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A ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO: CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS E BRINCADEIRAS

Karine Aparecida da Costa[1]

Tatiane Cristina Barreto Julião

 

RESUMO

O presente estudo por meio de uma pesquisa bibliográfica baseando-se nas contribuições teóricas de pesquisadores da área, possui como objetivo levantar reflexões, analisar e destacar o processo histórico da alfabetização e letramento, adentrando em seus conceitos e posteriormente, salientando a relação e interligação da utilização de jogos e brincadeiras para o significado desse processo. Portanto, a pesquisa busca responder a seguinte problemática: quais as contribuições dos jogos e brincadeiras no processo de Alfabetização e letramento da criança? Para tanto, o trajeto metodológico que subsidiou o estudo até então, respalda-se em uma pesquisa de caráter exploratório acerca das tangentes “Alfabetização”, “Letramento”, “Jogar” e “Brincar” tendo como uma revisão de estudo entre alguns autores da área, tais como: Soares (1998), Melo (2015), Mortatti (2000), Freire (2011), Vygotsky (2009) entre outros autores que estudam a temática em questão.

 

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização. Brincar. Jogos. Letramento.

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

O presente estudo aqui intitulado como “A Alfabetização na perspectiva do Letramento: contribuições de jogos e brincadeiras” surge com o objetivo de analisar e destacar o processo histórico dessas tangentes, adentrando em seus conceitos e posteriormente, salientando a importância do letramento no processo da alfabetização e as contribuições do brincar neste contexto. Assim, justifica-se a escolha deste tema pela necessidade da realização e desenvolvimento de novos estudos, afim de contribuir para o enriquecimento da área, bem como sua literatura disponível.

Na história da educação brasileira, os conceitos e as práticas pedagógicas relacionadas à alfabetização e ao letramento passaram por várias mudanças. Acredita- se que esse fato seja decorrente dos diferentes contextos socioeconômicos, culturais e políticos que têm permeado o processo de escolarização no Brasil.

Dessa forma, o estudo buscará responder a seguinte problemática: quais as contribuições dos jogos e brincadeiras no processo de Alfabetização e letramento da criança?

Tendo esse intuito, acerca da metodologia optou-se por realizar uma pesquisa bibliográfica, no qual o trajeto metodológico consistirá em um estudo de cunho exploratório incluindo livros, documentários e demais fontes que se relacionam ao tema abordado. Com aporte teórico o presente estudo será respaldado em: Soares (1998), Melo (2015), Mortatti (2000), Vygotsky (2009) entre outros autores que estudam a temática em questão.

 

DESENVOLVIMENTO

 

 

A Alfabetização: origem e conceitos

 

 

O objeto do presente estudo se concretiza de maneiras distintas na literatura de alguns estudiosos da temática. Ligeiramente, compreende-se que a alfabetização é um processo que leva a aprendizagem inicial da leitura e escrita, ou ainda, alfabetizada é aquela pessoa que domina habilidades básicas para fazer uso da leitura e escrita. Para Val (2006), a alfabetização consiste:

 

… como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e ouras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita. (VAL, 2006, p. 19).

 

Perez (2002, p. 66) considera por sua vez que a alfabetização é um processo que “ainda que se inicie formalmente na escola, começa de fato, antes de a criança chegar à escola, através das diversas leituras que vai fazendo do mundo que a cerca, desde o momento em que nasce e, apesar de se consolidar nas quatro primeiras séries, continua pela vida afora”. Nessa visão, entende-se que o processo de alfabetização continua apesar da escola, fora da escola paralelamente à escola. De forma significativa, alfabetizar para Soares (1998) é dar acesso ao mundo da leitura.

 

É dar condições para que o indivíduo –criança ou adulto- tenha acesso ao mundo da escrita, tornando-se capaz não só de ler e escrever, enquanto habilidades de decodificação e codificação do sistema da escrita, mas, sobretudo, de fazer uso real e adequado da escrita com todas as funções que ela tem em nossa sociedade e também como instrumento na luta pela conquista da cidadania plena. (SOARES, 1998, p. 33).

 

Sobretudo, a alfabetização é então, a ação de fazer com que a pessoa se aproprie de habilidades que levam a leitura e a escrita.

Quando falado acerca da do percurso histórico da alfabetização no Brasil, tal processo se relaciona diretamente a uma sucessão de fatos econômicos, sociais, políticos, culturais e educacionais. Sobretudo, a língua escrita teve seus primórdios com os fenícios no século XIII a.C. surgindo para potencializar o desenvolvimento científico, tecnológico, psicossocial e também a divisão de classes (MELO, 2015). A fragmentação deste objeto de pesquisa é sistematizada por Soares (1998) em sua pesquisa realizada para inventariar e investigar a produção acadêmica e científica sobre alfabetização no Brasil no período de 1954-1986, na qual considera:

 

… inegável a importância de investigar o processo de construção, ao longo do tempo, do saber sobre a alfabetização e do fazer alfabetização no Brasil, desvendando as relações entre esse saber e esse fazer e o econômico, o político e o social, em cada momento histórico. (SOARES, 1989, p. 16)

 

Dessa forma, é válido indicar que a historicidade da alfabetização no Brasil ocorre nos períodos de período de 1880 a 1980, primeiramente marcada pela disputa entre os métodos sintéticos e analíticos de alfabetização e posteriormente compreendida a partir do pelo ecletismo pedagógica e, principalmente, pela dicotomia entre teoria e prática.

Morais e Silva (2012), enfatizam que entre as décadas de 1880 à 1920, aprender a ler era sinônimo de possibilidade de aquisição de novos e variados conhecimentos uma vez que escrever era muito mais um ato de boa caligrafia que um meio de se comunicar. Assim, alfabetizar tornava-se sinônimo de civilizar, disciplinar, iluminar uma sociedade teológica elevando-a a positiva. De forma sucinta, no primeiro momento a alfabetização partia do método sintético, cujo era considerado intuitivo e objetivo que auxiliaria na construção de um sistema de educação nacional com vistas a aculturar um povo bárbaro e ignorante que aqui se encontrava (MORTATTI, 2000). Ainda assim, por volta de 1890 os professores paulistas passaram a ser instruídos, através de institucionalizações e normatizações, a alfabetizar através do método analítico. Dessa forma, os anos percorridos entre 1890 e 1920 foram permeados dentro do campo da alfabetização pelo embate teórico dos defensores dos métodos sintéticos e analíticos, destacado pela difusão do Movimento da Escola Nova, onde o bom ensino, por sua vez, pautava-se na memória para decorar nomes ou sons de letras, sílabas, palavras, frases e textos, os quais, na maioria das vezes, vinculavam-se a preceitos higiênicos e patrióticos (MELO, 2015). A primeira fase deste período foi denominada por Mortatti (2000) como a “metodização do ensino da leitura”, perdurando de 1876 a 1890.

 

… para o ensino da leitura, utilizavam-se, nessa época, métodos de marcha sintética (da “parte” para o “todo”): da soletração (alfabético), partindo do nome das letras; fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons), partindo das sílabas. Dever-se-ia, assim, iniciar o ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes (método da soletração/alfabético), ou de seus sons (método fônico), ou das famílias silábicas (método da silabação), sempre de acordo com certa ordem crescente de dificuldade. Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em sílabas, ou conhecidas as famílias silábicas, ensinava-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavam-se frases isoladas ou agrupadas. Quanto à escrita, esta se restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando-se o desenho correto das letras. (MORTATTI, 2006, p. 5)

 

Partindo deste cenário, o processo de alfabetização configurava-se a partir do ecletismo pedagógico com a difusão concomitante de métodos sintético-analíticos, no qual a preocupação do ensino estava pautada na aplicação e aferição de testes que mediam o nível de maturidade necessário ao aprendizado da leitura e da escrita. Mortatti (2000) denominou este período como a bússola da educação, visto que, a partir de estudos realizados por Lourenço Filho, organizou-se um manual de aplicação dos Testes ABC, acreditando-se que eram capazes de medir e aferir o nível de maturidade necessário ao processo de alfabetização, e oferecendo, também, modelos de atividades a serem aplicadas aos educandos que necessitavam desenvolver tal prontidão. Diante disso, no período de 1920 a 1970, a alfabetização no Brasil:

 

[...] era entendida como o aprendizado da leitura e escrita, sendo o método de ensino subordinado ao nível de maturidade alcançada pelas crianças. A medida do seu nível de maturidade levava à classificação das crianças e agrupamento em classes homogêneas para a alfabetização. (SGANDERLA; CARVALHO, 2010, p. 8)

 

A década de 1960 tornou-se um período propício para disseminar o ideário da relação linear entre a apropriação da língua escrita e o desenvolvimento social e econômico que se almejava, como se o simples fato de se aprender a codificar e decodificar um código elitizado transformasse os indivíduos marginalizados em cidadãos conscientes de sua importância na manutenção e/ou transformação sócio- política e econômica. A Ditadura Militar de 1964 contribuiu para a ampliação do abismo entre teoria e prática, onde surgiam rumores acerca da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire. Entretanto, os métodos de alfabetização, principalmente o ecletismo pedagógico, prevaleciam. (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003).

Configurado a partir dos ideais de Freire, o abismo entre teoria e prática, entre as pesquisas e o fazer docente permaneceram em destaque no cenário educacional do processo de alfabetização. Portanto, Freire (2011) passava a aconselhar e evidenciar no âmbito educacional, um processo de alfabetização através do qual prevalecesse o significado da palavra, cujo objetivo fixava-se em aprender primordialmente a leitura do mundo e, através dela, a leitura da palavra.

Por fim, o final do século XX e início dos anos 2000, ficaram marcados por influências construtivistas no âmbito educacional e por consequência, o processo de alfabetização. Conforme a análise de Mortatti (2006, p. 10), foi nesse período que,

 

[...] introduziu-se no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização, resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas pela pesquisadora argentina Emília Ferreiro e colaboradores. Deslocando o eixo das discussões dos métodos de ensino para o processo de aprendizagem da criança (sujeito cognoscente), o construtivismo se apresenta não como um método novo, mas como uma “revolução conceitual”, demandando, dentre outros aspectos, abandonarem-se as teorias e práticas tradicionais, desmetodizar-se o processo de alfabetização e se questionar a necessidade das cartilhas. Assim, a partir de 1980 inicia-se o quarto momento, caracterizado como “alfabetização: construtivismo e desmetodização”. (MORTATTI, 2006, p. 10)

 

Segundo Melo (2015) teoria dialética-marxista começava a se destacar nas pesquisas das ciências humanas em território nacional, como é o caso da educação e, respectivamente, na área da alfabetização. Dessa forma, ao educador cabe não somente aplicar este ou aquele método de alfabetização, sintético, analítico ou eclético, mas reconhecer as hipóteses criadas por seus educandos em processo de alfabetização a respeito da língua escrita e, a partir de disso, desafiá-los a ir além, a colocar em jogo todos os seus conhecimentos.

 

A Importância do Letramento no processo de Alfabetização

 

 

Sabe-se de acordo com as colocações já mencionadas acima que o processo de alfabetização se refere à aquisição individual do sistema de escrita, ao “[...] domínio da técnica, domínio do código convencional da leitura e da escrita e das relações fonema/grafema, do uso dos instrumentos com os quais se escreve” (SOARES, 2004, 16). Por este fato, o letramento se faz sinônimo de alfabetismo, no qual de acordo ainda com Soares (2004) diferencia-se do termo alfabetização pelo fato deste restringir- se ao aprendizado da leitura e da escrita; e aquele, referir-se ao uso social que se dá para o conhecimento do ler e escrever. Letrar, portanto, não corresponde apenas saber ler e escrever, mas a fazer uso social da leitura e da escrita, a praticar estes conhecimentos, e responder adequadamente às demandas sociais que requerem estes conhecimentos.

Para Vygotsky (2007), o indivíduo desde seu nascimento, apropria-se dos conhecimentos construídos histórica e socialmente através da linguagem, e esta ocorre nas interações sociais. Nesse sentido, esse estudioso afirmou que as funções psicológicas são construídas e constituídas pela estrutura social. Em consonância, Rego (2002, p. 20), afirma que “os traços de cada ser humano estão intimamente relacionados ao aprendizado, à apropriação do legado do seu grupo cultural”. Sobretudo,

 

O comportamento e a capacidade cognitiva de um determinado indivíduo dependerão de suas experiências, de sua história educativa, que, por sua vez, sempre terão relações com as características do grupo social e da época em que ele se insere. Assim, a singularidade de cada indivíduo não resulta de fatos isolados, mas da multiplicidade de influências que recaem sobre o sujeito no curso do seu desenvolvimento... (REGO, 2002, p. 20)

  

Neste sentido, tendo o indivíduo desde sempre considerado como sujeito social, todas as habilidades e aptidões humanas são, nesse sentido, formadas nas relações concretas entre o homem e o mundo da cultura, tornando-se produtos e produtoras da história humana, assim, entende-se que a criança não nasce com caráter humanizado, mas se humaniza pelos seus processos de vida e de educação. (ÀRIES, 1978; VYGOTSKY, 1995; LEONTIEV, 1978). Contudo, o professor frente a este processo, deve emergir em uma prática educativa consciente e responsável assumindo uma perspectiva revolucionária em termos de desenvolvimento humano, onde neste contexto o mesmo deve ser compreendido como um mediador nos processos de ensino e aprendizagem, atuando, de acordo com Vygotsky (2009), como o organizador social do ambiente educativo. Por isso, ao conhecer a língua que ensina, o alfabetizador dá o primeiro passo para a aquisição dessa competência. Imbernón (2005, p. 32) afirma que “a competência profissional, necessária em todo o processo educativo, será formada em última instância na interação que se estabelece entre os próprios professores, interagindo na prática de sua profissão”. O conceito de letramento é explicitado por Ângela B. Kleiman, (2004) em seu estudo “Significados do Letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita”, na qual considera:

 

A palavra “letramento” não está ainda dicionarizada. Pela complexidade e variação dos tipos de estudos que se enquadram nesse domínio, podemos perceber a complexidade do conceito. Assim, se um trabalho sobre letramento examina a capacidade de refletir sobre a própria linguagem de sujeitos alfabetizados versus sujeitos analfabetos (por exemplo, falar de palavras, sílabas e assim sucessivamente), então, segue-se que para esse pesquisador ser letrado significa ter desenvolvido e usar uma capacidade metalinguística em relação à própria linguagem. Se, por outro lado, um pesquisador investiga como adulto e criança de um grupo social, versus outro grupo social, falam sobre o livro, a fim de caracterizar essas práticas, e, muitas vezes, correlacioná-las com o sucesso da criança na escola, então, segue-se que para esse investigador o letramento significa uma prática discursiva de determinado grupo social, que está relacionado ao papel da escrita para tornar significativa essa interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as atividades específicas de ler ou de escrever. [...] Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos. (p. 19)

 

Soares (2010) aponta duas principais dimensões do letramento: a individual e a social. Na dimensão individual, “[...] o letramento é visto como atributo pessoal, considerando o processo de como cada um se apropria da habilidade do ler e do escrever”. No entanto, quando o foco está na “[...] dimensão social, o letramento é visto como um fenômeno cultural, um conjunto de atividades sociais que envolvem a língua escrita, e [...] exigências sociais da língua escrita” (SOARES, 2010, p. 66-67). Além disso, o letramento é o processo de “[...] apropriação da cultura escrita fazendo um uso real da leitura e da escrita como práticas sociais” (SOARES, 2004, p. 24). Nessa perspectiva, compreende-se:

 

Se alfabetizar significa orientar a própria criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever, uma criança letrada [...] é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer da leitura e da escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes contextos e circunstâncias [...] Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita. (SOARES, 2004, p. 435).

 

Sobretudo, de acordo com Silva (2007, p. 23), entende-se que, enquanto a alfabetização refere-se às práticas de aprendizagens da leitura e da escrita pelo sujeito, no aspecto mais individualizado, de caráter pedagógico escolarizado, o letramento, para além de focalizar os aspectos “[...] sócio-históricos da aquisição da escrita, também estuda e descreve o contexto social e as demandas de que tipo de letramento emerge das práticas sociais”. Para tanto, é de suma importância na prática, conhecer e conceber formas de alfabetização condizentes com o momento histórico em que vivemos para operar transformações.

  

As contribuições do brincar e jogar neste contexto

  

Os jogos e brincadeiras, surgindo como uma necessidade social do indivíduo, para Vygotsky (1991) é parte geradora do desenvolvimento psíquico da criança, uma vez que neste ato a criança representa no simbólico, aspectos de seu entorno real, e por efeito, a mesma vai modificando o mundo e se constituindo à medida que vai exercitando suas funções de afetividade, de linguagem, de memória, de imaginação e de percepção, dentre outros aspectos. Neste sentido, pode ser afirmado mediante os estudos do autor que no ato do brincar e do jogar a criança amplia suas possibilidades, o que é possível por meio da imaginação. Sobretudo,

 

… o jogo é realizado sem intencionalidade, relaciona-se como uma atividade lúdica prazerosa fora do contexto diário na qual a criança está acostumada. Mas, também pode prender a sua atenção quando consegue concentrar e internalizar as normas e regras para cobrá-las dos colegas e dos adultos. (KISHIMOTO, 2003, p. 5)

 

De outro modo, o conceito de brincar é diferente do que do jogar, posto que a brincadeira é também uma atividade lúdica, porém, ela não necessita de regras, é um processo que permite que o indivíduo brinque livremente, sem seguir normas. Para Oliveira (2005, p. 158), o brincar:

 

Trata-se de uma oportunidade para a criança fantasiar, que abre caminho para a autonomia, criatividade, exploração de significados e auxilia na aprendizagem de regras sociais. A brincadeira permite a construção de novas possibilidades de ação e formas inéditas de arranjar os elementos do ambiente. Atua também sobre a capacidade da criança de imaginar e de representar. São os jogos ainda, instrumentos para aprendizagem de regras sociais.

 

Dessa forma, diferente do jogo, o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança, e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. (ALMEIDA, p.18).

Sob este prisma, a utilização de jogos e brincadeiras no contexto educacional aliado ao processo de alfabetização e letramento visa promover a construção do conhecimento nas crianças, sendo norteado por três princípios pedagógicos gerais que abrange três áreas: a relação das crianças com os adultos, a relação das crianças com outras crianças e sua relação com a aprendizagem. (OLIVEIRA; BAZON, 2009).

O processo de alfabetização exige uma série de observações e uma mediação significativa do educador mediante estratégias construtivas. Sobretudo, os jogos e brincadeiras representam dentro da alfabetização e letramento um meio pelo qual, a criança desenvolve-se integralmente, oferecendo ainda, um trabalho interdisciplinar ao educador.

Por meio dos jogos, o professor oferece ao aluno oportunidades de desenvolver-se constantemente, pois o aluno não estará fixado aos resultados finais desse processo, mas, ao percurso pelo qual ele realiza durante a atividade que o jogo proporciona. Ainda, possibilita ao indivíduo desenvolver um pensamento reflexivo e analítico sobre as abordagens de uma determinada atividade, e dessa forma, vai constituindo, por meio de novas estratégias e novas possibilidades de vencer um obstáculo, a ponto de construir conhecimento de forma ativa.

 

O jogo, nessa concepção, é percebido como um elemento desencadeador de situações que permitem a interrelação dos processos e mecanismos necessários à construção do conhecimento e constituem por si mesmos, situação-problema carregada de desafios ou estratégias para a resolução. (OLIVEIRA; BAZON, 2009, p. 16)

 

Nesse contexto, os jogos através do ato de brincar interligam as funções de afeto, motricidade, linguagem e outras funções cognitivas, assim, a brincadeira favorece o equilíbrio efetivo da criança e contribui para o processo de apropriação de signos sociais, tais como a alfabetização e letramento. Cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por exigir da criança o desenvolvimento de formas mais complexas de relacionamento com o mundo.

Dessa forma, é possível compreender que com o uso de jogos e brincadeiras no processo de alfabetização e letramento bem como na prática escolar como um todo, o educador pode identificar como e o que o aluno aprende, onde estão suas dificuldades e, a partir disso, elaborar novas estratégias de ensino que visem sanar as dificuldades detectadas. Sendo assim, “a ludicidade é uma aliada do ensino e aprendizagem, mas também pode apontar as falhas nesse processo, servindo assim, como avaliação diagnóstica do desempenho do aluno e ajudando o professor a melhorar a práxis educativa”. (RAU, 2013, p.59).

 

METODOLOGIA

 

Segundo Strauss & Corbin (1998), o método de pesquisa é um conjunto de procedimentos e técnicas utilizados para se coletar e analisar os dados. O método fornece os meios para se alcançar o objetivo proposto, ou seja, são as “ferramentas” das quais fazemos uso na pesquisa, a fim de responder nossa questão.

Dessa forma, para solucionar a problemática da pesquisa de forma a atingir todos os objetivos propostos, o trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, na qual o procedimento metodológico a ser adotado se finda como uma pesquisa de caráter exploratório, e visa analisar o que os livros, artigos e periódicos relatam sobre o tema proposto. As buscas serão realizadas em bases de dados indexados como o Scielo, Ministério da Educação e da Saúde, revistas acadêmicas, documentos legais e em livros disponíveis na biblioteca da faculdade.

Segundo Malhotra (2001), a pesquisa exploratória é usada em casos nos quais é necessário definir o problema com maior precisão. O seu objetivo é prover critérios e compreensão. Tem as seguintes características: informações definidas ao acaso e o processo de pesquisa flexível e não-estruturado. A amostra é pequena e não- representativa e a análise dos dados é qualitativa. As constatações são experimentais e o resultado, geralmente, seguido por outras pesquisas exploratórias ou conclusivas.

A pesquisa de cunho bibliográfico será desenvolvida a partir de referenciais em diálogo com alguns autores da área, dentre eles: Kishimoto (2003), Rau (2013), Melo (2015), Silva (2007), entre outros pesquisadores e estudiosos que contribuem para a área.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O presente estudo objetivou conceituar, analisar e salientar a alfabetização e o letramento mediante sua historicidade e importância para o desenvolvimento linguístico do indivíduo em processo de aprendizagem, bem como realçar a interligação desse processo com a utilização de jogos e brincadeiras como recursos potencializadores. Dessa forma, pode-se compreender que o cenário educacional que, aos poucos, foi se configurando fomentou discussões, dúvidas, produções teóricas, além de estudos diversos apresentados em congressos sobre alfabetização e letramento, os quais ganharam espaço nos eventos da área educacional. Assim, nas últimas décadas, muito se tem discutido sobre a alfabetização e, mais recentemente, sobre o letramento, frente aos desafios que têm se apresentado à educação.

Nesse sentido, a partir do diálogo entre os autores e estudiosos da área, evidenciou-se que o desenvolvimento linguístico do indivíduo se localiza na apropriação das aquisições do pensamento e do conhecimento humano, ou seja, do desenvolvimento histórico da humanidade, manifestadas sob a forma de fenômenos exteriores (LEONTIEV, 1978). Em outras palavras, está intimamente relacionado com a apropriação de conhecimentos, objetos, conceitos e saberes que representam as aquisições do desenvolvimento histórico da humanidade.

A utilização de jogos através do ato de brincar, propicia uma aprendizagem com significados e sentido para a criança em processo de alfabetização, posto que, brincando, a criança consegue apreender melhor os conceitos, valores e normas de convivência, porque na interação entre o objeto e o outro, o processo de socialização torna-se mais dinâmico. Quando o educador tem consciência da importância da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem, passa a compreender sua função na produção do conhecimento significativo.

Assim sendo, a alfabetização na perspectiva do letramento supõe práticas pedagógicas que vão de encontro à realidade do aluno e despertem seu interesse pelo conhecimento. E, além disso, ainda prevê a apropriação de escrita de forma a atender integrar o sujeito ao universo da linguagem de forma mais integral possível. Ao negar uma alfabetização embasada em concepções tradicionais, a escola abandona a possibilidade de reproduzir as desigualdades e passam a ser um instrumento de transformação social, que trabalha a favor da autonomia do sujeito.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

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                                               .     Vygotsky:      uma     perspectiva      histórico-cultural       da Educação. Petrópolis: Vozes, 2002.

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