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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FORMAÇÃO E PRÁTICA DO EDUCADOR

Claudinéia Silva Macêdo

 

RESUMO

A EJA se destina a pessoas analfabetas ou que não concluíram a educação básica, é caracterizada por ser uma modalidade de ensino diferenciada, que possibilita os jovens e adultos que não conseguiram completar seus estudos. Os principais programas de EJA atendem a jovens que não concluíram no tempo regular e pessoas adultas que desejam ampliar sua escolaridade.

Na formação de professores, geralmente é priorizado o estudo da educação básica, restando às modalidades educacionais como a EJA, a educação especial e a educação a distância uma carga horária mínima, muitas vezes, reduzida a tópicos especiais. A prática vem demonstrando que os profissionais se deparam com uma realidade educacional que exige formação para trabalhar com as adversidades cultural. A analisarmos, verificamos que a disciplina EJA tem a sua carga horária ampliada na graduação, particularmente em Pedagogia.

Sabe-se que muitos educadores dessa modalidade educacional adquirem saberes pedagógicos na prática educativa, o que não diminui a importância dos cursos de formação para professores. Se, na prática, se aprende muito e sempre, é no ambiente educativo, formal ou não formal, que temos a possibilidade de pensar coletivamente, de debater e construir argumentos. Estabelecer relações entre os conteúdos do mundo da vida desses estudantes e os conteúdos escolares é um desafio posto aos professores, pois é necessário engajá-los e atraí-los para a continuação dos estudos.

Como já disse Paulo Freire (1997) “ensinar exige pesquisa” e “ensinar exige paciência”. Porém, o dever não é apenas do professor, é também de políticas públicas.

 

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Cidadão. EJA. Sociedade.

 

Justificativa.

 

Este artigo tem como propósito abordar a importância da Educação de Jovens e Adultos, tendo como objetivo a formação e a prática do professor quanto a essa modalidade.

É na escola que se concebe um ambiente socialmente organizado, no qual, tem como função abordar diretamente na aprendizagem da cultura humana e, se tratando de jovens e adultos, que não completaram o ensino fundamental e médio, que retornam aos estudos, suas vivencias são bem extensas. Neste sentido, nota se a importância de compreender o trabalho docente na educação de jovens e adultos.

Cada um dos educadores, tem uma contribuição a oferecer na trajetória do mundo escolar de tantos seres humanos com experiências diversas, bem como se tem muito a aprender com a trajetória de vida do outro; mas é importante lembrar que ao professor cabe o desafio de oferecer ao aluno subsídios para que ele instaure relações entre tudo o que é estudado na escola e o que é vivido no cotidiano. Este é o sentido de ser profissional da educação, os conteúdos não estão prontos e acabados; o estudo e o planejamento são essenciais para uma prática educativa, fortalecidas nos conhecimentos históricos já acumulados e no respeito a cada uma das experiências dos sujeitos da educação.

 

INTRODUÇÃO

 

O caminho que temos percorrido vai ao encontro de uma concepção que indaga as práticas educacionais. A escolha de uma disciplina curricular não se dá ao acaso, ela guarda relação com a nossa experiência profissional e com a própria experiência de vida.

A EJA no Brasil teve início pela necessidade de mão de obra qualificada para a industrialização do país e até hoje luta-se para que a educação seja vista como meio de transformar a realidade existente.

Num período (década de 1040) em que os levantamentos de dados demonstravam que o analfabetismo era uma das características do subdesenvolvimento do país, as autoridades políticas dedicaram atenção a essa parcela da população.

Como afirma a pesquisadora Kleiman (2000, p.17): “O adulto que não sabia ler e nem escrever era considerado deficiente e incapaz de aprender”. Devido aos trabalhos de muitos professores e psicólogos, a partir da década de 1950, essa concepção deixou de existir. Mas como diz a autora, “esse preconceito não sumiu do imaginário nacional e continua influenciando o trabalho de muitos professores, os quais justificam o fracasso de seus alunos”.

É preciso desmontar a ideia de fracasso escolar atribuída ao aluno. Existem fatores estruturais, ou seja, os quais possuem raízes profundas na sociedade. As condições sociais e a desigualdade social, somada às frágeis políticas educacionais, contribuem para a existência de analfabetos, de pessoas com baixa escolaridade e, consequentemente, para a existência de projetos e programas da EJA.

Muitos jovens e adultos são pessoas migrantes, que vieram de outros estados, que possuem na sua bagagem cultural conhecimentos do mundo da vida e anseiam pela ampliação de seus conhecimentos. Assim, destaca-se a importância do educador nesse processo, o qual é necessário a utilização de metodologias específicas para uma melhor aprendizagem desses alunos, levando em conta as vivências e saberes discentes. Um aprendizado que tenha sentido de ampliar as ferramentas culturais, ideológicas e políticas para lidar com o mundo.

 

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

 

A trajetória da EJA, insere-se num cenário econômico, social e político. Está geralmente ligada à relação entre educação e trabalho, haja vista que os seus sujeitos são trabalhadores ou jovens em busca do primeiro emprego, ou são pessoas trabalhadoras aposentadas.

Podemos definir a Educação de Jovens e Adultos como sendo “Toda educação destinada àqueles que não tiveram oportunidades educacionais em idade própria ou que a tiveram de forma insuficiente, não conseguindo alfabetizar-se e obter os conhecimentos básicos necessários” (PAIVA, 1973, p. 16).

A educação é um dos direitos sociais garantidos no texto constitucional de 1988 no artigo 208 onde assegura a educação de jovens e adultos como um direito de todos: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de: I – Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria”. No entanto, sabemos que se tratando da EJA, a realidade é bem diferente, suas especificidades em seu processo de aprendizagem, exige a oferta de educação que atenda às necessidades específicas destes sujeitos.

Todos sabemos que a desigualdade social é a marca registrada do Brasil e a EJA precisa ser localizada no conjunto dessas relações sociais contraditórias que marcam a sociedade brasileira, no cenário de exclusão.

Ao longo do século XX, o analfabetismo foi tratado como um mal que assolava a sociedade e que precisava ser eliminado, pois era necessário diminuir a “ignorância” e formar um “coletivo eleitoral’” que respondesse aos interesses da elite política.

O analfabeto era visto como um ignorante, característica que marcou o desenvolvimento de programas de alfabetização, os quais valorizavam o ensino das primeiras letras – leitura e escrita. Nessa época, bastava o sujeito escrever o próprio nome que já era considerado alfabetizado.

No final do século XX, a maior parte da população do país era considerada analfabeta. Segundo Paiva (1987, p.85), “O censo de 1890 informava a existência de 82,21% de iletrados na população total”. Esse índice era motivo de vergonha nacional, e a educação passou a ser considerada necessária para a elevação cultural da nação.

Na concepção dialógica/ problematizadora da educação da EJA existe uma preocupação mediante a com o desenvolvimento da consciência política, trabalho coletivo e valorização da prática social dos sujeitos do processo educativo. Assim, a alfabetização sai do convencional e, busca a interpretação dos conteúdos ideológicos que envolvem as palavras e o discurso.

A concepção de ensino denominada por Mizukami (1986) de sociocultural apresenta característica da concepção dialógica de educação, defendida por Paulo Freire. O homem é pensado e educado tendo como pressuposto a sua cultura, a sua prática social. É visto como sujeito que constrói como tal à medida que pensa o seu contexto.

A articulação entre prática e teoria é essencial na formação do educador da EJA.

A formação desse educador, dá ênfase a duas dimensões. De um lado, valoriza-se a experiência do aluno-estagiário que já trabalha na EJA. De outro, valorizam-se os conhecimentos já construídos na EJA.  

Segundo Barreto (2005, p .80): “O objetivo da formação é melhorar a qualidade da intervenção do educador, não apenas seu discurso”. Parece que na sociedade atual temos enfrentados dificuldades na busca de melhoria da capacidade do educador. Nesse contexto, é importante que se tenha em mente a ideia de melhoria na qualidade de intervenção do educador.

Falar da formação e da prática do professor de EJA implica pensar os equívocos relacionados a sua formação. Entre os quais são quatro os principais, conforme apontam Barreto e Barreto (2005, p.80-82).

 

- A formação pode tudo: “Este equívoco nasce de uma visão autoritária do processo educativo, que desconhece a condição de sujeito do educando”.

- A formação antecede a ação: “O processo não se esgota na formação inicial, mas continua durante todo o processo. Portanto é necessário um processo de formação permanente”.

- Separação entre a teoria e a prática: “A ação mais simples que possamos imaginar não poderá ser executada por quem não tenha um mínimo de teoria sobre esta ação”.

- Trabalhar o discurso e não a prática: “As pessoas podem pensar uma coisa e dizer outra, assim como fazer uma coisa e dizer outra. Aderir ao discurso da moda ou do poder pode trazer compensações e rejeitá-lo pode trazer complicações”.

 

Para Barreto e Barreto (2005), é fundamental que na formação do alfabetizador se utilizem alguns instrumentos metodológicos. Para eles, cinco são esses instrumentos: observação e registro, análise da prática, estudo, avaliação e planejamento.

Para Freire (2002, p. 38), “a formação do educador deve ser permanente e sistematizada, porque a prática se faz e refaz”. Ou seja, para o autor a formação deve ser contínua, uma vez que o mundo está em constante processo de transformação e mudanças permanentemente. Atuar na EJA, ou até mesmo em outra área, exige preparação e formação adequada. E esta afirmação está exposta no documento das DCN’s da EJA:

 

[...] o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer. (BRASIL, 2000, p.56).

 

Tomando como referência as reflexões de Freire, vou enumerar alguns saberes e atitudes essenciais à prática do educador da EJA:

 

-Assumir-se como profissional libertador que tem postura crítica diante da realidade vivida.

-Ter papel diretivo no processo educativo, não como quem ocupa uma posição de comando, mas como um articulador de um estudo sério sobre algum objeto de investigação.

-Colocar-se na posição de quem busca superar-se constantemente, numa atitude práxica. O que é uma práxica? É aquela que vai além do simples fazer mecânico.

-Fazer do ato educativo um ato de conhecimento. Esse processo caracteriza a construção de conhecimento, pois supera a mera reprodução de algo que não foi suficientemente estudado.

-Colocar-se em constante processo de formação (formação permanente). Para todos os educadores, a atitude de estar em permanente formação, seja participando de eventos da área com qual trabalha, seja participando de cursos de capacitação, especialização etc., é central no desenvolvimento de uma prática criadora.

-Trabalhar com indissociabilidade entre teoria e prática mediante reflexão crítica sobre a prática.  Ou seja, aqui está em evidência novamente a atitude práxica. Os avanços na prática educativa são realizados mediante análise do que já existe produzido e análise das experiências bem-sucedidas e daquelas que precisam de aprimoramento.

-Respeitar o educando e a si próprio como sujeito do conhecimento. Ou seja, adotar a postura de sujeito pensante, criativo. Superar as atitudes de mera repetição de conteúdos que muitas vezes nem foram compreendidos.

 

Moura (1999, p. 80), comentando sobre os saberes indispensáveis à prática do alfabetizador, iluminada pelas reflexões freirianas, agrupa-os em três campos de conhecimento:

 

Uma competência geral de natureza política acerca da própria essência de ser sujeito, do seu estar no mundo e com o mundo, e a compreensão do próprio mundo e de suas influências sobre os sujeitos.

É imprescindível que o educador saiba qual é a função social da educação e da EJA.

Necessário que o educador tenha os conhecimentos sobre a natureza pedagógica e os elementos constitutivos dessa ação.

 

Como observamos são várias os saberes e atitudes que levam a uma concepção dialógica de educação da EJA. Resta aos profissionais da educação e aos educandos o engajamento numa concepção de educação que valorize o aluno como ser humano, como ser que aprende com o que ensina com, produzido pelas relações sociais de produção e, também produtor de novas relações sociais mediante análise crítica da prática social, própria e coletiva.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A escola é um ambiente que está diretamente ligado à aprendizagem da cultura humano que, se tratando da EJA o trabalho docente deve ser diferenciado, pois os alunos já estão inseridos dentro de um contexto social, com suas crenças e culturas, buscando ampliar seus conhecimentos.

Podemos observar que cada vez mais os manuais didáticos não podem dar conta de oferecer possibilidades de relacionamento entre os conteúdos do mundo e da vida e aqueles do mundo escolar, já que a dinâmica societária se é transformar-se formar-se rapidamente.

Aos educadores da EJA impõe-se o desafio de participar da construção de uma sociedade e de uma educação mais democráticas e críticas, tendo como ponto de partida o estudo e a investigação das especificidades dos alunos com as quais trabalham. A sociedade civil, cabe acompanhar e participar da gestão pedagógica e financeira da educação pública. Aos governos compete a tarefa de implementar o discurso político e as metas traçadas para a educação pública. Aos educandos, o desafio de fortalecer a busca por novos conhecimentos.

É importante lembrar que, a educação é um ato de conhecimento. Conhecer permite criar argumentos e agir de forma “autônoma” no processo educativo. Agir de forma autônoma implica conhecer a legislação, as diretrizes curriculares, as necessidades dos educandos etc. para, então, tomar uma decisão.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei nº 9394/96. Disponível em: portal.mec.gov.br/arquivos/p.f./ldb.pdf. Acesso em 12 dez. 2014.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.16 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.2002.

 

____ Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1997.

____ Educação de adultos: algumas reflexões. In: Gadotti, M.; ROMÃO, J. E. (Org.). Educação de jovens e adultos: teoria prática e proposta. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2005.

 

Tag: EJA disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/tag/eja  Acesso 05/11/2021.

 

KLEIMAN, A.B. Histórico da proposta de (auto) formação: confrontos e ajustes de perspectivas. In: KLEIMAN, A.B. Signorini et al. O ensino e a formação do professor: alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Artmed,2000. P.17-39.

 

MIZUKAMI, M. da. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.

 

MOURA, T. M. de. M. A prática pedagógica dos alfabetizadores de jovens e adultos: contribuições de Freire, Ferreiro e Vygotsky. Maceió: Edufal, 1999.

 

ANTÔNIA DE SOUZA. Maria. Educação de jovens e adultos. Curitiba, 2011.

 

BARRETO, J. C.; BARRETO, V. A formação dos alfabetizadores. In: GADOTTI, M.; ROMÃO, J.E (Org.). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2005.