Buscar artigo ou registro:

 

 

INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO

Márcia Regina Rocha[1]

Léo Ricardo Mussi[2]

 

 

Introdução

 

A apresentação de grupos socioculturais múltiplos nos panoramas públicos, tanto no campo internacional como no nacional brasileiro, tem provocado conflitos, desordens, debates e transações encaminhadas à constituição de políticas públicas que enfoquem tais questões.

Em cada panorama, tal problemática contrai um desenho característico, pertinente às distintas constituições tanto históricas quanto político-culturais de cada realidade.

A asseveração das dessemelhanças - de gênero, religiosas, étnicas, orientação sexual, dentre outras - configura-se de padrões plurais, adotando diferentes formas e linguagens.

Assim, compreende-se que tais problemáticas são multíplices, visibilizadas de maneira especial pelos abalos de caráter social que aponta desigualdades, injustiças e discriminações, agenciando a necessidade de que haja mais igualdade de acesso tanto a bens quanto a serviços e importância político e cultural.

Dessemelhantes amostras de discriminação, preconceito, diversas configurações de violência dentre elas a intolerância religiosa, a física, a simbólica, a homofobia, o bullying, estereótipos de gênero, exclusão de indivíduos deficientes, dentre muitas outras, se revelam atuais na sociedade contemporânea, assim como no dia a dia das unidades escolares.

A compreensão de tal realidade se descobre cada vez mais intensa dentre professores e professoras, compreende-se, assim, que as contendas se mostram gritantes nas unidades escolares, principalmente quando se fala da interculturalidade na Educação.

Contudo, numerosos estudos e pesquisas identificam, apresentam e apontam circunstâncias nas quais estudantes com verificadas “marcas” identitárias são largados/as de lado, tratados como objetos de discriminações e inferiorizados no cotidiano escolar.

 

 

DESCRIMINAÇÃO DO PROBLEMA

 

Estamos como, educadores e educadoras, desafiados/as a promover processos de desconstrução e de desnaturalização de preconceitos e discriminações que impregnam, muitas vezes com caráter difuso, fluido e sutil, as relações sociais e educacionais que configuram os contextos em que vivemos.

Pierucci (1999, p.7), em seu livro “Ciladas da diferença”, esquematiza tal tensão da seguinte forma:

 

... todos iguais ou somos todos diferentes? Queremos ser iguais ou queremos ser diferentes? Houve um tempo que a resposta se abrigava segura de si no primeiro termo da disjuntiva. Já faz um quarto de século, porém, que a resposta se deslocou. A começar da segunda metade dos anos 70, passamos a nos ver envoltos numa atmosfera cultural e ideológica inteiramente nova, na qual parece generalizar-se, em ritmo acelerado e perturbador, a consciência de que nós, os humanos, somos diferentes de fato (...), mas somos também diferentes de direito. É o chamado "direito à diferença", o direito à diferença cultural, o direito de ser, sendo diferente. The right to be different!, como se diz em inglês, o direito à diferença. Não queremos mais a igualdade, parece. Ou a queremos menos, motiva-nos muito mais, em nossa conduta, em nossas expectativas de futuro e projetos de vida compartilhada, o direito de sermos pessoal e coletivamente diferentes uns dos outros. (Pierucci, 1999, p. 7)

 

Assim, compreende-se que a naturalização se mostra como um dispositivo que faz em grande parte imperceptível e, essencialmente obscura, desta problemática, invadindo e povoando os imaginários individuais e sociais em relação aos dessemelhantes grupos socioculturais.

Ainda se revela essencial mostrar e questionar os padrões de igualdade, como ainda de dessemelhanças que norteiam os campos educacionais. Outro feitio importantíssimo é problematizar o lado tanto monocultural quanto o etnocentrismo que, explícita ou mesmo implicitamente, se descobrem claramente presentes nas unidades escolares e contaminam os currículos escolares.

Necessita haver ainda mais questionamento acerca dos critérios usados tanto para selecionar quanto justificar todos os conteúdos escolares, desestabilizando, com isso, a temida "universalidade" dos saberes, dos valores e de todas as práticas que delineiam as atuações educativas, promovendo mais diálogo dentre múltiplos aprendizados e saberes.

Para tanto, deve-se reconhecer e ainda valorizar as multiplicidades de caráter cultural, os múltiplos saberes e práticas, fortalecendo, com isso, a sua analogia com o direito que é afiançada a todos à Educação.

Desta forma, reedifica-se o que se considera "comum" a todos e todas e garante-se que nele os múltiplos sujeitos socioculturais se compreendam, agenciando, assim, que a igualdade se apresente perante as dessemelhanças que são encaradas como norteadoras, externando-se, com isso, o caráter monocultural que enreda a cultura escolar.

Assim, configura-se a importância de que haja tanto a atualidade quanto a importância dos direitos humanos, o que vem ao encontro com o que salienta Santos (2006, p.441-44), professor da Universidade de Coimbra, que é imprescindível uma ressignificação de tais direitos atualmente. O autor afirma que:

 

(...) enquanto forem concebidos como direitos humanos universais em abstrato, os Direitos Humanos tenderão a operar como um localismo globalizado e, portanto, como uma forma de globalização hegemônica. Para poderem operar como forma de cosmopolitismo insurgente, como globalização contra hegemônica, os Direitos Humanos têm de ser reconceptualizados como interculturais. (Santos, 2006, p. 441-442)

 

O resgate dos métodos de constituição das identidades culturais, tanto no coeficiente pessoal quanto coletivo também se revela muito importante, configurando-se como um elemento relevante neste panorama que envolve a vida dos indivíduos e das distintas comunidades socioculturais.

Com isso, evidencia que é importante trabalhar por meio de uma compreensão dinâmica e histórica acerca da cultura, buscando-se conectar tanto as raízes históricas quanto às novas configurações, fugindo de uma visão que vizualiza as culturas como sendo apenas universos fechados.

Deve-se, pois, agenciar experiências de inclusão sistemática com os "outros", ou seja, para que possa se apresentar capaz de relativizar seu próprio modo de situar-se perante o mundo e atribuir-lhe sentido, torna-se imprescindível experimentar um denso intercâmbio com múltiplos padrões de viver e de se expressar.

Com isso, desenvolve-se a capacitade para edificar projetos que agenciem uma dinâmica sistemática que envolva diálogo e edificação conjunta entre dessemelhantes indivíduos e/ou grupos de distintas procedências religiosas, étnicas, sociais, culturais, etc.

Ao se trabalhar a interculturalidade na Educação, também agencia-se a edificação de métodos de "empoderamento", buscando-se, inicialmente, agenciar a possibilidade, o poder, a força que cada indivíduo, cada estudante, cada ser tem, contribuindo, dessa forma, para que consiga ser protagonista de sua vida e importante ator social.

Por meio do "empoderamento" tem-se ainda uma visão coletiva, ajudando aos grupos sociais discriminados, marginalizados, minoritários, etc., contribuindo para a sua organização e para a sua participação eficaz em movimentos que enredam a sociedade civil.

As atuações que se mostram afirmativas são táticas que se colocam claramente neste panorama, visando melhor a qualidade de vida para todos os grupos marginalizados, o fim do racismo, da discriminação que envolve as diferenças de gênero, de orientação sexual, como também religiosa e as desigualdades sociais.

 

 

DESENHO DE INTERVENÇÃO

 

Como intervenção, indica-se ser feito um trabalho educacional que englobe:

  • Leituras de textos impressos acerca da interculturalidade;
  • Compreensão textual por meio de questionário;
  • Rodas de conversas;
  • Apresentação de vídeos sobre a temática em questão;
  • Elaboração de cartazes, folders e painéis falando sobre o assunto;
  • Edificação, como culminância de uma Mostra Cultural, mostrando a diversidade cultural que existe no país.

 

Vídeos sobre Interculturalidade para serem apresentados durante a intervenção:

https://www.youtube.com/watch?v=2s-Eykn7Slo

https://www.youtube.com/watch?v=X842LBx82vg

https://www.youtube.com/watch?v=WMRtk5eq0WM

https://www.youtube.com/watch?v=b3KWDgDOc2g

 

Artigos para serem lidos e debatidos sobre a Interculturalidade:

http://executivanewsrevistadigital.com/importancia-da-interculturalidade-nos-negocios-executiva-news/

https://www.scielo.br/j/es/a/QL9nWPmwbhP8B4QdN8yt5xg/?lang=pt

 

Indicação de atividades sobre Interculturalidade:

https://www.academia-cv.pt/trabalhar-interculturalidade-escola/

 

 

AVALIAÇÃO GERAL

 

A avaliação deverá ser feita de modo constante e permanente, tendo em vista a participação e dedicação de todos, como também a sua compreensão acerca da temática trabalhada.

 

 

REFERÊNCIAS

 

PIERUCCI, A.F. Ciladas da diferença. São Paulo: Editora 34, 1999.

 

SANTOS, B.S. (Org.). A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006

 

 

ANEXOS

 

 

Questões

 

O que você entendeu por Interculturalidade?

 

Quais são os valores da Interculturalidade?

 

O que visa a Interculturalidade?

 

O que ela busca?

 

Quais são os seus valores transversais?

 

 

Texto complementar sobre a Interculturalidade para ser lido e debatido:

 

Interculturalidade

 

O conceito de interculturalidade tem uma forte relação com o de Educação, ambos uma necessidade e exigência da sociedade atual. A complexidade e multiculturalidade são fenômenos intrinsecamente ligados ao mundo dos dias de hoje, onde globalização, migração, minorias e tentativas de hegemonia são realidades efetivas.

A interculturalidade passa pelo desafio lançado pela globalização e suas implicações étnicas e culturais. Identidade, homegeneidade e diversidade são os eixos definidores da interculturalidade, que existem na Educação e suas instituições, funcionando como agentes dos meios de desenvolvimento. Os valores são os da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da igualdade, tolerância, Educação multicultural. A interculturalidade visa assim não apenas a formação, mas também a integração dos grupos no todo social, perante o individualismo e a cultura consumista e imediatista da globalização.

A interculturalidade pressupõe a Educação democrática, a transnacionalidade da mesma e a superação dos hermetismos sociais do Estado-Nação, bem como a oposição à supremacia de culturas sobre outras.

A cidadania global, a Educação e a sociedade em fusão, são os valores transversais da interculturalidade social do mundo de hoje, que se pretende integradora, equitativa, justa, responsável e solidária, de modo a manter as diferenças sem subalternizações nem sobreposições e intolerâncias.

A interculturalidade é assim um dos instrumentos de amenização e refundação da sociedade moderna na senda da globalização. Ou está para além do materialismo político-económico: uma globalização de valores, de cultura, de formação, de identidades e de cidadania plena.

 

Fonte: Porto Editora – interculturalidades na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-02-28 15:40:52]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$interculturalidade.

 

[1] Mestrando em Educação.

[2] Advogado e Psicanalista. Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior e em Psicologia Clínica. Mestrando em Educação E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.