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PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL: VIVENCIANDO O GÊNERO CONTO

 

Fabiana Bernachi Batista da Silva1

Artigo científico apresentado à Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Alfabetização e Letramento.

 

RESUMO

Cientes que o desenvolvimento das capacidades de leitura, compreensão, interpretação e produção de textos são essenciais para a vida em sociedade. Conhecedor da importância de tais construções por parte dos alunos e alunas e mediante diagnóstico interno desse processo realizado no início do ano letivo o qual revelou fragilidades quanto ao domínio dessas capacidades por parte dos estudantes. Diante de tal realidade, buscamos trabalhar com Projeto de intervenção pedagógica para sanar tais fragilidades. Considerando as dificuldades de aprendizagem dos educandos da escola quanto à leitura, compreensão e interpretação de textos, buscamos estratégias que possibilitassem superar ou amenizar tais desafios. Optamos por planejar e desenvolver aulas que fossem atrativas e que favorecessem a aprendizagem significativa do aluno e aluna. Adotamos a abordagem metodológica qualitativa com técnicas do estudo de caso fazendo análise da estratégia utilizada com a 3ª fase do 2º Ciclo do Ensino Fundamental II para trabalhar os gêneros textuais, com foco no gênero literário conto, assim como observações do fazer pedagógico e das ações dos alunos e alunas. Buscamos aporte teórico nas Orientações Curriculares do Estado de Mato Grosso (1998), Soares (2009), Silva (2003) Kleiman ( 2007) Solé (1998) dentre outros. Este texto, portanto, tem por objetivo socializar os resultados do projeto de intervenção didática realizado na Escola Estadual Cleufa Hübner. Concluímos que os alunos e alunas têm construído as capacidades de utilização dos gêneros. Ressaltamos que há necessidade de ampliar os conhecimentos quanto às estruturas dos mesmos. Trabalhando com estratégias diferenciadas é possível ampliar os conhecimentos dos estudantes e construir capacidades de forma lúdica, divertida e interativa e desenvolver práticas da leitura.

Palavras - chave: Práticas de leitura e escrita; Gênero conto; Ensino e aprendizagem.

 

ABSTRACT

You are aware that the development of reading skills, comprehension, interpretation and production of texts are essential for life in society. Knowing the importance of such constructions by the students and through internal diagnosis of this process carried out at the beginning of the school year which revealed weaknesses as to the mastery of these abilities by the students. Faced with this reality, we seek to work with Project of pedagogical intervention to remedy such frailties. Considering the learning difficulties of the students of the school regarding reading, comprehension and interpretation of texts, we searched for strategies that could overcome or ameliorate such challenges. We chose to plan and develop classes that were attractive and that favored meaningful student and student learning. We adopted the qualitative methodological approach with case study techniques, analyzing the strategy used with the 3rd phase of the 2nd Cycle of Elementary Education II to work on textual genres, focusing on the literary genre, as well as observations of the pedagogical doing and the actions of the Students. We sought theoretical support in the Curricular Guidelines of the State of Mato Grosso (1998), Soares (2009), Silva (2003) Kleiman (2007) Solé (1998) among others. This text, therefore, aims to socialize the results of the didactic intervention project carried out at the Cleufa Hübner State School. We conclude that the students have constructed the capacity of use of the genres. We emphasize that there is a need to expand knowledge about their structures. Working with differentiated strategies it is possible to expand students' knowledge and build capacities in a playful, fun and interactive way and develop reading practices.

Keywords: Reading and writing practices; Genre story; Teaching and learning.

 

Introdução

 

O presente trabalho tem como proposta promover práticas de leitura e escrita através do gênero Conto. Tem como objetivo despertar o interesse e o prazer pela leitura. Esta proposta é muito discutida por autores como Soares, Kleiman, Solé, Linard, Silva, e as Orientações Curriculares dentre outros.

Atualmente para que o indivíduo consiga viver em sociedade, ele precisa desenvolver capacidades e competências de leitura e escrita, pois está sociedade exige leitores que consiga ler o mundo que está a sua volta. Pensamos que a escola enquanto estabelecimento de ensino tem por objetivo garantir que todos os alunos sejam alfabetizados e letrados, mas infelizmente não é bem assim que acontece, pois muitos alunos concluem o ensino sem desenvolver praticas leitura e escrita.

 

Conforma Soares

 

As pessoas se alfabetizam, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais da escrita: não leem livros, jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher um formulário... (SOARES, 2004, p. 45-46).

 

 

No decorrer do trabalho ressaltamos a importância da leitura e a escrita nas aulas de Língua Portuguesa, abordamos também a relevância dos gêneros Conto na sala de aula como prática de leitura. Em seguida descrevemos a metodologia que utilizamos para realizarmos o projeto. E por fim a aplicação do projeto e a análise dos resultados.

O estudo de caso foi aplicado na Escola Estadual Cleufa Hübner e foi desenvolvido na 3ª fase do 2º ciclo do ensino fundamental II no período matutino. Através da aplicação do projeto "Práticas de leitura e escrita: Vivenciando o Gênero Conto", pretendemos mostrar que o gênero contribui para promover praticas de leitura e escrita.

 

A leitura e escrita na sala de aula

 

Nós professores sabemos que desenvolver as capacidades de leitura, compreensão, interpretação e produção de texto é objetivo primordial nas aulas de língua portuguesa, pois entendemos que o domínio dessas capacidades por parte do aluno é fundamental para sua vida em sociedade. Mas em contra partida nos deparamos com o desinteresse por parte do aluno em relação às aulas de Língua Portuguesa. Percebemos o quanto é difícil despertar no aluno o interesse, o gosto e o prazer pela leitura. Uma das queixas mais recorrentes que ouvimos dos professores é que os alunos “não sabem ler” “não gostam de ler”, e “não querem aprender a ler”, as reclamações são unânimes, mas percebemos que poucas ações são realizadas para mudar esta realidade e incentivar a leitura. Conforme (KLEIMAN) 2007 p. 15 “Para formar leitores, devemos ter paixão pela leitura”, ou seja, se o professor apenas cobrar a leitura, e não demonstra prazer pela leitura em suas aulas, provavelmente não despertará no aluno está paixão pela leitura. A esse propósito, lembramos (LINARDI) 2008 p.8 que nos ensina: “O aluno só aprende a ler, se tiver um professor que saiba ler, que lhe sirva como modelo, que leia para ele. O momento de leitura é um momento de fruição, de prazer”. Portanto para despertar o interesse e o prazer pela leitura, optamos em trabalhar com oficina de leitura e escrita através do gênero conto. Entende-se como gêneros textuais  as estruturas com que se compõem os textos sejam eles orais ou escritos, que encontramos em nosso dia a dia.

Conforme Markuschi

 

Os gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas. Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos (2005 p.25).

 

Sabemos que os gêneros estão inseridos em nossa sociedade, e estão por toda parte, e cabe a escola ensinar o aluno a ler este mundo de informações que o cerca. Pois acreditamos que ainda é na escola que muitos alunos têm o único contato com o livro. Conforme (MIGUEZ) 2000 p. 28. “Na maioria dos casos, a escola acaba sendo a única fonte de contato da criança com o livro e, sendo assim, é necessário estabelecer-se um compromisso maior com a qualidade e o aproveitamento da leitura como fonte de prazer”. Essa é a intenção da oficina proporcionar ao aluno uma leitura prazerosa e com muitas descobertas. Para tanto apostamos nos contos de enigma e de horror, pois acreditamos que estes textos poderão despertar a curiosidade do aluno, e consequentemente o interesse pela leitura e a escrita. Como ressalta as Orientações Curriculares (1998) “o conto faz parte de um grupo de gêneros literários cujo domínio é fundamental à efetiva participação do aluno na sociedade”.

Cientes da importância da leitura, para que o individuo consiga viver em sociedade, almejamos através desta oficina, que os alunos também percebam a sua relevância, pois é através dela que os horizontes se abrem, as oportunidades surgem, e se expandi o conhecimento de mundo. Segundo as Orientações Curriculares (2010) “O desenvolvimento de capacidades de leitura e de escrita é indispensável no processo da compreensão da realidade para o exercício da cidadania como uma das condições para a transformação social”.

 

 

É notório que os momentos de leitura existem em sala de aula, entretanto os temas sugeridos para a leitura não são atrativos e não despertam interesse no aluno, pois são atividades meramente com intuito avaliativo, que prioriza a estrutura do texto, as interpretações são superficiais, ou seja, os momentos de leitura e escrita tornam - se apenas um decifras de códigos, esquecendo-se que a leitura contribui para o conhecimento cognitivo do aluno.

 

Segundo Pullin e Moreira

 

Para que um texto tome vida, há que o leitor não só reconheça as informações pontuais nele presentes, mas que aprenda quais sentidos foram produzidos por quem as escreveu. Levantar hipóteses e produzir inferências, antecipe aos ditos no texto e relacione elementos diversos, presentes no mesmo ou que façam parte das suas 12 vivências como leitor. Ao assim proceder, o leitor compreenderá as informações ou inter-relações entre informações que não estejam explicitadas pelo autor do texto. Por isso, a leitura é uma produção: a construção de sentido se atrela à realização de pelo menos esses processos, por parte do leitor. A compreensão do texto lido é resultante dessas produções: prévias, por parte de quem as escreveu, e das que ocorrem ao ler, por parte do leitor (Pullin e Moreira 2008, p. 35).

 

 

Proposta didática a partir do gênero conto

 

 

O conto é um dos gêneros prosaicos mais populares da Literatura. Acreditamos que este gênero vem ao encontro das necessidades de aprendizagem de uma sala de aula, por se tratar de um gênero condensado que traz em suas histórias fatos do cotidiano de uma sociedade, permitindo assim uma leitura mais rápida e uma interpretação mais concreta por parte dos alunos. Segundo (SOARES) 2009 p. 25. “O conto geralmente é caracterizado por dizer muito com poucas palavras, os poucos traços das personagens devem ser significativos o suficiente para repercutir no leitor o efeito desejado”, ou seja, acreditamos que por se tratarem de textos curtos poderá despertar no aluno o interesse pela leitura.

 

Silva ressalta que:

 

A leitura de contos pode estimular o aluno-leitor a encontrar, na leitura literária, uma forma lúdica de entender melhor sua própria realidade. Ao ler narrativas curtas, que exijam uma resposta mais rápida e dinâmica do receptor, o aluno pode se sentir mais atraído pelo texto (SILVA, 2005, p.93).

 

 

Aplicação da pesquisa: análise dos resultados

 

 

O projeto foi realizado na Escola Estadual Cleufa Hübner com alunos do 3ª fase 2º ciclo (8º ano) do ensino fundamental II no período matutino. O projeto tem como proposta trabalhar práticas de leitura e produção textual através do gênero conto. Iniciamos a aula com uma conversa para sondagem do conhecimento prévio dos alunos em relação ao gênero conto. Em seguida explicamos aos alunos as características do gênero em estudo com ênfase nos contos de enigma e contos de horror, por se tratar de um gênero de interesse dos alunos. Durante a explicação, intercalávamos com a leitura de um trecho do conto Sherlock Holmes em um escândalo na boemia de Arthur Conan Doyle e A queda da casa de Usher de Edgar Allan Poe, para ilustrar cada exemplo e não deixar o assunto desinteressante para os alunos.

No próximo encontro encaminhamos os alunos ao laboratório de informática para uma pesquisa sobre os contos e seus autores. Após a pesquisa fizemos uma seleção dos contos para que escolhessem o conto que mais lhe agradou. Em seguida os alunos fizeram uma leitura silenciosa.

Em outro momento sugerimos aos alunos que fizessem um círculo formando assim a nossa “roda da leitura”, para que eles fizessem a socialização do conto lido aos colegas. Segundo (KLEIMAN) 2013 p. 36 "é durante a interação que o leitor mais inexperiente compreende o texto: não é durante a leitura silenciosa, nem durante a leitura em voz alta, mas durante a conversa sobre aspectos relevantes do texto". Para uma melhor compreensão dos alunos em relação ao gênero em estudo, eles assistiram assistir ao filme “O jogo de sombra”.

Em outro momento entregamos uma proposta de escrita do conto iniciamos a produção textual dos contos, pois entendemos que já estavam preparados e capacitados para escreverem se próprio conto. A escolha do tema ficou a critério dos alunos, lembrando sempre que se trata de contos de enigma e de horror. Os alunos tiveram o tempo necessário para a produção. Assim que terminaram os alunos foram encaminhados ao laboratório de informática para fazer a digitalização de suas produções, sugerimos aos alunos que não colocassem o seu nome em seu texto, mas que usassem um pseudônimo.

Quando todos terminaram suas produções houve a socialização, onde cada aluno fez a escolha do texto sem saber quem foi que escreveu. Eles fizeram a leitura individual para se apropriarem da história, em seguida eles socializaram com o grupo. SOLÉ (1998) salienta que é justamente na troca de experiências e histórias de leitura que, de fato ocorre à interação entre textos e leitores.

No início da oficina, percebemos certo desinteresse dos alunos em relação ao projeto, por se tratar de oficinas que exigiria deles a tão “temida” leitura e a escrita. Sabendo a aversão dos alunos em relação à leitura, optamos em trabalhar os contos de horror e enigma para tentar despertar no aluno algum entusiasmo. A princípio não foi fácil, houve rejeição por parte dos estudantes, mas com o passar dos dias conseguimos despertar o interesse e o fascínio pelos enigmas e os mistérios que os contos traziam. Chegamos ao final da oficina com alunos leitores, e gratos por proporcionarmos a eles momentos de leituras inesquecíveis.

Ressaltamos que, por intermédio de estratégias diferenciadas, divertidas e interativas é possível despertar no aluno o prazer pela leitura.

 

Conclusão

 

Sabemos que desenvolver capacidades de leitura e escrita é essencial para vivermos socialmente, seja para nos proporcionar melhores oportunidades de emprego, ou interagir com clareza em seu meio social, tornando-se assim cidadãos críticos, reflexivos e conscientes no exercício de cidadania.

Entendemos que o processo de ensino aprendizagem da leitura em sala de aula, não é tarefa fácil, é um desafio tanto para nós professores quanto para os alunos, contudo não é algo impossível de se alcançar. Para tanto propomos que o professor trabalhe com oficinas de leitura, que ofereça ao aluno aulas mais dinâmicas, participativas e reflexivas, para que assim os momentos de leitura em sala realmente faça sentido a ele.

Através da aplicação da oficina, comprovamos que, ao trabalhar com aulas diferenciadas e atrativas podemos desenvolver práticas de leitura e escrita. Contudo ressaltamos que os resultados obtidos foram positivos, pois foram ao encontro dos objetivos propostos.

 

Referências

 

LINARDI, Fred. O X da questão. Leitura. n. 18, 2008, p. 7-9.

 

MARCUSCHI, Antônio, Luiz. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Paiva, Ângela; MACHADO, Rachel, Anna. Gêneros textuais e Ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

 

MIGUEZ, Fátima. Nas arte-manhas do imaginário infantil. 14. ed. Rio de Janeiro: Zeus, 2000.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Língua Portuguesa: ensino médio. Secretaria de Educação. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

_____________: ensino médio. Secretaria de Educação. Brasília: MEC/SEF, 2010.

 

PULLIN, Elsa M. M.P.; MOREIRA, Lucinéia de S. G. Prescrição de leitura na escola e formação de leitores. Revista Ciências &Cognição,2008.

 

SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1993.

 

SOARES, Magda. Letramento – Um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

 

SOARES, Marcos. Literatura em Língua Inglesa: Tendências Contemporâneas. CURITIBA: IESDE Brasil S.A, 2009. 

 

SILVA, Ivanda Maria Martins. Literatura em sala de aula: da teoria à prática escolar. 2003.

 

SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

 

KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 2007.

 

____________. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 15. ed., Campinas, SP – Pontes Editores, 2013.

 

1Graduada em Licenciatura Plena em Letras. Pós-graduada em Alfabetização e Letramento.