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A IMPORTÂNCIA DE JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Adriana Santana

Cleonice Arruda da Silva

Eliane Rosane da Silva de Souza

 

RESUMO

O estudo apresentado tem como temática “A importância dos jogos e da brincadeira para aprendizagem na educação infantil”. A motivação pela escolha do tema surgiu durante experiências obtidas na vida profissional. Observamos que nas práticas educativas, especialmente das instituições particulares, não há muito tempo para desenvolver um aprendizado pelo brincar. O trabalho teve como objetivo abordar os gos e a brincadeira como fundamental na aprendizagem da criança. Para tanto, foi analisado como a concepção de criança e do brincar vem se estruturando no decorrer dos anos e como o brincar vem sendo utilizado atualmente como mecanismo de ensino-aprendizagem dentro das escolas de Educação Infantil. Trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa, desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Destaca-se a importância do professor frente a esse desenvolvimento, a importância da organização e do plano de aula, da análise na sala e do uso de todos os espaços que existem na instituição escolar, fazendo com que a criança aumente seus saberes acerca do mundo que a rodeia. Sob esse prisma, constata-se que o professor é o elo mediador do processo de ensino-aprendizagem. Por isso, ele deve diariamente rever sua prática, seus saberes e suas condutas concernentes ao brincar.

 

Palavras-chaves: Brincadeira. Criança. Jogos. Ludicidade.

 

  1. INTRODUÇÃO

 

O estudo apresentado caracteriza-se tem como temática “A importância de jogos e brincadeiras na Educação Infantil”. A motivação pela escolha do tema surgiu durante experiências obtidas na vida profissional. Observamos que nas práticas educativas, especialmente das instituições particulares, não há muito tempo para desenvolver um aprendizado pelo brincar e através dos jogos, já que o processo de escolarização e a preparação para a vida devem ser feitos com rapidez, enquanto, para a criança é percebido que o brincar nunca desaparece.

Na ocasião notei ainda que na documentação escrita presente nas escolas o termo brincar praticamente não existe, sendo substituída, muitas vezes, pela palavra atividades. Além disso, existe uma ambivalência nas instituições educativas. De um lado, existe o universo da brincadeira e, de outro, o universo do estudo, da atividade, da seriedade. Dessa forma, ou se estuda ou se brinca, havendo pouquíssima interação entre estes aspectos.

A partir das exposições desses autores, surgem a seguinte questão norteadora: O que diz a literatura sobre a necessidade e importância dos jogos e da brincadeira no processo de aprendizagem infantil?

O trabalho teve como objetivo abordar os jogos e a brincadeira como fundamental na aprendizagem da criança. Para tanto, foi analisado como a concepção de criança e do brincar vem se estruturando no decorrer dos anos e como o brincar vem sendo utilizado atualmente como mecanismo de ensino-aprendizagem dentro das escolas de Educação Infantil.

O presente estudo contribuirá como fonte de pesquisa para a academia, trazendo para o educador uma percepção diferenciada acerca do brincar, para uma melhora significativa no processo ensino-aprendizagem da criança nesta fase tão importante da vida, ofertando uma educação de qualidade.

Este estudo visa somar aos estudos já existentes, possibilitando um maior entendimento quanto à importância de uma orientação adequada, uma educação qualificada, a fim de enfatizar este recurso pedagógico e carreando propostas de medidas e estratégias para aproximar-se da criança.

 

  1. METODOLOGIA

 

Trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa. Segundo Gil (2008) a revisão de literatura é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

Segundo Minayo (2007) uma pesquisa de cunho qualitativo preocupa-se em analisar e interpretar aspectos profundos, fazendo a descrição da complexidade do comportamento humano. Ela não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social.

 

  1. A BRINCADEIRA E O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

3.1 Fases do desenvolvimento motor

O desenvolvimento motor é o conjunto das alterações comportamentais, dos movimentos, incluindo as alterações que suportam a mudança comportamental. A razão por que tal abrangência é necessária deriva do fato do desenvolvimento motor estar intrinsecamente ligado a fatores de aprendizagem e de maturação do indivíduo (BARREIROS, 2016).

Segundo Barreiros (2016), maturação é um conceito essencialmente biológico que traduz o conjunto de alterações fisiológicas muito determinadas por especificações genéticas, em um sentido mais estrito, é a determinante essencial do desenvolvimento, pelo menos até o organismo atingir um ponto razoável de estabilidade no tempo.

Observa-se então o quão relevante é a capacidade de se movimentar para as crianças para que elas possam interagir com o meio ambiente em que vivem e é justamente sobre a infância que a maioria dos estudos sobre desenvolvimento motor se concentram (WHITALL, 1995).

 

O desenvolvimento motor envolve as necessidades biológicas subjacentes, ambientais e ocupacionais, que influenciam o desempenho motor e as habilidades motoras dos indivíduos desde o período neonatal até a velhice. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 22).

 

Conforme os autores anteriormente citados, o desenvolvimento motor é dividido em quatro fases: fase motora reflexiva, fase motora rudimentar, fase motora fundamental e fase motora especializada.

 

Fase motora reflexiva

Os reflexos primitivos são conceituados como “associadores de dados, caçadores de abastecimento e de reações protetoras”. Isto porque ajudam e estimulam o desenvolvimento. Os primeiros reflexos como de sugar, procurar por meio do olfato, são fatores de sobrevivência, uma vez que através deles que o bebê busca seu alimento. Para Gallahue e Ozmun (2003), os reflexos posturais são o segundo tipo de movimentos involuntários e esses são semelhantes a comportamentos voluntários.

Tais reflexos servem de avaliações neuropsicomotor que futuramente serão utilizados com controle consciente. Os movimentos involuntários presentes nos recém-nascidos servem como alicerce para movimentos voluntários que acontecerão mais tarde. Nesses termos Gallahue e Ozmun (2003, p. 101) complementam que “o reflexo primário de pisar e o reflexo de arrastar-se, por exemplo, relembram intimamente os comportamentos de caminhar voluntário posterior e de engatinhar.”

 

 Fase motora rudimentar

Os estudos de Gallahue e Ozmun (2003) apontam que os movimentos rudimentares são os primeiros movimentos voluntários. Esses por sua vez, são vistos no recém-nascido e se estendem até em torno dos os 2 anos de idade. Conforme citam os autores, ocorrem de modo previsto, contudo, o nível com que tais habilidades surgem variam de criança para criança.

As habilidades motoras primitivas do bebê denotam os modos básicos de movimento voluntário que são indispensáveis para a sobrevivência. Elas englobam movimentos estabilizadores, como conseguir controlar a cabeça, pescoço e músculos do tronco; as atividades manipulativas de obter, segurar e largar; e os movimentos locomotores de rastejar-se, engatinhar e andar (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.102).

 

Fase motora fundamental

Nesta fase a criança passa a apresentar movimentos voluntários mais específicos, estão em frequente busca e experimentação da sua capacidade motora. É a etapa em que a criança está descobrindo como realizar uma diversidade de ações estabilizadoras, locomotoras e manipulativas, primeiramente de modo isolado e depois fazendo movimentos associados. Os padrões dessa fase são visíveis básicos de comportamento. Atividades locomotoras (andar e saltar), manipulativas (arremessar, apanhar) e estabilizadoras (caminhar com firmeza e equilíbrio em um pé só) são exemplos de movimentos fundamentais que devem ser desenvolvidos nos primeiros anos da infância (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.103).

 

Fase motora especializada

A fase motora especializada é oriunda da fase de movimentos fundamentais. A criança passa a realizar “atividades motoras mais complexas” no cotidiano. Os movimentos essenciais que antes eram genuínos, como saltar e pular em um pé só agora podem ser relacionados com atividades mais difíceis como pular corda e práticas esportivas como salto triplo. (GALLAHUE; OZMUN, 2003)

 

“Esse é o período em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para uso em situações crescentemente exigentes.” (GALAHUE; OZMUN, 2003, p. 105).

 

Sabe-se que o brincar faz parte da vida de todo o ser humano, sendo assim torna-se de suma importância sabermos como sobrevinha o brincar em diversos períodos da humanidade. A pré-história é o momento do surgimento do homem na terra e onde o homem começa a desenvolver sua escrita através de pinturas, desenhos e símbolos nas cavernas. Nesse período segundo estudos já podia se notar a presença de brincadeira na vida do ser humano (ZANLUCHI, 2005).

De acordo com Huizinga “Nas sociedades primitivas as atividades que buscavam satisfazer as necessidades vitais, as atividades de sobrevivência, como a caça, assumiam muitas vezes a forma lúdica”. (1971, p.07).

Percebe-se então que na pré-história o brincar era tido de forma natural, onde no dia a dia através de atividades cotidianas tais como a caça e a coleta de alimentos silvestres são exemplos de atividades executadas por toda população inclusive as crianças, atividades essas importantíssimas para a sobrevivência, mas, contudo, faziam-se presentes a diversão e a brincadeira ao realizar tais atividades (ZANLUCHI, 2005).

 

3.2 Brincar

O brincar é atividade essencial para crianças pequenas, é através da brincadeira que elas descobrem o mundo, se comunicam e se inserem em um contexto social. Vale ressaltar que quando se fala em brincar subentende-se que se trata de compreender a importância de um tempo na rotina das crianças destinado a um brincar com qualidade, em um ambiente e com material adequados para as crianças e que as estimulem a serem criativas (ZANLUCHI, 2005).

Atualmente, diversos pesquisadores buscam compreender este fenômeno buscando, sobretudo, responder questões como: a função que as brincadeiras exercem sobre o desenvolvimento infantil; razões pelos quais a criança deve brincar; o que a brincadeira proporciona à criança no que diz confere à aprendizagem, dentre outros (VIGOTSKY, 2007).

Nesse sentido, o uso de brincadeiras no processo pedagógico estimula o gosto pela vida e induz as crianças a enfrentarem os desafios que lhe aparecerem. Através do brincar ela expressa suas fantasias, seus desejos e suas necessidades reais de uma maneira simbólica, onde a imaginação e a criatividade fluem em função da ludicidade.

Quando a criança brinca, parece mais madura, posto que entra, mesmo que de modo simbólico, no mundo adulto que cada vez se abre para que ela lide com as diversas situações do cotidiano. Nesta perspectiva a escola passa a ser uma semeadora de conhecimentos e habilidades e por isso tem um papel de grande relevância como facilitadora das aprendizagens, estimulando o desenvolvimento integral da criança por meio do trabalho em torno de desafios, fazendo com que ela explore, crie e desenvolva sua habilidade com vistas a aumentar seu potencial (CARVALHO; ALVES; GOMES, 2005).

Veale (2001), ao investigar o ambiente do brincar nos programas atuais da educação infantil, observou que nas práticas educativas, praticamente, não existe tempo para realizar um aprendizado através brincar, posto que o processo de escolarização e o preparo para a vida devem ser realizados com rapidez. Ao passo que, na concepção da criança, o brincar nunca acaba, na documentação escrita presente nas escolas a palavra brincar praticamente inexiste, sendo substituída geralmente, pela palavra atividades. 

Fundamentando-se em Vygotsky (2007), afirma-se que a atividade lúdica proporciona uma válvula de escape para as fantasias da criança ante as pressões do mundo que a rodeiam. Sendo assim, é imprescindível que as instituições escolares tenham profissionais de qualidade, capacitados e que defendam a prática do brincar nas escolas, e servindo também como facilitadora das aprendizagens, estimulando o desenvolvimento integral da criança por meio do trabalho em torno de desafios, fazendo com que ela explore, crie e desenvolva sua habilidade com o intuito de expandir seu potencial.

De acordo com Vigotski (2007), na abordagem histórico-cultural, brincar é realizar necessidades e desejos que não poder ser instantaneamente satisfeitos. Quando as crianças brincam, elas utilizam muito a situação imaginária; a imaginação está presente com intensidade, enquanto as regras ficam mais escondidas, mas não deixam de existir. Para Vigotsky:

 

O brincar é fonte de desenvolvimento e de aprendizagem, constituindo uma atividade que impulsiona o desenvolvimento, pois a criança se comporta de forma mais avançada do que na vida cotidiana, exercendo papéis e desenvolvendo ações que mobilizam novos conhecimentos, habilidades e processos de desenvolvimento e de aprendizagem (VIGOTSKY, 2007, p. 81).

 

Ainda segundo o autor (op.cit) a criança ao nascer já está imersa em um ambiente social, e a brincadeira se torna essencial para ela exatamente na adaptação do mundo, na internalização dos conceitos desse meio externo a ela.  

Simultaneamente em que a brincadeira está inserida em um certo contexto social, ela é subjetiva. De acordo com a situação, um mesmo comportamento pode ter significações diferentes. Freire (2002) trabalha com o jogo como um fenômeno entendido por suas evidências, sendo desnecessário tentar elencar aspectos para ratificar ou negar certa atividade como jogo. Não se dividir as regras, a imaginação, a espontaneidade, associar tudo e criar o jogo, para Freire (2002), é na relação dessas características, entre outras, que ele surge. O autor elucida que:

 

Tudo no jogo aponta para o mundo interior do sujeito, invisível aos nossos olhos, e a tradução exterior dessa atividade, no plano da nossa razão, confunde-se com expressões de qualquer outra atividade (FREIRE, 2002, p.67). 

 

Carvalho, Alves e Gomes (2005) destacam que a utilização do brincar possibilita o vínculo entre os processos de ensino e da educação e demanda uma atitude ativa por parte do docente, que promove o ensino e a aprendizagem em um único movimento. Dessa forma, a inserção do brincar no currículo educacional e, também, nos projetos pedagógicos das escolas, é uma ação transformadora no aspecto político e social em que crianças são vistas pelos professores como cidadãs, ou seja, cada uma como pessoa histórica e sociopolítica, que participa e modifica a realidade em que vive.

Compreender a riqueza do processo de brincar para a formação das crianças pressupõe concebê-la nas práticas pedagógicas na rotina escolares como uma dimensão importante das relações que ali são instituídas entre adultos e crianças e crianças entre si, bem como do processo de construção de saberes e da experiência cultural. Oliveira (2000) aponta que:

 

O brincar não significa apenas recrear, é muito mais, caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Assim, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade (OLIVEIRA, 2000, p. 67).

 

Zanluchi (2005) complementa que “Quando brinca, a criança prepara-se para a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas.” Nesse sentido, ressalta-se que quando a criança brinca, parece mais madura, posto que entra, ainda que de modo simbólico, no universo adulto que cada vez se estabelece para que ela lide com as várias situações.

Neste seguimento, Oliveira (2000) destaca que brincar, é um processo de humanização, no qual a criança descobre a conciliar a brincadeira de maneira eficiente, criando elos mais prolongados. Desse modo, as crianças desenvolvem sua capacidade de raciocinar, de julgar, de argumentar, de como chegar a um consenso, entendendo o quanto isto é fundamental para dar início à atividade em si.

 

3.3 Os benefícios da brincadeira na vida da criança

A criança como um corpo e mente, a criança excluída sendo resgatada para um âmbito afetivo, coletivo, ou a criança agressiva, estes benefícios trazem para a vida para a construção de adultos melhores. Utilizando o brincar onde a criança possa se expressar de forma autêntica fazendo que ela aceite melhor os limites e consiga canalizar sua agressividade e aliviar as tensões para o melhor aprendizado, assim construindo brincadeiras usando seu potencial criativo, respeitando os limites e compartilhando momentos (OLIVEIRA, 2000).

O ato de brincar, segundo Negrini (1994) é fundamental para que o desenvolvimento infantil seja aproveitado ao máximo. Durante a idade escolar, a aplicação de atividades que impulsionam a diversão da criança serve para promover a interação social tão necessária na vida de uma pessoa.

Contudo, o caráter pedagógico deve ser exaltado, pois todas as brincadeiras dadas em sala de aula promovem o conhecimento dos pequenos. A psicomotricidade relacional, como vocês puderam ver, tem uma enorme contribuição com tudo isso. Portanto, é interessante oferecer à criançada oportunidades para que elas possam desempenhar todo o potencial criativo que elas têm. Outro detalhe importante para trazermos em questão é que toda criança disposta a brincar, jogar, aprender demonstra felicidade. Os jogos lúdicos são responsáveis por toda essa verve que acompanha o pequeno (OLIVEIRA, 2000).

O profissional da educação comprometido na relação de ajuda é apto de realizar esse tipo de escuta. Necessita, no entanto, aprender a responder ainda corporalmente, através de uma ação de empatia corporal, sem a necessidade de utilizar a palavras frequentemente vazias de significado, de conteúdo afetivo, consciente, autêntico (MORAES, 2012).

A comunicação corporal é repleta de valores e fatores emocionais, principalmente na educação infantil, onde gesto, olhar, tônus muscular falam de sentimentos, de medos, desejos, conflitos, isto é, demonstram o imaginário consciente e inconsciente.

A gestualidade não é a simplesmente a reação nervosa a estímulos, e sim a resposta do corpo ao mundo. A prática profissional tem revelado que a atitude morfológica é somente o espelho a refletir ou expressar a atitude psíquica diante da vida (MORAES, 2012).

Em sua trajetória de descobertas do método da Psicomotricidade Relacional, seu criador, Lapierre (2002, p. 28), afirma:

 

Flexibilização articular, desenvolvimento seletivo de certos feixes musculares são apenas paliativos cuja influência sobre a morfoestática é provisória e aleatória. A suavização ou reeducação da atitude habitual não é condicionada pela força muscular, e sim pelo tônus da postura, o qual encontra-se relacionado com o tônus psicoafetivo, regulado pelos centros subcorticais, no nível inconsciente.

 

Lapierre e Lapierre (2002) apontam também que dificuldades na aprendizagem (falta de motivação, agressividade exarcerbada, hiperatividade, falta de atenção e outras) são, na maioria das vezes, consequências de sintomas emocionais, funcionais, psicossomáticos. São a sintomatização oriundas de situações mal vividas na relação afetivo-emocional familiar. São, ainda, reflexo de uma relação transferencial negativa entre aluno e docente.

Assim, o profissional da educação pode escolher apaixonar-se por essa opção libertadora e ser capaz de relações verdadeiras de auxílio no cotidiano com os alunos, ou introduzir uma comunicação vazia de afeto, de investimentos positivos, reproduzindo modelos estereotipados de comportamento fundamentados numa óptica organista e mecanicista, conformando-se em seguir programas escolares engessados, correndo até mesmo o risco de esclerosá-los, protegido em sua onipotência de adulto (NEGRINE, 1994).

 

  1. ANÁLISE DE DADOS

 

Após abordar-se o brincar em diferentes contextos da história, o estudo se pauta em uma teoria que aborda a importância do brincar dentro das escolas da Educação Infantil como estratégia para o desenvolvimento das crianças. Sabe-se que os primeiros anos de vida da criança são essenciais para a formação dela, em função disso, essa fase deve ser completa, uma vez que se simboliza em um período que a criança está criando sua própria identidade (NEGRINE, 1994).

Nesse contexto, Lapierre e Lapierre (2002) cita que é imperativo destacar que as escolas devam aumentar suas concepções acerca do uso do brinquedo e dos jogos na rotina da instituição, fazendo com que o aprendizado e a formação dos alunos seja o mais natural possível, para que convivam em grupos, com outras crianças de diferentes idades, e em muitos lugares, explorando assim sua criatividade e seu conhecimento em relação o mundo que a rodeia.

Para essa discussão aborda-se os pareceres do brincar a partir da fala de vários pesquisadores, expondo desse modo a opinião que eles possuem em relação ao brincar na Educação Infantil e como os professores devem se organizar para que esse brincar seja uma realidade no cotidiano dos alunos. Dessa forma, será discutido aqui a importância do planejamento, a organização do espaço, a análise do educador e o seu posicionamento no brincar voltado nas instituições escolares.

Segundo Luckesi (1998) apud Maluf (2009, p. 22) a ludicidade como sendo “ação que pode propiciar a plenitude da experiência, por isso proporciona prazer ao ser humano, seja como exercício, como jogo simbólico ou como jogo de regras”. Ele complementa: “uma atividade lúdica pode não ser divertida”.

Percebe-se que a atividade lúdica é fundamental na vida da criança, pois ela proporciona liberdade de ação, permite repetição, uso simbólico dos dedas vontades, estimula a fantasia, mas quando são impostas e não possuem sentido para a criança naquele instante, isso faz com que essa prática acarrete desprazer por não suprir a necessidade que a criança possui naquela ocasião.

Verificou-se, contudo a importância do mecanismo de observação a ser aplicado pelos professores no decorrer do seu trabalho educativo, com vistas a selecionar com harmonização as atividades a serem realizadas com os alunos, assim como o período de duração da mesma para que não ocorra tal aversão por parte das crianças, viabilizado dessa forma, o desenvolvimento de brincadeiras agradáveis e não entediantes.

Na concepção de Garcia e Marques (1990) “o aprendizado da brincadeira pela criança, propicia a liberação de energias, a expansão da criatividade, fortalece a sociabilidade e estimula a liberdade do desempenho” (GARCIA; MARQUES, 1990 apud CÓRIA-SABINI, 2004, p. 27).

 

Um tipo de brincadeira muito utilizada no brincar das crianças é o faz-de-conta, dentro dessa perspectiva citamos Vigotsky que relata a importância da situação imaginária muito presente na vida das crianças. [...] O autor relata que o brincar tem sua origem na situação imaginária criada pela própria criança, em que desejos irrealizáveis podem ser realizados [...] (VIGOTSKY, 1984 apud KISHIMOTO, 2000 p. 64).

 

Entende-se que as representações para o autor acima mencionado retratam que, no decorrer da brincadeira, a criança é capaz de fazer mais do que ela pode entender. Vygotsky (1991) cita um exemplo muito comum de brincadeira entre as crianças; o brincar de comer. Durante essa atividade as crianças fazem ações semiconscientes do comer real; nesse viés, o autor completa: “Uma criança não se comporta de forma puramente simbólica no brinquedo; ao invés disso ela quer e realiza seus desejos, permitindo que as categorias básicas da realidade passem através de sua experiência” (p. 114).

Perante o exposto, entende-se que durante o processo de reproduzir as atitudes dos outros, a criança associa significados aos objetos, aos papéis sociais e as relações que vai achando em seu dia a dia. Durante a brincadeira, fantasiam, assumem funções que precisam ser combinadas com os colegas, fazem planos para a brincadeira, criam vínculos, em suma, aprendem a viver em coletivo. Verifica-se que quando as crianças brincam em grupos aprendem a negociar e a refletir acerca da opinião do outro.

Com vistas a afirmar a relevância do brincar cita-se os dizeres de Maluf (2009) que destaca os pontos positivos das atividades lúdicas como sendo:

 

A assimilação de valores; aquisição de comportamentos; desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento; aprimoramento de habilidades e socialização. Para tanto, implementamos as abordagens sobre o lúdico citando Elkind (1975), “[...] o jogo é o trabalho da criança. Nos seus jogos, a criança está praticando várias ações que acabarão por ser internalizadas como pensamento” (p.63).

 

A partir do que foi citado por Elkind (1975) constata-se a importância de se aplicar as atividades lúdicas nas escolas, possibilitando à criança ter um período de organizar suas ideias, vontades, imaginações, de conviver com outros colegas da sua idade e/ou diferentes para suprir suas necessidades. Dias (1996, p. 54-55) comenta:

 

É preciso resgatar o direito da criança a uma educação que respeite seu processo de construção de pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens expressivas do jogo, do desenho e da música. Estes, como instrumentos simbólicos de leitura e escrita do mundo, articulam-se ao sistema de representação da linguagem escrita, suja elaboração mais complexa exige formas de pensamento mais sofisticadas para sua plena utilização.

 

A partir dessas abordagens compreende-se que o uso de brincadeiras enquanto ação educativa fornece às crianças o entendimento do mundo e o seu saber a respeito dele. Acredita-se que através da brincadeira a criança consiga descobrir, a sanar suas necessidades, a despertar sua imaginação. Por meio da brincadeira as crianças sonham, vão além da sua realidade. Uma brincadeira com bola, por exemplo, pode se tornar o aprendizado da matemática, português. Enfim, durante a atividade lúdica a criança encontra compreensão e aprende. Para tal é preciso ter um professor capacitado para fomentar tais atividades dentro da escola.

Sabe-se que o mundo da criança muda o tempo todo, e que ela precisa de permutas entre a imaginação e a realidade. Assim, constata-se a importância de se usar o brincar nas escolas, já que muitas crianças são postas nesses espaços desde bebês, em função do processo do mundo contemporâneo, em que pai e mãe necessitam trabalhar.

Posto isso, Cória-Sabini e Lucena (2004) apontam que o espírito de observação, curiosidade que a criança carrega traz é o que deve ser explorado no espaço escolar, na maioria das vezes, uma curiosidade não resolvida da criança se desvanece e o saber buscado perde o significado para ela. Assim, Vygotsky (1998) relata:

 

[...] se as necessidades não realizáveis imediatamente, não se desenvolvessem durante os anos escolares, não existiriam os brinquedos, uma vez que eles parecem ser inventados justamente quando as crianças começam experimentar tendências irrealizáveis (VYGOTSKY, 1998 apud QUEIROZ, 2006, p.106).

 

E ainda de acordo com Piaget:

 

[...] o jogo é, portanto, formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esse seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu [...] os métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais. (PIAGET, 1975 apud CÓRIASABINI e LUCENA, 2004, p.41).

 

Em sua obra Vygotsky (1987) cita:

 

[...] as pessoas não nascem como um copo vazio, elas são formadas de acordo com as experiências às quais são submetidas... o desenvolvimento da criança é produto dos estabelecimentos sociais e sistemas educacionais que ajudam a criança a construir seu próprio pensamento e a descobrir o significado da ação do outro e da sua própria [...] (VYGOTSKY, 1987 apud MALUF, 2009, p.17).

 

A autora ainda acrescenta que para Vygotsky (1987 p. 17):

 

“[...] a criança compreenderá as coisas, dependendo das pessoas, que mostraram ações, movimentos e formas de expressão”. Salientamos que por meio das brincadeiras as crianças satisfazem seus desejos e interesses e é de fundamental importância que as instituições acrescentem em seu cotidiano atividades lúdicas para que contemplem as necessidades das crianças.

 

Toda e qualquer criança brinca porque gosta. Para as menores e que ainda não falam, brincar é um meio de expressar o que desejam, sentem, suas experiências e experiências anteriores. Brincar, para a criança, é tão importante como comer e dormir.

Assim, percebe-se na análise realizada que não se pode ignorar que a criança satisfaça algumas necessidades através da brincadeira, pois ela é capaz de muitas vontades que, geralmente, não podem ser realizados imediatamente, mas somente depois, através das brincadeiras. Desse modo, na escola, a criança procura satisfazer suas vontades não realizados anteriormente, se envolvendo em um mundo de imaginação, e com outras crianças, em que suas vontades podem ser realizadas. Este é o mundo que se pode chamar de brincadeira.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao final desse estudo foi possível concluir que é necessário fundamentar o trabalho do brincar na infância, para que isso aconteça tem-se que haver uma transformação na maneira de ver a atividade, tratando essa estratégia pedagógica como um conteúdo válido, ou seja, algo que deve ser tratado pedagogicamente.

Salienta-se a importância do uso de jogos e brincadeiras no contexto escolar, pois sabe-se que os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para a formação dela. Além disso, esta fase deve ser completa, já que este é um período em que a criança está desenvolvendo sua própria identidade.

Nesse momento, destaca-se a importância do professor frente a esse desenvolvimento, a importância da organização e do plano de aula, da análise na sala e do uso de todos os espaços que existem na instituição escolar, fazendo com que a criança aumente seus saberes acerca do mundo que a rodeia. Sob esse prisma, constata-se que o professor é o elo mediador do processo de ensino-aprendizagem. Por isso, ele deve diariamente rever sua prática, seus saberes e suas condutas concernentes ao brincar.

Posto isso, destaca-se que durante a realização deste estudo, verificou-se que a atividade lúdica é de grande importância na vida da criança, pois ela possibilita repetição, realização simbólica dos desejos, desperta a fantasia e dá à criança liberdade de ação. Ao brincar, a criança passa a compreender o mundo, fantasia e imagina.

 

REFERÊNCIAS

 

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