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O BINÔMIO: CUIDAR E EDUCAR, E A FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Jovina Benedita de Campos Moraes[1]

 

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo apresentar reflexões sobre as relações entre o cuidar e o educar na educação infantil e suas implicações na formação dos professores na Educação Infantil. Assim buscaremos descobrir a relação dos educadores de escolas com a proposta pedagógica na educação infantil. A realidade tem mostrado as dificuldades instaladas ao longo de décadas de uma prática nas instituições de educação infantil, em que cuidar remete à ideia de assistencialismo e, educar à de ensino/aprendizagem.

 

1 INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho iniciará trazendo um breve histórico da Educação infantil e o que contribuiu para garantir os direitos da criança, além disso, este artigo discutirá a importância do Cuidar, Educar e a formação do professor na Educação Infantil e como tais fatores influenciam no desenvolvimento da criança, sabemos de sua importância uma vez que é muito discutido em meios acadêmicos, porém no cotidiano de creches e pré-escolas permanece sem efetivar-se de modo integrado, não  recebendo a devida atenção e reconhecimento de sua importância por grande parte de instituições de educação infantil.

Conforme consta na Lei de Diretrizes e Bases 9.394, art. 29° a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Essa lei evidencia o comprometimento com os educadores, pais, comunidade e poder público.

O mundo em que vivemos passa por diversas modificações, e uma das maiores preocupações é o que diz a respeito da educação, principalmente na educação infantil que a criança está em processo de construção de conhecimento. E na correria do dia a dia os pais colocam seus filhos nas escolas, alguns se preocupam com os filhos se estão e boas mãos, e se estão cumprindo com o papel pedagógico com base nas leis do direito da criança. E a cada dia que passa as exigências no mercado de trabalho aumentam, e muitos não têm condições de pagar escolas particulares e optam pela escola confiando na competência da gestão escolar.

O intuito maior é compreender as concepções dos educadores referentes ao cuidar e educar na educação infantil. A fim de contribuir para os educadores, para que o trabalho nas creches não continue no cuidado e assistencialismo. Este trabalho, efetiva a partir da pesquisa bibliográfica onde é possível ver os avanços e conquistas da sociedade em relação ao ato de cuidar e educar.

 

2 A EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Sobre as políticas atuais da Educação Infantil, inicialmente far-se-á uma síntese histórica sobre creche, e, posteriormente, escreveremos acerca das políticas atuais da educação infantil.

As modificações sociais ocorridas em decorrência das novas mudanças na estrutura de trabalho afetaram profundamente a organização familiar e provocaram o afastamento da figura materna, que passou a deixar a casa e o filho para trabalhar fora. Desde a primeira creche que se tem notícia, em 1854, em Paris, criada como local para abrigar crianças recolhidas na rua, filhos de operárias, o movimento de criação das creches não parou de crescer, indo para os Estados Unidos, Rússia e Inglaterra, incrementando grandemente, nestes dois últimos países, pela Revolução Social Russa e pela 2ª Guerra Mundial, respectivamente.

Atualmente, não é apenas a mulher operária que procura o trabalho como recurso para aumentar a renda familiar e se afasta do convívio dos filhos. Hoje, também a mulher de classe média, médica, professora, advogada, procura o trabalho como fonte de renda ou motivo de afirmação pessoal.

Neste contexto, há que se pensar em construir espaços e montá-los de tal forma que se constituam em ambientes especiais de criar crianças, oferecendo a estas tudo que necessitam para se desenvolver integral e harmoniosamente, física e psicologicamente e, atendendo as suas necessidades físicas, biológicas, sociais, intelectuais e afetivas, enfim, de forma integral.

A creche existe para exercer pela mãe, durante seu horário de trabalho fora, mas não assumindo seu lugar, as atividades tipicamente maternais junto a seu filho, prestando-lhe assistência integral, cuidando da sua segurança física e emocional, o que inclui todos os cuidados relativos à higiene, segurança, afeto e educação.

Creche é, portanto, dentro de conceito atual, um ambiente especialmente criado para atender condições ótimas, que propiciem e estimulem o desenvolvimento integral e harmonioso da criança sadia nos seus primeiros anos de vida.

No que tange às políticas atuais da educação infantil, as indefinições quanto ao papel e atribuições da Educação Infantil sempre caracterizaram a evolução histórico-social desta etapa da escolarização. A começar pela nomenclatura: creche, maternal, jardim de infância, escolinha, berçário, pré-primário, espaço recreativo, pré-escola, etc., que desde o século XVIII buscaram dar vida aquilo que se caracteriza como um espaço especialmente destinado às crianças menores de seis anos.

Esta indefinição evidencia-se com a concepção de criança e educação que se tinha em diferentes épocas, de modo que a Educação Infantil foi assumindo inúmeras e diversificadas atribuições ao longo dos anos, isto é, guarda, assistencialismo, educação compensatória, formação da criança cidadã, etc.

Nos estudos históricos que dão conta da educação no Brasil, vê-se que apesar da educação infantil ter surgido no séc. XVIII, apenas nos últimos cinquenta anos é que ela passou a ser encarada como um dever do Estado.

Verifica-se que apesar de todas as indefinições que permearam a Educação Infantil, esta, constitui hoje, um segmento importante do processo educativo. Sua trajetória no Brasil tem mais de cem anos, mas somente nas últimas duas décadas seu crescimento e delimitações alcançaram significação maior.

Ao estender a obrigatoriedade do poder público de oferecer educação às crianças de zero a seis anos, a Constituição Federal de 1988 e a nova Lei de Diretrizes e Bases de 1996, consagraram uma conquista social de grande relevância, passando a incluir a educação infantil como parte integrante do processo de escolarização, a Educação Básica.

Têm-se, atualmente, as diretrizes definidas para a orientação das ações da Educação Infantil, as quais baseiam-se nos seguintes princípios:

1- A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica destinada a crianças de 0 a 6 anos de idade, não sendo obrigatória, mas um direito a que o Estado tem obrigação de atender.

2- As instituições que oferecem Educação Infantil, integrante dos Sistemas de Ensino, são as creches e as pré-escolas, dividindo-se entre elas pelo critério exclusivo de faixa-etária (zero a três anos na creche e quatro a seis na pré-escola).

3- A educação é oferecida para, em complementação à ação da família, proporcionar condições adequadas de desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social da criança e promover a ampliação de suas experiências e conhecimentos, estimulando seu interesse pelo processo de transformação da natureza e pela convivência da sociedade.

4- As ações de educação, na creche e na pré-escola, devem ser complementadas pelas ações de saúde e assistência, realizada de forma articulada com os setores competentes.

5- O currículo da Educação Infantil deve levar em conta, na sua concepção e administração, o grau de desenvolvimento da criança, a diversidade social e cultural das populações infantis e os conhecimentos que se pretendem universalizar.

6- Os profissionais da educação infantil devem ser formados em cursos de nível médio ou superior, que contemplem conteúdos específicos relativos a essa etapa da educação.

7- As crianças com necessidades especiais devem, sempre que possível, ser atendidas na rede regular de creches e pré-escolas.

Apesar do que se tem, a nível legal, sobre a Educação Infantil ser muito pouco, pode-se observar um avanço muito grande e que só foi possível em razão do estágio alcançado pela consciência social sobre o assunto. Não há mais controvérsia sobre a importância da Educação Infantil para a criança nem sobre a necessidade social desse segmento para o processo educativo, sendo possível perceber que muitas coisas mudaram. No entanto, entre o patamar jurídico e a prática no campo educacional existe uma grande distância, que deve ser vencida no menor tempo possível.

As concepções de uma educação infantil pautada no assistencialismo apenas ou caracterizada por um trabalho educacional irrelevante e desvalorizado ainda permeiam grande parte de nossas escolas e práticas de professores. Porém, a educação de 0 (zero) a 6 (seis) anos deve ser reconhecida e internalizada por nossos profissionais e escolas como um instrumento que favorece o desenvolvimento humano e garante a ampliação dos conhecimentos nas diferentes áreas, com continuidade na educação formal. Neste sentido, a Lei n.º 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, consagrou que é dever do Estado, assegurar a criança e ao adolescente, atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade, bem como ao atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

Por outro lado, fundamental tratarmos, para o início do desenvolvimento do tema, a respeito dos profissionais que atuam na educação infantil.

 

3 O EDUCAR NA INFÂNCIA

 

Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e internacional apontam para a necessidade de que instituições de educação infantil incorporem de maneira integrada as funções de educar e cuidar, não mais diferenciando nem hierarquizando os professores e instituições que atuam com as crianças pequenas daqueles que trabalham com as maiores. As novas funções para a educação infantil devem estar associadas a padrões de qualidade.

Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma.

Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de desenvolvimento infantil.

Uma educação que seu enfoque é a criança, é ela quem deixa transparecer os aspectos que devem ser modificados para que atenda a criança como um todo.

Educar significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação, respeito e confiança e o acesso, pelas crianças, os conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.

 

4 O CUIDAR NA INFÂNCIA

 

Contemplar o cuidado na esfera da instituição infantil significa compreendê-la como parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas.

A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidade. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui numa dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.

As atitudes e procedimentos de cuidado são influenciados por crenças e valores em torno da saúde, da educação e do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades humanas básicas sejam comuns, como alimentar-se, proteger-se etc., as formas de identificá-las, valoriza-las e atendê-las são construídas socialmente. As necessidades básicas podem ser modificadas e acrescidas de outras de acordo com o contexto sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são também base para o desenvolvimento infantil.

A identificação dessas necessidades sentidas e expressas pelas crianças, depende também da compreensão que o adulto tem das várias formas de comunicação que elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem. Prestar atenção e valorizar o choro de um bebê e responder a ele com um cuidado ou outro depende de como é interpretada a expressão de choro, e dos recursos existentes para responder a ele. É possível que alguns adultos conversem com o bebê tentando acalmá-lo, ou que imediatamente no colo, embalando-o.

Em outras culturas, o embalo tem uma grande importância no cuidado de bebês, tanto que existem berços próprios para embalar. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção à saúde.

Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação a vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades socioculturais.

 

O planejamento dos cuidados e da vida cotidiana na instituição deve ser iniciado pelo conhecimento sobre as crianças e suas potencialidades (RCNEI, vol 1 pág. 75,1998).

 

Antes de procurar atender as necessidades da criança é necessário conhecê-la diagnosticar seu potencial partindo do que ela sabe para depois incluir novos conhecimentos.

Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, como sua singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em sua capacidade. Disso depende a construção de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado. Além da dimensão efetiva e relacional do cuidado, é preciso que o professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de forma adequada.

Assim, cuidar da criança é sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilidades, que aos poucos as tornarão mais independentes e mais autônomas.

 

5 A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

A Educação Infantil constitui um instrumento fundamental para o atendimento das necessidades de desenvolvimento da criança, sendo dever do Estado garantir o acesso e permanência de todas as crianças de 0 a 3 anos, em número cada vez maior nas creches, e de 4 a 6 anos, nas pré-escolas, assegurando o atendimento de suas necessidades básicas (sociais, cognitivas, afetivas, físicas). Ressalta-se, que hoje, há a necessidade de formação mais qualificada de profissionais que trabalham com crianças na faixa etária acima citada.

A ideia de educar crianças menores de 6 anos de idade de diferentes condições sociais preconizava que o processo de aprendizagem se iniciava pelos sentidos, somente depois de internalizadas seriam interpretadas pela razão. É importante desenvolver os sentidos. Muitas vezes, crianças criadas em creches e orfanatos apresentavam apatia, atraso da fala, de socialização, carentes, etc. A criança necessita de atenção especial e estímulos para se desenvolver melhor. Uma criança muito pequena depende completamente do adulto, e aos poucos vai se desenvolvendo, reconhecendo sons, cores, imagens, cheiros, vozes. É importante conversar com os bebês e crianças, tocá-las e brincar com elas, etc.

A educação das crianças pequenas beneficiou-se acerca do naturalismo e da necessidade de a criança experimentar desde cedo coisas e situações de acordo com seu próprio ritmo. A criança é intrinsecamente boa, quem a corrompe é a sociedade. A criança é inocente e deve aprender em um ritmo próprio. Pestalozzi (1746-1827) propôs modificações no método de ensino, particularmente os usados na escola elementar e formalizou procedimentos para treinamentos de professores. Ele defendia que a educação deveria ocorrer em um ambiente o mais natural possível, sob um clima de disciplina restrita, mas amorosa, o que contribuía para o desenvolvimento do caráter infantil. Também propunha para crianças pequenas atividades de música, artes, soletração, geografia, aritmética e muitas outras atividades de linguagem oral e de contato com a natureza. Foi considerado “O pai da educação”, o primeiro a sistematizar a educação.

Já Froebel (1782-1852), discípulo de Pestalozzi, influenciado por um ideal político de liberdade, propôs a criação do KINDERGARDENS (Jardins de Infância) onde as crianças - pequenas sementes que adubadas e expostas a condições favoráveis em seu meio ambiente, desabrochariam em um clima de amor, simpatia e encorajamento – estariam livres para aprender sobre si mesmas e sobre o mundo. Ele sistematizou os jardins de infância e preparou materiais específicos para crianças de 4 a 6 anos e criou uma rotina pedagógica. Froebel influenciou bastante a educação infantil no Brasil – principalmente no início.

Devemos considerar que crianças, professores e educação infantil, estão inseridos em um contexto com o qual influi diretamente no processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento.

Assim, o trabalho pedagógico do professor deve partir daquilo que a criança conhece e domina; atividades dentro da cultura da criança, não dos conteúdos e habilidades que lhes faltam, mas a partir do que ela é, não do que ela não é.

O professor não deve ser mais visto como um mero conjunto de técnicas a serem aplicadas a uma criança modelo, padrão. O professor deve ser intelectual, consciente de seu papel na sociedade em que vivemos, alargando seus horizontes e suas possibilidades de atuação.

Se o professor quer mudança, tem que realizá-la dentro e fora da escola. Tem que fundir seu papel de educador ao seu papel de cidadão. É decisivo hoje, que o educador volte a pensar em como fundir os seus papéis dentro da sala de aula com os seus papéis dentro da sociedade, para que ele não veja no aluno ou na criança, alguém inferior a ele, para que se desprenda de uma vez de qualquer enlace com a dominação cultural e para que deixe de ser um instrumento das elites. Ir para as ruas e reanimar sua imagem na sociedade que ele próprio contribuiu para degradação. Resgatando valores, reivindicando melhores salários e condições de trabalho.

Faltava, no entanto, mexer no personagem principal, o professor. Faltava hoje, o que está em jogo é brigar por sua qualificação, lutar para que todos tenham acesso à informação e às novas tecnologias e garantir o aperfeiçoamento contínuo do seu trabalho. Em outras palavras, só se fala numa coisa: formação.

Como a Lei de Diretrizes e Bases determina que todos precisarão de formação superior para lecionar, o tema ganha ainda mais importância. O raciocínio é simples. De nada adianta construir salas e enchê-las de crianças. Enquanto o ensino não for bom. E isso, é óbvio, tem tudo a ver com o que o professor aprendeu na escola, no curso de Magistério, na faculdade. Nos dias de hoje, ninguém tem dúvidas de que há problemas de todos os tipos. Dezenas de instituições parecem preocupadas apenas em imprimir diplomas (quem nunca leu ou ouviu uma denúncia de irregularidade que lance o primeiro pedaço de giz). Outras tantas não conseguem atender às necessidades e aos anseios dos estudantes.

Desta forma, o novo papel que vem sendo construído para a educação infantil traz uma nova visão de criança e também uma nova concepção de profissional. Um dos primeiros documentos produzidos nessa década pelo MEC, que estabelecia as diretrizes da proposta de Política de Educação Infantil (MEC, 1994), antes mesmo da Lei de Diretrizes e Bases - LDB, já apontava a valorização do profissional de creche como um elemento fundamental para a melhoria da qualidade do atendimento. Nesse documento, é assumido que a efetivação de uma concepção que integre as funções de cuidar e educar não apenas requer como exige pessoas profissionalizadas.

As expectativas em relação a esse profissional dessa nova creche não são poucas. Desse modo, a formação dos profissionais de creche deve incluir o conhecimento técnico, bem como o desenvolvimento de habilidades para realizar atividades diversificadas, voltadas para a interação com as crianças. O documento Subsídios para Credenciamento e Funcionamento de Instituições de Educação Infantil Vol. I, afirma que "as crianças precisam de educadores qualificados, articulados, capazes de explicitar a importância, o como e o porquê de sua prática...” (1998, p.18).

Além das exigências advindas das novidades introduzidas na área, os professores de educação infantil também sofrem aquelas exigências oriundas das transformações no mundo do trabalho, que veiculam um discurso cujas competências do novo trabalhador passam pela autonomia, criatividade e produtividade, além da capacidade de adequar-se às mais variadas situações. Nas palavras de Pedro Demo:

 

O que está em jogo é um tipo de formação que garanta a competência humana em questão. Pesquisa e elaboração própria constituem as pilastras desse trajeto, e fundamentam também a capacidade de recapacitação permanente, que deveria ser primorosa em todo educador. O fulcro da competência humana moderna está na capacidade de refazer todo dia. Estudar sempre é condição essencial profissional. (1992, p.143)

 

Como se observa, tratam-se de exigências que podem se tornar bastante pesadas e, mais do que isso, colocam os profissionais em uma posição bastante diferenciada daquela ocupada até alguns anos atrás. Essas exigências traduzem a necessidade de um profissional bastante diferente daquele apontado nos levantamentos de perfil profissional que dispomos. Os poucos dados nacionais sistematizados a esse respeito confirmam a necessidade de urgência nessas ações frente ao estado em que se encontra a realidade das creches no país. De acordo com Educação Infantil no Brasil – Situação Atual (MEC, 1994), em 1991, do total de profissionais de pré-escolas municipais no país, 26,4% correspondiam àqueles que não haviam concluído o segundo grau. Os piores indicadores concentram-se no segmento creche onde se estima que 35% dos profissionais não possuem sequer o primeiro grau. O documento Subsídios para Credenciamento e Funcionamento de Instituições de Educação Infantil Vol. I, sintetiza bem a realidade desses profissionais:

 

No Brasil, a formação dos profissionais que atuam na educação infantil, principalmente em creches, praticamente inexiste como habilitação específica. Assinala-se que algumas pesquisas registram um expressivo número de profissionais que lidam diretamente com crianças, cuja formação não atinge o ensino fundamental. Outros concluíram o ensino médio, mas sem habilitação de magistério e, mesmo quem a concluiu, não está adequadamente formado, pois esta habilitação não contempla as especificidades da educação infantil. (1998, p.18)

 

Ademais, a própria formação no magistério é objeto de críticas, sendo considerada por diversos autores como de baixo nível de qualidade. Na publicação Por Uma Política de Formação do Profissional de Educação Infantil (1994), composta por uma coletânea de textos de diversos autores, encontra-se referências à importância da formação do educador de creche, reafirmando-se a escolaridade mínima em nível de 2º grau e defendendo uma formação específica para os profissionais que lidam com crianças de 0 a 6 anos. De fato, o documento prega a profissionalização dessa categoria também enquanto um direito: não apenas o direito da criança em ter um melhor atendimento, mas também o do educador em ter acesso aos bens educacionais e culturais da nossa sociedade.

A distância entre a realidade de nossos profissionais - que há anos foi cultivada por descaso e incentivos negativos das políticas públicas - e as novas questões a eles impostas, são bastante grandes. Sem formação, esses profissionais, comparado no documento do MEC, "alheios às imposições de regras e normas", construíram no dia-a-dia "um saber-fazer carregado das experiências e contradições inerentes às práticas sociais" (1994, p.8).

Com certeza, faz-se necessário construir um novo perfil profissional. Evidentemente, essa construção não surge do nada. Documentos oficiais e a inspiração em experiências internacionais têm provocado o estabelecimento de políticas que se propõem a fornecer subsídios para a formação dos profissionais. Assim, discutir a formação dos profissionais significa discutir também o nosso papel e a nossa contribuição nesse processo.

Além disto, é preciso a ampliação da discussão da formação e qualificação para além da consideração de aspectos relacionados apenas aos profissionais, que no limite, parecem ser a tônica dos trabalhos acadêmicos. Atualmente, tem se discutido que a formação dos profissionais requer a ampliação e consideração dos demais agentes que estão envolvidos nessa promoção. E esses agentes vão desde as crianças e famílias atendidas até os organismos internacionais financiadores e formuladores de políticas de atendimento à criança pequena. Nesse sentido, cabe alertar para o risco de se incorrer na produção de um efeito contrário ao que se propõe quando se toma a formação profissional como elemento central para a garantia da qualidade na educação infantil. Não se trata aqui de negar essa centralidade do papel do profissional, mas sim, de alertar para a necessidade de que toda a discussão sobre formação aconteça atrelada aos diferentes níveis nela envolvidos.

É claro que estabelecer contatos e trocas entre os diferentes países, é um trabalho importante. Contudo, seus efeitos serão questionáveis se tomados de modo descontextualizado e se não se considerar os atores e as peculiaridades locais, culturais e políticas da questão da formação. Não basta ficarmos restritos às experiências pedagógicas interessantes, advindas de outros países. Demais elementos contidos no entorno dessa questão precisam ser considerados a fim de que não se reduza a formação apenas a desafios relacionados a problemas ligados diretamente ao conhecimento, como questões de estrutura e conteúdo necessários no currículo dos profissionais.

Neste sentido, não se nega a necessidade de construção de um novo perfil profissional para a educação infantil. Contudo, há que se considerar a experiência e a capacidade desses profissionais que conseguiram resistir e se manter em épocas de grande adversidade. Compartilhamos com a ideia de que somos críticos. Enquanto pesquisadores, cumprimos um papel histórico bastante importante onde soubemos pontuar os diversos aspectos negativos na educação infantil, em especial aqueles relativos à formação profissional, fundamentando as críticas e impulsionando os avanços legais através da produção de nossos conhecimentos.

Por fim, é preciso que se diga, que o distanciamento entre discurso e prática não necessariamente é visto somente como algo negativo. Aliás, a sua perfeita coincidência é impossível de ser alcançada. É esse distanciamento que provoca a melhoria e o constante questionamento das condições de educação de nossas crianças. Tampouco acontece apenas na educação infantil. Ele é característico de momentos em que as conquistas de direitos necessitam ainda de canais e mecanismos de efetivação. Cabe-nos, nessa nova fase da educação infantil, identificar e compreender as motivações e as redes de sustentação das reservas e oposições aos avanços legais e sugeridos pelo conhecimento na área.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Portanto, o professor necessita ser capacitado, desenvolver um trabalho intencionado, devendo considerar e conhecer as características da infância, percebendo as especificidades e as necessidades presentes de cada criança de acordo com sua faixa etária, respeitando às singularidades das mesmas, é indispensável que o docente reavalie suas concepções e práticas pedagógicas, mediando e interagindo com as crianças em prol do desenvolvimento das mesmas.

Para o planejamento sobre o que deve fazer parte do cotidiano da criança e como o mesmo deve   ser   desenvolvido, é importante  questionar se   tais   metodologias são condizentes com a realidade da criança, e ainda como tais metodologias podem de fato, contribuir para o  desenvolvimento e para a vida da criança, é importante discussões por meio do projeto pedagógico, que levem a reflexão sobre os elementos descontextualizados e fragmentados que ainda fazem parte   da   rotina de muitas creches e pré-escolas.

Fica então evidente, a necessidade de reconhecer o ato de brincar como um recurso pedagógico, e fator fundamental aliando- se com o Cuidar e o Educar, o que resultará em desenvolvimento coerente e efetivo. De fato, o Brincar ocorre nas instituições de educação infantil, porém tal atividade que poderia ser riquíssima para o progresso da criança é geralmente esquecida e desvalorizada.

O binômio: Cuidar e educar, como já foi amplamente explicitado neste artigo, é fundamental na educação infantil, e necessita que as unidades de educação infantil tenham um olhar diferenciado e reflexivo desses elementos. Faz-se necessário que a Educação Infantil, deixe de ser vista ora lugar de guarda, onde o essencial é que a criança seja cuidada, ora como ambiente preparatório para o ensino fundamental é necessário ainda que brincadeiras deixem de serem vista de maneira deturpada, e sem intenção pedagógica explicitada.

De modo geral, é necessário o compromisso no investimento de um atendimento educacional de qualidade, o novo contexto educacional necessita reconhecer que o Cuidar, educar e Brincar são ferramentas cruciais, devendo ser articuladas para o desenvolvimento global da criança, cuidando e educando, privilegiando e valorizando o Brincar, pois é direito da criança desenvolver- se plenamente. É imprescindível que a educação infantil esteja comprometida em oferecer à criança o direito de viver experiências plenas, o direito de Brincar, de ser cuidada e respeitada, sendo reconhecida como um ser que necessita viver sua infância de modo intenso e único.

 

REFERENCIAS

 

BRAGA, Aucy Bernini. Estrutura e Funcionamento da Instituição de Educação Infantil. Florianópolis:UDESC/Cead, 2003.

 

BRASIL. Referencial Curricular Para a Educação Infantil. v. 1, Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

DEMO, Pedro. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo: Atlas, 2002.

 

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

 

OLIVEIRA, Z. de M. R. Educação infantil: muitos olhares. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

 

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Encontros e encantamentos na educação infantil. Campinas: Papirus, 2000.

 

[1]Pós-graduanda em Educação Infantil e Anos Iniciais (ESI). UNIASSELVI. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.