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JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ana Regina de Almeida Sampaio

Elaine Cristina Thomann da Silva

Francielle dos Santos

Francielly Martins de Souza Costa

Marli Francisco Sampaio

 

RESUMO

Os jogos e brincadeiras são formas de aprendizagem na educação infantil, como já faz parte do cotidiano das crianças também é uma necessidade dos indivíduos. Este artigo aborda as brincadeiras na educação, principalmente nesse nível de ensino. Tem o objetivo de entender a importância da educação infantil, e da ludicidade na educação infantil e os jogos e brincadeiras no processo de aprendizagem das crianças pequenas. Realizamos uma pesquisa qualitativa, utilizando de estudos teóricos, entre eles Vygotsky Kishimoto, Adriana Friedmann e outros. O exercício da ludicidade vai além do desenvolvimento real porque nela se instaura um campo de aprendizagem propício à formação de imagens, à conduta auto-regulada, à criação de soluções e avanços nos processos de significação. Na brincadeira são empreendidas ações coordenadas e organizadas, dirigidas a um fim e, por isso, antecipatórias, favorecendo um funcionamento intelectual que leva à consolidação do pensamento abstrato

 

Palavra-chave: Educação infantil. Aprendizagem. Jogos e Brincadeiras.

 

INTRODUÇÃO

 

O presente artigo se debruça sobre a importância da educação infantil, bem como uma breve história da educação infantil no Brasil, apontando a influência da rotina escolar no caráter da criança no processo de desenvolvimento na primeira infância. Usamos como recurso pedagógico a ludicidade os jogos e brincadeiras que auxiliam no processo de ensino.

A metodologia se desenvolveu por um viés qualitativo, através dos aspectos teóricos acerca de cada temática proposta, diversas possibilidades metodológicas para ensinar e aprender; destaca-se o papel e a atuação do pedagogo, como importante para promover a educação, a aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança. O processo reflexivo sobre o papel dos jogos e brincadeiras nesse processo, tendo em vista seus aspectos teóricos e práticos.

De acordo com a BNCC – MEC:

 

“Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais”. 

 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta seis direitos de aprendizagens. São eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Sabemos que o brincar faz parte desse grupo. Observamos que é comum ouvir algumas pessoas afirmarem que as crianças da educação infantil só sabem brincar. E por algum tempo essa afirmação preocupava muitos professores dessa etapa de ensino porque acabavam por serem vistos como aqueles que não trabalhavam e apenas brincavam com as crianças. O estudo desse artigo busca destacar a importância do brincar com base teórica e intencionalidade.

 

1.1 Importancia da Educação Infantil

 

A educação básica no Brasil é dividida em três partes importantes para a formação de um adulto, são elas a educação infantil, o ensino fundamental e o médio. Devido a algumas mudanças na educação, alguns pais ainda têm dúvidas sobre o que é trabalhado em cada etapa. Em todo caso, a educação infantil é aquela do zero aos seis anos, na qual começa pelo berçário ou creche e depois se divide em grupos sequenciais, como do um até o cinco.

São nesses grupos que se iniciam os desenvolvimentos da criança com técnicas pedagógicas e aprofundadas para estimular todas as capacidades essenciais para os pequenos crescerem de acordo com o que é esperado pela idade. Os estímulos são feitos por meio de brincadeiras lúdicas favorecendo a criatividade e atuando com exercícios desde os cognitivos até os sociais. De modo geral, a educação infantil visa preparar a criança para todos os aspectos da vida.

Ter compromissos e saber os horários certos para cumprir cada tarefa faz parte do dia a dia dos adultos, tanto é que parece ser algo natural. Contudo, o entendimento dessa sequência de atividades começa nos primeiros anos de vida, por isso a importância da criança ter uma rotina, como hora das refeições, de tomar banho, brincar e estudar. Ter um horário para as atividades ajuda a evitar o estresse e a correria dos pais, sobretudo auxilia no desenvolvimento do filho. Nesse sentido, a importância da educação infantil se dá inclusive pela inserção de uma rotina saudável durante o período escolar.

Afinal, os pequenos têm horários para cumprir, preparando eles desde os primeiros anos de vida para as suas responsabilidades e compromissos normais da vida adulta. A rotina na educação infantil é planejada de forma pedagógica, respeitando as necessidades biológicas, sociais, psicológicas atendendo todo direito de aprendizagem segundo a BNCC. Nessa ordem, temos as necessidades de alimentação e higiene, momentos de interação e, por último, o tempo que cada criança leva para realizar uma atividade escolar. Por isso, é respeitado o tempo do indivíduo.

 

1.2 A Ludicidade na Educação Infantil

 

Na ótica histórico-cultural, o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) explicita claramente uma relação entre a educação e a conduta tipicamente infantil, o comportamento lúdico. Ao propor que, através do jogo - motivada por necessidades que não podem ser supridas por outros meios - a criança é capaz de agir e pensar de maneira mais complexa do que demonstra em outras atividades, Vygotsky estabelece que ludicidade e aprendizagem formal funcionam como âmbitos de desenvolvimento.

O jogo favorece a criação de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) porque, nele, "a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário, ... é como se ela fosse maior do que é na realidade" (Vygotsky, 1994: 117). Em outras palavras, da mesma forma que ocorre na atividade de aprendizagem, o jogo gera zonas de desenvolvimento proximal porque instiga a criança, cada vez mais, a ser capaz de controlar seu comportamento

o, experimentar habilidades ainda não consolidadas no seu repertório, criar modos de operar mentalmente e de agir no mundo que desafiam o conhecimento já internalizado, impulsionando o desenvolvimento de funções embrionárias de pensamento. Vygotsky assevera:

 

...ainda que se possa comparar a relação brinquedo-desenvolvimento à relação instrução-desenvolvimento, o brinquedo proporciona um campo muito mais amplo para as mudanças quanto a necessidades e consciência. A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação de propósitos voluntários e a formação de planos de vida reais e impulsos volitivos aparecem ao longo do brinquedo, fazendo do mesmo o ponto mais elevado do desenvolvimento préescolar. A criança avança essencialmente através da atividade lúdica. Somente neste sentido pode-se considerar o brinquedo como uma atividade condutora que determina a evolução da criança (1991: 156).

 

Se a criança não pode agir como um adulto, pode fazer de conta que o faz, criando situações imaginárias em que se comporta à similitude do comportamento adulto. Ela se torna o que ainda não é, age com objetos substitutivos daqueles que ainda lhe são vetados, interage conforme padrões distantes daqueles que demarcam seu lócus social.

O exercício da ludicidade vai além do desenvolvimento real porque nela se instaura um campo de aprendizagem propício à formação de imagens, à conduta auto-regulada, à criação de soluções e avanços nos processos de significação. Na brincadeira são empreendidas ações coordenadas e organizadas, dirigidas a um fim e, por isso, antecipatórias, favorecendo um funcionamento intelectual que leva à consolidação do pensamento abstrato. A força motriz da ludicidade, o que a faz tão importante no complexo processo de apropriação de conhecimentos é a combinação paradoxal de liberdade e controle. Ao mesmo tempo em que os horizontes se ampliam conforme os rumos da imaginação, o cenário lúdico se emoldura segundo limites que os próprios jogadores se impõem, subordinando-se mutuamente às regras que conduzem a atividade lúdica.

A relação entre jogo e aprendizagem tem um estatuto teórico proeminente na proposição histórico-cultural do desenvolvimento. Não porque exista uma produção extensa sobre o assunto, mas porque jogo tem explícita relação com desenvolvimento potencial e porque estabelece fortes laços entre processos imaginários e desenvolvimento psicológico, caracterizando a imaginação como sistema integrado das funções psicológicas superiores, proporcionando que a criança se torne capaz de acessar, interpretar, significar e modificar a realidade e a si própria.

Focalizar as relações entre jogo e aprendizagem não é uma ideia nova na história da educação. Porém, hoje em dia é mais aceita e divulgada a compreensão de aprendizagem como apropriação, num processo dinâmico de investigação sobre os objetos de conhecimento que, tornados próprios pelo aprendiz, fazem sentido para sua vida, para seu 'ser no mundo', à semelhança do que sucede na atividade lúdica. Afinal, em 1926, em seu Psicologia Pedagógica, já denunciava Vygotsky:

 

O maior pecado da velha escola consistia em que nenhum dos seus participantes sabia responder por que se estudam geografia e história, matemática e literatura. Engana-se quem pensa que a velha escola fornecia poucos conhecimentos. Ao contrário, frequentemente ela comunicava um volume incomum de conhecimentos...

 

Mas era sempre e apenas um tesouro no deserto, uma riqueza da qual ninguém conseguia fazer o devido uso porque a diretriz básica dos seus conhecimentos estava à margem da vida... esses conhecimentos não estavam em condições de satisfazer às mais simples demandas vitais do aluno mais comum e modesto. Cada um se lembra por experiência própria que quase a única aplicação que conseguiu fazer dos conhecimentos adquiridos na escola foi ter dado uma resposta mais ou menos exata nas provas finais, e o conhecimento de geografia ainda não ajudou ninguém se orientar no mundo e ampliar o círculo de impressões em uma viagem...

Por tudo isso, a principal reivindicação pedagógica vem a ser de que (...) o educador saiba sempre e com precisão a orientação em que deve agir a reação a ser estabelecida. (2001: 171). De acordo com os teóricos da corrente histórico-cultural, o jogo é a atividade principal da criança pré-escolar, ou seja, é o mediador por excelência das transformações mais relevantes de seu desenvolvimento. Fundamentar a educação infantil na ludicidade significa um saber-fazer reflexivo para que o jogo seja constituinte de zonas de desenvolvimento proximal.

Independente de resultados, o interesse pela brincadeira se mantém pelo processo de brincar, o que não significa inexistência de um objetivo. O jogo tem por objetivo exercitar e desenvolver "todas as forças reais e embrionárias que nele existem" (Vygotsky, 1996: 79). Quando a criança brinca com cubos de madeira, a priori, o alvo não é a estrutura resultante, isto é, o produto, mas a própria coordenação de ações, o agir sobre os blocos para uni-los de diferentes modos e estabelecer o equilíbrio entre as peças.

O brincar é determinado por duas características: criação de situação imaginária e comportamento regrado. De acordo com Vygotsky, reconhecer a existência de situação imaginária na brincadeira foi comumente associado a determinado tipo de jogo. Em contrapartida, qualificar qualquer jogo ou brincadeira pela atuação dos processos imaginários significa reconhecer o vínculo existente entre motivação lúdica e desenvolvimento do pensamento simbólico.

Em qualquer jogo há sempre uma situação imaginária, por meio da qual a criança se propõe enfrentar um desafio - conforme os objetivos e as regras do jogo - desenvolvendo funções embrionárias e controlando seu comportamento num nível maior do que o habitual. Por isso, "a criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança; pelo contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais" (Vygotsky, 1994: 113).

A outra característica definidora é que todo jogo envolve um conjunto de regras, explícitas ou implícitas. "A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori." (idem: 108).

As diferentes formas em que o jogo aparece no decurso do desenvolvimento são determinadas pelo predomínio de um dos seus dois componentes. No início da vida, é mais comum o jogo constituir-se de situação imaginária explícita com regras implícitas e derivadas das representações simbólicas. Assim, uma boneca representa um bebê e a ação de ninar a boneca corresponde à regra implícita de imitar a mãe. Gradativamente essa relação se inverte: as regras passam a ser explícitas e a situação imaginária se oculta, como acontece nos jogos de tabuleiro e de competição.

 

1.3 Jogos e Brincadeiras na Educação Infantil

 

A criança está inserida no mundo dos jogos e brincadeiras desde muito cedo, inventando o seu próprio mundo por meio da imaginação. Segundo estudos da Psicologia baseados numa visão histórica e social dos processos de desenvolvimento infantil, que tem em Vygotsky (2007) um dos seus principais representantes, do brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos.

Para Araújo:

 

O jogo toma um aspecto muito significativo no momento em que ele se desvincula de ser meio para atingir a um fim qualquer. Revendo a história do jogo, certificamo-nos de que sua importância foi percebida em todos os tempos, principalmente quando se apresentava como fator essencial na construção da personalidade da criança. (1992 p.13).

 

A definição de jogo segundo o dicionário Houaiss, (2003 p.400);

 

1 – agitação: movimento, oscilação; 2 – aposta: lance, mão, parada, partida; 3 – ardil: astúcia, 4 – balanço: oscilação; 5 – brincadeira: folguedo, folia, reinação; 6 – coleção: conjunto; 7 – combate: certame, luta, peleja, pugna; 8 – diversão: divertimento; 9 – escárnio: grocejo, motejo, troça, zombaria; 10 – funcionamento: movimento; 11 – inconstância: capricho, instabilidade, irregularidade, variabilidade, volubilidade, constância, evariabilidade, regularidade; 12 – joguete: ludibrio; 13 – manejo: manobra, manuseio; 14 – movimento: destreza, habilidade, mobilidade; 15 – partida: certame, competição, espetáculo, peleja, jogo de cartas: carteado.

 

A palavra jogo possui diversas especificidades, dentre eles destacamos a brincadeira, a diversão e a competição, pois são palavras que envolvem nas atividades que podem ser desenvolvidas na educação infantil.

Adriana Friedmann acredita “[...] no jogo como uma atividade dinâmica, que se transforma de um contexto para outro, de um grupo para outro: daí a sua riqueza. Essa qualidade de transformação dos contextos das brincadeiras não pode ser ignorada”. (1996, P.20)

Friedmann, em seu texto, fala que não se tem uma teoria completa sobre o jogo, mas sim várias formas, afirmando ainda que é muito difícil concluir este assunto, uma vez que cada educador deve ter sua maneira de proceder em cada situação, ressalta-se que ao usar o jogo na educação infantil é muito importante destacar sua qualidade, tendo em seus dobramentos para o processo de ensino e aprendizagem.

 

1.4 Considerações Finais

 

Os documentos que norteiam a educação básica são a Lei nº 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e o Plano Nacional de Educação, aprovado pelo Congresso Nacional em 26 de junho de 2014. Outros documentos fundamentais são a Constituição da República Federativa do Brasil e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Com o intuito de fortalecer a qualidade da educação, as novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foram incluídas em todas as escolas do país. Habilidades como solidariedade, empatia, ética, sócio emocional e trabalho em equipe fazem parte das novas regras.

A partir das análises bibliográficas realizadas referente ao tema do artigo, conclui-se no processo de construção do indiviso e essencial uma educação infantil de qualidade que contemplem as habilidades da BNCC dentre elas a inserção de jogos e brincadeiras direcionados. As brincadeiras não devem ser vistas como um passa tempo, mas sim planejadas pelo professor com objetivo e intencionalidade.

 

Referências Bibliográfica

 

Calil, E. (1991). A Construção de Zonas de Desenvolvimento Proximal em um Contexto Pedagógico. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade de São Paulo: Instituto de Psicologia. 

 

VYGOTSKY,Lev . Formação Social da Mente. São Paulo: Martins, 4ª edição, 1991.

 

Vygotsky, L. S.; Luria, A. R. (1996). "A criança e seu comportamento". In: Estudos sobre a história do comportamento: o macaco, o primitivo e a criança. Porto Alegre, Artes Médicas, pp.151-238.

 

VYGOTSKY,Lev . Formação Social da Mente. São Paulo: Martins, 4ª edição, 1991.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

 

http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/apresentacao