Buscar artigo ou registro:

 

 

O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM TEMPOS DE PANDEMIA

Angélica de Freitas Nunes Rocha

Lisbeth da Silva Pohu

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o brincar das crianças da Educação Infantil durante a pandemia do Covid-19. A brincadeira é um dos eixos norteadores das práticas pedagógicas da Educação Infantil definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI (2009). Com o fechamento das escolas devido à pandemia do Covid-19, profissionais da educação se viram desafiados a encontrar novos caminhos que pudessem garantir esse direito, dentro dos limites impostos pela pandemia. Portanto, como garantir as crianças brincadeiras que proporcionem experiências e aprendizagens em tempos de pandemia? Apesar do distanciamento social, com todos em casa, experimentar momentos de brincadeiras é uma grande oportunidade para novos aprendizados, para isso é fundamental compreender a brincadeira, onde a criança comunica-se consigo e com o mundo. Para a realização deste trabalho foi utilizado pesquisa bibliográfica, baseada na leitura de livros, revistas, artigos e sites. Sendo assim, o estudo revelou que proporcionar brincadeiras no cenário pandêmico é um desafio para os educadores, entretanto é possível e importante, pois o momento de isolamento que impossibilita o contato social, o brincar em casa ajuda as crianças a superarem restrições causadas pela pandemia do Covid-19.

 

Palavras chaves: Educação Infantil. Brincadeiras. Pandemia.

 

INTRODUÇÃO

 

O brincar é a linguagem inerente da infância, não existe uma criança que não saiba brincar, isso faz parte do seu desenvolvimento, é por meio deste ato que a criança pode reproduzir o seu cotidiano, e por isso é fundamental considerar a brincadeira como uma parte essencial do processo de formação infantil. O brincar facilita e auxilia a criança no processo ensino-aprendizagem, pois proporcionará situações de experiências.

Com a chegada da Covid 19 no Brasil, o Ministério da Saúde (2020) adotou várias medidas para impedir a disseminação do vírus, uma das medidas que impactou diretamente a escola foi o distanciamento social, e como a escola é um lugar que inevitavelmente gera aglomeração houve a necessidade de suspensão das aulas presenciais. Diante da nova realidade muitos municípios tiveram que pensar em novas metodologias para garantir a criança o seu direito ao ensino. Medidas como o uso de meios tecnológicos para desenvolver as atividades educacionais e se aproximar das famílias foram adotados, tais como: aulas online ou remotas, vídeos gravados e disponibilizados por aplicativos, atividades impressas entregues aos responsáveis dos alunos, etc. Claramente a escola não estava preparada para mudanças tão bruscas, principalmente a Educação Infantil, pois é uma etapa que exige muita interação social. Então, algumas preocupações surgem entre os profissionais da educação, como trabalhar brincadeiras pelas telas dos celulares, tablets e computadores, que proporcionem experiências e aprendizagens em tempos de pandemia, visto que as brincadeiras fazem parte do processo de ensino-aprendizagem das crianças pequenas?

 A brincadeira é considerada um importante fator no processo de ensino-aprendizagem da Educação Infantil, e por isso o presente trabalho tem como objetivo refletir sobre o brincar das crianças pequenas e bem pequenas durante a pandemia do Covid-19. O trabalho também traz algumas considerações acerca da importância do brincar no desenvolvimento infantil e o papel do professor da Educação Infantil no brincar. Para a realização do trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, com leituras de livros, revistas, sites, artigos, etc.

 Todas as etapas de ensino estão sofrendo com a suspensão das aulas presenciais e tentando adaptar-se às aulas remotas. Aqui trataremos, em especial da Educação

Infantil, salientando como o uso da brincadeira pode ajudar a contornar esse momento de dificuldades.

 

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

 

 Segundo a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), documento do Ministério da Educação que norteia o ensino no país, durante a educação infantil o principal é promover interações e brincadeiras que são os eixos estruturantes dessa etapa de ensino, experiências nas quais proporcionam as crianças construções de conhecimentos por meio de suas ações e interações com outras pessoas, o que possibilita aprendizagens e socialização. Segundo a Base Nacional Comum Curricular:

 

A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. (BRASIL,2018, p.37)

 

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) que é o guia que orienta as práticas didáticas dos profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos de idade, o mesmo nos fala sobre a importância do brincar no processo ensino-aprendizagem.

 

No ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis, tomando consciência disto e generalizando para outras situações. (BRASIL, 1998, p. 27).

 

 O ato de brincar faz parte do mundo da criança, onde a criança estiver presente lá estará a brincadeira. O brincar é uma linguagem e é por meio do brincar que a criança desenvolve a sua identidade e autonomia segundo o Referencial Curricular Nacional:

 

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia da criança, desde muito cedo, pode se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde ter determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação… A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre pessoas. (BRASIL, 1998, p.22)

 

 A autora Kishimoto (1997) diz que brincando a criança experimenta, inventa, descobre, além disso desenvolve habilidades, linguagem, estimula a curiosidade, pensamento, imaginação e autoconfiança. Ainda de acordo com a autora o brincar dá a criança o poder de tomar decisões, expressar seus sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo. Kishimoto (2010, p.1) enfatiza que:

 

Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver.

 

Winnicott (1975, p.80) aponta que “é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral; e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”. Segundo Oliveira (2000) a brincadeira é o modo como as crianças têm de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ela não é unicamente uma questão de diversão, mas também de construção, aprendizagem, trocas e socialização. Sobre isso Santiago (2000) diz:

 

O “brincar” não é simplesmente um meio de gastar energia ou passar o tempo, pois, “para além dos limites de ocupação puramente biológica ou física, é uma função significativa. No processo humano de brincar, relacionamentos são criados com objetos, situações e pessoas, o desenvolvimento cognitivo é aprimorado, especialmente para resolver problemas e criar novos conhecimentos. (2000, p.12)

 

O psicólogo Vygotsky (1998) já defendia na sua teoria interacionista a importância do brincar para a criança se desenvolver. Segundo ele o sujeito se forma nas relações com os outros, portanto o brincar rompe a visão de apenas uma atividade para diversão. Nessa perspectiva o autor considera a brincadeira como uma ferramenta de expressão que dá a criança a capacidade de imaginar, conhecer e fazer planos, principalmente ao brincar de faz-de-conta, considerado um verdadeiro “laboratório da infância”.

 

Por meio desta brincadeira, a criança cria, reinventa e se apropria da realidade circundante de forma simbólica, sobretudo por este tipo de brincadeira ser característico das crianças que aprendem a falar, e que são capazes de se envolver numa situação imaginária.(ALMEIDA, 2008, on-line)

 

Portanto, a brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, pois não somente uma atividade de diversão, ela cria situações em que a criança é estimulada a desenvolver suas potencialidades, a interagir com o mundo, a criar e reinventar.

 

 O PAPEL DO PROFESSOR NO BRINCAR

 

Se o brincar é o eixo estruturante da Educação Infantil e facilita a aprendizagem, então, é necessário que o professor seja a favor dessa forma de educação e conduza sua prática pedagógica voltado para o brincar, visando atender todas as necessidades dessa etapa. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, educar é:

 

[…] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural […]. (BRASIL, 1998, p. 23).

 

Desse modo, o professor tem como objetivo principal oportunizar as experiências necessárias para que a criança de 0 a 6 anos se desenvolva plenamente em todos os aspectos, para que isso ocorra a Base Nacional Comum Curricular (2017, p. 39) aponta que cabe ao educador “refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças”.

O professor deve ser um facilitador ou mediador das brincadeiras, podendo em alguns momentos orientar e dirigir o processo, e em outros momentos deixar que as crianças sejam responsáveis pelas suas próprias brincadeiras. Conforme o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil:

 

O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança (BRASIL, 1998, p. 30).

 

Oliveira (1992) diz que o educador pode desempenhar um importante papel nas brincadeiras se conseguir discernir os momentos em que deve somente observar, em que deve intervir na coordenação da brincadeira ou em que deve participar como um integrante das mesmas.

 

Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem (BRASIL, 1998, v.1 p.28).

 

Portanto, o professor, ao fazer intervenção mediadora durante o brincar que estimule e problematize as ações das crianças, está contribuindo para o seu desenvolvimento integral.

Quando o professor participa ativamente convidando e propondo brincadeiras ou observando as manifestações das crianças, suas falas e comportamentos, ele de alguma forma está percebendo a importância do brincar. Ele cria situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada, assim dão a criança a oportunidade de escolherem objetos, papéis e companheiros com quem brincar, essas situações permitem a criança a desenvolver a imaginação, a criatividade, aprende a conviver e interagir com os demais.

 

A atuação do Educador infantil não deve restringir-se à observação e a oferta de brinquedos: ele intervém no brincar, não para apartar brigas ou decidir quem fica com o quê, ou quem começa ou quando termina, e sim para estimular a atividade mental, social e psicomotora das crianças, com questionamentos e sugestões de encaminhamentos. (FORTUNA, 2011, p.10)

 

Segundo Kishimoto (2002) o material pedagógico da criança na educação infantil é o brinquedo, essa ferramenta contribui para a criança soltar a sua imaginação, produzir, criar e recriar novas realidades. Sobre disponibilização e organização de brinquedos o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil cita uma sugestão:

 

Os materiais pedagógicos, brinquedos e outros objetos estejam à disposição, organizados de tal forma que possam ser encontrados sem a necessidade de interferência do adulto, dispostos em altura ao alcance das crianças, em caixas ou prateleiras etc. sobretudo em ambientes especialmente organizados para brincar, como casinhas, garagem, circo, feira etc. (BRASIL,1998, p.48)

 

 A escola deve ser um local que ofereça a criança momentos que possa participar de jogos e brincadeiras, no dia-a-dia o professor deve disponibilizar as crianças vários materiais para que assim tenham a oportunidade de explorar e criar suas próprias brincadeiras.

O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil relata:

 

Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Nesse sentido, as instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais ele lhe possibilitará a ampliação de conhecimentos acerca de si mesmas, dos outros e do meio em que vivem. (BRASIL,1998, p.15)

 

 

É inegável que a presença das brincadeiras na sala de aula torna o processo de ensino aprendizagem mais prazerosa e possibilita uma abertura para o professor aproximar-se do mundo da criança e observá-la com mais propriedade. Portanto, é função do professor resgatar, preservar e valorizar o brincar, pois brincando a criança amplia suas possibilidades e potencialidades, e por isso, precisa ofertar as atividades lúdicas na sua prática educativa cotidianamente.

 

O BRINCAR NA PANDEMIA

 

Brincar nos lembra criança se divertindo sem preocupações, e em tempos de pandemia a brincadeira se torna ainda mais importante, pois alegra e fortalece o vínculo familiar. Nesse momento pandêmico as brincadeiras precisam ser estimuladas, pois contribuem para que as crianças se desenvolvam integralmente.

 

Toda brincadeira seja individual ou coletiva, com o próprio brinquedo ou com materiais que tenham outras funções, permite que a criança possa, por meio da representação simbólica, criar situações imaginárias das quais podem surgir elaborações importantes para o seu desenvolvimento. (LOUS,2020, on-line)

 

Diante do cenário da pandemia as crianças precisaram se adaptar ao isolamento social e ao ensino a distância, o ensino remoto ou híbrido se tornou a saída para que os alunos não deixassem de estudar, no entanto, com a necessidade de suspensão das aulas presenciais, muitas questões foram surgindo a respeito do ensino remoto para as turmas da Educação Infantil, pois essa etapa é vista como uma das mais importantes da educação básica. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no seu Art. 29 (LDBEN nº 9.394/96).

 

A educação infantil é considerada a “primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” (BRASIL,2017, p.22)

 

 

A escola coube o papel de orientar as famílias e responsáveis com planejamentos e roteiros explicativos que os mesmos pudessem desenvolver junto com a criança em casa. Desta forma, a família passou a contribuir como mediadora no processo de ensino aprendizagem e tiveram a oportunidade de participar de forma ativa na educação escolar da criança.

O Sistema de Ensino Positivo (2021, on-line) diz que “é preciso compreender que o momento pandêmico expôs o fato de que não é papel exclusivo da escola manter a criança engajada com o processo de aprendizado”. Portanto, escola e família são instituições complementares, uma necessita da colaboração da outra. Nesse cenário os familiares também são responsáveis no processo de ensino-aprendizagem dos filhos, que exige não apenas o acompanhamento das atividades, mas o uso adequado de equipamentos eletrônicos e acesso à internet.

Não se pretende que os pais ou outros familiares assumam o papel dos professores; o que se deseja é que a família colabore, criando condições para que a criança vivencie as situações propostas pelo professor.(DUMONT, 2021, on-line)

 

 Carneiro (2020) em seu artigo diz que a educação e a brincadeira são por muitas vezes deixadas pelos pais como um papel exclusivo da escola. Os mesmos se sentem perdidos, não sabem o que fazer, porque também não brincaram, e por essa razão oferecem tablets, celulares e videogames para entretê-los, sem ter a preocupação de orientá-los.

As consequências do uso excessivo desses aparelhos podem desencadear alguns malefícios, como, a falta de imaginação, dificuldades de atenção e concentração elementos essenciais para o desenvolvimento sensorial e motor, além disso ainda pode acarretar ansiedade e alteração de humor.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (2019) divulgou um novo manual, com o objetivo de orientar a família de crianças e adolescentes em contato constante com tecnologias digitais. O mesmo traz duras críticas sobre o hábito de oferecer cada vez mais cedo e com frequência esses aparelhos como forma de distração para os filhos. Essa prática é prejudicial, pois é diferente de brincar ativamente, um direito universal de todas as crianças em fase de desenvolvimento.

Segundo Pereira Junior e Machado (2021) com a modalidade de ensino remoto, especialmente no caso da Educação Infantil, os professores precisaram ressignificar seu trabalho pedagógico. Foi necessário ter uma ideia diferente a cada dia para trabalhar com as crianças, ainda mais quando as mesmas estão a muito tempo sem frequentar a escola.

Mesmo diante dos desafios impostos pelo ensino a distância, os professores têm buscado maneiras de manter o vínculo com as crianças, e tem se desdobrado para proporcionar diversos tipos de atividades lúdicas que estimulem a criança durante esse processo de isolamento social, pois é um desafio realizar brincadeiras e jogos através dos smartphones, tablets e computadores a distância com crianças da Educação Infantil, dado que, para as crianças pequenas as atividades têm o objetivo de desenvolver a aprendizagem através da interação e brincadeiras.

 Os professores ainda enfrentam barreiras ao trabalhar com as brincadeiras, pois ficaram muito mais dependentes das famílias para promover o aprendizado e desenvolvimento das crianças. No meio familiar o brincar ainda é pouco valorizado, já que é visto somente como uma atividade de diversão. O professor ainda precisa lidar com falta de tempo que o trabalho impõe aos pais, falta de conhecimento e desinteresse dos mesmos para que se envolvam nas brincadeiras juntos aos filhos.

 

[…] o tempo compartilhado entre pais e filhos é cada vez mais escasso: trabalha-se cada dia mais para o aumento do poder aquisitivo (e consequentemente do consumo), e a mulher tem uma contribuição crescente na fatia produtiva da população, ficando bastante tempo fora de casa. Pais chegam tarde em casa, crianças atarefadas, refeições solitárias ou feitas fora do lar. A família se reúne cada vez menos para conversar sobre o cotidiano […] (CAMPOS; SOUZA, 2003, p. 13).

 

Diante deste cenário, ao lidar com a falta de tempo e conhecimento da família o educador deve orientar às mesmas, dar sugestões e explicar que a brincadeira contribui significativamente na aprendizagem dos seus filhos.

Com as aulas remotas a tecnologia tornou-se a principal ferramenta para a preservação do vínculo entre famílias, crianças e escola no desenvolvimento das atividades. Para manter esse vínculo o professor deve planejar e gravar suas aulas priorizando histórias, músicas e principalmente as brincadeiras. Conforme a resolução do Conselho Nacional de Educação (2020, on-line) no seu Artigo 17, inciso 1º:

 

As instituições escolares de Educação Infantil que adotarem processos pedagógicos não presenciais devem priorizar atividades de estímulo cognitivo e socioemocional e experiências lúdicas com espaço para brincadeiras e estimulação de habilidades específicas propostas nos campos de experiência pela BNCC.

 

Nessa conjuntura em que a brincadeira precisa acontecer em casa, o brincar em família é cada vez mais importante para as crianças, por isso os professores precisam organizar suas propostas e atividades de forma cada vez mais sensível e acolhedora as várias realidades e rotinas familiares. Manter o corpo ativo ganha importância especial nesses tempos de isolamento, para as crianças, isso significa brincar com movimento, por isso brincadeiras que desenvolve a consciência corporal possibilitam trabalhar a coordenação motora do corpo todo devem estar presentes nos planejamentos para serem desenvolvidas pelas famílias com a criança. Segundo Pereira Junior e Machado (2021) atividades como bambolê, jogos com bola, de dançar, empilhar copos, andar sobre uma linha reta desenhada no chão, jogo (cabeça, ombro, joelhos e pés) entre outras atividades tira o foco dos eletrônicos e coloca o corpo em movimento.

Ainda que as consequências do isolamento social da pandemia de Covid-19 no desenvolvimento das crianças ainda sejam desconhecidos, a chave para superá-los pode estar nas simples brincadeiras em casa. Brincar com elementos, tais como: folhas das árvores, pedaços de tronco, flores, pedras, água, o seu próprio corpo, utensílios de cozinha, vassouras, panos, papéis, as roupas, sapatos, são ótimas oportunidades para a criança ser criativa, inventar novas brincadeiras e brinquedos.

 A seguir algumas sugestões de brincadeiras que podem ser desenvolvidas pela família em casa com os filhos durante o ensino remoto com a finalidade de auxiliar a brincarem com as crianças e fortalecer ainda mais os vínculos.

 

 Circuito motor:

A família pode organizar um circuito que incentive o engatinhar, rastejar, buscar objetos, puxar e empurrar, pular, mover a cabeça, corpo e membros, os materiais para o desenvolvimento da atividade pode ser: móveis da casa mesmo como cadeiras, pufes, almofadas, galões de água vazios etc. Essa atividade auxilia o desenvolvimento da coordenação motora, estruturação do espaço temporal, esquema corporal e o equilíbrio.

 

Faz de conta:

Nessa brincadeira a família pode contar histórias, os pais podem ajudar a montar uma cabana e preparar uma história bem legal, após o momento de contação a criança pode imitar os personagens. A brincadeira desenvolve o gosto pela leitura, raciocínio, concentração, criatividade e curiosidade.

 

Pular corda:

Brincadeira muito fácil de realizar, pois é necessário somente de uma corda. Essa estimula a agilidade, coordenação motora, condicionamento físico, cooperação, sequência e ritmo, lateralização e socialização.

 

======== Percebe-se que há uma infinidade de possibilidades quando se trata de brincadeiras aplicadas às crianças da Educação Infantil, que desenvolverão sua autonomia e uma rica experiência na relação das crianças com o mundo. Sobre isso a autora diz:

 

São numerosas e variadas as experiências expressivas, corporais e sensoriais proporcionadas às crianças pelo brincar. Não se podem planejar práticas pedagógicas sem conhecer a criança. Cada uma é diferente, tem preferências conforme sua singularidade. Em qualquer agrupamento Infantil, as crianças avançam em ritmos diferentes. (KISHIMOTO, 2010, p.5)

 

Portanto, é fundamental que o professor se adeque as mudanças que surgem repentinamente, buscando sempre outros mecanismos que favoreça o processo de ensino aprendizagem de qualidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É fundamental considerar a brincadeira como uma parte essencial do processo de formação infantil, brincando a criança se desenvolve, aprende, coloca em prática seus direitos e adquire inúmeras experiências que contribuem para seu desenvolvimento integral.

A pandemia da Covid-19 trouxe muitos desafios e o impacto é sentido por todos: educadores, pais e crianças. Os professores trocaram os quadros pelas telas e aplicativos, os pais junto aos professores assumiram o protagonismo das práticas pedagógicas e as crianças se viram em casa isoladas sem poder ir à escola. Portanto, o brincar se tornou ainda mais sério neste cenário, se antes as brincadeiras ocorriam na maioria das vezes na escola, agora elas se concentram no espaço da casa.

Oportunizar brincadeiras entre as crianças da Educação Infantil é muito difícil no ensino a distância, mas não é impossível. A casa das crianças é um ambiente muito propício para várias aprendizagens e trata-se de um ambiente que pode proporcionar diferentes experiências, desde que a escola oriente as famílias quanto a importância da realização das brincadeiras para o desenvolvimento da criança, como também planejar as atividades lúdicas respeitando a realidade e rotina das famílias. Se antes já existia a necessidade de parceria entre família e escolas, no momento atual essa relação é um dos pontos centrais para possibilitar a aprendizagem das crianças.

Portanto, diante do exposto até aqui, vimos que brincadeiras simples que colocam a criança em movimento ou mesmo brincadeiras com elementos encontrados em casa pode tornar uma fábrica de aprendizado e ainda garantir o direito ao brincar.

 

BIBLIOGRAFIA

 

ALMEIDA, Márcia Tereza F. O Brincar e o Professor de Educação Infantil. ed.34, abril.2008 Disponível em: <https://avisala.org.br/index.php/assunto/reflexoes-do-professor/o-brincar-e-o-professor-de-educacao-infantil/>. Acesso em: 11 set. 2021.

 

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Volume 1 — Introdução Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 2 – Formação Pessoal e Social. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 3 – Conhecimento de Mundo. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: http:<//basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf> Acesso em: 11 set. 2020.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 2, de 10 de dez. De 2020. dISPONÍVEL EM: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-cne/cp-n-2-de-10-de-dezembro-de-2020-293526006. Acesso em: 06 de set.2021

 

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (Lei nº. 9.394), de 20 de dez. 1996.

 

brasil. Ministério da saúde. Conselho nacional da saúde. RECOMENDAÇÃO Nº 022, DE 09 DE ABRIL DE 2020. disponível em:https://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1112-recomendac-a-o-n-022-de-09-de-abril-de-2020. Acesso em: 08 de set. De 2021.

 

CAMPOS, Cristiana C. G.; SOUZA, Solange J. Mídia, cultura do consumo e constituição da subjetividade na infância. Psicologia: ciência e profissão. 2003, v. 23, n. 1, pp. 12-21. ISSN 1414-9893. disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5915878. Acesso em: 06 de set. 2021.

 

CARNEIRO, Maria Angela Barbato. O brincar em tempos de pandemia. Disponível em: <http://www4.pucsp.br/educacao/brinquedoteca/downloads/artigo-o-brincar-em-tempos-de-pandemia.pdf>. Acesso em: 27 de ago. 2021

 

DUMONT, Silvia. Ensino remoto na educação infantil: um desafio para escolas e famílias.28 de maio de 2021. Disponível em: <https://www.sistemapositivo.com.br/como-enfrentar-desafios-do-ensino-remoto-na-educacao-infantil/>. Acesso em: 27 de ago. 2021

 

FORTUNA, Tânia Ramos. Brincar e aprender: a importância do lúdico para as crianças pequenas. Revista Pátio – Educação Infantil. Ministério da Educação/FNDE, ano IX, nº 27, abril/junho, 2011.

 

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Brinquedo e brincadeira: Usos e significações dentro de contextos culturais. In SANTOS, Santa Marli Pires dos (org.) 4 ed. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: vozes, 1997.

 

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. V. 2, 2010.

 

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cortez, 2002.

 

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil.  Seminário Nacional: currículo em movimento – perspectivas ATUAIS. Belo Horizonte, 2010.

LOUS, Rita. Em tempos de pandemia, incentivar brincadeiras é essencial. Disponível em: <https://pequenoprincipe.org.br/noticia/em-tempos-de-pandemia-incentivar-brincadeiras-e-essencial/>. Acesso em: 27 de ago. De 2021.

 

OLIVEIRA, A. et al. Creches: criança, faz de conta & cia. Petrópolis: Vozes, 1992.

PEREIRA JUNIOR, Lucimar da Silva; MACHADO, Joana Bartolomeu. Educação Infantil em tempos de pandemia: desafios no ensino remoto emergencial ao trabalhar com jogos e brincadeiras. Revista Educação Pública, v. 21, nº 6, 23 de fevereiro de 2021. Disponível em: <https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/6/educacao-infantil-em-tempos-de-pandemia-desafios-no-ensino-remoto-emergencial-ao-trabalhar-com-jogos-e-brincadeiras>. Acesso em: 27 de ago. de 2021.

SANTIAGO, M. P. O lúdico na formação do educador. São Paulo, Manole, 2000.

 

sociedade brasileira de pediatria. Manual de Orientação #menos tela #mais saúde. Dez. 2019. disponível em:https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22246c-ManOrient_-__MenosTelas__MaisSaude.pdf. Acesso em: 08 de set.2021

 

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1998.

 

WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.