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ESPAÇOS EDUCATIVOS: ALÉM DOS MUROS ESCOLARES

Claudinéia Silva Macêdo
Edinéia Silva Macêdo

 

RESUMO

O presente artigo discuti sobre a atuação do professor em contexto não escolares, enquanto espaço de atuação do pedagogo. Dessa forma, há que se considerar a função da escola, que sempre terá o papel fundamental como atriz protagonista no processo pedagógico. A relação da escola com a comunidade, proposta na legislação vigente, promulgada há quase 15 anos, começa a se configurar, alterando a cultura organizacional que se manifesta nos sistemas de ensino. Contudo, é necessário refletir sobre as novas relações que a sociedade impôs às instituições encarregadas do processo educacional. No passado, afirmava-se que as instituições de ensino eram responsáveis pelo processo educacional das novas gerações. O modelo social presente hoje, possibilita uma reflexão nesses contextos educacionais, sobretudo por sua estrutura. Para promover a reestruturação necessária para a materialização de um efetivo processo democrático, no qual atividades educadoras permeiam a formação de cidadãos, será necessário que cada indivíduo, em seu território identifique os espaços que oferecem oportunidades de educação. O professor, portanto, deverá com muita dedicação rever sua atuação para acompanhar a demanda. Nessa perspectiva, as ONGS por exemplo, se sobressaem como ambientes alternativos de educação, os quais constituem uma área diferente da atuação do professor. O objetivo deste artigo é, além de desmistificar a concepção de que a educação ocorre unicamente dentro do espaço escolar, é principalmente, refletir a expansão da práxis educativa que o professor vem passando nos últimos anos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Transformação. Processos educativos não escolares. Educação.

 

Justificativa. 

 

A organização pedagógica dos espaços educativos requer fundamentação teórica para subsidiar uma prática cotidiana de reinvenção de modelos. Compreender as tendências educacionais que sustentam a formação social do século XXI é ponto de partida para reflexão/ação necessária às pessoas envolvidas.

Nesse cenário, é necessário contextualizar, ainda com bases legais com a nova forma de pensar a educação brasileira e os vários espaços de atuação que surgiram para os pedagogos e professores. Espaços que rompem as barreiras físicas e institucionais.

A educação não está circunscrita apenas na escola, a atuação do pedagogo e do professor enquanto profissional especialista em educação, também se expande, ou seja, a presença extrapola os muros do ensino formal. Podemos, a partir de experiências que teve êxito, buscar inspiração para consolidação de modelos pedagógicos inovadores para atender às demandas sociais.

 

INTRODUÇÃO

 

A educação do século XXI não se torna estável da mesma maneira como no passado. Hoje ela apresenta papel fundamental na autonomia das pessoas e dos países que buscam condição de desenvolvimento e equidade social. Rever o lugar no qual se está inserido, valorizando o local, para aprender e identificar novos espaços educativos, é condição fundamental para a criação de uma nova forma de ensino que atendam às diferentes realidades que fazem parte do cotidiano individual e coletivo.

Para o século XXI, faz-se necessária, porém, a busca de outros atores que auxiliem na construção de um modelo educacional que atenda às demandas sociais emergentes e realize parcerias estratégicas, que possam promover a qualidade de propostas educacionais e suprir anseios das pessoas.

Dessa forma, Gómez – Granell e Villa (2003, p.16) afirmam que:

 

Hoje, a influência educativa é exercita a partir de vários âmbitos – família, trabalho, associações etc. – e por meios diversos: televisão, multimídia etc., que, às vezes, se opõem às propostas educativas escolares. Se quisermos que a escola continue cumprindo a importantíssima função determinada pela sociedade de educar as novas gerações e que se imponha uma profunda renovação da própria escola, será preciso que, por um lado, o conjunto do sistema educativo se envolva no tecido social da cidade e que o trabalho dos professores seja reconhecido; e, por outro lado, é necessário que essa mesma sociedade assuma sua responsabilidade educativa, e que cada um dos agentes seja consciente de sua cota de responsabilidade, E além disso, é importante, também, que a cidade entenda e assume que a educação é um elemento estratégico imprescindível para seu desenvolvimento harmônico e democrático.

 

A identidade pode ser de forma individual ou por meio de várias pessoas refletindo em conjunto e tendo o mesmo propósito. Os espaços públicos e privados não podem ser excludentes, ao contrário, devem prever a inclusão de todos em uma sociedade que se diz democrática. E a educação deverá preparar os indivíduos para a apropriação da informação em todos os ambientes existentes.

 

ESPAÇOS EDUCATIVOS

 

A escolar, enquanto espaço físico é privilegiado por ser considerado como o ambiente formal de educação dos sujeitos, porém ao observamos, percebemos que a educação, atualmente, não se faz mais dentro dos muros escolares, mas vai além.

A organização dos espaços educativos requer um olhar mais amplo para o processo educacional. O entendimento do processo educacional indo além dos muros escolares nos remete à reflexão de qual será o papel do pedagogo nesse cenário. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n° 9.394/1996, prevê que as escolas se estruturem além de seus muros e ampliem cada vez mais o processo democrático, por meio da participação representativa de todos os segmentos que fazem parte da comunidade escolar.

A escola de hoje se dirige com a atuação de funcionários, pais, alunos e representantes das principais instituições e não somente com diretores, pedagogos e professores. A inserção da inclusão do conceito de comunidade escolar, foi um grande avanço na legislação educacional.

Atualmente, não basta para o professor apenas o domínio de conteúdos correlacionadas à área educacional, mas é fundamental, também o conhecimento de gestão de pessoas e organizacional, a fim de que seja possível o bom desempenho da função. Por isso, a importância para os profissionais da educação, o desenvolvimento de novos conhecimentos, habilidades e atitudes, para que sua atuação seja efetiva.

É importante a compreensão do capital intelectual para os contextos educacionais, pois agrega muito valor às práticas pedagógicas. Para Stewart (1998), o capital intelectual é a soma de tudo que todos sabem em uma organização e que lhes propicia a vantagem competitiva. O capital intelectual, de forma simplificada, é o conhecimento que cada um leva quando sai de casa; pode ser compreendido como fonte de inovação e renovação, fundamental para a organização de novos espaços educativos.

Nas instituições escolares, a compreensão de mensuração do capital intelectual ainda é uma demanda reprimida, mas que explica por que determinados profissionais da educação são mais bem remunerados do que outros.

Na gestão do conhecimento há a clareza dos conhecimentos gerados, os quais são subdivididos em: conhecimento tácito (sutil, pessoal, armazenado no cérebro humano) e conhecimento explícito (que se compartilha e é de domínio de outros). Vai além do investimento em processos tecnológicos e em educação permanente.

O processo de gestão do conhecimento utiliza-se quatro etapas:

Criação;

Utilização;

Retenção;

Medicação.

O papel do pedagogo na gestão do conhecimento é fundamental para a instituição, pois é ele o responsável pelo armazenamento das informações.

Além da competência de gerir o processo de gestão do conhecimento, há muitas outras a serem desenvolvidas pelos pedagogos. Compreender os seus aspectos é fundamental. Perrenoud (2000, p. 15) afirma que:

 

-Competências não são saberes, habilidades ou atitudes, mas mobilizam, integram e orquestram esses recursos.

-A mobilização deve ser pertinente, cada situação é considerada singular.

-O exercício da competência utiliza estruturas mentais complexas, denominadas esquemas de pensamentos; estes permitem determinar e realizar uma ação adaptada à situação.

-As competências necessárias ao exercício profissional constroem-se nas relações cotidianas.

 

Segundo o autor (2000, p.15), há três elementos complementares às competências, a saber: tipos de situações das quais há um certo domínio; os recursos utilizados e as competências específicas, como esquemas de motores de percepção de avaliação, de antecipação e de decisão; e a natureza das estruturas do pensamento.

Apresenta o autor, ainda uma sequência de dez competências para ensinar.

Organizar e dirigir situações de aprendizagem.

Administrar a progressão das aprendizagens.

Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.

Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho.

Trabalhar em equipe.

Participar da administração da escola.

Informar e envolver os pais.

Utilizar novas tecnologias.

Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.

Administrar sua própria formação contínua.

 

As competências que devem ser desenvolvidas pelos pedagogos e pelos profissionais da educação deverão considerar modelos arrojados de educação e que contemplem, em seu cerne, as cidades como espaços educadores a consolidação de alianças estratégias e de oportunidades múltiplas do pleno exercício da cidadania.

O pedagogo tem a cada dia, um novo desafio: executar as práticas que atendam às demandas do século XXI e resgate o princípio da cidadania. Com a Lei n° 8.069/1990 garantindo acesso à educação para crianças e adolescente, novos espaços de aprendizagem surgem. Assim, os muros escolares deixam de significar barreiras para que haja a ampliação da atuação do processo educacional em um contexto multidisciplinar, como também a ampliação das possibilidades para pedagogos e profissionais da educação, pois segundo Farfus (2008ª, p. 30):

 

A articulação entre os educadores é urgente, pois há a necessidade de uma redefinição no papel do professor e de sua forma de atuar, no pensamento sistêmico.

É necessário pensar na aprendizagem como um processo cooperativo e de transformação que proporcione a formação de alunos enquanto sujeitos inseridos no mundo, e não mais em apenas uma comunidade local. Finalmente, pensar na educação em relação aos aspectos da ética, da estética e da política; a educação fundamentada em um ideal democrático.

E são os espaços alternativos de atuação do pedagogo que facilitarão a apreensão da democracia por todos, pois o homem, nesse procedimento, é um ser que se encontra em um processo progressivo de adaptação e de criação com o meio.

Com base em Farfus e Rocha (2007), identificar os padrões que envolvem as relações humanas, suas estruturas e possibilidades. O que implica a necessidade de os sistemas sociais precisarem ser projetados de maneira sustentável. As cidades educadoras devem buscar novas formas de pensar, relacionar-se, criar estruturas, padrões e conexões em diferentes dimensões.

O pedagogo e o profissional da educação têm um papel fundamental no rompimento de paradigmas e no rompimento de um novo modelo sociocultural. Entender as relações humanas/ profissionais nesse contexto é o ponto de partida para uma educação que atenda aos anseios da comunidade.

Nessa interdependência, a identificação de espaços educativos que possibilitem a prática pedagógica é condição fundamental para o desenvolvimento de ações que promovam a autonomia dos cidadãos, e cabe ao pedagogo um olhar crítico em relação ao seu cotidiano, a fim de redirecionar as práticas para esses espaços. As instituições escolares não podem mais se isolar em seus muros, visto que o rompimento das barreiras interfere positivamente na qualidade do ensino.

Um diálogo que atenda às novas demandas sociais requer a participação de atores que representem instituições de diferentes naturezas. A escola deve fazer parcerias com bibliotecas, sindicados, museus, organizações não governamentais, associações de bairro; e seus representantes podem contribuir com a organização pedagógica em espaços diversos e com competências complementares.

O papel da escola é insubstituível, mas pode ser enriquecido por outros profissionais que complementem a formação dos indivíduos. Farfus (2008a, p. 39) diz que:

 

Os espaços educacionais com a existência de uma comunidade transformam -se em espaço de construção de um trabalho articulado entre diversas organizações. Um trabalho que possibilite o desenvolvimento de uma nova cultura cotidiana, fundada no sentimento de fazer parte, de pertencimento a uma família, a uma escola, a espaços alternativos, a uma comunidade, a uma nação. Uma cultura que fortaleça laços e relações e promova valores como solidariedade, respeito e generosidade.

 

Ir além dos muros significa utilizar todos os espaços e pessoas que possam contribuir com a efetiva formação de cidadãos no cenário da sociedade globalizada, isso é o que se espera da educação do século XXI.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A compreensão do papel do indivíduo na sociedade do século XXI é fundamental para a consolidação de uma prática pedagógica que atenda às necessidades colocadas na sociedade do conhecimento. A prática cotidiana desenvolvida por pedagogos e profissionais da educação é que fará a diferença em diversas comunidades brasileiras.

A escola não deve mais centrar-se em si, mas buscar, nesse novo cenário, abrir-se à comunidade, com a efetiva participação dos integrantes da sua comunidade escolar, pois quanto mais ousar, mais longe irá. Logo, o pedagogo terá sua atuação ampliada e deverá ser gestor de parcerias que promovam um processo educacional de qualidade para sistemas públicos e privados de ensino, em todos os níveis da educação.

O pedagogo, com muitos espaços de atuação, deve ter uma formação sistêmica que permita o desempenho do seu exercício profissional, não somente no processo formal, mas uma formação que amplie sua visão além dos muros escolares, que construa trilhas, redesenhe caminhos e crie possibilidades de histórias de vida.

As cidades poderão resgatar sua função principal de espaços de convivência entre seus habitantes. Se apropriar dos espaços públicos que são nossos, levar nossas crianças para atividades além das paredes, que lhes permitem reconhecer seus espaços e contribuir na consolidação de uma cidade que seja reconhecida como espaços de todos.

Essa organização é iniciada por meio de atitudes individuais de sonhar com a reconstrução social, um sonho que pode dar início a outros e promover as mudanças necessárias. Uma história que possibilite a todos, o acesso a uma educação de qualidade que se consolida em diferentes espaços.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: > http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm   Acesso em: 15/11/2021.

 

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, poder Legislativo, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: > http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm  Acesso em: 15/11/2021.

 

Artigos:https://br.search.yahoo.com/search?fr=mcafee&type=E210BR91199G0&p=artigo+alem+dos+muros+escolares Acesso 05/11/2021.

 

FARFUS, D. Empreendedorismo social e desenvolvimento local: um estudo de caso no SESI Paraná. 2008. 125 f. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (Unifae), Curitiba, 2008ª.

 

FARFUS, D.; ROCHA, M.C. de S. (Org). Inovações sociais. Curitiba: Sesi; Senai; Iel; Unindus, 2007. (Coleção Inova, v.2).

 

FARFUS, Daniele. Espaços educativos: um olhar pedagógico. Curitiba: Ibpex, 2011.

 

GÓMEZ-GRANELL, C.; VILLA, I. (Org). A cidade como projeto educativo. Porto Alegre: Artmed, 2003.

 

PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

 

STEWART, T.A. Capital intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. Rio de Janeiro: Campus, 1998.