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A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Andreia Conceição Batezini
Tânia Inês Perondi
Gislaine Oliveira Carvalho
Ticiane de Paula Ferreira
Maria Aparecida da Silva

 

RESUMO

O presente trabalho consiste em um estudo teórico sobre a importância do desenho no desenvolvimento cognitivo infantil e a importância da utilização desse recurso como ferramenta pedagógica na educação infantil. Buscou-se através do estudo da literatura clássica de artigos científicos desenvolvidos sobre a temática compreender o papel do desenho como ferramenta pedagógica pode auxiliar o desenvolvimento infantil desde a mais tenra idade e como a escola pode se utilizar desse recurso no processo de aprendizagem. Através da leitura do material bibliográfico sobre a temática, bem como também aliada as experiências vivenciadas durante o período do estágio curricular junto as escolas, é possível perceber que existe um movimento mais contemporâneo de trabalhar o desenho e outras expressões artísticas de forma mais ampla dentro do processo de aprendizagem, principalmente na educação infantil, enfatizando não somente a atividade como meio de entretenimento mas sim como ferramental para que os educadores consiga compreender a percepção de mundo e de si mesmo, transmitido pelas crianças através do desenho. Um gama de possibilidades e abordagens se fazem possíveis para o educador através da utilização do desenho e das diversas manifestações artísticas dentro do processo de ensino-aprendizagem e da compreensão de cada criança edifica seu trajeto individual, cabendo a família, a escola aos educadores propiciar as condições favoráveis ao seu desenvolvimento. 

 

Palavras chave: Desenvolvimento cognitivo, Educação infantil, expressão, desenho, arte.

 

ABSTRACT

The present work consists of a theoretical study on the importance of drawing in children's cognitive development and the importance of using this resource as a pedagogical tool in early childhood education. It was sought through the study of the classic literature of scientific articles developed on the theme to understand the role of drawing as a pedagogical tool can help child development from an early age and how the school can use this resource in the learning process. By reading the bibliographic material on the theme, as well as combining the experiences lived during the period of the curricular internship with the schools, it is possible to perceive that there is a more contemporary movement of working on drawing and other artistic expressions in a broader way within the learning process, mainly in early childhood education, emphasizing not only the activity as a means of entertainment but also as a tool for educators to understand the perception of the world and of themselves, transmitted by children through drawing. A range of possibilities and approaches are made possible for the educator through the use of drawing and the various artistic manifestations within the teaching-learning process and the understanding of each child builds their individual path, with the family, the school and the educators providing the favorable conditions for its development.

 

Keywords: Cognitive development, Early childhood education, expression, drawing, art.

 

1.    Introdução

              O presente trabalho busca pontuar conceitos sobre a importância do desenho para o desenvolvimento cognitivo da criança utilizando estudos de autores como Piaget e Vigotsky como referenciais do desenvolvimento infantil  e  a luz de teorias esplanadas em artigos e livros que abordam o assunto, como a obra  de Mèredieu(2017)  “ O desenho Infantil” e Beilfuss (2017),  que serão de grande  importância na análise dos dados obtidos nos estudos selecionados nas plataformas digitais Scielo, Google acadêmico entre outras.

A elaboração do artigo teve como foco compreender através do estudo da literatura clássica e de artigos científicos disponíveis em plataformas eletrônicas buscar compreender o papel desempenhado pelo desenho no desenvolvimento infantil e a importância da utilização do desenho como ferramenta pedagógica dentro do ambiente, justificando-se pela relevância da temática diante da clara necessidade de se buscar pensar a educação e os processos educacionais de forma mais ampla  evidenciados pelos diversos indicadores educacionais a nível nacional demonstra uma defasagem clara no desenvolvimento de habilidades básicas dos estudantes brasileiros que podem comprometem seu percurso escolar.

Assim, a reflexão sobe os processos de desenvolvimento infantil no que se refere a maturação biológica e cognitiva da criança, importância do desenho para o desenvolvimento cognitivo, considerando suas fases de desenvolvimento coloca o desenho infantil sob o foco principal deste estudo, passando de uma atividade meramente lúdica para uma importante ferramenta de auxílio aos pais e professores no desenvolvimentos das diversas habilidades físicas e cognitivas da criança imprescindíveis ao seu desenvolvimento e sua relação com o mundo ao seu redor.

A percepção de professores e alunos sobre a relevância do desenho na sala de aula como recurso pedagógico que se configura como a possibilidade de um universo a ser descoberto, conforme podemos observar na obra de Mèredieu (2017), pela sua originalidade e riqueza de detalhes singulares, trazendo um breve histórico do interesse pelo desenho infantil e destacando a influência dos estudos de Rousseau  para distinguir as diferentes etapas do desenvolvimento gráfico da criança e a contribuição dos estudos sobre  evolucionismo para a continuação dos estudos até a psicologia infantil  que embasa os estudos de  Piaget e Vigotsky , buscando compreender os mecanismos da expressão infantil.

Conforme podemos observar nas concepções de Peixoto (2013) através da obra  “ Pensar o desenho: Linguagem, história e prática”,  a compreensão do desenho e seu espaço na sociedades e nas diversas representações  artísticas, considerando a etmologia  palavra a partir do termo em latin “arts” – habilidade até ao  seu  significado dentro de um universo simbólico de um projeto, plano ou propósito que se desenvolve a partir do desejo de realização através de uma ação humana e reflexão da autora relacionando o desenho e a arte e a perspectiva do desenho como a expressão mais imediata do pensamento. A maneira mais simples de produzir uma imagem, trazendo ainda, as transformações do desenho no conceito da arte, a concepção moderna de desenho, e a concepção do desenho como forma de representação interna para o mundo externo intimamente ligado a representação externa daquilo que é abstrato.

Também podemos destacar a obra de Beilfuss (2015) intitulado “O desenho na educação infantil” que traz um apanhado de leis sobre a educação infantil buscando relacionar o direito da criança ao conhecimento e práticas das artes desde bem pequenas e as políticas públicas educacionais que visam a utilização do desenho e da arte como ferramenta pedagógica no processo de ensino aprendizagem.

Neste sentido, é possível explanar por inúmeros caminhos reflexivos sobre a importância do desenho e da arte no desenvolvimento humano e mais detidamente ao desenvolvimento infantil, sendo que neste estudo o foco estabelecido centra-se na importância do desenho no processo de desenvolvimento da criança dentro do ambiente escolar e a utilização deste recurso na sala de aula e a multidisciplinariedade na educação infantil.

 

2- Materiais e Métodos

 

A apresentação deste trabalho tem a intenção de pontuar as fazes do desenho no desenvolvimento cognitivo pautando-se nos significados em torno do qual se constitui a evolução do desenho na Educação Infantil.

Enquadra -se numa pesquisa de revisão bibliográfica sobre a relevância do desenho no desenvolvimento infantil e sua utilização, enquanto recurso pedagógico, na sala de aula na Educação Infantil.

Através do estudo dos materiais literários o presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância do desenho no desenvolvimento cognitivo, através de um estudo sobre a história do desenho na sociedade, seu papel no cotidiano e recurso pedagógico de grande relevância no desenvolvimento cognitivo infantil.

O trabalho consiste na elaboração de um artigo científico teórico acerca da importância do desenho infantil no desenvolvimento cognitivo e sua utilização como recurso pedagógico muldisciplinar na educação infantil.

 Para elaboração do corpo teórico serão utilizados estudos disponíveis em plataformas digitais como Scielo, Google Acadêmico e outras plataformas digitais, bem como também autores como Piaget e Vigotsky como referencias teóricas do desenvolvimento infantil, possibilitando assim compreender com o desenho enquanto recurso pedagógico pode ser utilizado em sala de aula facilitando o desenvolvimento dos alunos.

O artigo será estruturado em introdução, referencial teórico onde serão apresentados os dados dos estudos analisados, discussão, considerações finais e referências bibliográficas.

 

3-  A evolução do estudo do desenho

 

A origem dos desenhos é quase tão antiga quanto o surgimento da humanidade, os primeiros traços de desenhos foram deixados pelos homens nas paredes das cavernas ainda na pré-história, onde eram usados elementos da natureza para deixar registros ou como forma de comunicação entre grupos que viviam naquela época, mas o interesse pelo estudo do desenho como forma de expressão e desenvolvimento cognitivo não é tão antigo assim, nem tão pouco o interesse pelo desenho infantil que segundo Mèredieu  (2017) teve início no final do século passado,  a princípio relacionados com os primeiros trabalhos de psicologia experimental, sendo assim esse estudo foram se diversificando entre diferentes disciplinas com diversos significados, buscando sempre significar o desenho infantil como uma forma de expressão de sentimentos ocultos, partindo de uma visão adulta sobre o desenho da criança.

Com o passar do tempo e a ampliação dos campos de estudo novos conceitos foram surgindo em torno do referido assunto progressivamente as antigas concepções foram sendo substituídas por diferentes considerações, ainda segundo Mèredieu (2017 p.24) “a maneira de encarar o desenho evoluiu paralelamente deixando de ser considerados unicamente de acordo com a arte adulta e agora visto como uma preparação para o futuro artístico”.

Porém somente no final do século XV, através de diversos movimentos artísticos que apresentavam novas formas de expressão e perspectivas, o desenho passou a tornar-se elemento fundamental da criação artística a paralelamente à popularização do papel, sendo encarado como um elemento da criação artística, parte de um processo, mas não como o processo final, ou seja, o desenho era visto um projeto da arte a ser desenvolvida e não como a própria arte em si.

Com o  movimento renascentista o desenho ganha destaque na arte torando-se protagonista do cenário artístico, representado por mestres como Leonardo da Vinci, deixa de ser parte do processo para ocupar o papel principal no mundo das artes, aos poucos foi ocupando espaços nas propostas e discussões sobre arte enquadrando-se nos currículos escolares sendo visto como uma preparação para uma carreira artística, sendo assim o desenho infantil ainda era visto como meros rabiscos ou parte de um processo preparatório para uma maturidade artística.

Porém somente a partir do século XIX que o desenho e a arte passam a fazer parte do conjunto de interesse para os estudiosos na área da educação enquanto um recurso ao processo de aprendizagem, culminando historicamente como marco teórico as teorias desenvolvimentistas de Piaget e Vigotsky que busca compreender o processo de desenvolvimento infantil através da compreensão das relações entre indivíduo e o meio e a apropriação de habilidades cognitivas resultantes destas relações.

 No Brasil é possível pontuar como marco histórico o estudo do desenho no campo pedagógico as ideias de Walter Smith (1836-1886), educador britânico que propõe uma nova abordagem pedagógica menos técnica e rígida para a educação infantil, através da utilização da arte em suas mais diversas representações como recurso didática, introduzidas através dos Pareceres de Rui Barbosa em 1882 como podemos na fala de Ana Mae Barbosa:

 

Na sua concepção pedagógica, o desenho tinha um lugar de enorme destaque no currículo secundário e especialmente no currículo primário, e nenhum educador brasileiro que se tenha dedicado ao estudo do processo da Educação em geral deteve-se tão minuciosamente sobre o ensino do Desenho ou o ensino da Arte como Rui Barbosa (BARBOSA, 1986, p. 44).

 

De acordo com Barbosa (2013) a contribuição dos Pareceres de Rui Barbosa e outros estudos foram essenciais para a implementação da disciplina de Educação Artística na educação popular, fundados nas concepções do final do século XIX e início do século XX de que a educação devia promover além da educação técnica um aprofundamento cultural que favorecia assim a saúde integral da população dentro dos princípios higienistas da época.

 

Pouco depois da divulgação dos Pareceres de Rui Barbosa (Abril de 1882) sobre o ensino do Desenho na Educação Primária, surge o primeiro Manual do Desenho Geométrico, intitulado Geometria Popular, para as escolas primárias, escrito por Abílio César Pereira Borges (Junho de 1882), utilizado em todas as escolas primárias durante toda a primeira metade do século XX, chegando a sua 41ª edição (BARBOSA, 2013 p. 23)

 

A autora ainda destaca:

 

Tanto o Manual quanto os pareceres de Rui Barbosa sobre o Ensino Primário tinham suas ideias apoiadas em Walter Smith, baseadas nos estudos das linhas e formas geométricas. Contudo, os Pareceres de Rui Barbosa foram ―enriquecido[s] por outras fontes bibliográficas‖, dando ao desenho o lugar de maior destaque no âmbito da Educação Primária. Para ele, o desenho também podia ser aprendido através da percepção e dos sentidos. O desenho foi por ele difundido nas escolas públicas, seguindo materiais froebelianos, até o fim da década de 20 (BARBOSA, 1986, p. 56 apud BARBOSA 2013, p.23)

 

            Assim o desenho infantil passa a ser visto como algo primordial e importante para o desenvolvimento cognitivo, tornando-se indispensável seu estudo e inclusão no cotidiano estudantil.

 

4- A importância do desenho no desenvolvimento infantil

 

Diante de tantas informações e estudos sobre o desenho e sua importância para o desenvolvimento cognitivo, este não poderia ficar restrito apenas as áreas de psicologia e psiquiatria infantil, sendo assim torna-se indispensável ao estudo da pedagogia o reconhecimento do desenho como um importante instrumento de evolução e expressão da criança frente ao mundo externo garantindo seu desenvolvimento e evolução através de traços, desenhos e garatujas.

Dessa forma torna-se indispensável ao educador infantil estar preparado para trabalhar dando suporte e incentivando a criança a desenvolver suas habilidades, dando liberdade e ao mesmo tempo direcionando para que esses traços evoluam cada vez mais representando a linguagem e interação da criança através dos símbolos representados, pois como afirma o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil

 

O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. (RCNEI, 1998, V.III, p. 92)

 

Indo de encontro a essas concepções o educador  de artes visuais no contexto da educação infantil deve buscar cada vez mais o aprimoramento de seus conhecimentos sobre a evolução do desenho infantil, assim como sua importância no desenvolvimento cognitivo, no intuito de promover o desenvolvimento integral da criança dentro de suas capacidades e anseios, possibilitando a mesmas, a expressão e interação com o mundo ao seu redor, tornando se parte ativa do contexto social onde está inserido conhecendo, reconhecendo e transformando esse meio,  sobre o desenvolvimento do desenho infantil, Moreira (2008) salienta que:

 

A criança desenhando está afirmando a sua capacidade de designar. Desenha brinquedos, brinca com os desenhos. É seu o desenho da sua pipa, o risco da amarelinha, o castelo de areia, as estradas por onde andam seus carrinhos, a planta de sua casinha. (MOREIRA, 2008 p.10) 

 

Tantas peculiaridades tornam indispensáveis os estudos e aprimoramento das concepções sobre a importância do desenho para o desenvolvimento cognitivo da criança que expressa seus sentimentos, aprimora suas habilidades  e inclui-se no mundo através de seus desenhos que representam bem mais do que simples rabiscos, pois compreendendo que o desenho infantil pode passar por várias fases passando por maturações, assim como todo o processo cógnito da criança, concordando com o pensamento de Lowenfeld que diz:

 

De qualquer modo, as primeiras experiências representativas, de um homem, não devem ser consideradas uma representação imatura, pois na realidade, um desenho é principalmente, uma abstração ou um esquema de uma vasta gama de estímulos complexos e o início de um processo mental ordenado. (LOWENFELD 1970, p. 151)

 

 Essa afirmação nos remete a complexidade do desenho infantil que busca tornar concreto algo abstrato ou que transforma algo concreto em representações abstratas do imaginário infantil, passando por uma gama de processos mentais que relacionam a realidade da criança à realidade representada através do desenho, dessa forma o educador precisa de um olhar sensível para tais peculiaridades, não deixando escapar traços preciosos que podem ser aprimorados ou observados como parte de um todo representados durante o desenho que para a criança que representa um ato de prazer e descontração ao mesmo tempo que expressa sentimentos e habilidades em processos contínuos de maturação, o desenho pode representar através de seus signos, a linguagem da criança representando aquilo que conhece ou o que almeja conhecer, reconhecendo em seus traços a personalidade infantil daquele que o pratica, buscando espontaneamente demonstrar seu estilo próprio de  representar o mundo através de sua criatividade e originalidade de acordo com o que expõe Derdyk (1994)

 

A criança desenha, entre outras tantas coisas, para divertir-se. É um jogo onde não existem companheiros, a criança é dona de suas próprias regras... O desenho é o palco de suas emoções, a construção do seu universo particular. O desenho manifesta o desejo da representação, mas também o desenho, antes de tudo, é medo, é opressão, é alegria, é curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar, a criança passa por um intenso processo vivencial e existencial. (DERDYK 1994, p. 50)

 

Podendo o desenho representar um campo tão vasto e complexo de emoções da criança, deve ser incentivado a ser o mais espontâneo possível possibilitando à criança expor suas emoções e anseios através do desenho comunicar suas ideias, reconhecer e ser reconhecido através de seus traços, desenhos e garatujas, sem sentir-se pressionado ou limitado a desenhar para atender a aspiração do adulto que o acompanha, isso exige do educador uma visão treinada e sensibilizada para o desenho infantil.

De acordo com Derdyk (1994, p.24), “objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias, são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se”. Assim a criança desenha com a intenção de aproximar-se, conhecer e reconhecer-se no mundo em que está inserido, podendo ser visto como uma importante forma de expressão, também como parte do processo do desenvolvimento cognitivo onde a criança é capaz de compreender e se fazer compreendida através dos traços e garatujas que aos poucos vão tomando novas formas assumindo novos papeis e transformando –se de acordo com a intencionalidade  da criança que compreende no desenho uma forma de comunicação com o mundo exterior.

 

5 – O papel do educador de arte na educação infantil

 

            Fica evidente a importância do desenho e da arte no desenvolvimento infantil dentro das diversas correntes teóricas filosóficas e educacionais, muito embora como destaca Vigotsky a potencialidade da representação através do desenho de forma nata a criança precisa das condições certas para fazer com que esta potencialidade se realize e neste ponto convergem também outros grandes autores como Piaget e Gardner.

            Neste sentido, o papel do educador é parte fundamental para que as potencialidades infantis encontrem um terreno fértil para suas descobertas e ainda mais o educador de arte que é capaz de conduzir os alunos num processo de descobertas multidisciplinares a partir das representações artísticas.

         Seber (1997) enfatiza que para além da importância do desenho feito pela criança é essencial que se consiga fazer a leitura correta deste desenho e compreender o que aquela criança expressa sobre o mundo que a cerca. É preciso também entender quais as ferramentas mais adequadas a levar os alunos a novas descobertas, aliando a técnica, a interpretação e a sensibilidade na condução do processo ensino-aprendizagem. 

 

Quando a intenção é desenhar, as crianças constroem figuras; se a intenção é escrever, elas fazem traços contínuos, esses traços se apresentam como linhas onduladas, serrilhadas ou ainda, uma combinação das duas possibilidades. Além de representar nomes, as marcas gráficas ainda servem para representar histórias. (SEBER 1997, p.19)

 

            Piaget e Vigotsky enfatizam que as crianças estabelecem suas relações com o meio e através disso constroem uma percepção sobre o mundo que os cerca, sendo que este processo de estruturação ou maturação se apresenta como questões problemas onde o indivíduo usa aquilo que ele já sabe para buscar um problema desconhecido, e esse avançar provoca uma nova possibilidade de compreensão, ainda de acordo com Piaget  a representação é gerada pela função semiótica, a qual possibilita à criança reconstruir em pensamento um objeto ausente por meio de um símbolo ou signo, dessa forma o desenho assa a ser a forma da criança se relacionar com o meio evoluindo de acordo com que desenvolve as interações, pois as habilidades cognitivas da criança vão evoluindo de acordo com que são apresentados novos desafios.

Assim como uma corrida de obstáculos, os desafios e estímulos propiciados pelo educador se apresentam como processo essencial ao desenvolvimento infantil, dentro da concepção piagetiana faz com que as crianças alcancem fases mais complexas a medida que conseguem ultrapassar os obstáculos, dentro desse contexto Piagt apresentas as cinco fases do desenho infantil:

Garatuja: Essa fase se apresenta durante a sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7 anos) e pode ser dividida em desordenada com movimentos amplos desordenados apresentando-se ainda como um exercício, um ensaio para o desenho e ordenada com movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora apresentando a   figura humana que nessa fase aparece através dos  jogos simbólicos, podendo ser apresentadas de forma imaginária, mas sendo atribuído significado a sua figura, nessa fase as cores têm papel secundário, ou seja, não há relação das cores representadas com as cores reais das pessoas ou objetos representados através desses jogos simbólicos onde a criança representa sendo o ator principal do seu jogo.

Pré-Esquematismo:  Dentro dessa fase pré-operatória, inicia-se a mudança de símbolos a figura humana, torna-se uma procura de conceito que depende do seu conhecimento ativo aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade, as cores começam aparecer de acordo com a realidade, mas dependem do interesse emocional da criança, ou seja, utiliza-se as cores como expressão de sentimentos e sensações, não necessariamente para representar a realidade.

Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas, já apresenta conceito da figura humana de forma mais real, porém com alguns exageros, busca fazer relações de cores e demonstrar espaços de acordo com a realidade, nessa fase apresenta como jogo simbólico a autoafirmação onde busca através das repetições criar novas regras e fazer novas descobertas, como misturas de cores e formas atribuindo novos significados a figura representada.

Realismo: Faz parte da fase das operações concretas, a figura humana aparece com maior rigidez e formalismo, acentuação das roupas diferenciando os sexos e as formas geométricas aparecem, acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional.

Pseudo Naturalismo: Essa fase aparece dos dez anos em diante e é a fase das operações abstratas onde o desenho deixa de ser espontâneo e passa a representar parte da personalidade de seu autor, podendo ser visual e buscando representar a realidade ou háptico que procura demonstrar a subjetividade das intenções de quem está desenhando utilizando as cores e formas necessárias para demonstrar as emoções e subjetividade através do desenho.

             De acordo com esses estudos  de Piaget sobre as fases do desenho percebe-se que o mesmo evolui de acordo com as fases cognitivas da criança, podendo passar por fases e aprimorando-se de acordo com o amadurecimento cognitivo da criança, exigindo do educador sensibilidade para reconhecer a evolução dessas fases onde a criança possa ter liberdade para interagir com seu desenho desenvolvendo habilidades e se auto afirmando através da relação com os signos e significados desse desenho interagindo e se reconhecendo  em novos mundos.

            Segundo Fischer (2015), esses novos mundos são um espaço onde a criança pode tentar e corrigir ousar sem que haja qualquer preocupação entre o certo ou errado ou a possibilidade de punição e angústia

 

Nestes mundos as crianças podem se dar ao luxo de errar para avaliar o resultado, sem medo de punição que agregue sofrimento. Essas etapas do desenvolvimento infantil devem ser vivenciadas pelas crianças, fase a fase, senão pode haver uma lacuna no desenvolvimento que, mais tarde, precisará ser trabalhada. Devemos sempre lembrar que a criança é um ser em desenvolvimento como nós, adultos, também o somos, e viver é estar se transformando (FISCHER, 2003, p.15).

 

Neste sentido, abre se importância do papel do educador na condução dos processos e condições adequadas para que as crianças sejam capazes de vivenciar seus desafios de forma plena, fase a fase, como corrobora Pimentel (2009):

 

Ensinar arte significa possibilitar experiências e vivências significativas em fruição, reflexão e elaboração artística. Para isso, é necessário que a professora tenha uma base teórica, tanto para conhecer os caminhos trilhados por suas alunas quanto para propiciar momentos significativos que possibilitem encontrar novos processos individuais e coletivos (PIMENTEL, 2009 p.24)

 

Outro ponto de convergência na importância do educador de arte na educação infantil se insere na estruturação dos recursos e técnicas pedagógicas necessárias para aliar ao processo de estimular a criatividade o conteúdo teórico sem que haja prejuízo de nenhum dos dois elementos, sendo necessário o equilíbrio entre os dois elementos, sendo essa uma tarefa bastante árdua para os educadores em face de terem ainda que aliar a este processo as particularidades da turma, da escola e do sistema educacional vigente .

Buoro (1996, p. 32) enfatiza que é “fundamental que o ensino de Arte contemple aspectos relacionados com o fazer artístico dos alunos, suas técnicas e procedimentos, a apreciação e a contextualização histórica que situa a obra em seu tempo e espaço e costura com o cotidiano”.

Com o objetivo de responder essa questão dentro do processo de ensino e aprendizagem da arte na educação infantil Barbosa (1998) sistematizou uma teoria intitulada de Abordagem Triangular que compreende em contextualizar a obra de arte, no fazer artístico e no refletir e contemplar a Arte, sem que necessariamente se deixa a técnica de lado, mas sim levar a criança a conhecê-la de forma atrelada a construção artística da criança e não isoladamente como podemos observar.

 

Educação cultural que se pretende com a Proposta Triangular é uma educação crítica do conhecimento construído pelo próprio aluno, com a mediação do professor, acerca do mundo visual e não uma “educação bancária”. Diferente da concepção de ensino como técnica que busca valorizar o produto artístico em detrimento do processo e da concepção da Arte como expressão, a concepção de Arte como conhecimento vem buscando a valorização tanto do produto artístico como dos processos desencadeados no ensino de Arte, trazendo para o contexto atual da Arte a ideia do processo e produto, que vem sendo defendida por Barbosa (1975), desde a década de 1970. A concepção de ensino de Arte como conhecimento, vem sendo destacada como a orientação mais adequada para processo de ensino de Arte na 10 contemporaneidade, pois contribui para o desenvolvimento de crianças, possibilitando a capacidade de ampliar o seu potencial cognitivo e assim conceber e olhar o mundo de modos diferentes (BARBOSA1998, p. 40).

 

           Neste sentido, dentro do processo de ensino/aprendizagem, o professor torna-se peça fundamental, atuando como mediador do processo, utilizando os mais adequados métodos de ensino em que haja o espaço para que as crianças possam se expressar, estimular a criatividade individual e coletiva, sem medo de “errar”, e consciente de que cada criança trilha seu próprio caminho de forma livre na construção do conhecimento.

 

6- Conclusão

 

De acordo com os estudos realizados desde a trajetória do interesse pelo desenho infantil até o que diz respeito à necessidade e importância do desenho no desenvolvimento cognitivo infantil é possível afirmar que tão importante quanto aprender falar, andar e se movimentar é para a criança aprender desenhar, pois assim se comunica através de símbolos que fazem parte de seu imaginário podendo evoluir passando por fases de maturações cognitivas onde aprende a utilizar linguagem cada vez mais complexas e formas de expressão mais compreensíveis na medida que interage com o meio.

Sendo assim compreende-se o desenho como um meio de interação da criança onde pode evoluir progressivamente e tornar-se atuante em seu contexto utilizando as habilidades desenvolvidas e aprimoradas através de sua ação em forma de desenho, tornando -se indispensável que o educador que faz parte desse processo, conhecer as fases do desenvolvimento do desenho infantil, assim como as fases de seu desenvolvimento cognitivo para que esteja preparado para incentivar e instigar a imaginação da criança que vai se aprimorando quanto mais se expressa e é compreendido, consegue também compreender o universo em que está inserido.

 

7 – Referências Bibliográficas

 

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