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O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E SUAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA LEITURA E NA ESCRITA

Rosmarí Favaretto Walker
Belmira Batista Chaves


RESUMO

A preocupação básica deste estudo é de refletir e conhecer um pouco sobre as possíveis dificuldades de aprendizagem que ocorrem com os alunos no primeiro ciclo do ensino fundamental. Este artigo tem como objetivo analisar o processo de desenvolvimento da criança e evidenciar suas dificuldades de aprendizagem. Para compreensão da realidade estuada, foram realizadas pesquisas bibliográficas considerando as contribuições de autores como Piaget, (1973), Smith (2001), Ferreiro e Teberosky (1986), Ellis (1995), Oliveira (!992), dentre outros, procurando enfatizar o trabalho do educador. Concluímos que muitas são as possíveis causas das Dificuldades de Aprendizagem e as mais cariadas possibilidades de combinações entre as mesmas. Muitas considerações precisam ser feitas por quem decide tratar as dificuldades de aprendizagem, dentre elas verificar se existem os recursos disponíveis para a avaliação e intervenção e qual o tratamento indicado para aquele aluno. Não deixando de mencionar que existem diferentes estágios no tratamento de qualquer dificuldade de aprendizagem. Assim, ressaltamos a importância do comprometimento profissional, da busca pela continuidade de estudos para que possamos obter melhorias no processo educacional, pois acreditamos que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador. Aprendizagem não tem fim, pois somos seres inacabados. Nunca é tarde para aprendermos.


Palavras-chave: Dificuldades. Aprendizagens.


INTRODUÇÃO


Durante o processo de desenvolvimento de uma criança, a aprendizagem é um processo natural. Ao ingressar a escola, muitas crianças têm grandes dificuldades de aprendizagem, principalmente tratando-se dos primeiros anos do ensino fundamental, pois a cobrança é maior com relação ao aprendizado da leitura e à escrita. Neste contexto o processo de aprendizagem e suas dificuldades precisam ser analisados conforme a realidade de cada aluno, munindo-se de várias estratégias, compreendendo a condição do aluno como sujeito que tem suas dificuldades em relação ao aprendizado da escrita e da leitura. Sabemos que a construção do conhecimento do ser humano é natural e espontânea.

No entanto, o objetivo desse estudo foi entender porque, ao longo do processo de escolarização a criança pode enfrentar vários obstáculos. Um grande contingente de alunos apresenta dificuldades de aprendizagem nas primeiras fases do primeiro ciclo. Essas crianças, na maioria das vezes, são tratadas pelos professores na escola de forma preconceituosa e são discriminadas, sem que se investiguem suas reais habilidades e potencialidades. É sabido que precisamos levar em consideração a realidade de cada criança, de como é o seu processo de aprendizagem, e consequentemente suas dificuldades, pois “o conhecimento humano é essencialmente coletivo, e a vida social constitui um dos fatores essenciais da formação e do crescimento dos conhecimentos” (Piaget,1973 p.17).

Tal fato se explica pela importância que tem estas duas atividades na formação de cada indivíduo já que, além de ser um instrumento de acesso às demais áreas de conhecimento, constituem-se num meio cultural pessoal.

Independentemente de qualquer processo de aprendizagem, ser diferente para cada criança com DA, já que é um ser único e individual, a aprendizagem envolve sempre uma interação entre o individuo e a atividade, ou seja, quando alguém aprende qualquer coisa, como ler ou escrever, está sempre em jogo junto um procedimento de construção e informação entre o aluno e a tarefa desenvolvida, neste caso a leitura ou a escrita.

O educador deve ter consciência dos problemas das crianças com DA, respeitar os dados da investigação, na medida em que tais dados têm consequências para a sua detecção precoce, certo da importância de criar vínculos através das atividades habituais, construindo e reconstruindo o laço afetivo e consequentemente atingindo o cognitivo, obtendo assim, construções positivas e significativas na aprendizagem.

 

Conceituando Dificuldades de Aprendizagem

Após consultarmos diversos autores, percebemos que existem diferentes denominações/termos, dentre muitos, tais como, Dificuldade de Aprendizagem, Distúrbios de Aprendizagem, Deficiência na Aprendizagem e Problemas na Aprendizagem. Para abranger todas as terminologias aqui usaremos o termo “Dificuldade de Aprendizagem” (DA).

Segundo Smith (2001), Dificuldades de Aprendizagem (DA) são “problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar informações”.

 

(...) dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa: muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas psicológicos destas crianças frequentemente são complicados, até certo ponto por seus ambientes domésticos e escolares. (SMITH,2001, P.15).

 

É visto e notório que o aluno, ao entender que se depara com certas dificuldades em sua aprendizagem, geralmente começa a apresentar desapego, distração, torna-se agressivo e irresponsável, dentre outros. A dificuldade origina muito sofrimento e nenhum indivíduo tem baixa produtividade na construção do seu conhecimento por comodismo.

 

Dificuldades de Aprendizagem na Escrita

FERREIRO (1987), afirma que a ideia da escrita é, para a criança, um objeto do conhecimento social elaborado, pois a alfabetização acontece em ambiente social e para VIGOTSKY (1993), a escrita tem origem no gesto, signo visual inicial que contém a futura escrita da criança. FERREIRO e TEBEROSKY (1986) complementaram que a escrita tem relação com a imagem, o desenho e a fala.

De acordo com FERREIRO (1987), o processo da escrita desenvolve-se em quatro níveis que são: Nível pré-silábico, Nível silábico, Nível silábico-alfabético, Nível alfabético, e é, neste nível que o sujeito já domina a leitura e a escrita. Onde o meio social interfere muito na escrita neste período, pois o contato com a linguagem é que vai retornar numa escrita mais elaborada.

Entretanto ao escrever, a criança estabelece uma relação entre o som, o significado e a palavra impressa, que é o que se escreve. Para que ela se expresse graficamente, a relação entre palavra impressa e som, precisa estar automatizada. Ou seja, a criança deve saber ler para poder escrever. A escrita precisa ser ensinada.

Entender o mundo das letras, sobretudo nos centros urbanos, é, para a criança, a possibilidade de começar a utilizar alguns códigos do mundo adulto, bem como a de dar significados consistentes às inúmeras grafias com as quais ela se defronta todos os dias. Sem dúvida é um processo muito rico para a criança e muito envolvente e desafiador para o professor. (SILVA,1988).

Este caso mostra que há crianças que se encontram defasadas em relação aos demais colegas de classe, ou de idade, em determinadas tarefas, como, por exemplo, na escrita. De maneira geral, essas crianças são classificadas, pelos pais e professores, como não inteligentes, ou lentas. Entretanto, há inúmeros fatores que podem estar causando a dificuldade em escrever corretamente.

O processo da escrita ocorre geralmente em crianças com aproximadamente seis anos de idade. Nessa idade, ela já terá desenvolvido as discriminações visuais e auditivas necessárias para a leitura e a integração visual motora necessária para formar letra. Nessa idade a criança já terá adquirido as funções cognitivas e de linguagem necessárias para selecionar e organizar palavras.

Para VIGOTSKY (1993), o desenvolvimento da escrita não repete o desenvolvimento da fala, pois a motivação para a escrita é muito pequena pelo fato de a criança não sentir necessidade de escrever. Na fala, por exemplo, a criança nem sempre tem consciência dos sons que emite e, ao mesmo tempo, está inconsciente das operações mentais que executa.

Na escrita, por ser mais complexa, a criança tem que tomar conhecimento da estrutura sonora de cada palavra para reproduzi-la, e, quando formula frases é necessário também conhecer a sequência das palavras para que haja sentido na escrita. A escrita exige, portanto, um trabalho consciente, construções mentais e motivação.

No desenvolvimento da escrita, alguns fatores são fundamentais para que esta se aperfeiçoe, como, por exemplo, a prática do exercício. Essa prática é necessária para melhorar os movimentos no manejo do lápis, por exemplo. Consequentemente, a criança que escreve mito produz um grafismo melhor do que aquela que não desenvolve tanto essa atividade.

 

Dificuldades de Aprendizagem na Leitura

Quando se trata de leitura, encontra-se desde o conceito de atribuição de sentido do que se lê até a aprendizagem da mesma, ou seja, a alfabetização. Mas, no consenso geral para diferentes autores, ler é, é sem nenhuma dúvida, compreender o significado do texto.

Segundo ELLIS (1995), “a leitura não é uma habilidade natural, mas é uma capacidade artificial culturalmente transmitida de uma geração para a próxima”. O processo de compreensão da leitura abrange capacidades como a percepção, a atenção, a memória, o raciocínio, a imaginação, a motivação, o interesse e muitos outros aspectos.

A aprendizagem da leitura, segundo OLIVEIRA (1992), envolve várias habilidades como as linguísticas, perceptivas, motoras, cognitivas e, por essa razão, não se pode atribuir a nenhuma delas, isoladamente, a responsabilidade pelas desadaptações escolares. É preciso, portanto, identificar em qual área ela se encontra mais comprometida.

A leitura não é apenas um processo pelo qual as pessoas reproduzem o som de sinais ou símbolos. A leitura dá se quando existe compreensão do que se lê, por meio da interpretação dos sinais escritos.

Este processo inicial da leitura, que envolve a discriminação visual dos símbolos impressos e a associação entre palavra impressa e som é chamado de decodificação e é essencial para que a criança aprenda a ler. Mas, para ler, não basta apenas realizar a decodificação dos símbolos impressos, é necessário que exista também, a compreensão e a análise da escrita do material lido (...). Sem a compreensão a leitura deixa de ter interesse e de ser uma atividade motivadora, pois nada tem a dizer ao “leitor”. Na verdade, só se pode considerar realmente que uma criança lê quando existe a compreensão. Quando a criança decodifica e não compreende, não se pode afirmar que ela está lendo. (MORAIS, 1986, CITADO POR oliveira, (1992, p. 153).

No entanto, a leitura faz parte de um complexo processo linguístico de desenvolvimento da linguagem. Pois os alunos não contam exclusivamente com o contexto escolar para a construção de conhecimento sobre conteúdos considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, são também fontes de influência que incidem sobre o processo de construção de significado desses conteúdos.

Essas influências sociais normalmente somam-se ao processo de aprendizagem escolar. Porém, muitas vezes, essa mesma influência pode apresentar obstáculos à aprendizagem escolar.

 

Conclusão

 

Diante do exposto, abordamos as dificuldades de aprendizagem durante o primeiro ciclo do ensino fundamental.

Com a intenção de estar contribuindo com a discussão sobre dificuldades de aprendizagem, apresentando algumas das possibilidades de contribuição que foram observadas na prática cotidiana. Desta forma, este trabalho bibliográfico se constitui no início de um estudo que não possui respostas simples.

Entretanto, muitas são as possíveis causa das Dificuldades de Aprendizagem e as mais variadas possibilidades de combinações entre as mesmas.

Muitas considerações precisam ser feitas por quem decide tratar as dificuldades de aprendizagem, dentre elas, verificar se existem os recursos disponíveis para avaliação e intervenção e qual o tratamento indicado para aquele aluno. Não podemos deixar d mencionar que existem diferentes estágios no tratamento de qualquer dificuldade de aprendizagem.

Assim, ressaltamos a importância do comprometimento profissional, da busca pela continuidade de estudos para que possamos obter melhorias no processo educacional, pois acreditamos que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador.

A aprendizagem não tem fim, pois somos seres inacabados. Nunca é tarde para aprendermos.

 

Referências

 

ELLIS, A.W. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. 2. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

 

FERREIRO, E. Alfabetização em processo. 3 ed. Tradução de Sara

Cunha Lima, Marisa do Nascimento Paro. São Paulo: Cortez, 1987.

 

FERREIRO, E; TEBEROSKY, a. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

 

OLIVEIRA, G.C. Psicomotricidade: um estuo em escolares com dificuldades em leitura e escrita.1992. Tese (doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, São Paulo.

 

PIAGET, J. (1973) Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Forense.

 

SILVA, M. A. S. S. Construindo a leitura e a escrita: reflexões sobre uma prática alternativa em alfabetização. São Paulo: Editora Ática, 1998.

 

SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldade de Aprendizagem de A a Z:Um guia completo para pais e educadores. Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed, 2001.

 

VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem Tradução Jéferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes.1993.