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MESAS DO CONHECIMENTO: A INTERDISCIPLINARIDADE COMO PRÁTICA DE INCLUSÃO

Laila Raissa Pereira Morais de Souza
Cleyci Rosangela Gonçalves Ferreira
Emily Nayan de Jesus Lima
Mateus Rivadavia vital
Willian Borges Vieira

 

RESUMO

O objetivo do presente estudo se concentra em apresentar uma metodologia adotada como forma de se trabalhar a interdisciplinaridade como ferramenta de inclusão. Para tal, os principais autores que nortearam esta pesquisa foram Cunha (2010), Santos (2007), Gil (2002), Fourez (1995) além de informações obtidas por documentos oficias da república federativa do Brasil, dos quais foi possível obter informações relevantes acerca da temática. Destaca-se que no decorrer do trabalho, após uma introdução ao tema e a apresentação da problemática baseada na possibilidade de se trabalhar a inclusão por meio de uma oficina, os resultados, características e informações adicionais como recursos e métodos utilizados para o desenvolvimento da prática são apresentados. Além do pressuposto resta dizer que a oficina para todos os efeitos gerou resultados positivos. Fato este de suma importância em tempos atuais, onde a metodologia empregada pelo professor necessita ser refinada, afinal, tem-se de um lado a necessidade de se ensinar e do outro, alunos de diferentes naturezas, potencialidades e limitações.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Oficina pedagógica. Inclusão.

 

1. INTRODUÇÃO

  

Sabe-se da importância de aulas práticas, e a necessidade dela revela-se de maior valia quando posto em pauta a realidade do mundo em que o aluno está inserido, um mundo altamente tecnológico, repleto de informações que fazem das aulas tradicionais algo não muito chamativo para os educandos.
Para tal, o trabalho de fundamenta em bases teóricas e práticas semelhantes, para que os resultados sejam viáveis. Contudo, a presente pesquisa se fez necessária tendo em vista a presença de dois grupos diferentes de alunos numa sala de aula além daqueles ditos como “normais”, isto é, aqueles com dificuldades de aprendizado e em casos excepcionais algum tipo de deficiência que os fazem não acompanhar os demais em aulas comuns. Assim tem-se uma problemática, baseada em: como auxiliar estes alunos por meio de uma metodologia que contemple a todos e seja de fácil compreensão?
Deste modo, a oficina que intitula “mesas do conhecimento: a interdisciplinaridade como prática de Inclusão”, possui objetivos distintos. O primordial é trabalhar a interdisciplinaridade como ferramenta de inclusão, isto é, buscar um meio alternativo de incluir alunos portadores de necessidades especiais e/ou alunos com dificuldade de aprendizado.
Contudo, sabe-se que dependendo do grau de complexidade de atividades como esta para ser desenvolvida por professores com frequência, devido a questão de material e tempo hábil, evidencia que, o professor deve ser um agente de transferência de conhecimento em constante aprendizado, para tal, uma dica é sempre buscar um modelo de bom professor com boas práticas para servir como exemplo pessoal. Deste modo Cunha (2010 p. 43) destaca que:

 

A necessidade de encontrar o modelo do “bom” professor justifica-se na perspectiva de melhoramento do ensino e da educação e, nesse sentido, a investigação efetuada e os seus resultados parecem ser diferentes quanto ao objetivo de estudo, a metodologia percorrida e ao fator temporal da investigação [...].

 

Deste modo, a adoção de novas metodologias é de crucial importância, e em virtude disto, o presente estudo também funciona como um modelo de exemplificação, a disposição para adoção.

 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

Primeiramente, é necessário ter consciência sobre o que é ser professor, além de ser um profissional que caracteriza como um transferidor de conhecimento, assim como descrito por Neto e Carvalho (2018). Explicando ainda que o docente se encontra diante de um desafio, pois, existe na educação no Brasil dificuldades impostas pelos mais diferentes segmentos ligados ao setor educacional de ordem política, social e/ou econômica, e resta ao professor se sobrepor a tal desafio e apresentar ao aluno uma solução eficaz, que não o impeça de aprender.
E mais que apenas isto, o professor deve sempre se atualizar e estudar para se tornar melhor do que já é, por isto a importância de se continuar a estudar, conforme explica Machado (2001, p.24) dizendo que “as pesquisas relacionadas à formação de professores também ressaltam em suas conclusões a necessidade de um processo de formação continuada”.
Deste modo, tem-se que pensar no professor também como um agente transformador que deve buscar sempre realizar o melhor trabalho possível, isto é, tudo que está ao seu alcance, conforme explica Contreras (2002, p.74), “[...] as qualidades da profissionalidade fazem referência, em todos os casos, àquelas que situam o professor ou professora em condições de dar uma direção adequada à sua preocupação em realizar um bom ensino”.
Isto é, o professor é uma figura de suma importância na sala de aula, conforme explica Diniz-Pereira e Fonseca (2001, p.59), expondo que:

 

[...] a partir do momento em que se assume a condição de educador, ou seja, que uma pessoa se coloca diante de outras e estas, reconhecendo-se como alunos, identificam a primeira como professor, se inicia efetivamente o processo de construção da identidade docente. Mesmo que essa pessoa já tenha se imaginado nessa condição anteriormente, é só a partir da experiência concreta que esse processo será desencadeado.

 

Contudo, conforme descrito por Fourez (1995), um conceito deve ser construído, e no ambiente escolar existe amplamente projetos e ações que envolvam o componente humano. No que tange a interdisciplinaridade, esta, pode ser entendida como “algo” comum a duas ou mais disciplinas, logo, tal objeto de estudo pode envolver mais de uma disciplina geralmente de forma prática, caracterizada pela combinação de atividades para um interesse em comum, isto é, fazer com que o aluno consiga a total compreensão do assunto facilmente.
Além disto, está intrínseco a atividade docente, sobretudo ao professor de pedagogia a necessidade de se trabalhar mais de uma disciplina ao mesmo, conforme afirmam tempo Maluf e Cruces (2008, p. 94) dizendo que “o conhecimento de que se servem esses profissionais [...] tende a ser interdisciplinar”.
Além disto, em muitas situações a interdisciplinaridade é usada para elucidar de forma simples assuntos do cotidiano do aluno, portanto, partindo da importância que estudos neste sentido possuem cabe destacar que as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica alinham a importância da interdisciplinaridade com a transversalidade, estabelecendo que:

 

A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em caminhos facilitadores da integração do processo formativo dos estudantes, pois ainda permite a sua participação na escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vista, a interdisciplinaridade e o exercício da transversalidade ou do trabalho pedagógico centrado em eixos temáticos, organizados em redes de conhecimento, contribuem para que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes de seus direitos e deveres e da possibilidade de se tornarem aptos a aprender a criar novos direitos, coletivamente (BRASIL, 2013, p.29).

 

Deste modo, Fourez (1995) ainda descreve a interdisciplinaridade, classificando-a como um projeto que permite uma criação de uma metodologia voltada ao ensino, que permite ao professor fazer-se o de diferentes áreas do conhecimento, o que é de grande valia, tendo em vista que se referindo da complexidade que determinada temática possui para o aluno é necessário criar novos enfoques e soluções.
Portanto esta prática interdisciplinar possui importância não apenas para o professor e/ou alunos envolvidos, desenvolver tais atividades e incentivar que as mesmas sejam realizadas, possuem importância singular para os futuros professores que estão sendo incorporados no ambiente escolar caso tenham contato com algum registro do processo ou a prática em si. Knechtel (2001), menciona que estes saberes interdisciplinares quando realizados de forma articulada e coordenada podem ser ferramentas que criam condições para a existência de uma construção de conhecimento mutua para todos os envolvidos, tanto para quem as executa em sala, quanto para quem observa sua execução.
Contudo, no tocante a prática interdisciplinar, é necessário um comprometimento do professor, isto é, um interesse para sua execução, pois é ele quem realiza o contato com o aluno, o que requer uma constante busca por aperfeiçoamento pessoal conforme mencionado por Santos (2007).
Sendo assim, fica evidente que o professor deve ter consciência das consequências de sua prática, pois assim, na relação professor/prática entende-se que:

 

No momento em que o professor detiver o conhecimento dos instrumentos de ação para efetivar sua prática educativa e não só tiver o conhecimento, mas souber operacionalizar estes instrumentos em favor de seu alunado, passará então a ter liberdade de criação e direcionamento de sua prática embasada em uma teoria viva. (ZANATA, 2004, p. 9).

 

Entretanto, a necessidade de busca da melhor forma de se trabalhar em sala de aula e/ou aperfeiçoamento docente torna-se algo ainda mais evidente quando tem-se na escola, alunos portadores de algum tipo de necessidade especial, esse público de alunos requer um trabalho diferenciado, pois, a realidade destes, pelas dificuldades de inclusão impostas pela sociedade é maior, cabe ao professor encontrar/planejar/divulgar o melhor caminho para fazer com que este aluno seja de farto incluído, fazer-se o uso de duas ou mais disciplinas pode ser usada como pratica pedagógica de inclusão. Arroyo (1998) aponta ainda que as deficiências podem se manifestar das mais variadas formas, e cada uma delas necessita de um cuidado diferente, isto é, uma maneira singular de metodologia de ensino, uma vez que o aluno está presente numa sala de ensino regular cabe ao professor encontrar uma maneira de incluir este ou estes alunos no processo de aprendizado dos demais
Sendo assim, aponta-se a importância da inclusão:

 

A filosofia da inclusão, por sua vez, precisa ser interpretada, divulgada e planejada corretamente, afim de produzir resultados adequados. Neste sentido, campanha de esclarecimento sobre a educação inclusiva, levada a efeito pelos setores público e privados junto à sociedade, muito contribuirá para torná-la realidade. (SCHWARTZMAN, 1999, p.262).



Longe de ser apenas eticamente correto fazer a inclusão do aluno com deficiência, trata-se de algo assegurado ao portador de algum tipo de necessidade especial. A lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB) em seu art.58 define que a educação especial pode ser entendida como uma modalidade regular de ensino, isto é, ela deve existir, e alunos com deficiências (de varias naturezas) terão direito a educação (BRASIL, 1996).
E além do pressuposto, é de suma importância que o professor esteja apto para receber e ensinar este aluno. Ressalta-se ainda que as Diretrizes Nacionais para a educação especial na educação básica, expostas na LDB Legislação Educação Especial ressalta que:

 

São considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao desenvolvimento de competências e valores para:
I – perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a educação inclusiva;
II – flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades especiais de aprendizagem;
III – avaliar continuamente a eficácia do processo educativo para o atendimento de necessidades educacionais especiais;
IV – atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educação especial (BRASIL, 2001, p.5).

 

Com base nisto, Arroyo (1998) expõe que o professor deve estar preparado para lidar com uma prática pedagógica inclusiva, que leve em conta a diversidade de seus alunos, afinal, a presença de alunos que necessitam de novas metodologias se faz em números crescentes.
Ou seja, a prática interdisciplinar é de vital importância não apenas para a relação ensino aprendizado como também pode ser entendida como ferramenta de inclusão. Segundo Libâneo (1994), o professor deve buscar novas práticas pedagógicas que visam um ensino eficaz e inovador, fazendo o uso de uma atividade conjunta com os alunos sob a direção e orientação do professor, por meio dela será possível aproveitar os conhecimentos empíricos e habilidades do corpo de alunos, sendo as oficinas pedagógicas instrumentos essências.
E sabendo de tal importância, Vieira e Volquind (2002), criam um debate acerca das oficinas, os autores descrevem que além de ferramenta de inclusão, elas podem ser entendidas como uma forma de construção do conhecimento do meio da prática. Este fato somado a interdisciplinaridade criam um espaço de aprendizagem rico em informações, por meio das oficinas pedagógicas é possível vivenciar situações que apenas a teoria não seria capaz de contemplar, ou seja, este exercício conjunto é baseado num tripé “sentir-pensar-agir”, uma forma de construção, apropriação, produção e reprodução de conhecimentos teóricos por meios práticos, sendo ele de forma ativa e reflexiva.
Além do pressuposto o diálogo/debate/ conversa entre os alunos deve ser aproveitada pelo professor, pois, através dela também pode-se chegar a resultados promissores, conforme Dubar (2005, p. 24) explica que:

 

A socialização é, enfim, um processo de identificação, de construção de identidade, ou seja, de pertencimento e de relação. Socializar-se é assumir seu pertencimento a grupos (de pertencimento ou de referência), ou seja, assumir pessoalmente suas atitudes a ponto de elas guiarem sua conduta, sem que a própria pessoa se dê conta disso.

 

E isto, somado a prática, será elemento chave para se alcançar uma boa didática, conforme explica Macedo, Romanowski e Martins (2017, p. 304), “considerar a prática como elemento fundante do pensar pedagógico é, sem dúvida uma postura política de valorização dos saberes da experiência”.
Contudo, na temática de oficinas, o professor e/ou coordenador da oficina precisa ter em mente que este exercício está centrado no aluno, e cabe ao professor conhecer os limites e condições de seus alunos. Para que a inclusão seja possível com a pratica pedagógica que envolva as oficinas é necessário antes de tudo conhecer o público alvo, realizando isto, Vieira e Volquind (2002) garantem que o professor estará no caminho certo.

 

3. MATERIAIS E MÉTODOS

 

O presente estudo se desenvolveu com base na experiência vivida no contexto escolar do Colégio Alternativo situado na Av: Presidente Dutra Setor Sul, 129, Centro/ Colíder - Mato Grosso, local onde a oficina pedagógica intituladas “mesas do conhecimento”, foi desenvolvida no quinto ano do ensino fundamental.
Segundo Gil (2002), para se alcançar um determinado resultado de um estudo torna-se preciso adotar alguns critérios que podem ser considerados caminhos para se alcançar uma finalidade. E este caminho é por definição uma metodologia de pesquisa, e para o pesquisador, saber escolher quais procedimentos metodológicos utilizar é tão importante quanto o próprio objeto de pesquisa.
Sendo assim, sabendo que a pesquisa descritiva possui como objetivo descrever características de local, objeto e/ou pessoas suas interações e variáveis conforme os apontamentos de Gil (2002), esta foi empregado em conformidade com as necessidades do estudo, tornou-se necessário uma abordagem de análise do corpo de alunos com base na observação, para assim, fazer a descrição e registro de pontos positivos e negativos, dificuldades e facilidades por eles encontradas no momento do desenvolvimento das oficinas, sendo assim o uso da pesquisa descritiva tornou-se algo indispensável.
Fazer-se o uso da pesquisa documental também teve sua importância singular, analisar pareceres, leis, ofícios ou arquivos de partições públicas e privadas acaba sendo uma fonte de informação muito rica conforme exposto por Santos (2000). E para uma pesquisa qualitativa como a presente, informações obtidas nestes documentos possibilitaram novos olhares sobre a temática abordada.
Esta pesquisa pode ser definida como sendo qualitativa, dizendo respeito a algo que não foi necessário quantificar, isto é, o foco não esteve baseado em obtenção de números. Para Richardson (2012, p. 70), “[...]o método quantitativo representa, em princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando, consequentemente, uma margem de segurança quanto às inferências”.
Em paralelo as metodologias supramencionadas empregadas, a pesquisa bibliográfica para a estruturação de todo o presente trabalho corresponde a algo indispensável. Para Lakatos e Marconi (2011) tal ação é importante para existência de uma compreensão acerca da temática tendo como base outras fontes confiáveis quanto para dar maior legitimidade aos resultados obtidos na prática. A pesquisa deste modo, pode ser interpretada como meio de estudo critico aprofundado sobre determinada temática, além de ser descrita como indispensável a todo e qualquer trabalho de cunho cientifico.
Quanto aos materiais didáticos utilizados, usou-se os disponíveis na escola, sendo eles:
Isopor;
Cola;
Cartolina;
Tinta guache;
Gesso;
Palito de dente;
Bicarbonato de sódio;

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

4.1 A turma
Tendo ciência da importância que as oficinas pedagógicas possuem, e visando meios para realização de inclusão optou-se por trabalhar com uma turma do quinto ano do ensino fundamental do Colégio Alternativo no município de Colíder. A oficina “mesas do conhecimento” realizou-se nesta turma em especifico pelo fato de ser uma atividade que serviu de experiencia para uma nova abordagem pedagogia visando a melhoria do ensino e inclusão, tendo em vista que a escola receber alunos portadores de necessidades especiais.
Na turma em questão, ocasião de execução da oficina, havia uma aluna do sexo feminino, portadora de Síndrome de Down. Nesta situação em particular, servindo ainda de parâmetro para exemplificação em outras situações, o professor deve ter na mente o que Tecklin (2002) menciona acerca da pessoa com Síndrome de Down, naturalmente é esperado que estas pessoas tenham dificuldades em aprendizado, incluindo motricidade. Sabendo disto, um exercício baseado em oficina que exercite tais particularidades é de fundamental importância.
Obviamente, mesmo com a prática simples, não se pode esperar um retorno grandioso positivamente do portador da Síndrome de Down na participação do exercício, pois, segundo Ramalho, Pedromônico e Perissino (2000), a linguagem é a área que geralmente mais sofre com a síndrome. Deste modo, a aluna nesta situação teve maior participação na prática em seu momento de construção.
É importante destacar que, o foco se deu também na inclusão desta aluna, fazendo com que os demais alunos participassem das atividades auxiliando-a, contudo, o professor não estava omisso, a aluna contou com o suporte do professor e de um Técnico em Desenvolvimento Infantil (TDI).

 

4.2 A oficina
A oficina “mesas do conhecimento”, contempla disciplinas diferentes para sua execução, sendo elas língua portuguesa e principalmente educação artística e geografia. Para tal, a oficina foi trabalhada em grupos, isto é, os alunos foram divididos em três grupos, de forma a respeitar uma regra, onde um aluno com maior rendimento (este grau de rendimento deve ser conhecido penas pelo professor) foi inserido no mesmo grupo que outro com menor rendimento, assim, o foco foi incentivar o sistema de parceria e auxilio entre os integrantes do mesmo.
Esta abordagem com intuito de fazer com que um aluno ajude o outro, é uma estratégia que vai além de um simples auxilio, é uma experiencia cultural de troca de saberes, pois, sabe-se que os alunos são oriundos de lares diferentes, e a carga de conhecimento que os acompanha deve ser valorizada, pois, ao trabalharem em conjunto, estes alunos vão o compartilhar.
Concordando com este pressuposto supramencionado, Zilberman (2003 p.16) menciona que:

 

[...] a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento [...], assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura [...], não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Por isso, o educador deve adotar uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da criança.

 

Além do auxilio entre alunos com alto e baixo rendimento foi possível promover a inclusão da aluna portadora de Síndrome de Down, sozinha era uma aluna que certamente teria dificuldades no que tange a parte prática, porém, os demais membros do grupo onde ela foi inserida a acolheram, proporcionando auxilio.
Com isso, o que torna a parte prática da oficina atraente, além de ser algo deferente do tradicional método de ensino, é o processo construtivo da atividade, os grupos montam peças separadas de um grande quebra-cabeças, isto é, um cenário hipotético foi imaginado, onde havia elementos naturais, deste modo um dos grupos confeccionou a vegetação, outro o solo e por fim o restante o vulcão em si, formando três componentes que no final da prática os grupos realizaram a montagem final acompanhado de sua explicação e funcionamento (com bicarbonato de sódio). Os componentes por fim, representam uma estrutura de paisagem funcional que pode ser reutilizada outras vezes (por ser durável), e esteve a mostra para outros alunos, e seu funcionamento pode ser explicado, pois, no fim, todos os alunos conseguiram assimilar os conceitos básicos.

 

4.3 Desenvolvimento da oficina
Quanto sua duração envolvendo os alunos, isto é, sua parte prática, a oficina ocupou oito horas, dividida ao longo de dois dias (quatro horas/aula por dia), e esta, para sua execução foi desenvolvida em um processo composto por quatro etapas, a primeira destinada ao professor, a segunda baseou-se em teoria, a terceira marca a parte prática e por fim a quarta etapa a conclusão, conforme o esquema na figura 01.


FIGURA 01 – ESQUEMA DE EXECUÇÃO DA OFICINA


FONTE: Organizado pelos autores (2020).


Cada etapa presente no esquema acima, em sua totalidade corresponde a oficina como um todo, porém, cada etapa possui importância singular. Na primeira etapa, foi onde ocorreu o processo de elaboração da mesma bem como seu planejamento, nela, os alunos ainda não foram inclusos no processo, esta, é exclusiva ao professor. Foi na primeira etapa que o professor traçou o perfil do corpo de alunos que teriam contato com a oficina, se atentando ao processo de inclusão, sem fugir do eixo temático.
Deste modo, destacam-se a importância do planejamento:

 

[...] através da análise do ambiente de uma organização, cria a consciência das suas oportunidades e ameaças, dos seus pontos fortes e fracos para o cumprimento da sua missão e, através desta consciência, estabelece o propósito de direção que a organização deverá seguir para aproveitar as oportunidades e reduzir riscos (FISHMANN E ALMEIDA, 1991, p. 25).

 

Assim, ainda na primeira etapa os objetivos por disciplinas formam traçados, no que tange a disciplina de língua portuguesa, o professor atentou-se em criar mecanismos para fazer com que o aluno exercite a prática da leitura e escrita, quanto a educação artística, o objetivo era fazer com que o aluno tivesse contato com o estudo das cores e formas além de praticar a motricidade, no que diz respeito a geografia, o objetivo baseou-se em apresentar o aluno a temática de paisagem, vegetação e funcionamento da terra de forma lúdica.
Na segunda etapa, a leitura teve foco, os alunos tiveram contato com o texto da disciplina em questão (geografia), e esta etapa é a que mais se assemelhou as aulas cotidianas, baseada em leituras pausadas seguidas de explicação pelo professor.
Optou-se por trabalhar com a leitura nesta etapa, pois a leitura é essencial, tanto que se encontra amparado pelos parâmetros curriculares nacionais, onde o documento expõe que:

 

[...] assumir a tarefa de formar leitores impõe à escola a responsabilidade de organizar-se em torno de um projeto educativo comprometido com a intermediação da passagem do leitor de textos facilitados (infantis ou infanto-juvenis) para o leitor de textos de complexidade real, tal como circulam socialmente na literatura e nos jornais; do leitor de adaptações ou de fragmentos para o leitor de textos originais e integrais (BRASIL, 1998, p. 70).

 

Infelizmente, a aluna portadora de Síndrome de Down, não conseguia participar da leitura pela questão da linguagem supracitada, no entanto, para inclui-la, havia um diferencial, onde todos os alunos puderam participar, basicamente serviu como um elo, entre teoria e prática, utilizou-se de uma dinâmica baseada em perguntas e respostas, onde, para validar as respostas corretas sobre a temática o aluno precisava apontar no mapa corretamente a que se referia conforme exposto na figura 02.

FIGURA 02 – ALUNOS PARTICIPANDO DA DINAMICA



FONTE: Arquivo próprio (2020).

Na terceira etapa, a prática possui função essencial, com os grupos devidamente formados, foram disponibilizados aos mesmos funções diferentes, apesar dos grupos receberem funções diferentes, ressalta-se que os objetivos que esperava-se encontrar conforme expostos anteriormente eram os mesmos para todos. Esta parte prática pode ser observada na figura 03.

 

FIGURA 03 – ETAPA PRÁTICA DA OFICINA



FONTE: Arquivo próprio (2020).

A imagem acima apresenta os três grupos em suas respectivas atividades, e a imagem revela ainda a conformação de uma hipótese, naturalmente a identidades dos alunos encontra-se preservada, deste modo, não é possível ver qual aluno possui Síndrome de Down, todos os alunos participaram nas práticas, o que evidencia que a inclusão foi possível.
Cada grupo além da pratica de “por a mão na massa”, precisou realizar algumas notas sobre o assunto que estava sendo trabalhado. Oferecer uma determinada função aos grupos somadas a atividade de escrita, além de proporcionar um sistema de parceria supramencionado, ainda fez com que houvesse divisão de trabalho baseada no exercício de equidade (virtude que surgiu espontaneamente no momento do exercício caracterizando um elemento surpresa para o professor).
Quanto a esta situação, apesar não ter sido planejada, pode ser explicada, deste modo Freire (1992) menciona que uma boa metodologia contribui em diferentes aspectos na formação do aluno, podendo despertar em quem está envolvido com a tarefa o amor e interesse, os quais são indispensáveis para uma educação de qualidade, sendo referência no cenário social
Isto é, mesmo que o professor não tivesse previsto que tal valor seria incentivado, o mesmo se desenvolveu nos grupos espontaneamente. Sendo assim, na ocasião alunos que apresentavam maiores rendimentos, assumiram postura de liderança, elencando tarefas condizentes com a capacidade de cada elemento do grupo, isto evidencia que as crianças tem consciência de que as pessoas tem limites, e trabalhando na prática provou que os alunos sabem lidar com diferenças e trabalhar em conjunto.
Esta etapa marca o fim da oficina, porém não menos importante, com as partes montadas pelos grupos, é nesta etapa que cada um deles, fazendo-se o uso das anotações feitas com base na leitura, explicação e com a própria prática, conversaram entre si sobre a atividade que lhe foi atribuída e, deste modo, todos os grupos puderam conhecer novamente com um objeto palpável o que havia sido estudado anteriormente.
Por fim, os grupos puderam realizar a montagem final do grande quebra-cabeças e por fim, faze-la funcionar, ou seja, com bicarbonato de sódio e água fazer o vulcão funcionar. A figura 04 abaixo representa o resultado final da oficina.


FIGURA 04 – PRÁTICA CONCLUÍDA



FONTE: Arquivo próprio (2020).

 

 

5. CONCLUSÃO

 

O exercício de estudo teórico somado a prática proporcionou aos alunos algo que apenas a teoria não conseguiria realizar, ou seja, um entendimento facilitado de uma temática. A oficina realizada, registrada neste presente estudo, pode ser entendida como a prova prática de que apenas aulas baseadas em métodos tradicionais de ensino não são suficientes para chamar a atenção do aluno do mundo atual, tão pouco para que alunos portadores de necessidades especiais acompanhem os demais, por isto, a importância de se trabalhar de forma diferenciada.
Pode parecer para para muitos, um desafio monumental unir teoria com uma prática através de uma forma eficaz, mas no fim, os resultados alcançados foram além dos esperados, pois, outros valores ainda foram revelados, valores pessoais de natureza humana, imprevisíveis, mas, demasiadamente importantes.

 

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