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O FAZER PEDAGÓGICO COMO MECANISMO DE OTIMIZAÇÃO DAS RELAÇÕES INTERPRESSOAIS NA ESCOLA

Eni Cristina Azevedo dos Santos[1]
Jadilson da Silva[2]
Simone Tsunoda[3]
Vanessa Filártiga Brites da Silva[4]
Vanessa Valadares Pinheiro da Silva[5]

 

RESUMO

A questão relativa ao relacionamento interpessoal no ambiente escolar é um problema complexo e sua resolução requer a participação efetiva da comunidade escolar: professores, alunos, gestores, comunidade local, família e sociedade. Nesse sentido, o presente artigo visa refletir e propor a metodologia de uma possibilidade de comunicação que facilite as relações interpessoais nos espaços escolares. Tal perspectiva tem como objetivo resolver conflitos por meio de técnicas que estimulam a compaixão e a empatia, reduzindo, assim, o estresse e a frustração do cotidiano, por meio de recurso comunicativo e educacional voltado para despertar nos indivíduos a perspectiva favorável a uma educação mais humana, na qual todos podem dividir e conviver no mesmo espaço, resolvendo conflitos e conduzindo um processo de ensino e aprendizagem favorável ao crescimento intelectual e social dos seres humanos, de forma significativa. Para alcançar tal objetivo buscou-se demostrar como a utilização do diálogo como atuação preventiva em assuntos como a violência física, verbal, simbólica e mudança de comportamento podem contribuir para que os educadores promovam o estreitamento dos laços afetivos com os alunos com foco nas relações interpessoais. A relevância do tema se justifica, pois, a educação não pode ser meramente um processo de influência e reflexão do passado sobre o presente, mas sim uma ciência que permita ao educando se autoemancipar, além de despertar a consciência e a responsabilidade mediante valores essenciais à vida. A abordagem escolhida foi a qualitativa, por meio de uma pesquisa descritiva, de caráter exploratório. Os resultados apontam que embora o conflito seja algo nativo do ser humano, as relações interpessoais podem auxiliar e promover por meio do diálogo uma convivência saudável. Trata-se de uma construção cultural, aprendida. Assim, conclui-se por meio de ações educativas, a educação cria um ambiente adequado à educação integral e ao desenvolvimento pleno dos alunos, como seres humanos éticos e compassivos, com base no respeito, na colaboração e na empatia e consequentemente auxilia nas relações interpessoais.

 

Palavras-chave: Educação; Relações Interpessoais; Práticas Pedagógicas.

 

ABSTRACT

The issue related to interpersonal relationships in the school environment is a complex problem and its resolution requires the effective participation of the school community: teachers, students, administrators, local community, family and society. In this sense, this article aims to reflect and propose the methodology of a possibility of communication that facilitates interpersonal relationships in school spaces. This perspective aims to resolve conflicts through techniques that encourage compassion and empathy, thus reducing daily stress and frustration, through a communicative and educational resource aimed at awakening in individuals a favorable perspective for more education. human, in which everyone can share and live in the same space, solving conflicts and conducting a teaching and learning process that is favorable to the intellectual and social growth of human beings, in a significant way. To achieve this objective, we sought to demonstrate how the use of dialogue as a preventive action in matters such as physical, verbal, symbolic and behavior change can contribute to educators promoting closer affective ties with students with focus on interpersonal relationships. The relevance of the theme is justified, as education cannot be merely a process of influence and reflection of the past on the present, but rather a science that allows the student to self-emancipate, in addition to awakening awareness and responsibility through values essential to life. The chosen approach was qualitative, through a descriptive, exploratory research. The results show that although conflict is something native to human beings, interpersonal relationships can help and promote healthy coexistence through dialogue. It is a cultural construction, learned. Thus, it is concluded through educational actions, education creates an adequate environment for comprehensive education and the full development of students, as ethical and compassionate human beings, based on respect, collaboration and empathy and consequently helps in interpersonal relationships.

 

Keywords: Education; Interpersonal Relations; Pedagogical practices.

 

INTRODUÇÃO

 

Partindo da ideia de que o ser humano consiste em um ser sociável, a vida em sociedade requer o mínimo de urbanidade na relação com o outro. Esta relação com o outro pode ser denominada de relações interpessoais que diz respeito à interação entre pessoas, podendo se dar no meio profissional, pessoal ou familiar. O principal objetivo dos relacionamentos interpessoais consiste em tornar a convivência mais agradável entre os seres humanos.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) vem desenvolvendo pesquisas, desde o início dos anos 90, sobre o novo paradigma da educação. Por meio de vários órgãos internacionais e pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, ressaltam-se   os quatros pilares de uma educação capaz de atender as necessidades emergentes da sociedade contemporânea: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a ser e aprender a conviver.

Tal abordagem possibilita o desenvolvimento de tais pessupostos fundamentados no equilíbrio entre o ser humano interior e o ser humano exterior; entre a razão e o sentimento, que convergem a partir da transdisciplinaridade. Sustentada nesses pilares, a escola precisa orientar os alunos, professores, gestores e comunidade escolar para a importância do diálogo, o que pressupõe preparar as crianças e os jovens para um conjunto de habilidades sociais necessárias:

 

  1. o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada;
  2. ao aprendizado de boas relações sociais e dos valores éticos e morais;
  3. ao aprimoramento das relações interpessoais, sobretudo, por meio de uma comunicação eficiente;
  4. à compreensão das diferenças interculturais; e e) à cultura da não violência.

 

A partir desse ponto de vista, o interesse pelo tema de pesquisa se relaciona com nossas experiências profissionais como professores na educação básica. É com base em nossas práticas pedagógicas na Rede Municipal de Ensino em Cuiabá-MT, que surge o interesse por melhor compreender as relações interpessoais no espaço escolar.

Em consonância com a política da Escola Cuiabana, a relação interpessoal se apresenta como uma preocupação formativa, uma vez que:

A Escola Cuiabana nasce no âmago da sociedade contemporânea e coloca no centro das suas discussões a formação do ser humano constituído e integrado nesta sociedade, assinalada pelo contexto social global e, ao mesmo tempo, pelo local no espaço do território cuiabano. É uma Política Educacional profundamente marcada pelo movimento teórico prático instaurado na história social, na cultura, na reflexão e no diálogo, assim como, no enfrentamento às adversidades que ainda persistem no campo da Educação Básica da capital mato-grossense no limiar dos seus trezentos anos, evidenciadas nas avaliações internas e externas e nos indicadores apresentados no Plano Municipal de Educação (CUIABÁ/PME, 2015-2024).

Partindo dessa perspectiva, acreditamos que cabe à escola, com base na sua função social e política, transformar-se em um espaço de convivência saudável, ou seja, construindo e vivenciando práticas dialógicas e não-violentas, como condição para garantir o sucesso da educação, bem como o bem-estar de seus servidores e discentes, media possibilidade de uma convivência harmoniosa que permita a qualidade das relações interpessoais nos diferentes níveis de interação.

Importante se faz destacar que é inquestionável que a escola tenha sua função social, pois compete a ela promover a inclusão, o respeito à diversidade, despertar para a construção do “eu” e a descoberta do “outro”, mas, antes dela, é importante destacar que compete à família, instituição primeira na vida da criança, desenvolver a afetividade, a sensibilidade, o respeito, os limites e as regras para o conviver. Isso servirá de base para que a educação escolar se torne efetivamente o caminho para a construção de uma sociedade mais igualitária.

Nesse sentido, Libâneo (1995, p. 96) afirma que “[...] O objetivo da escola, assim, será garantir a todos os saberes e as capacidades necessárias a um domínio de todos os campos da atividade humana, condição para redução das desigualdades de origem social.”

Pensando na importância do reconhecimento de que educação não pode ser meramente um processo de influência e reflexão do passado sobre o presente, mas sim uma ciência que permita ao educando se autoemancipar, além de despertar a consciência e a responsabilidade mediante valores essenciais à vida. São esses fatores que justificam a importância desta pesquisa.

Isso porque uma das finalidades da educação é proporcionar que as crianças e jovens amadureçam por meio da ação e do esforço pessoal para procurar e transformar os valores culturais do passado, adaptando-os à realidade. Para John Dewey (1979), “a educação não é algo que deva ser inculcado de fora, mas consiste no desenvolvimento de dons que todo o ser humano traz consigo ao nascer.”

Fica evidente que a educação não seria um processo de difusão ou de imposição dos valores culturais assimilados pelas gerações mais velhas, assim como não seria algo estruturado deliberadamente pelas instituições, mas germinaria da alma do ser humano.

Dessa forma, justifica a pertinência deste artigo, uma vez que a temática em tela contribuie no sentido de ampliar o debate e os estudos sobre uma questão de fundamental importância para a qualidade do ensino, no caso as relações interpessoais, entre todos os atores envolvidos no processo educativo.

 

Percurso Metodológico

 

A fim de atender aos objetivos propostos para este artigo, considerando a natureza e nos objetivos deste estudo, fizemos opção pela abordagem qualitativa, mediante uma pesquisa teórica. A abordagem qualitativa ocupa um lugar reconhecido na teoria, estudando os fenômenos que envolvem as pessoas e suas relações sociais.

Nesta direção, a pesquisa qualitativa deve ser direcionada por meio de diferentes caminhos. Ou seja, a mesma não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, uma vez que permite que a imaginação e a criatividade levem o pesquisador a buscar novos horizontes. Rey (2004, p. 59) destaca que uma das características epistemológicas da pesquisa qualitativa é sua natureza teórica. Segundo o autor, nessa abordagem, a teoria ocupa um lugar central “[...] o que não implica um divórcio com o empírico [...]”.

A percepção de Creswell (2014), é a de que a pesquisa qualitativa consiste em um conjunto de práticas que transformam o mundo visível em dados representativos, incluindo notas, entrevistas, fotografias, registros e lembretes. Os pesquisadores qualitativos buscam entender um fenômeno em seu contexto natural.

 

A Imprescindibilidade das Relações Interpessoais no Contexto Educativo

 

Freire (1985), assevera que não é possível fazer uma reflexão sobre o que é a educação sem refletir sobre o próprio homem. Razão pela qual, faz-se necesssário desenvolver um estudo filosófico-antro-pológico. É imprescindível que comecemos por pensar sobre nós mesmos e tratemos de encontrar, na natureza do homem, algo que possa constituir o núcleo fundamental onde se sustente o processo de educação.

Diante do exposto, é possivel afirmar que a educação se baseia principalmente nas interações sociais e são estas que constituíra o homem no meio social.

A alteridade[6] nas relações interpessoais na escola da educação básica possibilita melhor aprendizagem do aluno e depende da compreensão de como o sujeito constrói o conceito de eu-outro, por meio de uma reflexão a partir da sua prática docente e da forma como lida com as adversidades da sua profissão frente às relações que estabelece com o meio.

A educação repousa basicamente sobre interações cotidianas entre os professores e os alunos. Sem essas interações a escola não é nada mais que uma imensa concha vazia (TARDIF, 2009). O ato de educar aborda um complexo processo de construção do homem no mundo, enfatizando todas as etapas iniciais na vida da criança na construção da sua identidade.

 

O Diálogo como Possibilidade de Otimização das Relações Interpessoais na Escola

 

O diálogo é inerente à condição humana. Comunicar-se consiste em uma das necessidades primeiras dos seres, essencial à sobrevivência. Paulo Freire destaca que o diálogo se apresenta como o ponto central da atividade de ensinar, na qual educador e educando são seres atuantes, igualmente importantes neste processo.

Mediante prática da dialogicidade ocorre a conscientização dos educandos. Traaata-se da forma pela qual o educador demonstra respeito pelo saber que o educando traz à escola, e sem o qual não se pode ensinar. Razão pela qual Freire critica o que ele mesmo denomina de “educação bancária”, uma prática muito comum no ensino de qualquer matéria.

Na perspectiva da educação bancária, o educador é detentor do conhecimento, e “deposita” certa quantidade de conhecimentos nos alunos, que por sua vez, absorvem passivamente. Freire (1987) caracteriza tal prática através de dez propriedades, a saber:

 

(a) O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; (c) o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; (d) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente; (e) o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; (f) o educador é o que opta e prescreve a sua opção; os educandos, os que seguem a prescrição; (g) o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador; (h) o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais são ouvidos nesta escolha, acomodam-se a ele; (i) o educador identificaa autoridade do saber com sua autoridade funcional, que se opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; (j) o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos. (FREIRE, 1987, p. 34).

 

É possível inferir que tal concepção é um bom exemplo de educação antidialógica, na qual o educador transfere para o educando um conhecimento imposto, alienado, que não é passível de questionamentos. O educador detém todo o conhecimento, e o educando por sua vez, nada sabe. Sua curiosidade e criatividade são minimizadas ao máximo, e ao invés de transformar o mundo em que vivem, adaptam- se, ingenuamente.

Gadotti (1999), menciona que,

 

Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem se pretende ser detentor de todo saber; deve, antes, colocar- se na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é o homem “perdido”, fora da realidade, ma alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber. (GADOTTI, 1999, p. 2).

 

A esse respeito, Freire afirma:

 

Não é de estranhar, pois, que nessa visão “bancária” da educação, os homens sejam vistos como seres de adaptação, do ajustamento. Quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele. Como sujeitos. (FREIRE, 1987, p. 34).

 

Portanto, quando se pratica a educação bancária, não há a difusão de conhecimentos verdadeiros, o que há é a memorização por parte dos alunos do que é depositado pelo educador, que por sua vez, efetuará um “saque” destes conteúdos na prova, momento em que os alunos deverão “devolver” ao educador o que foi “aprendido”. Freire corrobora esta afirmação dizendo que, nesta perspectiva:

 

Não pode haver conhecimento pois os educandos não são chamados a conhecer, mas a memorizar o conteúdo narrado pelo educador. Não realizam nenhum ato cognoscitivo, uma vez que o objeto que deveria ser posto como incidência do ato cognoscente é posso do educador e não mediatizador da reflexão crítica de ambos. (FREIRE, 1987, p. 40)

 

Em contrapartida, o autor propõe a educação problematizadora, na qual não se pode abrir mão da prática do diálogo. Tal prática rompe com os esquemas verticais característicos da educação bancária (FREIRE, 1987), superando, justamente através da dialogicidade, a contradição entre educador e educando.

Freire (1987) propõe que a educação deva ocorrer através do diálogo, em que educador e educando sejam igualmente sujeitos do aprendizado, de maneira que o conhecimento que o educando já possui seja tão importante quanto àquele que o educador traz consigo, o que possibilita uma construção conjunta de saberes.

Existem nesta perspectiva outras características essenciais ao educador que se comprometa com o real aprendizado de seus educandos através de uma educação problematizadora, libertadora, tais como paciência, amorosidade, fé nos homens. Tal educador precisa estar ciente de seu papel como educador, sabendo que não sabe mais do que seus alunos, apenas possui saberes diferentes.

É importante acreditar que o aluno também traz consigo saberes importantes, e sem os quais não conseguirá desenvolver novos conhecimentos. Daí a necessidade do diálogo, a necessidade de conhecer o educando, saber o que ele sabe, para poder mostrar-lhe novas possibilidades.

A proposta educativa de Freire implica em um novo projeto de sociedade. Para o autor é a humanização da espécie humana como um todo, que deve ser materializada na dignidade da vida concreta das pessoas a partir da superação das realidades sociais que oprimem e atrofiam o ser mais de todo e qualquer ser humano enquanto corpo consciente situado em um mundo histórico e socialmente construído.

Tal compreensão vem ao encontro do que propõe Vasconcelos (1999),ao afirmar que:

 

Um relacionamento novo na construção de uma coletividade só se fará pelo diálogo franco; muitas vezes, temos medo deste diálogo, pois poderão aparecer contradições com as quais não gostaríamos de lidar. Por mais difícil que possa ser, este tipo de diálogo é muito importante, pois estas contradições podem emergir e fica mais fácil, tanto para a classe, quanto para o professor, trabalhar com elas. Dessa forma, possibilita-se um relacionamento menos estereotipado e alienado, abrindo-se espaço para a efetiva construção humana. (VASCONCELOS, 1995, p.45).

 

Portanto, para Freire a vida humana só tem sentido a partir da busca incessante da libertação de tudo aquilo que nos desumaniza e nos proíbe de ser mais humanos, dignos e livres em nosso ser existencialmente situado.

O pensar dialógico, que articula as propostas epistemológica, política, antropológica e ética, constitui-se na busca de um novo sentido para a vida humana. A natureza da espécie humana, para Freire (1997), está programada a partir de uma característica essencial de nossa vida, que compreende a dialogicidade enquanto base para a construção de uma cultura biófila, amorosa, esperançosa, crítica, criativa e solidária. Esse traço é o que caracteriza a vocação ontológica do ser humano.

 

É por estarmos sendo este ser em permanente procura, curioso, tomando distância de si mesmo e da vida que porta; é por estarmos sendo este ser dado à aventura e à paixão de conhecer (...) é por estarmos sendo assim que vimos nos vocacionando para a humanização e que temos na desumanização, fato concreto na história, a distorção da vocação. (FREIRE, 1994, p. 99).

 

Assim sendo, um comportamento, atitude de vida, ou prática social que nega e/ou atrofia o potencial dialógico da existência humana não constitui outra vocação humana, mas a sua própria negação.

O sentido do diálogo em Freire (1993) está na afirmação da vida humana em sua totalidade, o que implica cultivar as várias dimensões da nossa própria natureza (em constante processo de autoconstrução), tais como mente, corpo, sentimentos, emoções, sensibilidade, amorosidade, eticidade, cidadania, lazer, socialização, entre outros aspectos.

Eis, portanto, o esforço de Freire (1997) para reelaborar vários temas já abordados pela tradição filosófica ocidental, colocando-os sob um novo ponto de vista e recriando, assim, os modos de conceber e fundamentar a forma de conceber o ser humano em seu processo histórico de produção de sentidos para sua existência diante do desafio de humanização do mundo.

Podemos afirmar que Freire situa-se na passagem do paradigma filosófico da modernidade - que se ancorava na subjetividade humana enquanto medida de todas as coisas e produção de todo e qualquer sentido possível - para um novo paradigma fundamentado na relação sujeito-sujeito (relação intersubjetiva), que requer a prática da solidariedade, da comunicação e do diálogo, enquanto fundamentos da vida em sociedade e da produção de todo e qualquer sentido humanamente válido.

Nesses termos, Freire (1994) supera a modernidade, embora seja “moderno” em certos aspectos de sua proposta teórica, principalmente em sua defesa incondicional da utopia e da esperança enquanto molas propulsoras da história humana.

 

Enquanto projeto, enquanto desenho de um mundo diferente, menos feio, o sonho é tão necessário aos sujeitos políticos, transformadores do mundo e não adaptáveis a ele, quanto (...) é para o trabalhador, que projete em seu cérebro o que vai executar antes mesmo da execução. (FREIRE,1994, p. 99).

 

A originalidade de Freire está na superação de uma forma de pensar totalizadora da vida, pois ele busca construir crítica e criativamente novos elementos para conceber a vida humana em sociedade de modo radicalmente democrático e libertador; ao elaborar uma nova visão epistemológica a partir da produção do conhecimento de forma dialógica, intersubjetiva e dialeticamente aberta para o dinamismo da vida, a diferença e o inédito viável, além de inspirar profundas inovações na visão política e ética dos problemas que desafiam o mundo contemporâneo.

Freire (1987; 1993; 1994; 1997) destaca que as práticas da comunicação via diálogo nascem de um desejo de viver em um mundo com menos miséria, desigualdade, preconceito e opressão. Esse desejo deve nascer das pessoas que se propõem a trilhar esse caminho.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Este artigo possibilita aos profissionais da educação aprimorar seus conhecimentos dando ênfase na capacidade do docente de se ver e se colocar no lugar do outro em uma perspectiva alteritária, objetivando uma relação de harmonia a qual ajudará no desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos alunos, propiciando uma aprendizagem de qualidade.

É importante reconhecermos que para convivermos bem com as pessoas se faz necessário demonstrar afetividade. Tendo em vista que a escola é por excelência um espaço de convivência, ela, em parceria com a família se constitui a base da construção de valores. Nesta direção, o contexto escolar possui papel relevante na vida de cada aluno que vai a escola em busca do que muitas vezes não tem em casa: amor, carinho, amizade, consideração entre outros sentimentos e tal perspectiva reverbera também na relação entre os pares.

É possível perceber a imprescindibilidade do papel fundamental das relações interpessoais na educação básica a partir da prática docente, pois é mediate a relação entre professor/aluno que este irá motivar os alunos visando aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, e em seus discursos apresentaram saberes que integram a prática docente oportunizando um ensino de qualidade a partir da reflexão do professor ao se colocar no lugar do outro (aluno) via alteridade, mostrando que é possível um trabalho docente a partir das relações interpessoais na escola.

 

REFERÊNCIAS

 

CUIABÁ. Secretaria municipal de Educação. Escola Cuiabana: Cultura, tempos de vida, direitos de aprendizagem e inclusão. Print gráfica e editora. Cuiabá-MT. 2019.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativos, quantitativos e misto. Tradução: Luciana de O. da Rocha. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

DEWEY, John. Experiência e educação. 3. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1979. DUSSEL, Enrique. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2000.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança, 10.ed. São Paulo: Paz e Terra S/A, 1985. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREIRE, P. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1994.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Simeone, 1999.

LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública - a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 13. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1995.

REY, F. L. G. Sobre a rede de significações, o sentido e a pessoa: uma reflexão para o debate. In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. (org.). Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 59-65.

TARDIF, M. ; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interação humana. Tradução de João Batista Kreuch. 3. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos, 1956. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 7ª. ed. São Paulo: Libertar; 1995.

 

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[6] A palavra alteridade possui o prefixo alter, do latim, e significa se colocar no lugar do outro, na relação interpessoal, com consideração, valorização, identificação e no diálogo com o outro. A prática da alteridade se conecta aos relacionamentos tanto entre indivíduos, como entre grupos culturais, religiosos, científicos, étnicos, etc. Na relação alteritária estão sempre presentes os fenômenos holísticos da complementaridade e da interdependência, no modo de pensar, de sentir e de agir, onde o nicho ecológico, as experiências particulares são preservadas e consideradas, sem que haja a preocupação com a sobreposição, assimilação ou destruição destas (DUSSEL, 2000).