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COMO ENTENDER O “MUNDO” DO AUTISMO

Eliane Sousa Silva1

 

 

RESUMO

Poder conhecer um pouco mais do “mundo” do autismo e suas especificidades e características foi algo maravilhoso, observar estas crianças que parecem viver em outro mundo me abriu um leque de indagações, de perguntas de buscar respostas em livros, pesquisas e filmes, imergir neste mundo me permitiu ver a necessidade da formação dos professores, das escolas estarem preparadas, das dificuldades das famílias que se vem sozinha e acuada, da resistência de profissionais da educação quanto à inclusão de autistas, das leis que aparam a inclusão que poucos são postas em práticas. Este trabalho ressalta o que permeia o cotidiano destas crianças autistas seja em ambiente especial ou regular de ensino. Com isso este trabalho aborda desde a prática e a formação do professor nos contexto especial e regular de ensino, a inclusão social, os aspectos psicossociais e educacionais do autismo, de que forma acontece à relação professor e aluno nos dois contextos e bem como as concepções pedagógicas das escolas para trabalhar e desenvolver o currículo contemplando o aluno autista. A metodologia utilizada foi a de cunho qualitativo a fim de responder e compreender as questões específicas a cerca do autismo no contexto educacional foi usado também abordagem de cunho teórico e pesquisa em campo. Nesta pesquisa buscou-se considerar as ações e práticas do professor e escola nos dois contextos na socialização e educação de alunos autistas e ressaltando ainda que para a inclusão de autistas acontecerem de fato é preciso que o professor mude sua mentalidade acerca da inclusão.

Palavras-chave: Autismo. Inclusão Escolar. Recursos pedagógicos. Prática pedagógica.

 

ABSTRACT

Being able to know a little more about the "world" of autism and its specificities and characteristics was something wonderful, watching these children who seem to live in another world opened a range of questions to me, searching for answers in books, researches and films, immersing in this The world has allowed me to see the need for teacher training, for schools to be prepared, for the difficulties of families that are alone and under pain, for the resistance of education professionals to the inclusion of autistic children, for the laws that trim inclusion that few are put into Practices. This work highlights what permeates the daily life of these autistic children in a special or regular teaching environment. With this, this work approaches from the practice and the formation of the teacher in the special and regular context of education, the social inclusion, the psychosocial and educational aspects of autism, how happens to the teacher and student relationship in both contexts and the conceptions To work and develop the curriculum contemplating the autistic student. The methodology used was qualitative in order to answer and understand the specific questions about autism in the educational context was also used a theoretical approach and field research. In this research, we tried to consider the actions and practices of the teacher and school in the two contexts in the socialization and education of autistic students, and emphasizing that for the inclusion of autistic children, in fact, it is necessary that the teacher change his mentality about inclusion.

Keywords: Autism. School inclusion. Pedagogical resources. Pedagogical practice.

 

1 INTRODUÇÃO

 

O propósito de trabalhar este tema AUTISMO- Um caminho a ser percorrido, através da educação, do papel do professor no contexto especial e regular de ensino é de buscar respostas a perguntas e indagações acerca do autismo, temos uma população grandiosa que está desassistida e excluída da sociedade, da escola, e a família padecendo sem saber o que fazer. Para entender esta pesquisa busco as respostas para as seguintes perguntas: O que é autismo? É possível incluir autistas? Qual o maior desafio do professor em trabalhar com autistas? Como o professor deve proceder e fazer uso de metodologias que visem um melhor desenvolvimento cognitivo e social de alunos com síndrome do autismo? Que concepção pedagógica a escola adota para trabalhar com autistas, e que subsídios à educação brasileira proporcionam aos professores? O objetivo principal desta pesquisa é de conhecer e aprender como trabalhar o ensino com alunos autista. Agregado a esta pesquisa, as experiências dos profissionais que trabalha diretamente com o autismo no ensino regular e especial da cidade de Lucas do Rio Verde-MT.

Para entender as questões acerca do autismo e como está sendo as práticas educativas de alunos autistas no contexto regular e especial de ensino. Para entender a síndrome do autismo requer analisar os aspectos teóricos, suas especificidades e características, bem como suas particularidades, pois é sabido que o objetivo da educação é, em primeira instância, proporcionar condições para que todos os alunos, sem qualquer exceção, desenvolvam suas capacidades e que possam exercer sua cidadania de forma ampla e plena, pois antes de serem autistas eles são seres humanos com direitos e deveres, e são capazes de aprender e de se desenvolver.

Portanto através desta pesquisa vamos reconhecer e analisar as práticas pedagógicas dos professores que trabalham diretamente com alunos autistas, as metodologias adotadas e adaptações curriculares e do ambiente físico escolar, e todos os aspectos que circunda a prática pedagógica de alunos com a deficiência do autismo. Este trabalho teve pesquisa bibliográfica e pesquisa em campo nos contexto regular e especial de ensino, entrevistados professores e demais profissionais, para entender e ampliar o nosso conhecimento acerca deste tema.

2 COMO ENTENDER O “MUNDO” DO AUTISMO.


Para melhor compreensão do autismo se fez necessário à análise dos primeiros relatos teóricos do autismo e suas características. Portanto o Autismo foi diagnosticado pela primeira vez em 1943, pelo psiquiatra americano Leo KANNER, no artigo intitulado: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo, chegando à conclusão que o autismo tem características de isolamento extremo, incapacidade de se relacionar com outras pessoas e com objetos, alterações da linguagem representada pela ausência de finalidades comunicativa, rituais do tipo obsessivo com movimentos repetitivos e características da esquizofrenia constatou:

nas crianças que atendia, uma inabilidade no relacionamento interpessoal que as distinguia de outras patologias como a esquizofrenia: o distúrbio fundamental mais surpreendente, patognômico, é a incapacidade dessas crianças de estabelecer relações de maneira normal com as pessoas e situações desde o principio de suas vidas. Kanner (apud BOSA, 2002, p.23).

Os autistas apresentam alguns déficits e excessos comportamentais em diversas áreas. Como ressalta Leboyer (2005, p.60).

a lista de situações patológicas é muito extensa e inclui fatores pré, peri e neonatais, infecções virais neonatais, doenças metabólicas, doenças neurológicas e doenças hereditárias. Apesar da ausência aparente de ligação entre elas, um ponto comum às reúne: todas as patologias são suscetíveis de induzir uma disfunção cerebral que interfere no desenvolvimento do sistema nervoso central.

Em 1944, Hans ASPERGER publica um artigo intitulado Psicopatia Autística, chamando a atenção da necessidade de estudos científicos acerca do espectro do autismo. E no Brasil somente em 1980 foi diagnosticado caso de autismo, e hoje há cerca de dois milhões de autista no país. O marco inicial da inclusão escolar se deu no século XVI, quando profissionais da educação e saúde, passaram e acreditaram que era possível educar essas pessoas com deficiências, que até então eram considerados impuras. Surgindo em 1954 a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais no Rio de Janeiro, vale ressaltar que o termo “Excepcional”, foi criado pela sociedade Pestalozzi ao referir-se aos deficientes físicos e mentais.

Com o passar dos anos evoluiu a conscientização da igualdade e direitos do ser humano como um todo, e na Constituição Federal de 1988, trouxe consigo alguns direitos aos deficientes, como reabilitação, atendimento educacional na rede regular de ensino, e a promoção da integração na sociedade. Outro importante documento que ressalta os direitos humanos aos deficientes é a Declaração de Salamanca de 1994, onde as escolas tem que acolher e incluir a diversidade humana assegurando e fazendo as modificações necessárias tanto no currículo como espaço físico e ambiental, além de fazerem estratégias de ensino que vise à qualidade do mesmo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº9. 394 /96) no artigo 58 ressalta: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com necessidades especiais”. Ainda a muito a se fazer e a regulamentar a educação dos deficientes, na promoção da dignidade e igualdade por parte dos professores e sociedade, e para que nós enxerguemos os deficientes com capacidade e potencialidades e não como inúteis, que deve estar excluídos da sociedade.

Vivemos e convivemos em uma sociedade com padrões pré-estabelecidos, onde qualquer um que esteja fora deste padrão, é de primeira instância excluída. Convivemos numa sociedade que uma criança, com necessidades especiais, bem como sua família, se depara com obstáculos e recusas tanto educativas, como em tratamento médico. Diante desta realidade, a importância de abordar questões a respeito do autismo, para que possamos alcançar um melhor entendimento e ajudar esses indivíduos e suas famílias nesta trajetória, rompendo principalmente o preconceito e o termo inútil. É de fundamental importância de nós conheçamos as especificidades do autismo para melhor intervenção educativa e criando assim método direcionado a este aluno visando uma aprendizagem com maior significado.

Por isso a educação de autista tanto no âmbito especial como inclusiva requer de uma prática pedagógica que respeite suas limitações, e que requer do professor compreensão e o compromisso de romper barreiras, para que alunos autistas desenvolvam suas capacidades, quaisquer que sejam suas limitações. O autista não deve ser visto como alguém que não aprende, mas sim, como uma pessoa que têm formas diferentes para alcançar este aprendizado. A criança com autismo se desenvolve de maneira mais lenta se comparada com as demais crianças. Ressalta a psicopedagoga Bianca Acampora sobre o desenvolvimento de pessoas com autismo.

ela é capaz de interagir e participar, mas da forma dela, talvez não como a escola ou a família espera, os autistas têm dificuldade de lidar com mudanças, por menores que sejam, por isso é importante manter o seu mundo organizado e dentro da rotina.

O autismo tem sido definido como sendo síndrome comportamental com etiologias múltiplas e evolução de distúrbios do desenvolvimento caracterizado por déficit na interação social, no relacionamento, na comunicação e alterações da fala e linguagem. O autismo tem maior incidência no sexo masculino e aproximadamente cerca de 75% dos indivíduos possuem deficiência mental, além de deficiência visual, auditiva, distúrbios de aprendizagem específicos, epilepsia, e também em vários graus e níveis de desenvolvimento e comportamento, sendo que o mais leve é considerando como síndrome de ASPERGER . No autismo deparamos com algumas infecções de nível biológico como a rubéola, toxoplasmose, herpes, sífilis e outros. Há três níveis de se explicar o autismo como: Biológico- causado por lesões no cérebro. Sintomático- que é como se comportam. Cognitivo que é o funcionamento da percepção e interpretação.

O autismo nos últimos anos foram estudado por vários pesquisadores onde admitem que existi diferentes graus de autismo.

as pessoas autistas podem ser tão diferentes uma das outras, tão heterogêneas em suas necessidades e competências, que cada caso exige uma adequação específica e muito concreta das estratégias e objetivos de tratamento. Os objetivos e procedimentos terapêuticos e educacionais são muito variáveis, dependendo do comprometimento da pessoa, nas suas diferentes dimensões. (CAMARGOS JR., 2005, p.128).

 

Desde que foi diagnosticado o autismo é considerado um conjunto de sintomas que prejudica de maneira significativa a interação social e a comunicação. Por isso que é difícil incluímos o autista, pelo fato da dificuldade de interação e de se comunicação com os outros. Neste sentido, existem muitas coisas que podem ser feitas pelo autista e a principal é a de acreditamos que eles têm potencial para aprender, na forma deles verem o seu próprio mundo, mas convive no nosso mundo e cabe a nós não deixa-los privado, excluídos, tanto da escola como da sociedade. Geralmente o autista evita olhar como se não quisessem, mas isso deve ser entendido como uma falta de conhecimento do que significa o olhar para eles, pessoas com a síndrome do autismo tem um modo completamente diferente de manipular informações.

As escolas encontram dificuldades de atender alunos autistas, o currículo não atendem de maneira significativa o aprendizado e as ações pedagógicas deixam muito a desejar, não tem recursos pedagógicos e o professor não tem qualificação para desenvolver um trabalho que leve essas crianças a mostrarem que são capazes de serem inseridas de forma produtiva e digna na sociedade. Cabe à escola e aos professores descobrir um meio ou técnica de comunicação e de adotar uma metodologia adequada para esse aluno, de envolver e desenvolver o aprendizado, a escola e o professor precisa buscar formação para conhecer cada caso e adaptar o currículo para que esta inclusão seja contemplada da melhor forma.

E neste caso não são somente os professores, mas psicólogo, fonoaudiólogo e médicos entrem outras formações, os autistas são desassistidos nas diferentes esferas, e ainda as informações sobre o assunto são poucas, pobres e obsoletas, o que dificulta o diagnóstico e a intervenção em tempo hábil. Na escola a criança autista seja ela no contexto especial ou regular de ensino encontraram dificuldades de relacionamento, pois esse fator é o que mais aparenta e representa o autismo, a dificuldade de relacionar-se e de seguir regras, e quando não tem o diagnóstico de autismo este comportamento geralmente é visto como falta de educação e limites por parte dos pais, como ressalta Cool. “A criança parece estar só, mesmo quando cercada de outras pessoas” (1995, p. 279).

Descrever com palavras as profundas e inúmeras alterações psíquicas que as crianças autistas costumam e apresenta no decorrer de sua vida como comportamento estereotipado, alteração visual, dificuldade de estabelecer vínculos, fala ecolalia (repetição imediata ou tardia de frase ou sons ouvidos) ficam alheiam aos estímulos externos, indiferente às pessoas. Às vezes, surgem autoagressões. Alguns autistas permanecem, durante horas, balançando-se, ou fascinadas diante de estímulos do meio aparentemente insignificante. Outros sintomas do autismo é a impulsividade, desatenção, dificuldade de estabelecer equilíbrio e hiperatividade. Neste sentido Cool corrobora com a seguinte fala. “A função do professor é ajudá-las a aproximarem-se desse mundo de significados e proporcionar os instrumentos funcionais que estão dentro da possibilidade da criança” (1995, p.285). É importante que o professor juntamente com a família ajude os autistas a inserirem-se no nosso mundo de forma clara e educativa, precisamos mostrar que nosso mundo é cheio de possibilidades e que eles são capazes de produzir, de viver e conviver dignamente, precisa ser estimulados por pessoas capacitadas e interessadas, capazes de doar-se e de amar, capazes de enxergar além da deficiência, e sim as possibilidades.

O professor tem a incumbência, a acuidade de adotar estratégias de ensino baseado nas especificidades do aluno, assegurando o direito a aprendizagem e rompendo barreiras existentes no contexto escolar, o professor deve perpassar buscar conhecimento e formação necessária para que sua prática pedagógica contemple de forma significativa alunos especiais. Segundo COOL (1995, p. 296).

 

o objetivo da educação é, em primeira instância, proporcionar condições para que todos os alunos, sem qualquer exceção, desenvolvam suas capacidades, salvo suas diferenças, a fim de que esses exerçam sua cidadania de forma ampla. As escolas são vistas como pequenos sistemas da sociedade os quais são capazes de transmitir valores e práticas culturais, que podendo ser positivos ou negativos, serão usados durante a vida toda. Daí toda a sua importância na vida dos alunos. Todas as organizações caracterizam-se por ter certas finalidades estabelecidas, certos meios pessoais e recursos materiais relativos a tais finalidades. Um centro educacional é uma organização que tem por finalidade a educação dos cidadãos e, para isso, conta com certos meios e recursos materiais, cuja harmonização, diante de seu objetivo, exige uma gestão eficaz.

 

Pensando no autista alguns estudiosos desenvolveram alguns métodos que auxiliam e contribui de forma mais significativa à educação de autista como forma de intervenção educacional definida assim como ABA, PECS, TEACCH.

O método ABA tem por objetivo ensinar a criança habilidades, por etapas, que ela não possui de forma individualizada, de maneira associada a uma indicação ou instrução, levando a criança autista a trabalhar de forma positiva.

O método PECS trabalha a comunicação através da troca de figuras, foi desenvolvido com o intuito de ajudar crianças e adultos autistas e com outros distúrbios de desenvolvimento a adquirirem capacidade de comunicação. Método considerado simples e de baixo custo, e quando bem implantado apresenta resultados inquestionáveis na comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização da linguagem verbal para as crianças que falam, mas que precisam organizar a linguagem.

O método TEACCH também é utilizado para trabalhar a educação de crianças autistas, é um dos métodos mais utilizado em todo o mundo, avaliando a criança de forma individualizada. Sobre este método os autores Gomes e Silva afirmam:

neste método a programação individual de cada aluno é uma das ferramentas essenciais, pois possibilita o entendimento do que está ocorrendo, propicia confiança e segurança. As dificuldades de generalização indicam a necessidade de rotina clara e previsível. Indica visualmente ao estudante quais tarefas serão realizadas, além de instrumento de apoio para ensinar o que vem antes, o que acontece depois, proporcionando o planejamento de ações e seu encadeamento numa sequência de trabalhos. (2007, p.3)

 

Vale ressaltar que o método TEACCH e ABA são utilizados na escola especial observada. É preciso entender que a forma que os autistas se comunicam é diferente. E estes métodos educativos têm como principal objetivo o desenvolvimento da socialização e linguagem do autista. Neste sentido Lamônica (1992, p. 5) afirmam:

por causa de sua desvantagem nas habilidades sociais, é necessário proporcionar períodos de interação nos quais devam ser envidados esforços especiais para favorecer a reciprocidade da criança autista, facilitando, assim, a comunicação social.

 

Sabemos que as crianças autistas são diferentes das não autistas, não só em seu comportamento, mas o autista tem o pensamento fragmentado enquanto que a criança “normal” tem uma visão cognitiva e coordenação sensoriais aguçada. Nilsson ressalta (2004, p.52-53) “pessoas com autismo pensam de sua própria maneira associativa, e isto torna difícil de manter uma conversação, mesmo quando eles têm a habilidade de usar a linguagem”. Não sabemos o que fascina tanto em seu mundo ao ponto de poucas coisas deste mundo ser interessantes para eles. Às vezes olhamos para o autista e não conseguimos alcançar a dimensão do seu olhar que leva a um profundo sentimento, eles riem, dançam, balançam como se estivesse flutuando no universo, e isso acontece com brilho em seus olhos e sua alma é como se resplandecessem, viver e conviver com um autista é descobrir o mais bonito e belo sentimento que o ser humano pode sentir e ter a capacidade de amar além das aparências e defeitos.

E para facilitar e conduzir estas habilidades e que foram desenvolvidos esses métodos educacionais citados acima, ABA, PECS, TEACCH, de cunho visual, e de extrema importância para a aprendizagem do autista, já que para o mesmo o pensamento é fragmentado, e pautado na previsibilidade. Usar o lado visual como dispositivo para a promoção de absorção de informação com maior facilidade e de fácil entendimento.

A escola especial como também a regular em processo de inclusão busca trabalhar individualmente com o aluno autista com metodologia e conteúdos diferenciados, utiliza jogos, objetos, figuras e símbolos que facilitam o aprendizado. Cada autista tem sua especificidade alguns consegue copiar, pintar, ler, desenhar, e outros não, alguns interagem com colegas e outros não, o contexto especial tem um acompanhamento de psicólogos, fisioterapeutas e natação. E um ambiente incrível, onde amor, carinho e atenção perpassam dos limites, os professores amam trabalhar ali não estão só pelo salário e sim por valorizar e oportunizar mesmo que seja mínimo o sentido de interação e convivência.

Levando em conta que quando nasce uma criança essa é mais uma na humanidade, quando surgem as primeiras características de deficiência, essa se torna “anormal e excluída” do convívio social, o que deveria acontecer ao inverso, pois é no convívio com os outros que nós nos desenvolvemos. A questão educativa assume um papel relevante na discussão acerca do autismo, e algumas interrogações e controvérsias surgem, é preciso que tenhamos uma consciência voltada para a amplitude e para o distanciamento que ocorre entre autismo e educação.

No contexto regular foi observadas três crianças autistas em processo de inclusão, sendo que dois deles são irmãos e estudavam na escola especial (APAE) e a família decidiu este ano colocar eles no contexto regular, tive o prazer de conversar com a tia onde ressaltou que a decisão partiu depois de assistir a série sobre o autismo em um programa de TV, no qual percebeu que precisava lutar para que eles tivessem o máximo de independência, pois a mãe abandonou as crianças é a tia e avó que cuida, nas palavras da tia “não sei quanto tempo vou viver, preciso que eles saibam e aprenda a se virar sozinho, fico apreensiva quando penso que um dia vou morrer e eles como vão ficar? Por isso, decidi colocar eles na rede regular de ensino para desenvolver neles o máximo de independência”. No caso do outro autista observado no contexto regular, onde sempre estudou na rede regular, pois somente aos 7anos foi diagnosticado com o autismo, mas a escola ressalta que a família não aceita, depois disso se afastou da escola, não atende telefone da escola e da professora do AEE, porque sabe que a escola vai falar do comportamento do filho que é agressivo com professores e colegas, como a família não aceita acaba não fazendo de maneira correta a medicação e o tratamento médico, percebi a dificuldade que a escola tem em trabalhar com este caso, devido o não contato com a família.

Os irmãos autistas tem um nível, mas comprometido desta síndrome, a fala, a linguagem, a coordenação motora é bastante comprometida, mas reconhece todo o alfabeto faz seu nome, comunica com colegas e professores, a professora relata que a maior dificuldade em trabalhar com eles é a questão da inquietação e de concentração, mas que adaptou algumas coisas e reformulou seu pensamento e conhecimento para incluir da melhor forma, faz as atividades diferenciadas e trabalha muito com jogos pedagógicos, e os colegas interagem e ajuda o colega autista. O outro aluno autista também é alfabetizado , lê, tem uma interação boa com colegas e professores, mas tem um comportamento agressivo, variando muito este comportamento (dias calmo, e outros agressivo), gostam de tecnologia e de certo modo é independente, vem de transporte escolar, faz sua higiene pessoal, tem seus comados e coordenação motoras bem estimuladas, bem como sua linguagem.

Os professores da escola regular são formados em Pedagogia, tem curso de formação para melhor trabalhar esta inclusão, a professora do AEE acompanha e auxilia este processo, o espaço escolar regular é amplo e bem estruturado, e busca a todo tempo acolher, acompanhar e incluir estes alunos da melhor forma, a relação professor aluno tanto no contexto regular como especial se dar de forma prazerosa, acolhedora, buscando o melhor contato possível entre colegas e profissionais.

No contexto regular cada aluno autista tem uma auxiliar (estagiária) para estar junto deste aluno, acompanhando e desenvolvendo algumas atividades ministradas e elaborada pela professora regente da sala, mas infelizmente a inclusão de fato não acontece, e sim o que no momento acontece é uma integração desde aluno, como ressalta a coordenadora da escola regular observada “a teoria da inclusão é linda e comovente, mas na prática não funciona, ressalta que a escola especial tem uma preparação melhor para trabalhar com estes alunos especiais, é muito difícil incluir”. Já a professora do AEE diz:

é possível incluir alunos autistas sim, mas a escola reluta em manter seus padrões e paradigmas, sou muito criticada pelos colegas professores, eles falam que não faço nada, que não ver resultados e etc. Eles não entendem que é minucioso e lento, que cada conquista mesmo que ínfima que seja pra mim é um ganho, pra eles é uma conquista, é um trabalho persistente que faço com maior prazer. Fico indignada, que são professores formados e com pós-graduado em psicopedagogia, e não sabe como trabalhar e lidar com alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem, eles são excluído por quem tem o conhecimento e deveria acolher e incluir, buscar formas de desenvolver as capacidades destes alunados, preferem fazer de conta que não existem, deixa no canto na sala e ainda tem a capacidade de dizer que eles deveriam estar na APAE, luto por eles, amo trabalhar com eles e vou continuar a minha luta a favor da inclusão de fato, muita barreiras deve ser rompidas, pois o espaço físico escolar estar preparado, mas o professor não, e relutam em buscar formação para poder atender de melhor forma esses alunos”.

A maior dificuldade do autismo é o contato, a aproximação, ou são inquietos ou se isolam, e os professores se veem perdidos em buscar inserir este aluno no contexto escolar, eles não entendem que a forma que o autista se comunica e processa informação é diferente, mas não o torna incapaz.

A escola regular diz que a concepção que adota é a de ser humano, de socializar e desenvolver as potencialidades e capacidades, buscando desenvolver de forma integral o aluno em ambos os aspectos, adota currículos e metodologias diferenciadas a fim de contemplar alunos especiais, bem como autistas.

Bastos (2003, P. 33) corrobora da seguinte fala:

 

não basta à criança frequentar a escola, o sistema escolar precisa incluir, sustentar, acompanhar e promover tudo aquilo que a criança necessita em sua singularidade para que o processo tenha êxito.

 

 

É sabido que a síndrome do aspecto autista compromete a comunicação e interação, sendo difícil sua socialização dependendo do nível, mas é algo possível. A escola regular sente dificuldade de incluir, porque ainda tem no cerne o motivo de padrões e modelos idealizados, e que é preciso reformular este pensamento e transpor esta barreira para que isto seja de fato superado, quando os professores tiverem a consciência e a vontade de atender e entender seus alunos em sua individualidade, respeitando suas capacidades e habilidades com certeza terão um ensino melhor e consequentemente resultados melhores. Para que o professor possa trabalhar com crianças autistas requer do mesmo, persistência e sistematização de tarefas para que os resultados apareçam.

A fala da psicóloga do ensino especial foi a seguinte a cerca do tema: “Eles não tem interação, eles vive no seu próprio mundo sabemos que eles não vão transpor este mundo, o que fazemos é acolher, cuidar, mas dizer que vão ser indivíduo atuante na sociedade é difícil”. Confesso que fiquei indignada em ouvir estas palavras de uma psicóloga que convive diariamente com estas crianças, jovens e adultos, eu acredito que ser autista não é motivo de não acreditar em suas potencialidades, todos nós temos habilidades, o autista não é diferente, a forma de aprender é diferente, estamos acostumando a robotizar alunos, especificar e avaliar cada caso ser torna algo quase que impossível, porque infelizmente padronizar o ensino ainda é a prática pedagógica que faz parte do cotidiano das escolas e dos professores.

A fisioterapeuta ressalta que deve ser tratada com cuidado a questão do autismo pelos diferentes níveis que tem, acredito que incluir é possível, mas não é algo que vai ser satisfatório, eles têm dificuldade de interagir, então questiono a interação é uma dificuldade e não que dizer impossível, ela concorda, mas ressalta que professores não estão capacitados, e persistir nesta causa pode causar transtornos, coisa que o autista pode sentir-se desconfortável e agravar seu quadro psicológico. As professoras do contexto especial dizem “não tem muito que fazer, sabemos que não vai passar disso o que aprende hoje, amanhã não lembra, eles vivem no seu próprio mundo, aqui nos acolhemos e cuidamos para que eles se sintam bem” na fala das professoras fica claro que a forma que adota é de assistencialismo, e que não busca conhecer atividades e métodos diferentes a fim de desenvolver as capacidades cognitivas.

Sabemos que o contato com os outros é um entrave na questão da inclusão, nem por isso devemos manter eles numa bolha intocáveis, é preciso entender que limitações não são um problema, a inclusão não se torna realidade apenas com a aprovação de uma lei, mas principalmente pela falta de conhecimento sobre o problema e as dificuldades que as instituições e professores enfrentam para lidar com a diversidade. Como ressalta Rosana Ramos, professora da Universidade de Pernambuco e autora do livro Inclusão na Prática: Estratégias Eficazes para a Educação Inclusiva.

é preciso rever a formação de modo a ajudar os docentes a lidar com as limitações e as dificuldades de cada aluno, com ou sem necessidades especiais. A consciência é o que nos ajuda a incluir, e só se chega a ela por meio do conhecimento.

 

É preciso que alguém olhe, veja e dedique-se a ajudar esta população de autista sair do tradicional e enxergar o ser humano e não o rótulo de autista, ir além do tradicional ensino e da mesmice e padronização das escolas e mudar e reformular as práticas pedagógicas dos professores, para que superemos barreiras e entraves e busquemos novas práticas, ideias, métodos e formas de levar o conhecimento a quem precisa e anseia aprender, respeitando sim limites, mas que não deixemos nenhum aluno num canto da sala como se não existisse, isso é inaceitável.

2 METODOLOGIA

 

Com relação à abordagem metodológica, a pesquisa aconteceu em caráter qualitativo sócio histórico a fim de responder e levar a compreensão das questões específicas a cerca do autismo e educação. Com abordagem de cunho teórico e pesquisa em campo, para melhor entendimento da relação professor e aluno. Na pesquisa buscou-se considerar as ações e práticas do professor e escola nos dois contextos, na socialização e educação de alunos autistas. Como ponto de partida uma observação nos dois contextos para verificar e compreender as especificidades deste ambiente foi também adotado entrevista informal e questionário. A fim de obter respostas condizentes a realidade escolar.

Cujo objetivo foi de identificar as concepções pedagógicas e as inter-relações cotidianas. É sabido que pesquisa de cunho qualitativo tem como foco centralizar no que se pretende conhecer e aprender. Para sanar as dúvidas e indagações que surgem a cerca do tema pesquisado, como ressalta Ludke & André:

a pesquisa qualitativa tem como ambiente natural como fonte direta de dados [...] supõe o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada [...] e as circunstâncias particulares em que um determinado objeto se insere são essenciais para que se possa entendê-lo. (1999.p. 11-12)

 

Foi considerado a dinâmica cultural e o contexto em que vive cada sujeito autista, com suas especificidades e níveis, um ser único, partindo deste raciocínio, este trabalho visou verificar a existência de diferenças ao nível e formas de representação do diagnóstico de Autismo a dificuldade de educação e socialização. A pesquisa bibliográfica contribuiu de forma significativa à realização deste trabalho. Segundo Guerreiro (2002 p.1,2).

a pesquisa bibliográfica pressupõe e ajuda a desenvolver essas habilidades, (saber. avaliar, organizar, selecionar, comparar as informações, ou seja, ler e transformar o que leu em conhecimento.), pois a busca de informações é essencial para se chegar ao conhecimento.

 

De modo a concretizar a finalidade pretendida, busquei responder de forma criteriosa as questões projetadas neste trabalho, levando em conta um público alvo grandioso que são os autistas a fim de exercer e constatar a melhor forma do profissional de educação oferecer suas atividades educativas com significados relevantes e melhores.

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A escolha deste tema foi crucial, pois me levou a horizontes desconhecido, e fez com que me apaixonasse por cada um que conheci e me levou a assistir filmes, ler, pesquisar, observar, e por fim me tornou um ser humano melhor, a buscar uma prática pedagógica que contemple todos, independentemente de suas limitações.

Foi difícil o primeiro contato, mas os objetivos propostos foram alcançados, não da forma como gostaria ou tinha imaginado, encontrei pessoas totalmente contra a inclusão escolar, outras que lutam para que isso aconteça, profissionais alheio ao desenvolvimento da sua função, realmente é um campo de muitas indagações, de perguntas sem respostas, mas que penso que temos o dever de lutar por quem depende de nós. A teoria que abrange a inclusão é linda, pena que a realidade na prática não é linda é obscura. A inclusão de autistas e demais deficiências é algo a ser lapidado, para que o brilho desde lapidar resplandeça aos olhos destes alunos.

Pude ver e analisar várias formas de práticas pedagógicas, o que me propiciou ampliar meus pensamento e conhecimento, no qual eu mesmo me perguntei que professora eu vou ser, porque confesso que me decepcionei com falas, atitudes que vi, não quero ser mais uma professora, quero ser a professora que faça a diferença, que luta que busca, que pesquisa, que corre atrás do que o aluno precisa e que modificam meios e métodos. A educação tem o dever de libertar essas crianças autistas e demais deficientes desta prisão que vive que é, o preconceito, a indiferença e à rejeição, de ajudar as famílias a lutarem pelos seus filhos independentes de suas deficiências, e que a prática se aproxime ao máximo da teoria da inclusão escolar, que os professores se atente ao seu papel de educador e o faça com eficácia e determinação.

Enfim, porque antes de ser professora eu sou ser humano, e antes de ver um autista eu tenho que ver o ser humano, este é meu pensamento e é com ele que vou seguir esta caminhada dentro da educação. Sou a favor da inclusão de autista de professores capacitados e de escolas preparadas, mas principalmente de pessoas que respeite as diferenças, que ame e valorize o outro além das aparências.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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LEBOYER, Marion. Autismo infantil: fatos e modelos. 5ª ed. Campinas, SP, Papirus, 2005.

LUDKE. M. & ANDRÉ. M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo. Ed. Pedagógica e universitária LTDA, 1999.

NILSSON, Inger. Introdução a educação especial para pessoas com transtornos de espectro autístico e dificuldades semelhantes de aprendizagem. Em PDF. Congresso Nacional sobre a Síndrome de Autismo 2004.

SITE Nova Escola- ACAMPORA, Bianca.

SITE Nova Escola- RAMOS, Rosana.

 

 

APÊNDICE

 

QUESTIONÁRIO

 

Para você, o que é autismo?

 

É possível incluir alunos autistas no contexto regular de ensino? Comente:


 

Qual o maior desafio de trabalhar com alunos autistas?

 

Que concepção pedagógica a escola adota para trabalhar com autistas?

 

 

 

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1 Pedagoga. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..