A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS NA CONSTRUÇÃO DAS APRENDIZAGENS
Rosângela Gomes Moreira1
RESUMO
O presente artigo vem ressaltar a importância do brincar na educação infantil, enfatizando sua relevância como prática educativa. Pois através das brincadeiras as crianças vão construindo aprendizagens que são extremamente significativas para o seu desenvolvimento num todo, como social, cognitivo, motor, psíquico, entre outros. Através das brincadeiras, as crianças descobrem o mundo a sua volta, estabelecendo uma ligação com a realidade na qual esta inserida. A ludicidade torna esse processo prazeroso e significativo para a criança como ser social. O presente estudo é uma pesquisa bibliográfica embasada nos trabalhos de autores como: Gilles Brougère (2001), José Luiz Straub (2010), Sõnia Kramer (2007), Tizuko Morchida Kishimoto (2009), Edda Bomtempo (2009), Maria Aparecida Cória-Sabini e Regina Ferreira de Lucena (2004).
PALAVRAS – CHAVE: Brincadeiras, ludicidade, aprendizagens.
ABSTRACT
This article emphasizes the importance of playing in early childhood education, emphasizing its relevance as an educational practice. For through play, children are building learning that is extremely significant for their development in a whole, as social, cognitive, motor, psychic, among others. Through play, children discover the world around them, establishing a connection with the reality in which it is inserted. Playfulness makes this process pleasurable and meaningful to the child as a social being. The present study is a bibliographical research based on the works of authors such as Gilles Brougère (2001), José Luiz Straub (2010), Sónia Kramer (2007), Tizuko Morchida Kishimoto (2009), Edda Bomtempo (2009), Maria Aparecida Cória- Sabini and Regina Ferreira de Lucena (2004).
Keywords: Jokes. Playfulness. Learning.
Introdução
É necessário olharmos para as nossas crianças, como seres em pleno desenvolvimento, possibilitando a elas um crescimento favorável, repleto de descobertas e possibilidades.
Segundo Kramer (2007, p.15):
“Crianças são sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas contradições das sociedades em que estão inseridas. A criança não se resume a ser alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança). Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a fantasia, a criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura. Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo de ver as crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto de vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma história humana porque o homem tem infância”.
As brincadeiras na educação infantil são de suma importância para o desenvolvimento da criança, é através do lúdico que se constrói aprendizagens que farão toda a diferença nas relações estabelecidas com o outro na sociedade em que vive. O adulto que teremos amanhã será o reflexo da criança de hoje, que se desenvolve gradativamente através das brincadeiras.
Segundo a autora Tizuko Morchida Kishimoto ( 2009, p. 19):
A imagem de infância é reconstituída pelo adulto por meio de um duplo processo: de um lado, ela está associada a todo um contexto de valores e aspirações da sociedade, e de outro, depende de percepções próprias do adulto, que incorporam memórias de seu tempo de criança. Assim, se a imagem de infância reflete o contexto atual, ela é carregada, também, de uma visão idealizada do passado do adulto, que contempla sua própria infância. A infância expressa no brinquedo contém o mundo real, com seus valores, modos de pensar e agir (...).
Dessa forma podemos afirmar que as brincadeiras influenciam e são de fundamental importância para a formação de um cidadão crítico e consciente de sua realidade.
As brincadeiras estão repletas de significado, de um simbolismo representativo da sociedade em que vivemos, ao brincar a criança assume papéis, faz representações, permite que seu imaginário a transforme no que deseja ser no momento, enfim, as brincadeiras oferecem um mundo cheio de oportunidades e desafios.
A autora Edda Bomtempo (2009, p. 57) destaca que:
Quando vemos uma criança brincando de faz-de-conta, sentimo-nos atraídos pelas representações que ela desenvolve. A primeira impressão que nos causa é que as cenas se desenrolam de maneira a não deixar dúvida do significado que os objetos assumem dentro de um contexto. Assim, os papéis são desempenhados com clareza: a menina torna-se mãe, tia, irmã, professora; o menino torna-se pai, índio, polícia, ladrão sem script e sem diretor.
Neste caso, a criança assume papéis que a coloca como um ser social em plena atividade, com direitos, deveres e com todas as responsabilidades que os acompanham.
Desenvolvimento
Somos sabedores de que muitos pais e professores ainda não dão a devida importância para os jogos e brincadeiras como ferramenta importantíssima e fundamental no desenvolvimento da criança. A grande maioria dos pais que matrícula seus filhos em uma escola de educação infantil não têm o real conhecimento da relevância que esses anos iniciais têm para o aprimoramento e desenvolvimento dos pequenos, acreditam que somente nas séries iniciais do ensino fundamental é que a criança começa a adquirir e produzir conhecimento, e que é somente através da alfabetização que esse conhecimento se dá.
Alguns professores ainda trabalham o brincar apenas como forma de recreação, sem nenhum objetivo específico, de forma dispersa, sem se atentar para os benefícios que uma brincadeira planejada e bem elaborada pode acrescentar e tornar as brincadeiras mais interessantes e cheias de significado. Muitos estão preocupados em preparar essas crianças para ingressarem no ensino fundamental, ou seja, acelerando o processo e pulando etapas.
De acordo com as autoras Maria Aparecida Cória-Sabini e Regina Ferreira de Lucena (2004, p. 9):
É comum, nas pré-escolas brasileiras, uma ênfase na preparação para a prontidão, ou seja, em preparar as crianças para a primeira série. (...) além de ser uma desconsideração quanto à especificidade desse nível de ensino, passa a ser uma antecipação da perspectiva mais tradicional de educação do primeiro grau, uma vez que a preparação para a prontidão, baseada em treinamento e na aceleração ou compensação de carências das crianças de classes populares, pressupõe alunos passivos no processo de aprendizagem. Trabalhar o jogo, nesse contexto, seria resgatar o prazer de aprender, pois a criança, quando brinca, deixa refletir não só sua forma de pensar ou sentir, mas também como ela está organizando a realidade.
É preciso que as brincadeiras sejam levadas á sério, e que sejam pensadas e voltadas para o desenvolvimento da criança, sem acelerar ou pular etapas, cada fase da infância tem suas particularidades, é fundamental saber trabalhar com cada fase, permitindo que a criança construa aprendizagens de forma lúdica e prazerosa.
Ainda de acordo com Cória-Sabini (2004, p.13):
Aprendizagem, em sentido amplo, pode ser definida como a aquisição de habilidades, hábitos, preferências, ou seja, a aquisição de padrões de desempenhos em resposta aos desafios ambientais. Na sua trajetória de vida, ao enfrentar esses desafios, cada pessoa, à sua maneira e no seu tempo, dá sentido à sua vida e cria sua própria história. Essa história, por sua vez, torna-se geradora de valores, normas, padrões de comportamento que só têm sentido se considerarmos o contexto cultural do indivíduo.
Podemos afirmar então, que as brincadeiras e os jogos passam a ter um papel fundamental na formação de cidadãos reflexivos, com aquisição de valores essenciais para o seu crescimento pessoal e também social, pois através das brincadeiras a criança se permite entrar em um mundo de fantasia e imaginação, experimentando diversas possibilidades.
Infância tempo de brincar
É importante sabermos que os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento infantil, precisamos dar o devido valor para essa etapa tão importante na formação do ser humano, é nessa fase que a criança inicia suas descobertas e transformações próprias do crescimento. As boas brincadeiras garantirão um crescimento rico, saudável e repleto de fantasias e imaginação, que farão toda a diferença no presente e no futuro da criança.
Segundo Edda Bomtempo (2009, p. 69).
É através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos, onde ela restabelece seu controle interior, sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros.
As brincadeiras favorecem essa interação com o mundo dos adultos e propicia a satisfação de seus desejos momentâneos, durante a brincadeira a criança se expressa, dialoga, estabelece regras, expande sua criatividade, sociabilidade e liberdade. Através das brincadeiras a criança desenvolve capacidades importantíssimas como atenção, memória e imaginação.
Os adultos na maioria das vezes são responsáveis por propiciarem espaços adequados para que esse desenvolvimento aconteça, é necessário que esse espaço seja seguro e proporcione liberdade para a criança.
O autor José Luiz Straub (2010, p.47) assegura que:
Podemos, ainda, com um breve olhar, constatar que os lugares destinados às crianças para brincarem, para realizarem suas mais diversas atividades, são preparados e disponibilizados pelos adultos. Os locais são organizados de forma a apresentarem os mínimos riscos possíveis e, ao mesmo tempo, permitirem que a vigilância ocorra.
É preciso nos atentarmos aos espaços que as crianças utilizam para realizar suas brincadeiras, tanto as brincadeiras ao ar livre ou em ambientes fechados, necessitam desse olhar criterioso do adulto.
Nos dias atuais os brinquedos e brincadeiras estão inseridos num contexto cheio de significados e voltados para o desenvolvimento satisfatório das crianças.
De acordo com Gilles Brougère (2001, p.65):
Através do brinquedo, a criança entra em contato com um discurso cultural sobre a sociedade, realizado para ela, como é feito, ou foi feito, nos contos, nos livros, nos desenhos animados. São produções que propõem um olhar sobre o mundo, olhar que leva em conta o destinatário especial, que é a criança. Nesse aspecto, a especificidade do brinquedo esta no fato de ter volume, de propor situações originais de apropriação e sobretudo em convidar à manipulação lúdica.
O lúdico exerce uma grande influência na imaginação da criança, pois através da ludicidade o aprendizado ocorre de forma prazerosa, aprende-se brincando. Quanto mais proporcionarmos momentos de brincadeiras, mais fácil será o seu processo de desenvolvimento. “A brincadeira aparece como um fator de assimilação de elementos culturais, cuja heterogeneidade desaparece em proveito de uma homogeneidade construída pela criança no ato lúdico”. (Gilles Brougère, 2001, p.74).
O lúdico está presente nas atividades escolares e humanas, é ele que permite a entrada da criança num mundo de fantasia e imaginação é através dos jogos, brinquedos, brincadeiras e das histórias infantis que esse novo mundo se abre para as crianças, um mundo convidativo para expressar-se e viver a infância na sua inteireza.
Conclusão
As brincadeiras têm sem sombra de dúvidas um papel importantíssimo no desenvolvimento da criança, em todos os aspectos, tanto cognitivo, social, afetivo, moral, etc. Para que esse desenvolvimento aconteça em sua plenitude, é preciso que tenhamos um olhar crítico e cauteloso com relação às brincadeiras proporcionadas as nossas crianças, permitindo assim, que vivam a infância em sua total plenitude.
A alfabetização não é o único meio de construir aprendizagens, ela acontece também, através de outros estímulos, e as brincadeiras são ferramentas indispensáveis para essa construção. Criança necessita brincar e esse brincar gera conhecimento de forma leve e prazerosa, que garantirão uma infância recheada de descobertas, imaginação e muita criatividade que formará um ser humano único e especial.
REFERÊNCIAS
BOMTEMPO, Edda. A brincadeira de faz- de- conta: Lugar do simbolismo, da representação, do imaginário. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a educação. São Paulo: 12. ed. Cortez, 2009.p.57-69.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2001.p.65-74.
CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida. LUCENA, Regina Ferreira de. Jogos e brincadeiras na educação infantil. Campinas: Papirus, 2004. p.13.
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. O jogo e a educação infantil. In: KISHIMOTO, Tizuco Morchida (org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: 12. ed. Cortez, 2009. p.19.
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Rangel, Aricélia Ribeiro do Nascimento (orgs.). Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
STRAUB, José Luiz. Infâncias e Brincadeiras: Culturas que governam. Cáceres: Unemat, 2010. p. 47.
1 Licenciatura em Pedagogia. Pós-graduada em Docência na Educação Infantil e Anos Iniciais. Atua como professora.