atividades capazes de envolver os alunos de maneira lúdica no trabalho em sala de aula, de modo a fazer com que pratiquem o conteúdo de forma dinâmica e coletiva, facilitando o aprendizado mais concreto e duradouro e mostrando aplicações práticas da Matemática em suas vidas.

 

3.1Gincana de Matemática

 

Público alvo: alunos do Ensino Fundamental I.

Objetivo: trabalhar cálculos de soma e subtração com os alunos.

Material: cartões de cartolina com os cálculos (confeccionar os cartões com somas e subtrações de acordo com o desenvolvimento da turma – ex. 5 - 3 =).

Dividir a turma em dois times. Os cartões devem ficar embaralhados, dispostos em duas pilhas sobre uma mesa, sendo 15 em cada pilha.

Os jogadores (1 de cada time por vez) devem ir até a mesa, pegar um cartão da pilha e, ir ao quadro, colocar e resolver a expressão matemática.

Ganhará 2 pontos da rodada o jogador que retornar primeiro à mesa com a resposta correta e 1 ponto o jogador que retornar depois com a resposta correta.

Se o jogador chegar primeiro, mas a resposta estiver errada, não leva ponto. Se o adversário estiver com a resposta correta, leva os 2 pontos mesmo tendo chegado por último.

Se os dois jogadores chegarem juntos, e ambos estiverem com a resposta correta, ambos levam 2 pontos. Se ambos errarem, ninguém leva o ponto.

A equipe que soprar perderá um ponto.

Vence o grupo que tiver mais pontos ao final do tempo de gincana.

 

3.2Formação de trincas

 

Público alvo: alunos do Ensino Fundamental I.

Objetivo: praticar as quatro operações básicas (soma, subtração, multiplicação e divisão).

Material: 100 cartões de cartolina contendo os números de 1 a 100 (confeccione a mão ou imprima).

Cada jogador recebe 8 cartões. Um jogador pega um de seus cartões e coloca sobre a mesa com o número visível. O segundo, da mesma forma, coloca um cartão ao lado do primeiro.

Em seguida cada jogador, na sua vez, deve colocar:

- um de seus cartões numa das extremidades da linha formada, ou

- um de seus cartões sobre dois cartões vizinhos já colocados. Neste caso, o número indicado sobre o cartão deverá ser a soma, a diferença, o produto ou o quociente dos números cobertos pelos dois cartões. Ao formar uma trinca, o jogador ganhará os 3 cartões, que sairão do jogo. A sequência diminuirá e o jogo continuará.

O jogo termina quando um dos jogadores não tem mais cartões. O vencedor será aquele que fizer mais trincas.

 

3.3Explosão BUM dos múltiplo

 

Público alvo: alunos do Ensino Fundamental I.

Objetivo: trabalhar múltiplos e a agilidade do pensamento matemático.

Material: não é preciso de material.

Colocar os alunos sentados em círculo, na sala de aula ou mesmo no pátio.

Inicia-se a brincadeira com o professor dizendo qual o número cujo os múltiplos não poderão ser ditos, ex. número 5, e depois ditando o número 1. Cada aluno, sentido horário, vai falando um número na sequência, ao comando do professor, até que chegue ao número 5 (conforme o exemplo), mas este não poderá ser pronunciado, terá que ser dito "BUM" no lugar de dizer 5. Isso se repetirá com todos os números múltiplos de 5. A dificuldade consiste em prestar atenção e não dizer o número múltiplo de 5 e sim "BUM".

Pode-se substituir o número 5 (do exemplo) por outros números: 1, 2, 3, 4...)

 

4.CONCLUSÃO

 

Percebe-se que os jogos se mostram como ferramentas de grande importância para serem utilizadas pelo professor de Matemática, sendo práticas capazes de atrair a atenção dos alunos, mobilizando-os na busca por soluções e melhorando o processo de ensino/aprendizagem em todas as suas esferas.

Ficou evidente a necessidade de práticas pedagógicas capazes de atrair a atenção dos alunos e mobilizá-los em torno de um objetivo comum e mais palpável. Assim, as crianças dedicam-se a procurar e formular soluções, interagem e ajudam-se mutuamente, de modo que todos aprendem de forma divertida e descontraída superando o paradigma de que estudar Matemática é difícil e não tem ligação com a realidade de um ser humano “comum”. Também destacou-se a maneira como os jogos servem aos objetivos do ensino da Matemática, bem como o dinamismo que os mesmos trazem às aulas. Tais práticas levam a um aprendizado prático e, consequentemente, mais duradouro, onde as crianças entendem aplicações e funções da Matemática no dia a dia, tornando-se também mais eficientes em suas tarefas cotidianas que envolvam cálculos e raciocínio lógico.

Propuseram-se três práticas a serem aplicadas em sala de aula, sempre buscando uma forma de ensinar de forma divertida e prazerosa, de forma a captar a atenção dos alunos e mobilizá-los na busca por soluções e estratégias.

 

5.REFERÊNCIAS

 

ALVES, Eva Maria Siqueira. A Ludicidade e o Ensino de Matemática: Uma Prática Possível. 4 ed. Campinas, SP, Papirus, 2007.

 

ALVES, Sandra Márcia Ferreira. A importância da ludicidade na educação infantil. Revista Científica ISCI. Volume 8, número 3, ago. 2021. Disponível em: http://isciweb.com.br/revista/39-numero-3-2021/2476-a-importancia-da-ludicidade-na-educacao-infantil. Acesso: set. 2021.

 

ARANÃO, Ivana Valéria Denófrio. A Matemática Através de Brincadeiras e Jogos. 5ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.

 

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

D’AMBROSIO, B. S. Como Ensinar Matemática Hoje? SBEM, Brasília, ano 2, n.2, p.15-19, 1989.

 

DANTAS, Carine Costa; RAIS, Isabela; JUY, Noeli. Jogos e Aprendizagem de Noções Matemáticas na educação Infantil. 2012. 42f. Universidade São Marcos, São Paulo.

 

DCE. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Matemática. Curitiba: SEED, 2008.

 

GARCIA, Renata Viviani; OLIVEIRA, Cleber dos Santos; OLIVEIRA, Rafaelle Poliana Garcia de; REIS, Cristiane Rogrigues; SANTANA, Greicilele Volpato de. Oficinas pedagógicas de Matemática. Revista Científica ISCI. Volume 8, número 3, ago. 2021. Disponível em: http://isciweb.com.br/revista/39-numero-3-2021/2653-oficinas-pedagogicas-de-matematica. Acesso: set. 2021.

 

GOMES, M. L. M. História do Ensino da Matemática: uma introdução. Belo Horizonte: CAED-UFMG, 2012.

 

PADILHA; Joselene de Araujo; NAVARRO, Edenette Moraes; CONCEIÇÃO, Patrícia Helena da; COSMO, Eduarda Falcete; FONSECA, Marta Santos Silva. O lúdico no processo de ensino aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Revista Científica ISCI. Volume 8, número 3, ago. 2021. Disponível em: http://isciweb.com.br/revista/39-numero-3-2021/2609-o-ludico-no-processo-de-ensino-aprendizagem-nas-series-iniciais-do-ensino-fundamental. Acesso: set. 2021.

 

RODRIGUES, L. L. A Matemática ensinada na escola e a sua relação com o cotidiano. Brasília: UCB, 2005.