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A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO: UM NOVO OLHAR PARA A FORMAÇÃO DO EDUCADOR

Claudinéia Silva Macêdo

 

RESUMO

O artigo a seguir apresenta a concepção de ludicidade por parte de professores de educação infantil e anos iniciais. Assim a perspectiva apresentada trata o lúdico como possibilidades da utilização de diferentes recursos pedagógicos em concordância com a orientação metodológica do trabalho sendo assim, o educador ao conhecer os aspectos da ludicidade na educação constrói o conhecimento relativo ao que faz e porque o faz e aos diferentes instrumentos pedagógicos e linguagens para adaptá-las melhor nas novas situações educativas. O entendimento do jogo como recurso pedagógico possibilita a percepção de que, se a escola tem objetivos a atingir e se o aluno busca a construção do seu conhecimento. O jogo utilizado em sala de aula torna um meio para a realização dos objetivos educacionais, e o aluno, ao praticá-lo não se limita à sua ação livre, iniciada e mantida pelo prazer de jogar.

 

PALAVRAS CHAVE: Aprendizagem. Lúdico. Socialização.

 

Justificativa

 

Diante da proposta deste artigo, precisamos refletir sobre a formação do educador no que diz respeito ao lúdico como recurso pedagógico. Quando os professores entendem o significado das experiências lúdicas vivenciadas por crianças e alunos da educação básica, podem, na formação lúdica, conhecer-se como pessoas, reconhecer suas potencialidades e limites, lidar com seus obstáculos e desafios e ter objetivos claros sobre a importância do jogo e do brinquedo para a vida do ser humano em todas as suas fases.

O lúdico traz muitos benefícios para a construção da aprendizagem da criança, percebe-se que ela aprende brincando. Isso acontece porque com o lúdico a criança se envolve de maneira prazerosa, com mais significado. Sendo assim, as atividades lúdicas têm outro valor para a criança, ou seja, elas se identificam mais com essas atividades e como as crianças aprendem melhor brincando, deve-se ter cuidado para que sejam atividades significativas.

Nessa perspectiva, acredito que uma das metodologias muito importantes a serem trabalhadas em sala de aula, é desenvolver atividades lúdicas, pois elas apresentam grandes benefícios à educação, auxiliando no desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança, através de brincadeiras elas desenvolvem suas habilidades, obtém estímulo para seu crescimento e ajuda em sua competitividade.

O brincar proporciona aprendizagem e integra os alunos socialmente. Com a ludicidade espera-se que o professor consiga tornar suas aulas mais produtivas e estimuladoras.

 

INTRODUÇÃO

       

A atual perspectiva sobre os jogos infantis tem levado os profissionais da educação a estimular a prática do jogo como forma de proporcionar a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Estudiosos apontam o jogo como instrumento pedagógico muito significativo, oferecendo, assim, diferentes possibilidades educacionais. O objetivo é possibilitar a compreensão de que a formação lúdica permite ao futuro educador ter uma visão clara sobre a importância do jogo, do brinquedo e da brincadeira para a vida da criança, atendendo a necessidades e interesses do educando e do educador no processo ensino-aprendizagem.

A ludicidade integra cognição, afetividade e motricidade, possibilitando-lhe o encontro consigo mesmo. As atividades lúdicas permitem, assim, que o indivíduo vivencie sua inteireza, portanto sua corporeidade (PEREIRA, 2005)

Levar a ludicidade para as crianças significa estimular a autonomia, a criatividade e a liberdade de brincar, e isso supõe olhar de outro modo para o lúdico: como um fim em si mesmo e não como um meio para alcançar os objetivos didáticos, como possibilidade de envolvimento e de alegria.

Nesse sentido, as reflexões buscam ampliar essa visão e dialogar que é possível uma educação integral, humana, plena de significados e prazer para o desenvolvimento e aprendizagem da criança.

 

A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO

 

Inicialmente, é necessário entender que o termo lúdico remete às ações do brincar que se manifestam por toda a existência humana, apresentando característica de lazer e manifestando-se como uma forma de expressão da evolução humana. Isso porque os jogos e as brincadeiras se modificam de geração para geração. O lúdico também se manifesta através do jogo, do brinquedo e da brincadeira, termos que, conceitualmente, apresentam diferenças.

Quanto à definição de jogo, os estudos feitos por Kishimoto o definem como “uma ação voluntária da criança, um fim em si mesmo, não pode criar nada, não visa um resultado. O que importa é o processo em si de brincar que a criança se impõe”. Para essa autora, o jogo possui como característica marcante a existência de regras. No jogo, as situações caracterizam-se por um quadro no qual a realidade interna predomina sobre a externa. O sentido habitual é modificado por um novo, colocando a imaginação em ação.

Já o brinquedo, de acordo com Kishimoto, é entendido sempre como um objeto, suporte da brincadeira ou do jogo. Historicamente, o brinquedo como objeto não pertence a uma categoria única, apresentando várias manifestações, como a confecção com materiais perecíveis, como raminhos, raízes vegetais, e objetos do mundo doméstico que passam a ter sentido de brinquedo quando incide sobre eles a função lúdica.

A brincadeira, por sua vez, encontra fundamento na fala de Kishimoto quando é apontada como uma atividade espontânea da criança. É construída pela criança uma ponte entre a fantasia e a realidade, o que leva a lidar com complexas dificuldades psicológicas, como a vivência de papéis e situações não bem compreendidas e aceitas em seu universo infantil.

Nessa perspectiva, a brincadeira infantil possibilita à criança a imitação de diferentes papéis, que fazem parte do seu cotidiano. A imitação também é um elemento que garante à criança experimentar atitudes que, se fossem realizadas de forma verdadeira poderiam até colocá-la em risco, como nas brincadeiras de cozinhar, dirigir, consertar móveis e aparelhos eletrônicos.

Piaget propõe três sucessivos sistemas de jogo, quais sejam o jogo de exercício, o simbólico e o de regras. O autor analisa o jogo integrado à vida mental e caracterizado por uma particular orientação do comportamento, que ele denomina assimilação.

Na assimilação, o sujeito incorpora eventos, objetos ou situações dentro de formas de pensamento, que constitui estruturas mentais organizadas. Na acomodação, as estruturas mentais existentes reorganizam-se para incorporar novos aspectos do ambiente externo. Durante o ato de inteligente, o sujeito adapta-se para incorporar novos aspectos do ambiente externo, enquanto, ao mesmo tempo mantém sua estrutura mental intacta. O brincar, nesse caso, é identificado pela primazia da assimilação sobre a acomodação.

Para o autor, o jogo é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, pois, ao representar situações imaginárias, a criança tem a possibilidades de desenvolver o pensamento abstrato. Na atividade lúdica, a criança expressa sua personalidade, o que contribui para e evolução da imagem do corpo.

Nessa perspectiva, por meio da prática pedagógica do jogo, o professor pode conhecer as expressões da personalidade do educando, porque, nele, a criança se liberta de situações difíceis: nele, as situações e os objetos representados e as ações não são o que aparentam se.

No quadro a seguir estão apontados alguns conceitos e ideias sobre os termos jogo, brinquedo e brincadeira, tendo como referência os estudos de Kishimoto.

 

Elementos existentes no jogo, no brinquedo e na brincadeira.

Jogo

Brinquedo

Brincadeira

Regras

Objeto

Imaginação

Competição

 

Faz-de-conta

Cooperação

 

Socialização

Lazer

 

Lazer

Cognição

 

Cognição

Socialização

 

Interação

Imaginação

 

Regras

Dirigido

 

Espontânea

 

A propósito, Santos observa que, apesar de haver muitas pesquisas e reflexões teóricas a respeito do processo educacional e da formação de educadores, ainda não existem disciplinas nos cursos de formação superior na área da educação que contemplem, o trabalho com a subjetividade.

Entre as questões que mobilizam os educadores, encontra-se a organização de propostas para a formação profissional fundadas na estreita articulação entre teoria e prática. Pesquisa tem apontado que há uma constante necessidade de a escola trabalhar conteúdo programático, correspondendo aos anseios de um aluno que hoje é mais questionador. Assim, os professores têm se esforçado para buscar metodologias que atendam às necessidades e aos interesses de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, os debates vêm indicando a necessidade de uma formação mais aprofundada para os profissionais onde levem em consideração os conhecimentos já acumulados no exercício profissional.

Segundo Santos “a falta de clareza do perfil profissional se reflete nos currículos, tornando os cursos fragmentados e distantes da prática pedagógica desenvolvida nas escolas”.

É necessário compreender que a utilização do lúdico como recurso pedagógico na sala de aula pode ser um caminho possível para ir ao encontro da formação integral das crianças e do atendimento de suas necessidades. Para que isso se torne realidade no contexto escolar, faz-se necessário refletir sobre a formação lúdica dos professores da educação infantil e dos anos iniciais.

Segundo Costa educar é ir além da transmissão de informações ou de colocar à disposição do educando apenas um caminho, limitando a escolha ao seu próprio conhecimento. Partindo desse ponto de vista, cabe ao educador conhecer a possibilidade da utilização de diferentes recursos pedagógicos em consonância com a orientação metodológica do seu trabalho.

Em relação ao conhecimento e à pesquisa sobre o lúdico, o educador que optar por utilizar os jogos e as brincadeiras como recurso pedagógico pode refletir sobre a importância de conhecer como a ludicidade está presente no cotidiano infantil.

Para Campagne, citado por Kishimoto, a atuação do professor incide sobre a valorização das características e das possibilidades dos brinquedos e sobre possíveis estratégias de exploração. O docente, nesse sentido pode oferecer informações sobre diferentes formas de utilização dos brinquedos, ampliando o referencial infantil. Nesse sentido, a ludicidade requer estudo, conhecimento por parte do educador.

Embora a gente saiba que a questão não se esgota aqui, pois, apesar das reflexões teóricas a respeito da formação do educador, há muito que ser repensado, podemos sintetizar os elementos que podem auxiliar o professor a apropriar-se do jogo enquanto prática pedagógica:

- conhecimento teórico sobre o lúdico;

- observação do aluno em situações lúdicas;

- escolha de brinquedos e objetos culturais adequados;

- definições de objetivos;

- organização do ambiente lúdico.

 

Assim, na tentativa de se revelar a aprendizagem possível a partir do lúdico como recurso pedagógico, é preciso a observação do contexto que envolve a ação das crianças durante a prática pedagógica do jogo. Essa observação envolve a duração e o envolvimento das crianças nos jogos e a possibilidade de estimular suas potencialidades, como a criatividade, a autonomia, a criatividade e a expressão ao desenvolver diferentes formas de linguagem e, também os aspectos cognitivos, afetivos e sociais.

Os professores podem considerar também que, no contexto escolar, muitos aspectos podem ser trabalhados por meio da confecção e da aplicação de jogos selecionados, com objetivos como: aprender a lidar com a ansiedade, estimular a autonomia, estimular o raciocínio lógico, a criatividade, dentre outros.

As palavras de Fernandes apontam a relação entre a aprendizagem e o brincar de maneira cativante:

Aprender é apropriar-se da linguagem, é historiar-se, recordar o passado para despertar-se ao futuro: é deixar-se surpreender pelo já conhecido. Aprender é reconhecer-se, admitir-se. Crer e criar. Arriscar-se a fazer dos sonhos textos visíveis e possíveis. Só será possível que as professoras e professores possam gerar espaços de brincar- aprender para seus alunos quando eles simultaneamente construírem para si mesmo.

É através dessa perspectiva que o lúdico é um importante recurso pedagógico para a definição de ações pedagógicas adequadas a serem estudadas em cursos de formação para professores como o efeito de estimular as aprendizagens específicas dos alunos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A partir dos estudos realizados acerca do tema ludicidade e das reflexões efetivadas neste artigo, fica evidenciado a importância do lúdico na construção do saber. Sabemos que muitos são os desafios a serem enfrentados nessa área, mas considerar a importância da motivação lúdica contemplando, assim, a curiosidade e a investigação dos pequenos, é um grande passo para a termos uma educação de qualidade.

Dessa forma, impõe-se a necessidades de que os professores estudem mais a respeito e saibam identificar se um jogo é adequado a um determinado grupo, tirando proveito desse recurso.

Nesse contexto, portanto, é imprescindível repensar a formação dos educadores em educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental e trazer para os currículos de graduação a formação lúdica, para que esses profissionais atuem com conhecimento e domínio das teorias sobre os diversos tipos de jogos.

Com efeito, é importante que a educação de qualidade da criança pequena possa ser reconhecida pela sociedade como um todo e não só no plano legislativo e nos documentos oficiais.

 

REFERÊNCIAS

 

SANTOS, Marli Pires dos Santos (org.). O Lúdico na Formação do Educador. 7ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

 

KISHIMOTO, Tizuco Morchida (org.). O jogo e a educação infantil: Jogo,

brinquedo, brincadeira e a educação. 14º. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

 

SANTOS, Marli Pires dos Santos (org.). Brinquedoteca: O Lúdico em diferentes contextos. 11 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

 

FERNANDES, F. Folclore e mudança social na cidade de São Paulo. Petrópolis: Vozes, 1979.

 

FERNÁNDEZ, A. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autoriais de pensamento. Porto Alegre: Arte Médicas, 2001.

 

COSTA, S. A Formação lúdica do professor e suas implicações éticas e estéticas. Psicopedagogia on line. Educação e saúde mental.28 jun.2005. Disponível em: http://www.psocopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=692.

 

BRASIL, Referencial curricular nacional para a educação infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília:

MEC/SEF, 1998.

 

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

 

RAU, Maria Cristina Trois Dorneles. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba 2007.

 

PEREIRA, Lucia Helena Pena. Bioexpressão: a caminho de uma educação lúdica para a formação de educadores. Rio de janeiro: Mauad X: Bapera, 2005.