Buscar artigo ou registro:

 

 

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA, DA ESCOLA E DA RELIGIÃO NO DESEMPENHO ESCOLAR

Claudete Terezinha de Barros

Joice Maria Moresco

Lurdes Mariano Mendes

Marli Da Luz Padilha

Roseli Velozo Gomes

 

RESUMO

O presente artigo teve por objetivo ressaltar a pertinência da família, da escola e da religião no desempenho escolar, além de evidenciar os desafios pertinentes a este trabalho, apresentando um panorama da história do Ensino Religioso no Brasil a partir de uma pesquisa bibliográfica além de analisar as primeiras ações educativas que pretendiam aproximar a relação família-escola. O presente artigo classifica-se como uma pesquisa bibliográfica quantitativa. Isto porque, através da referente pesquisa, buscar-se-á fazer uma exploração através de levantamentos, seleções, fichamentos de informações relacionadas ao tema proposto. Quanto à metodologia, optou-se pelo método comparativo. Justifica-se a escolha do método comparativo pelo fato de que se pretende compreender o tema da pesquisa por meio de comparações entre locais, grupos e tempos históricos diferentes. Para construção da pesquisa utilizar-se-á de documentação de dados e embasamento em renomados autores sobre o tema para posterior análise e conclusões.

 

Palavras-chave: Ensino Religioso. Família. Escola.

 

ABSTRACT

This article aims to highlight the relevance of the family, school and religion in school performance, and also highlights the challenges relevant to this work by presenting an overview of the history of Religious Education in Brazil from a literature search in addition to analyzing the first educational actions intended to bring the family-school relationship. This article is classified as a quantitative literature. This is because through the related research will be sought to make an exploration through surveys, selections, fichamentos of information related to the proposed theme. As for methodology, we opted for the comparative method. Justifies the choice of the comparative method because you want to understand the subject of research through comparisons across sites, groups and different historical times. For construction of the research will be used data documentation and background in renowned authors on the subject for further analysis and conclusions.

 

Key words: Religious Education. Family. School

 

1.0 INTRODUÇÃO

 

Diante da problemática que envolve toda a comunidade escolar, justifica-se a escolha deste tema “A influência das instituições família, escola e religião no desempenho escolar e no desenvolvimento do caráter no ser humano” devido à importância dessas instituições no âmbito educacional, tendo em vista que a escola por si só não consegue formar o indivíduo integralmente, ou seja, estruturar o sujeito cultural, social, pedagogicamente. A família transmite valores, noções de ética, além de contribuir na formação do caráter do indivíduo, porém, a escola é quem vai transmitir o conteúdo cientifico, o qual contribuirá na formação social da criança. Nesse sentido, a Religião exerce um papel decisivo na vida do sujeito, tendo em vista a pluralidade cultural que vivemos atualmente, cercados por tantos conflitos de projeção mundial sobre questões étnico-religiosas.

Ao observar o contexto educacional, é possível perceber que não há uma integração entre a família, escola, e a Religião. A família, por inúmeros motivos, seja de cunho cultural, social, ou até mesmo por indiferença, cada vez mais tem deixado a responsabilidade de educar e formar o indivíduo na mão da escola. A escola por sua vez, tenta definir os papéis de cada instituição na vida da criança, a escola como transmissora de conhecimento e formação social, a família como formadora da moral e caráter, a religião como transformadora comportamental, abrindo a mente para uma nova visão acerca de problemas sociais, ecológicos e até mesmo comportamentais. Portanto, percebe-se que essas três instituições tem o poder de orientar a relação do homem com a natureza e do homem consigo mesmo. Dessa forma, pensando no contexto social no qual estamos inseridos atualmente, torna-se relevante questionar: Qual o papel da família, da escola e da Religião no desempenho escolar da criança?

Para tentar responder a esse questionamento, buscar-se-á fazer um panorama sobre o ensino religioso no Brasil, o conceito e a evolução social da família, bem como o seu papel no processo de ensino aprendizagem. Pretende-se, portanto, levar pais, alunos e professores a reflexão acerca do papel de cada um no processo de ensino aprendizagem. Além disso, o presente artigo poderá inspirar outras pessoas na busca de novas respostas sobre tantas possibilidades que se tem no âmbito educacional. Poderá ainda orientar professores e diretores na busca por um trabalho efetivo com a família, na valorização da religião, do aluno como ser pensante e construtor do próprio conhecimento.

 

2.0 DESENVOLVIMENTO

2.1 PANORAMA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

 

Ao observar o trabalho com Ensino Religioso em nosso país, torna-se relevante traçar um panorama sobre essa questão, desde o período colonial até os dias atuais, tendo em vista a importância dessa disciplina nas instituições de ensino. Além disso, é preciso compreender a trajetória do Ensino Religioso até a atualidade, afinal, são séculos de história, marcados por discussões, que determinaram o novo olhar que se tem pelo Ensino Religioso.

A palavra portuguesa religião deriva do latim religare, ”religar”, “atar”. Dessa forma, comumente a palavra religião encontra-se associada a questões sobrenaturais, a entidades que desempenham domínio sobre os seres humanos, influenciando nas tomadas de decisões, nas crenças. Porém, quando se fala em religião no contexto escolar não se prega religião alguma, o que se espera com o trabalho com Ensino Religioso é contribuir para a formação do indivíduo, ensinando valores, desenvolvendo o caráter e a ética.

É possível perceber que a problemática do Ensino Religioso no Brasil tem origem no período colonial, no qual se observa encadeamentos sócio-político-cultural que refletem na atualidade. Nesse período, em acordo entre igreja católica e o Monarca de Portugal, a igreja cabe difundir a religião católica e disseminar a fé e o Monarca de Portugal disponibilizou os recursos necessários para esta missão, desde que liderasse a igreja.

Nesse sentido, percebe-se que desde o período colonial a preocupação com o Ensino Religioso estava voltada para o desempenho do poder, ou seja, o Ensino Religioso foi usado como uma ferramenta de divulgação dos valores monárquicos. Atualmente ainda se percebe traços do Ensino Religioso catequizador nas salas de aula.

Como é possível observar, desde o início da colonização do Brasil o Ensino Religioso faz parte do panorama educacional, tendo em vista que o ensino baseava-se na religião católica, propiciando ao país colonizador maior possibilidade de exercer o poder sobre o Brasil. Portanto, o Ensino Religioso buscava atender as necessidades que o governo de Portugal impunha, não havendo abertura para crenças diferentes além da que a igreja católica pregava.

 

(...) no processo ideológico da política educacional desenvolvida pelo Estado brasileiro, é característica a utilização do ideário católico como concepção de mundo, exercendo a função ideológica para a sustentação e a reprodução desse modelo de sociedade. A cosmovisão católica serviu de ideologia adequada para a promoção e a defesa dos interesses da classe dominante ao mesmo tempo que fundamentava a legitimação, junto às classes dominadas, dessa situação econômico-social, objetivamente marcada pela exploração e dominação da maioria por uma minoria (SEVERINO, 1986, p. 70).

 

Além dos habitantes que já viviam aqui no Brasil, os Índios, os negros também foram catequizados por meio do Ensino Religioso. Dessa forma, a educação religiosa era transmitida nas casas dos senhores e buscava levar os negros a ser cada vez mais submissos e adeptos a religião católica. Cabe aqui ressaltar que as crenças e tradições dos negros eram consideradas inadequadas, um empecilho para a propagação das crenças católicas.

Nesse sentido, percebe-se a diversidade religiosa não era valorizada e tão pouco respeitada. Na atualidade essa questão da diversidade também precisa ser abordada, porém de forma prudente. Não se deve impor a crença, mas sim abordar o tema de forma a buscar a essência no respeito e conhecimento das diferenças, na educação de valores.

No período imperial a educação voltada para o Ensino Religioso não sofreu muitas mudanças. A igreja permaneceu exercendo o domínio, a metrópole divulgando seus pensamentos e valores a partir da igreja, e o catolicismo sendo disseminado. Portanto, o Estado continuou tendo a igreja como suporte para sustentação do poder exercido.

 

A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de Templo. Conforme Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824, Art. 5º faz evoluir este processo de dependência da Igreja ao Estado. Em tal contexto, é incluído o Ensino Religioso, efetivado como ensino da Religião Católica. (FIGUEIREDO, 1994, p. 58.)

 

Nesse sentido, percebe-se que a igreja busca de todas as formas manter-se no poder, exercendo autoridade sobre todos. Tem-se, portanto um período de mudanças, as quais ocorreram com a chegada da família real. Nesse momento, ocorre a criação de novas instituições educativas, a fim de promover o progresso político, cultural e social da nação.

Já em um segundo momento, o segundo Reinado compreendido entre 1840 a 1889, surgem novas possibilidades de engrandecer o Ensino Religioso, tendo em vista que a igreja começa a declinar do poder, e os capelães ficam incumbidos de administrar a disciplina de Ensino Religioso. Com isso, emergem decretos e projetos que buscam nortear o ensino nas escolas.

 

O Decreto nº 2006 de 24/10/1857, que regulamenta os colégios públicos de instrução secundária no município da Corte, incluiu o seguinte dispositivo:

‘Artigo 12. O ensino da doutrina Cristã, além do 1º ano e o da história sagrada, compete ao capellão; o qual, além disso no Internato explicará o Evangelho nos domingos e dias santos de guarda, na hora, e pelo tempo que for determinado pelo Reitor sendo suas funções reguladas, em geral, pelo mesmo Reitor’.

O Projeto de reforma da Instrução Pública de Leôncio de Carvalho, nº 7247 de 19/04/1879 traz os seguintes dispositivos:

‘Art.4º: O Ensino religioso nas escolas primárias de 1º grau do município da Corte constará das seguintes disciplinas: instrução moral, instrução religiosa, leitura, escrita [...]

Parágrafo 1º: os alunos acatólicos não são obrigados a freqüentar a aula de instrução religiosa que por isso deverá efetuar-se em dias determinados da semana sempre antes ou depois das aulas destinadas ao ensino das outras disciplinas [...]

Art. 9º Parágrafo 8º: Os professores substitutos, com exceção dos de  instrução religiosa, serão nomeados mediante concurso’. (FIGUEIREDO, 1994, p. 60-61)

 

Contudo, a igreja continuou com os propósitos de propagação do catolicismo, reproduzindo compêndios, materiais educativos, manuais, cartilhas levando esses materiais para os mais diferentes lugares do país. Além disso, deu continuidade aos trabalhos de catecismo por todo país, sendo que no sul, houve uma maior acessibilidade para o diálogo religioso, permitindo a leitura da Bíblia em algumas instituições, o estudo da História sagrada, ou seja, houve uma maior abertura sobre a questão religiosa. 

No período Republicano, na primeira fase compreendida entre 1981 a 1930 ocorre a separação entre Estado e Igreja. Nesta etapa prioriza-se a liberdade religiosa, fato este que constitui-se como um direito de todos os cidadãos e dever do Estado. Ainda assim, diante da anunciada laicidade do ensino nas instituições educacionais, o Ensino Religioso manteve-se fiel aos princípios consolidados pela Igreja Católica. Ainda que houvesse diversas discussões acerca de um novo olhar e novos direcionamentos para o trabalho com o Ensino Religioso, a Igreja Católica ainda fortalece seu domínio, reprimindo o direito a diversidade religiosa no Brasil.

No decorrer da Revolução de 1930, o então Presidente da República, Getúlio Vargas, elabora e ratifica um decreto que torna possível o Ensino Religioso nas escolas públicas do Brasil, assegurando a inclusão do Ensino Religioso como parte do currículo escolar. Inicialmente, o Ensino Religioso é concebido em caráter facultativo, por meio do Decreto de 30 de abril de 1931 ratificado por Getúlio Vargas. Neste decreto consta que o Ensino Religioso deveria ser apresentado aos alunos e ensinado de acordo com a crença religiosa do aluno e da família, compondo disciplina do currículo escolar das instituições públicas primárias, secundárias, profissionais e normais. 

 

Decreto Nº 19.941 de 30 de abril de 1931:

Art.1º - Fica facultativo, nos estabelecimentos de instrução primária,

secundária e normal, o Ensino de Religião.

Art.2º - Da assistência às aulas de Ensino Religioso haverá dispensa para os alunos, cujos pais ou tutores, no ato da matrícula, a requererem.

Art.5º - A inspeção e vigilância do Ensino Religioso pertencem ao estado, no que respeita à disciplina escolar, e às autoridades religiosas, no que se refere à doutrina e à moral dos professores.

Art.6º - Os Professores de instrução religiosa serão designados pelas

autoridades do culto a que se referir o ensino ministrado.

A Influência do Manifesto dos Pioneiros da escola Nova, ou simplesmente ‘escolanovista’, comprova a insistência em manter a ‘laicidade,obrigatoriedade e gratuidade do ensino’. (FIGUEIREDO, 1994, p. 69-70.)

 

Na segunda Constituição da República de 1934 a 1937, há divergência entre os favoráveis e os contrários à admissão do Ensino Religioso. Os chamados escola novistas posicionam-se contra o Ensino Religioso, devido a conjectura que defendiam a laicidade, obrigatoriedade e gratuidade do ensino público.  Com isso, o Ensino Religioso acaba por perder seu espaço no cenário escolar, no rol das disciplinas.  Este fato constituiu-se como uma grande perda para educação brasileira, tendo em vista o Ensino Religioso trabalhado em sua essência poderia mostrar-se como um verdadeiro canal para a comunicação entre a escola e a realidade.

Com o fim do Estado Novo e a queda de Getúlio Vargas na fase de 1946 a 1964, ocorreu a publicação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei 4024/61, que regulamentou o Ensino Religioso em seu Art. 97:

 

Art. 97 - O Ensino Religioso constitui disciplina dos horários normais das escolas oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado sem ônus para os cofres públicos, de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável.

1º parágrafo - A formação de classe para o Ensino Religioso independe de nº mínimo de alunos.

2º parágrafo - o registro dos professores de Ensino Religioso será realizado perante a autoridade religiosa. (FIGUEIREDO, 1994, p. 78.)

 

Com o início da ditadura militar no Brasil os progressos democráticos atingidos até então foram suspensos. Assim, o Ensino Religioso é obrigatório para a Escola, permitindo que o aluno escolha ter aulas dessa disciplina ou não, no ato da matrícula. O teor obrigatório do Ensino Religioso passa a fazer parte do currículo escolar, sendo ministrado como as demais disciplinas, propiciando reflexão e questionamentos, suscitem nos alunos o interesse em descobrir novas emoções neste mundo de múltiplas religiões. Dessa forma, o Ensino Religioso procura reinstaurar a dignidade, a harmonia e o valor do Homem, melhorando a interação uns com os outros, porém respeitando as individualidades.

Durante os anos de 1985 a 1987, ocorreram muitas discussões acerca de uma publicação de uma nova Constituição para o país, depois de um longo período de regime de ditadura militar. Nessas discussões, ocorre a integração da disciplina Ensino Religioso na escola novamente. Dessa forma, o Ensino Religioso passa a fazer parte da Constituição Federal do Brasil.

Neste período, percebe-se que além de todo esforço para introduzir uma nova compreensão sobre o Ensino Religioso, ocorreram ações com a finalidade de capacitar professores para essa disciplina. Dessa forma, criaram-se cursos a distância, como o curso “Ensino Religioso, capacitação para um novo milênio”, divulgado no Caderno Temático Ensino Religioso, referencial curricular para a proposta pedagógica da Escola. Outro projeto desenvolvido foi o trabalho conjunto, realizado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e pelo Grupo de Pesquisa Educação e Religião, que buscavam debater questões sobre a formação de professores de Educação Básica e Ensino Religioso, professores de Ensino Religioso para o Ensino Superior, o processo de ensino aprendizagem nessa disciplina.

É possível observar que a história do Ensino Religioso caminhou atrelada ao percurso da educação brasileira, revelando os debates, discussões entre a Igreja e o Estado, fato este que se observa nos inúmeros documentos regulamentares. Antigamente o Ensino Religioso era visto como teórico, autoritário, e atualmente alcançou a condição de área de conhecimento, fazendo parte do currículo escolar. Portanto, percebe-se que o Ensino Religioso tem adquirido seu lugar no âmbito educacional, por meio de lutas, vitórias, tendo como marco sua valorização na Constituição e na vigência do Substitutivo n. 9475/97.

Fundamental é compreender que a abordagem sobre o ensino desta disciplina requer uma atenção voltada para as problemáticas que envolvem os jovens e adolescentes de nosso país. É preciso um trabalho interdisciplinar, que trate de questões como sexo, drogas, mudanças de comportamento em geral, justiça, amor e afetividade, e não um trabalho de imposição religiosa.  Portanto a introdução do Ensino Religioso não constitui uma concessão às igrejas, e sim uma maneira de trabalhar valores, contribuindo na formação do caráter do indivíduo.

Nesse sentido, é preciso compreender que o trabalho com Ensino Religioso não está relacionado à catequese, mas sim a valorização da espiritualidade humana, despertando no educando o desenvolvimento de uma consciência crítica diante da realidade, o levando a refletir sobre uma possível transformação do mundo. A Constituição de 1988 assegura que

 

O Ensino Religioso ocupa-se com a educação integral do ser humano, com seus valores e suas aspirações mais profundas. Quer cultivar no ser humano as razões mais íntimas e transcendentais, fortalecendo nele o caráter de cidadão, desenvolvendo seu espírito de participação, oferecendo critérios para a segurança de seus juízos e aprofundando as motivações para a autêntica cidadania (Texto Constitucional de 1988).

 

É certo que muitas são as discussões que cercam a questão do Ensino Religioso nas Escolas, porém é preciso ter cuidado e principalmente conhecimento sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para que se possa falar com propriedade desta questão. Esta Lei que trata sobre o Ensino Religioso é um tanto ambígua, permitindo muitas lacunas que os Conselhos Estaduais de Ensino podem preencher de acordo com a realidade de cada região do país. Além disto, cada instituição também pode adequar o conteúdo da disciplina de acordo com a necessidade da comunidade onde atuam, por meio do Projeto Político Pedagógico.

Torna-se importante ressaltar que o Ensino Religioso percorreu um longo caminho até os dias atuais, muitas foram as dificuldades encontradas para atingir a realidade brasileira para determinar seu papel como área do conhecimento assim como as demais disciplinas.

 

2.2 O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

 

A família é considerada a primeira instituição social que procura garantir o bem estar de seus membros principalmente a proteção da criança. Portanto, a família, entidade presente em todas as sociedades, é um dos primeiros ambientes de socialização do indivíduo, atuando como mediadora principal dos padrões, modelos e influências culturais (Amazonas, Damasceno, Terto & Silva, 2003; Kreppner, 1992, 2000).

Dessa forma, é possível perceber como a família integra um elemento dinâmico em meio as relações afetivas, sociais e cognitivas de um grupo social. Portanto, a família constitui-se como primeira mediadora entre o homem e a cultura, como a base da aprendizagem humana. Cada família traz consigo uma gama de significados e práticas culturais próprias, práticas estas que acabam refletindo na formação do sujeito, em sua relação interpessoal, individual e coletiva.

Portanto, os acontecimentos e as experiências ocorridos no seio familiar influenciam as relações, as ações, o comportamento do sujeito.  Essas vivências integram a experiência coletiva e individual que acabam por estruturar interação social. Assim, é possível perceber que as interações familiares influenciam as transformações nas sociedades. Em meio a essas transformações sociais, encontra-se uma entidade decisiva no desenvolvimento do ser humano: a escola.

Nesse sentido, percebe-se que muitas questões referentes ao envolvimento entre família e escola têm incitado a curiosidade de pesquisadores como Bost, Vaughn, Boston, (Kazura & O’Neal, 2004); (Ferreira & Marturano, 2002), em especial no que diz respeito à pressupostos para o desenvolvimento social e cognitivo das crianças bem como sua influência no desempenho escolar.

Rego (2003) enfatiza muito bem que a escola e a família dividem responsabilidades em relação a funções sociais, políticas e educacionais, tendo em vista que colaboram e influenciam a formação do cidadão. São duas entidades que carregam consigo a responsabilidade de transmitir e construir o conhecimento culturalmente organizado. Dessa forma, percebe-se o papel fundamental que a escola e a família exercem na formação e desenvolvimento do sujeito, atuando como elemento impulsor ou inibidor do crescimento físico, intelectual, emocional e social do indivíduo. Na escola, são transmitidos os conteúdos curriculares que proporcionam a apreensão de conhecimentos, sendo que no ambiente escolar a preocupação recai sobre o processo de ensino e aprendizagem. Sobre a família recai a preocupação de estimular o processo de socialização, o cuidado, o desenvolvimento social, cultural, cognitivo e afetivo, além de ser responsável por propiciar condições básicas de sobrevivência. Desse modo, observa-se que a família é a entidade responsável pela criação e educação das crianças, e os outros entes envolvidos no contexto social do sujeito (sociedade e Estado) são apenas colaboradores. Marques (1993) ressalta que

 

... à escola cabe complementar a educação dada pela família – seja ela tradicional, monoparental ou mista – ensinando a criança conceitos básicos de ética e cidadania, não podendo assumir responsabilidade integral na formação do caráter e de convicções que devem ser familiares, tais como a religião.

 

Como é sabido a família tem o papel fundamental na formação da criança, pois é no seio familiar que tem início o processo de aprendizagem, com os primeiros aprendizados, como aprender a alimentar-se, fazer higiene pessoal, ter noções de perigos, etc. Portanto, a formação social da criança é muito forte desde cedo, tendo em vista que desde de muito cedo os pais estipulam horários, locais de passeio e até mesmo a encorajar o convívio com determinados grupos sociais. Além disso, a família ensina a criança desde bem pequenas o que pode ou não ser feito, corrigindo erros, encorajando acertos, ou seja, contribuindo no desenvolvimento da personalidade da criança.

Quando a criança começa a frequentar a escola normalmente a família tende a tentar dividir a responsabilidade sobre a criança entre a escola e a família. Contudo, isso não acontece, pois a responsabilidade sobre a educação da criança é inteiramente dos pais. Com essa inserção no âmbito educacional a criança tende a sentir-se inseguras, pois para elas o ambiente escolar é desconhecido, e portanto, exigem maior atenção dos pais.

Portanto, com o apoio da família preparando e encaminhando a criança para essa nova etapa da vida essa inserção no meio escolar pode ser mais tranquila, levando-as a sentir prazer pelas atividades escolares.

Depois desta etapa de adaptação, a família deve permanecer atuante no ambiente escolar, influenciando também o processo de aprendizagem. Portanto, os pais devem conhecer a escola, sua metodologia de trabalho, conhecer o Projeto Político Pedagógico, participar de reuniões, e se inteiram das necessidades escolares de seus filhos.

Segundo Marques (1993):

 

A família é uma fonte de ajuda ativa para a criança se for "saudável", se for um grupo bem organizado e estável, onde o sistema de autoridade seja claro e aceitável, onde a comunicação seja aberta, e onde os membros exerçam controle e apoio. É na família que se gera o prazer, a alegria que a criança sente à sua volta, indispensável ao seu desenvolvimento.

 

Assim, é possível perceber que a convivência familiar exerce grande influência no desenvolvimento da criança, em todos os sentidos, na personalidade, na escola, na formação do caráter. Dessa forma, compreende-se que a educação não tem início na escola e sim no seio familiar, onde a criança experimenta muitas emoções afetivamente e em seu cognitivo. Para que a criança desenvolva-se efetivamente de forma integral, ela precisa estar em contato com um ambiente estável, saudável, em que encontre amor e atenção. Segundo Lobo (1997) o amor, a atenção e o apoio são a melhor educação e o melhor meio de dar segurança e confiança a uma criança, isto é, a melhor maneira de fazê-la feliz e de dar a ela uma oportunidade justa para desenvolver suas potencialidades.

Torna-se importante destacar que a relação família-criança é fator determinante no bom desempenho escolar, tendo em vista que é na família que a criança observa os exemplos que nortearão sua vida, é no seio familiar que o indivíduo começa a receber os primeiros indícios de educação, limites, regras, horários, atenção, bons exemplos. 

Diante disso, há de se levar em consideração a relevância da religião no contexto social, familiar e escolar, tendo em vista que a diversidade religiosa muitas vezes é tratada como um tabu no espaço escolar. Portanto, é imprescindível que haja a oportunidade de ofertar aos alunos o conhecimento sobre as diversas religiões professadas no mundo globalizado no qual vivemos, visto que a austeridade religiosa acarreta vários tipos de discriminação, o que pode gerar intensos conflitos.

Nesse sentido, percebe-se a importância do ambiente escolar como um lugar singular na promoção do conhecimento e valorização dos diferentes grupos sociais. Portanto, a escola constitui-se como meio de superação de atitudes preconceituosas em relação às diferenças étnico-religiosas.

Torna-se importante destacar aqui os papéis da religião, família e da escola, antes prioritariamente repressores, porém sofreram modificações no decorrer do tempo. A religião, outrora imposta pela sociedade, atualmente dá-se a abertura de escolha. Sobre a família e a escola recaem as principais diferenças, pois de acordo com Costa (2000), “refere-se à transmissão do conhecimento, pois antigamente, essa transmissão dava-se apenas na escola, a agência por excelência destinada à transmissão dos conhecimentos acumulados pela sociedade, enquanto que à família cabia ensinar valores e padrões de comportamento.” Dessa forma, segundo o autor, a escola recaia a responsabilidade de ensinar e à família educar. De acordo com o autor

 

... atualmente, a família tem passado para a escola a responsabilidade de instruir e educar seus filhos e espera que os professores transmitam valores morais, princípios éticos e padrões de comportamento, desde boas maneiras até hábitos de higiene pessoal. Justificam alegando que trabalham cada vez mais, não dispondo de tempo para cuidar dos filhos. Além disso, acreditam que educar em sentido amplo é função da escola.

 

Dessa forma, observa-se que a família e a escola aparecem como os principais locais de desenvolvimento humano em meio às sociedades. Portanto, é extremamente importante assegurar a integração entre essas duas entidades de forma a visar o melhor desenvolvimento do processo ensino aprendizagem da criança, proporcionando o sucesso escolar.

 

3.0 CONCLUSÃO

 

Diante de tudo que fora exposto no decorrer deste trabalho, sobre o panorama sobre o Ensino Religioso traçado nesta pesquisa, é possível perceber que há necessidade de maior compreensão acerca do Ensino Religioso, sobre o trabalho em sala de aula com essa disciplina, sobre o desenvolvimento histórico e a construção de valores indispensáveis à formação e ao desenvolvimento moral, e do caráter do indivíduo.

Além disso, como toda a sociedade, família e escola sofreram muitas mudanças estruturais no decorrer do tempo.  Com essas alterações os papéis da escola e da família também mudaram, ou mesmo se perderam ao longo dos anos. A família tem se isentado de certas responsabilidades em relação aos filhos, deixando a escola com o dever de educar também, e não apenas com a incumbência de repassar conhecimentos científicos. Portanto a escola tem assumido a responsabilidade de educadora, desempenhando a função dos pais fornecerem à criança subsídios para uma boa formação intelectual, moral e de caráter.

Atualmente os pais acabam se envolvendo com inúmeras situações, assuntos externos à educação dos filhos, fazendo com que a tarefa de educar seja transferida para a escola. Por isso, é importante destacar que um bom relacionamento entre a escola e a família inclui lucros para todos. Para a família inclui coesão, conquista, para a escola eficácia, para os alunos o sucesso escolar e para a sociedade a construção democrática do conhecimento a partir do apoio familiar, dos bons exemplos cotidianos.

 

4.0 REFERÊNCIAS

 

Amazonas, M. C. L. A., Damasceno, P. R., Terto, L. M. S., & Silva, R. R. (2003). Arranjos familiares de crianças de camadas populares. Psicologia em Estudo, 8(especial), 11-20.

 

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9424, de dezembro de 1996.

 

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Disponível em: <http://www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx?id=3> Acesso em: 10. Jan. 2015.

 

COSTA, Célio Juvenal. A educação no Brasil Colônia: pelo fim da visão iluminista da história. Disponível em:

<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_030.html>. Acesso em: 20. jan. 2015.

 

FEIJÓ, Caio. Preparando os alunos para a vida. São Paulo: Novo século: 2008.

 

FIGUEIREDO, Anísia de Paula. Ensino Religioso: perspectivas pedagógicas.

Petrópolis: Vozes, 1994.

 

LIBÂNEO, José Carlos et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

 

LOBO, Luis. Escola de pais: para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Lacerda editores, 1997.

 

MARQUES, R. A escola e os pais como colaborar?. São Paulo. Texto Editora. 4ª ed. 1993.

 

REGO, T. C. (2003). Memórias de escola: Cultura escolar e constituição de singularidades. Petrópolis, RJ: Vozes.

 

SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, Ideologia e Contra-ideologia. São Paulo: EPU, 1986.

 

SILVA, Clemildo A. RIBEIRO, Mario B. Intolerância religiosa e direitos humanos. Porto Alegre, Editora Sulina, Editora Universitária Metodista, 2007.

 

VIANNA, Marielle. Um convite para trabalhar com a literatura no cotidiano escolar. In. Fenômeno Religioso e Metodologias. KLEIN, Remi. WACHS,

Manfredo. BRANDENBURG, Laude. (Orgs..), São Leopoldo: Sinodal, EST, 2009.