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SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DAS TERAPIAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS E SUA IMPORTÂNCIA PARA O TRATAMENTO DE PSICOPATOLOGIAS

Aparecida Luzinete de Andrade Costa[1]

 

RESUMO

Atualmente podem ser observados vários métodos de TCCs (Terapias Cognitivo-comportamentais). Percebe-se, contudo, que todos estes métodos estão fortemente fundamentados nos princípios da Terapia Cognitiva, entretanto é preciso destacar que existem diferenças de estrutura que levam à segmentação em duas vertentes de grande importância. Deste modo, o presente trabalho de pesquisa tem como foco principal o entendimento relativo ao surgimento da TCC, que data dos anos de 1960, bem como conhecer seu processo evolutivo até os dias atuais e a importância clínica da utilização de tais técnicas. Assim, visando cumprir com os objetivos aqui formulados, elegeu-se a metodologia de revisão bibliográfica, buscando fundamentação teórica nos estudos de autores de grande importância na referida área, como ABREU e ROSO (2003), BECK (1997), BORBA (2005), CABALLO (2003), DOBSON (2006), LOPES Et al. (2018), KNAPP (2004), ROSO (2003), RANGÉ (2001), entre outros.

 

PALAVRAS-CHAVE: Psicologia Clínica. TCC (Terapia Cognitivo-comportamental). Tratamento psicopatologias. 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Percebem-se, nos dias atuais, várias metodologias e intervenções compondo as Terapias Cognitivo-comportamentais. Observa-se, neste quesito, um grande salto evolutivo no tratamento das psicopatologias a partir da década de 1960.

Entende-se, portanto, tal evolução, fundamentada principalmente na insatisfação com os antigos métodos de tratamento e os resultados obtidos por meio de sua utilização. Deste modo, abriu-se espaço para o fortalecimento de novas teorias e práticas que já estavam sendo pesquisadas e divulgadas por alguns pesquisadores, entre eles destacam-se Aron Beck, Albert Ellis e Michael Mahoney.

Contudo, este trabalho busca um conhecimento mais amplo com relação ao surgimento das Terapias Cognitivo-comportamentais, além da importância de sua utilização em nossa sociedade atual, já que constituem uma verdadeira revolução no que tange o tratamento de psicopatologias.

Destaca-se também a variedade de TCCs (Terapias Cognitivo-comportamentais) utilizadas hoje, enfatizando-se duas grandes vertentes:

- Terapia cognitiva objetivista;

- Terapia cognitivo-construtivista.

Observam-se ainda as principais diferenças entre tais vertentes, bem como suas características principais.

Já no que diz respeito ao atendimento clínico ao paciente, a importância de uma análise detalhada da pessoa, de seu problema, bem como dos fatores capazes de manter o problema existindo na vida do indivíduo, figuram como pontos cruciais da prática terapêutica.

Visando o cumprimento do que se objetivou com a presente pesquisa, utilizou-se a metodologia de revisão bibliográfica, buscando fundamentação teórica nos estudos de autores de grande importância na referida área, como ABREU e ROSO (2003), BECK (1997), BORBA (2005), CABALLO (2003), DOBSON (2006), LOPES Et al. (2018), KNAPP (2004), ROSO (2003), RANGÉ (2001), entre outros. Em busca de abordar o tema pesquisado de forma mais completa e por distintos ângulos, capazes de tornar este estudo mais abrangente e significativo.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

Destaca-se inicialmente, com relação às Terapias Cognitivas Comportamentais (TCCs), que tanto seu surgimento, bem como seu processo de expansão ao longo das últimas décadas, determinaram um processo evolutivo de variados entendimentos e influências vindas de naturezas e conhecimentos diversos.

Deste modo, traz-se à baila a chamada “Revolução Cognitiva”, ocorrida nos anos de 1960, já que se trata de um movimento inerente a distintos acontecimentos da época, como enfatizado por diversos estudiosos do assunto.

Lopes Et al. Acrescentam o seguinte:

 

O movimento cognitivista, ou processamento de informação (PI), retomou a mente como objeto de estudo, manteve a experimentação como seu método por excelência e abriu espaço para a influência de modelos de mente e métodos de pesquisa, inspirados na computação e na neurociência. (LOPES Et al., 2018, p.41)

 

Neste sentido, diversos registros mostram a grande insatisfação para com os modelos adotados até então para o tratamento das psicopatologias. Também já se fazia significativa a influência das novas descobertas no ramo da Psicologia Cognitiva Aplicada.

Entende-se, portanto, que tais fatores foram capazes de compor um fértil terreno para a “Revolução Cognitiva”. Assim, Dobson (2003) enfatiza que, os resultados dos trabalhos de Vygotsky, somando-se ao senário da época, resultou na elaboração de vários modelos para a Abordagem Cognitivo-comportamental, que continuaram a evoluir até os dias atuais.

Como marco inicial desta revolução, permeiam principalmente os trabalhos e estudos de Aron Beck, Michael Mahoney e Albert Ellis, apresentando novas teorias e fundamentações relativas ao tratamento das patologias de natureza psicológica. (ROSO; ABREU, 2003)

Lopes Et al. (2018), complementa:

 

No que tange à neurociência cognitiva, uma agenda de pesquisa desenvolveu-se no sentido de buscar os mecanismos neurais subjacentes ao funcionamento cognitivo. Isso certamente foi impulsionado pelo avanço tecnológico na área das imagens cerebrais. Essa aliança foi positiva não só pela descoberta de áreas mais responsáveis pelos processos cognitivos estudados dentro da abordagem do PI, mas também pelas implicações no campo da neuropsicologia, principalmente porque essas descobertas tiveram e têm forte impacto em termos de diagnóstico e tratamento de transtornos mentais. (LOPES Et al., 2018, p.47)

 

Contudo, nas décadas seguintes à de 1960 surgiram novos modelos teóricos, entretanto, todos estes seguiam a mesma fundamentação e embasamento científico. Assim, percebe-se que as TCCs hoje em dia, apresentam-se bastante amplas, contando com muitas técnicas, procedimentos e protocolos distintos. (BORBA, 2005)

Entretanto, destacam-se a Terapia Cognitiva formulada por Beck e também a Terapia Racional Emotivo Comportamental constituída por Ellis, como sendo as técnicas de maior destaque e reconhecimento entre as desenvolvidas na década de 1060. (DOBSON; SCHERRER, 2004)

Lopes Et al. (2018) corroboram ao firmar que:

 

Naquele momento, houve uma ênfase na elaboração de modelos cognitivos estruturais que metaforicamente comparavam a atenção a um filtro. O filtro selecionava a informação relevante com base nas características físicas dos estímulos em um estágio inicial do processamento da informação... (LOPES Et al., 2018, p.)

 

É preciso destacar ainda que que as diferentes Terapias Cognitivo-comportamentais, mesmo apresentando distinções entre si, estão todas embasadas em um mesmo grupo de pressupostos, sendo eles:

- A atividade cognitiva influencia o comportamento;

- A atividade cognitiva tem a possibilidade de ser alterada;

- Assim, o comportamento humano pode sofrer influências de mudanças cognitivas. (DOBSON, 2006)

O autor destaca ainda que, deste modo, somente terapias nas quais pode-se demonstrar a mediação cognitiva podem ser classificadas como Terapias Cognitivas Comportamentais.

Roso e Abreu (2003) destacam que tais modelos teóricos continuam constantemente sofrendo alterações, sendo formulados e também reformulados e ainda ampliados mantendo um processo de evolução natural que afeta o conhecimento científico de maneira geral, independente da área de atuação.

Faz-se importante apresentar as duas variantes com relação à terapia cognitivo-comportamental, conforme apresentadas a seguir:

- Terapias cognitivas objetivistas;

- Terapias cognitivo-construtivistas.

Percebe-se que as principais diferenças encontradas entre tais vertentes estão presentes no papel por elas atribuídas às emoções, também no papel que o terapeuta ocupa neste processo, como ainda em parte das técnicas a serem utilizadas e por fim na natureza que se atribui à disfunção. (ABREU; ROSO, 2003) Entretanto, a principal diferença a ser destacada está no papel atribuído às emoções.

Assim, Roso e Abreu (2003), destacam que a partir da visão construtivista entendem-se as emoções não como algo racional, mas nem como irracionais. Deste modo, as emoções estariam apresentadas como uma questão adaptativa, capazes de apresentar a maneira de como uma situação é vivenciada por um indivíduo. Com isso, esta vertente está focada na interação que ocorre entre a razão e a emoção, iniciando-se pelas emoções.

Entretanto, na vertente cognitivista-objetivista, as emoções são vistas como resultantes dos padrões de pensamentos do indivíduo. Já, com relação aos padrões de pensamento, estes são percebidos como sendo produtos das crenças pessoais do indivíduo. Deste modo, entende-se que as emoções passam a indicar pensamentos. Assim, de acordo com esta linha, as crenças “irracionais” tendem a causar emoções ruins que consequentemente geram psicopatologias.

Entretanto, até hoje, ainda se encontram grandes controvérsias acerca dessas duas vertentes, sendo que inexiste taxonomia relativa à Terapia Cognitivo-comportamental que possa satisfazer os diversos modelos trabalhados, evidenciando assim a importância de se intensificarem os estudos neste campo de trabalho da Psicologia Clínica. (ROBSON; SCHERRER, 2004)

É preciso mencionar ainda que, no atendimento direto ao paciente, o trabalho deve estar estruturado em uma cuidadosa avaliação cognitivo-comportamental. Deste modo, tais análises devem se dar por meio de entrevistas e de diálogos entre o terapeuta e o paciente, sendo este o primeiro passo a ser dado no tratamento psicoterápico. (BECK, 1997)

Rangé (1998), acrescenta que as informações relativas ao problema que o paciente apresenta, como ainda nos fatores responsáveis por manter este problema, devem ser dados levantados no primeiro momento. Com isso, o terapeuta em contato com o paciente deve estabelecer o diálogo capaz de fornecer informações que embasarão a estruturação do plano de trabalho, haja vista que, é preciso uma fiel avaliação do quadro atual para que se elabore de forma eficiente sua atuação terapêutica.

Beck (1997) explica que após esta primeira fase, de busca por conhecimento sobre a atual situação do paciente, são construídas as hipóteses relativas ao diagnóstico, bem como ao tratamento. De forma que, a partir daí organizam-se as necessárias intervenções e estabelecem-se metas.

Deste modo, entendem-se que parte dos profissionais ao formularem o caso estão formulando, de fato, a hipótese a ser trabalhada. No entanto, a hipótese se apresenta de forma dinâmica, haja vista a possibilidade de ser alterada, reformulada ou até mesmo descartada e substituída, para que se mantenha sempre de acordo com os avanços alcançados durante o tratamento. Com isto, quando o paciente não alcança a melhora esperada no período de tempo determinado, a hipótese inicial deve ser revisada, alterada, descartada ou reformulada, de forma a tornar-se mais adequada ao caso. (KNAPP, 2004)

Rangé (2001) alerta que tal processo inicial, no qual se busca fazer a formulação do caso, extrapola à formulação do diagnóstico, devendo constituir, de fato, uma compreensão a ser formulada de maneira ampla, completa e complexa do funcionamento do paciente enquanto indivíduo, não apenas observando o momento presente, mas ainda deve ser entendida sua vida até então, nos principais pontos e acontecimentos.

 

 

CONCLUSÃO

 

Fundamentando-se no presente trabalho, nota-se em primeiro lugar que as técnicas de Terapia Cognitiva-comportamental foram formuladas a partir da chamada “Revolução Cognitiva” ocorrida nos anos de 1960. Tal fato deve-se principalmente à insatisfação crescente com os modelos vigentes de tratamento de psicopatologias, bem como pelos resultados insatisfatórios alcançados com tais tratamentos.

Frente a este cenário e aos vários estudos que já vinham sendo feitos e publicados com relação a novos métodos e modelos de trabalhos voltados à linha cognitiva criou-se o ambiente perfeito para a “Revolução Cognitiva”.

Deste modo, surgia a Terapia Cognitiva-comportamental que evoluiu nas décadas seguintes, desdobrando-se em diversos métodos distintos de trabalho cognitivo.

Destaca-se, portanto, que, todos os novos métodos surgidos estavam fundamentados e firmemente embasados nos princípios básicos de Terapia Cognitivo-comportamental, sendo eles, segundo Dobson (2006):

- A atividade cognitiva influencia o comportamento;

- A atividade cognitiva tem a possibilidade ser alterada;

- Assim, o comportamento humano pode sofrer influências de mudanças cognitivas.

As duas vertentes mais importantes da Terapia Cognitivo-comportamental também foram evidenciadas, sendo elas:

- Terapias cognitivas objetivistas;

- Terapias cognitivo-construtivistas.

Destacou-se, nesse sentido, que as principais diferenças entre estas duas vertentes estão relacionadas com o papel atribuído às emoções e a relação destas com o tratamento em si.

Entretanto, no que se refere diretamente ao tratamento ao paciente, destacou-se na presente pesquisa a importância da cautelosa e detalhada investigação com relação à atual situação do paciente, como também dos principais pontos por ele vivenciados ao longo da vida até o momento, haja vista serem estes apontamentos o ponto de partida para a formulação da hipótese norteadora, além dos métodos eleitos para as intervenções.

Por fim, é preciso destacar que as hipóteses de trabalho devem ser encaradas como mutáveis e flexíveis, já que devem ser alteradas ou reformuladas de acordo com os resultados que vão sendo obtidos durante o tratamento, de forma a manterem-se sempre coerentes com o quadro atual. Entretanto, destaca-se a necessidade ainda mais urgente de se rever a hipótese quando o paciente não apresente a evolução esperada no tempo estipulado.

 

 

REFERÊNCIAS

 

Abreu, C. N. ; Roso, M. Cognitivismo e Construtivismo. IN: Abreu, C.N.; Roso, M. (e col.). Psicoterapias cognitiva e construtivista – novas fronteiras da prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

 

Beck, J. S. Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas. 1997.

 

Borba, A. Disciplina Online de TCC: expansão das fronteiras da formação em TCC através da educação online. Rio de Janeiro, UFRJ. Dissertação de Mestrado, 2005.

 

Caballo,V. Manual para o tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológicos: transtornos de ansiedade, sexuais, afetivos e psicóticos. São Paulo: Santos, 2003.

 

Dobson, K.S. (e col) Manual de terapias cognitivo comportamentais. Porto Alegre: Artmed, 2006.

 

Dobson, K.S.; Shcerrer, M. C. História e futuro das terapias cognitivo-comportamentais. IN: Knapp, P. (e col). Terapia Cognitivo Comportamental na Prática Psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004.

 

Knapp, P. Princípios fundamentais da terapia cognitiva. In: Knapp, P. (e col). Terapia Cognitivo Comportamental na Prática Psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004.

 

LOPES, Ederaldo José; ROSSINI, Joaquim Carlos; LOPES, Renata Ferrarez Fernandes; GOMES, William Barbosa; CARONE, Iray. Revolução cognitiva e processamento de informação sessenta anos depois: retrospectiva e tendências. Memorandum, 35, 40-64. Disponível em: seer.ufmg.br/index.php/memorandum/article/view/12705. Acessso: dez. 2021.

 

Roso, M.; Abreu, C.N. Introdução. IN: Abreu, C.N.; Roso, M. (e col.). Psicoterapias cognitiva e construtivista – novas fronteiras da prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

 

Rangé, B. Psicoterapia Cognitiva. In B. Rangé (org.), Psicoterapia Comportamental

e Cognitiva, Pesquisa, Prática, Aplicações e Problemas (Vol. I, pp. 89-108). Campinas:

Editorial Livro Pleno. 1998.

 

Rangé, B. Psicoterapias Cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed. 2001.

 

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