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RELAÇÃO, EDUCAÇÃO E COMUNIDADE

Rosimeire Borges dos Santos

Jardelma Machado da Costa

Solange Ferreira dos Santos

Patrícia Ferreira de Oliveira

Taís Regina Scheid

 

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo assinalar os aspectos fundamentais para a compreensão da sociedade, educação e da cultura brasileira. E como não se pode falar de um, sem deixar de mencionar o outro, uma vez que estes tópicos estão interligados entre si. Iniciasse com a explicação, o que é?  e a diferença existente entre sociedade, comunidade, através de grandes nomes da sociologia, tanto estrangeiros quanto brasileiros. Logo em seguida, como a comunidade é importante para o bom desenvolvimento da escola. No caso das escolas públicas, que são o foco principal. Parte-se do princípio de que ela, por seu caráter, pertence ao povo, e este não pode estar alheio ao que ocorre no interior dos muros da escola. Observando as formas de uma sociedade viver, estabelecemos seus eixos fundamentais. No entanto, essas formas não tiveram origem mágica: elas respondem à necessidade de sobrevivência num determinado contexto, incluindo aí todas as variáveis. A cultura surge da vida cotidiana. E, também por isto, a cultura nunca está pronta. Pelo contrário, tende sempre a uma reorganização. Sendo obrigatoriamente relevante no contexto da educação.

 

Palavras- Chave: Educação. Cultura. Sociedade.

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

A discussão sobre a relação entre escola e comunidade (sociedade), e cultura levada a cabo neste artigo, tem o intuito de abraçar várias possibilidades analíticas sobre essa questão, conduzindo a uma formação mais ampla, para que possamos, se posicionar a respeito dessa relação da maneira consciente e fundamentada.

Sendo assim, a construção deste texto foi dirigida de modo a fornecer subsídios de uma cultura mais ampla no âmbito das ciências sociais, tendo em vista a especificidade do tema deste artigo que relaciona a escola com o seu meio.

A participação da comunidade na escola tem como premissa fundamental que a educação das novas gerações não pode ser tarefa unicamente da escola.

As contradições sociais na sociedade em que vivemos e a própria complexidade das relações em que cada um de nós se insere impedem no âmbito da sala de aula, um processo educacional baseado simplesmente na relação entre estudante e professor.

Educação é muito mais que aprendizado de conhecimento. É o processo de aprendizagem na escola que também leva em conta outras questões, como a vida familiar, a situação econômica e, no caso que nos afeta mais diretamente neste portfólio, a participação da comunidade na escola como meio amplamente pedagógico, que pode resultar em melhoria da qualidade da escola pública.

 

 

CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE (SOCIEDADE)

 

 

A primeira parte deste artigo objetiva uma aproximação com a problemática envolvida no conceito de comunidade. Por se tratar das relações entre escola e comunidade, não poderíamos deixar de mencionar mesmo que ainda preliminar, já que a discussão não será aqui exaustiva, sobre os fundamentos desse conceito tão caro ás ciências sociais em geral.

A discussão em torno da caracterização da comunidade sempre foi um objetivo privilegiado em determinado campo da sociologia.

Podemos vê-la nos autores clássicos da sociologia, como Francisco de Paula Ferreira (1968), Martim Buber (1987), Émile Durkheim (1988), e Max Weber (2004), Ferdinand Tönnies (citado por MELO, 2011).

A partir das discussões levantadas por esses autores, podemos apresentar uma leve compreensão sobre os significados de comunidade e escola.

A comunidade, para Tonneis (1995, apud MELO, 2011), representa o tipo de sociedade existente nas antigas formas de vida social, caracterizadas pelo seu tamanho diminuído territorialmente, como as aldeias, cuja base se dava na família. As relações ocorriam com origem na localidade, expressas por sentimentos pessoais, até mesmo afetivos, e pessoalmente, por meio do encontro das pessoas.

Nas próprias palavras de Tonneis (citado por Melo 2011) “tudo aquilo que é partilhado, íntimo, vivido exclusivamente no conjunto, será entendido como a comunidade, na comunidade há ligação entre os membros desde o nascimento, uma ligação entre os membros tanto no bem-estar quanto no infortúnio”. (TONNEIS apud MELO, 2011 p. 52)

Por outro lado sociedade designa a forma fria, individualista, calculista, egoísta da ação social na sociedade moderna, capitalista, a qual caracteriza sociedades com complexa divisão social do trabalho e cuja abrangência supera o local.

Nas palavras de Tonneis (citado por MELO, 2011);

 

A sociedade consiste em agrupamento humano que vive e habita lado a lado de modo pacífico, como na comunidade, mas ao contrário desta, seus componentes não estão ligados organicamente, mas separados organicamente. Enquanto na comunidade os homens permanecem essencialmente unidos, a despeito de tudo o que os separa, na sociedade eles estão essencialmente separados apesar de tudo o que os une. (TONNEIS, 1995, apud MELO, 2011 p.52)

 

A análise de Melo (2004) sobre comunidade se vincula á sua discussão clássica sobre a ação social e relação social. Na verdade Weber trata da relação comunitária em oposição á relação comunitária em oposição á relação associativa. O que leva á clássica distinção entre comunidade e sociedade, já batizada por Tonnies. Nas palavras de Melo (2011).

Uma relação social denomina-se “relação comunitária quando e na medida em que a atitude na ação social –no caso particular ou em média ou no tipo puro- repouso no sentimento subjetivo dos participantes de pertencer (afetiva ou tradicionalmente) ao mesmo grupo” (TONNIES apud WEBER 2004, p.25, grifo do original).

Weber (2004) ressalta que não existe relação comunicaria apenas pelo fato de as pessoas se encontrarem em situações de similaridade, que podem ser conjuntos de qualidades, comportamentos, situações concretas ou ainda características biológicas e culturais. Nem mesmo a existências de reações ou sentimentos homogêneos caracteriza, por si, a comunidade.

A natureza da relação comunitária, em Melo (2011), é a ação concreta dos indivíduos, motivada por sentimento de pertencimento a um determinado grupo.

 

Não a dúvida da relevância dessa categoria weberiana para á análise da comunidade escolar, e, especialmente, sua relevância como ponto de partida para pesquisas empíricas que podem desvendar, em cada caso concreto, a realidade ou não das relações comunitárias motivando ações dos agentes da comunidade escolar entorna da questão educacional. (BUBER 1987 MELO, 2011)

 

O que diferencia a análise de Buber (1987) e a de Tonnies (1995) citado por Melo (2011) é que, para esse último, é irreversível o processo da passagem da comunidade para a sociedade com o advento da sociedade industrial, enquanto que para Buber este não é um processo irreversível. Na verdade, a literatura do texto de Buber nos leva a concluir, de maneira genética, que o autor trata a comunidade com uma concepção idealizada de relações humanas, mas que, mesmo assim, soa passíveis de concretização. (MELO, 2011, p. 66).

Essa concepção buberiana, marcadamente religiosa, encontra-se no que o autor concebe como sendo comunidade, a nova comunidade, que opõe á “antiga comunidade”. Portanto vejamos como o autor define comunidade, nas suas palavras.

 

É a interação viva de homens íntegros e de boa têmpera na qual dar é tão abençoado como tomar, uma vez que ambos é um mesmo movimento […]. Que homens maduros, já possuídos por uma serena plenitude, sintam que não podem crescer e viver de outro modo […] que eles se reúnam, então, e se deixam cingir as mãos por um e mesmo laço, por causa da liberdade maior, eis o que é comunidade, eis o que desejamos. (BUBER 1987, p 33-34, apud MELO, 2011 p. 66).

 

Essa união, fala o autor, serve a uma “liberdade maior”, a qual apenas menciona, mas não especifica, embora, pelo dito, pode-se apreender que esta liberdade se constitui na própria vida em comum, sem a qual os indivíduos pereceriam. Tanto é assim que Buber (1987apud, MELO, 2011) afirma categoricamente que “comunidade é Vida” e que ambos “são os dois lados de um mesmo ser”.

 

COMUNIDADE NO BRASIL.

 

Entrando no campo da discussão sobre comunidade no Brasil, tomamos a obra de Francisco de Paula Ferreira (1968, apud MELO, 2011) como um exemplo de estudo que procurou aprofundar essa questão. Embora seu livro date de 1968, sem dúvida as discussões por ele levantadas contribuem para o pensamento acerca da comunidade ainda hoje, até porque se verifica, em sua análise, as contribuições clássicas das matrizes sociológicas, especialmente a da vertente funcionalista.

No início do seu livro, Melo (2011) informa que Ferreira (1968) nos traz várias concepções de comunidade, o que é útil para os objetivos neste momento do portfólio em que procuramos esquadrilhar as varia possibilidades de compreender a comunidade

A primeira característica da comunidade, comum a uma serie de autores, é a delimitação geográfica, ou seja, pessoas vivendo em um dado espaço claramente definido. Outro critério aventado pelo autor são os interesses vitais que unem as pessoas, o que não necessariamente se conjuga com a proximidade física.

Um dos autores adotados por Ferreira é R. M. Mclver, que ele reconhece como um grande estudioso da questão da comunidade. Para Mclver, segundo a interpretação de Ferreira (1968 apud MELO, 2004), o que identifica a presença de uma comunidade é a vida comum que leva, e que tem como primado o interesse coletivo, não o interesse particular.  Não basta, portanto, a delimitação geográfica para a sua definição. Ferreira (1968, apud MELO, 2011)

É até comum ouvirmos falar do estranhamento entre visinhos, que, apesar de dividirem paredes, não se conhecem. Também é comum ouvirmos a respeito da “solidão em meio ás massas”, o que demonstra, claramente, que a presença física, a proximidade, enfim, não são garantidas de relações comunitárias entre as pessoas.

Outro autor analisando é Jacques Maritain (1882-1973, apud MELO, 2011) filósofo católico francês. Para esse autor, tanto a comunidade quanto a sociedade são “realidades ético-sociais, verdadeiramente humanas e não apenas realidades biológicas”

Para Maritain, portanto, “a comunidade se caracteriza por ser uma organização “natural”, a qual funciona determinando os destinos individuais, com uma coação tal que é irresistível para cada um ir contra os seus preceitos” (MARITAIN, 1973 apud MELO 2011).

 

 

COMUNIDADE ESCOLAR

 

 

A escola não é uma instituição social isolada, ao contrário, sintetiza projetos pessoais e de grupos, que deposita ela esperança de futuro para as novas gerações. Portanto, a escola se localiza em uma incidência do qual não pode não pode ser isolada, ou seja, a sua presença nos bairros das cidades não passa despercebida: a existência de uma escola impacta na vida cotidiana das pessoas de sua circunvizinhança; portanto, existe um diálogo constante da escola com esse ambiente, direta ou indiretamente. Melo (2011).

A participação de cada membro da comunidade tem sua especificidade. Nos casos dos profissionais da educação, como os professores e os gestores da escola, sua atuação é mais diretamente pedagógica e administrativa. Os funcionários da escola, administrativos ou operacionais, são responsáveis pela manutenção da escola, no sentido burocrático ou no sentido de manutenção física do prédio.

A participação da família na escola pode se apresentar de várias maneiras, na atuação direta dos pais em projetos especiais, nos momentos de avaliação dos filhos e no conselho escolar, no qual participa da formulação e acompanhamento do Projeto Político-Pedagógico e de outras questões pertinentes á escola.

Já a participação dos estudantes nos processos da escola se dá através, especialmente por meio da organização do grêmio estudantil, é uma maneira de fazer a formação escolar ser enriquecida com base na conscientização política e na atividade pública, que leva os estudantes a se enriquecerem na identificação com questões gerais referentes à sociedade.

 

 

CULTURA NA ESCOLA

 

Vale dizer que, embora a escola seja o local privilegiado da apropriação do conhecimento, ela não é o único na sociedade. Existe, ainda, todo o conhecimento que pode vir por meio da internet e de todas as tecnologias hoje disponíveis, assim como de equipamentos e projetos culturais conduzidos por organizações não governamentais.

Para aproximar educação e cultura pressupõe a articulação da escola com esses vários locais de conhecimento, equipamentos e projetos de cultura, de forma que esta aliança traga um impacto positivo efetivo na aprendizagem das crianças e dos adolescentes. Melo (2011)

Hoje, no Brasil, há projetos conduzidos por inúmeras ONGs que são belíssimos e muito importantes no sentido de levar a crianças e jovens alternativas à indústria cultural e à grande mídia e de ampliar seu universo, por meio do resgate de tradições culturais que eles ouviram em suas casas ou que eles próprios vivenciaram, nos campos das artes plásticas, literatura, comunicação, teatro e música.

Além disso, dezenas de projetos dessas organizações no país já trabalham com um conceito de cultura mais ampliado, ou seja, não uma cultura vista apenas como evento cultural, e sim relacionada com cidadania, sustentabilidade, patrimônio cultural e outros campos. Melo (2011).

A abertura da escola à cultura de seu território, a escolha de uma grade curricular que valorize a pluralidade e a diversidade cultural local e o intercâmbio da escola com produções e produtores de cultura na sociedade são alguns caminhos para unir educação e cultura. Os desafios, contudo, são muitos e continuam postos, e cabe aos educadores e à sociedade engendrar novas aproximações possíveis.

 

CONSIDERAÇÃO FINAL

 

 

Vivemos numa sociedade marcada por avanços tecnológicos que possibilitaram uma nova dinâmica nos fluxos de informação e na velocidade de sua produção, mas marcada por desigualdades sociais e econômicas que, juntamente com outros fatores, têm resultado na criação de uma forma específica de desigualdade: aquela que hierarquiza diferentes culturas e/ou limita o acesso aos bens culturais existentes.

Esse último aspecto chama em particular nossa atenção. Dados do Ministério da Cultura demonstram que o acesso da população aos bens culturais é muito baixo, revelando um desconhecimento em relação à produção artística existente no Brasil, mesmo num contexto em que a proliferação da informação é indiscutível. Tendo em vista esses dados, este ensaio coloca em pauta a questão da educação e da cultura na sociedade da informação.

Argumentamos que, ao se propiciarem situações de aprendizagem que levem em conta o patrimônio cultural, criam-se possibilidades de contato com formas diferenciadas de se relacionar com o mundo, favorecendo-se a valorização da diversidade cultural existente e ampliando-se o acesso às manifestações e práticas culturais, aprendizagens cuja construção sinaliza o enfrentamento das desigualdades de acesso à cultura, assim como de suas hierarquizações.

  

 

REFERÊNCIAS

 

MELO. Alessandro de. Relações entre escola e comunidade – Curitiba: Ibpex, 2011.- (Série Pesquisa e Prática Profissional em Pedagogia).

 

WEBER, M. Ação social e relação social. In: FORACCHI, M.M.; 2004