Buscar artigo ou registro:

 

 

EDUCAÇÃO MORAL NA ESCOLA, A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DOS ALUNOS DO TERCEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE CAMPO LARGO NO PARANÁ

Aline Cristine Boldt Loubak
Lucinéia Correa Godinho da Paixão
Adriana Carvalho Rodrigues Vasconcelos
Maria Cristina Zacarias

 

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso objetiva estudar a educação moral na escola como um caminho psicopedagógico para a construção da cidadania de uma turma do terceiro ano do ensino fundamental I de uma Escola Municipal. Foi investigada junto aos professores a relação entre professor-aluno dentro da sala de aula, assim como quais problemas de comportamento são os mais frequentes e como são resolvidos. Foi utilizada como instrumentos da pesquisa, a entrevista com dez professores da escola, observações na sala de aula do terceiro ano A do ensino fundamental e aplicação do Programa de Comportamento Moral, que perfizeram um total de 40 horas in loco. Os textos teóricos foram escritos através de estudos realizados nos autores pertinentes ao tema em questão tais como: Paula Inez Cunha Gomide (2012), Devries e Zan (1998), Yves de La Taylle (2010), Telma Vinha (2000) e Josep Maria Puig (1998). O Programa de Comportamento Moral discute pré-virtudes (polidez e obediência) e virtudes (empatia, amizade, mentira e verdade, honestidade, justiça e generosidade), além de trabalhar conceitos fundamentais para o desenvolvimento do comportamento moral e inibidores de comportamentos antissociais como a vergonha, a culpa, o perdão e a reparação do dano. Como resultado da pesquisa e da aplicação do Programa em questão, apreendeu-se uma relativa separação entre as concepções teóricas e a prática cotidiana dos professores, pela dificuldade encontrada por estes de colocarem em prática na sala de aula aquilo “leem nos livros”.

 

Palavras-chave: Educação Moral. Comportamento Moral. Comportamento Antissocial. Cidadania.

 

  1. INTRODUÇÃO

O tema educação moral na escola, a intervenção psicopedagogica para a construção da cidadania dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental de uma Escola Municipal de Campo Largo no Paraná, decorreu de questões levantadas ao longo da formação acadêmica do pesquisador na pós-graduação Psicopedagogia Clínica e Institucional e do acompanhamento com desalento o profundo desânimo do magistério frente às questões que dizem respeito aos mais variados problemas do sistema educacional brasileiro. O que no pleno “teórico” parece tão evidente, no parecer pedagógico mostra-se ao contrário. Assim a escola dos “sonhos” (lugar onde deveriam existir relações dialógicas, cooperativas, afetivas, justas) está longe de tornar-se uma realidade concreta no cotidiano das instituições.

Para compreender como a educação moral na escola pode se transformar no caminho para a construção da cidadania apresentou-se no seguinte trabalho de conclusão de curso fundamentos teóricos sobre comportamento moral e as virtudes; evidenciou-se a contribuição da educação moral nas escolas para a construção da cidadania e desenvolveu-se um programa de comportamento moral nos anos inicias do ensino fundamental das escolas.

A metodologia a ser utilizada neste trabalho consistirá primeiramente em uma pesquisa bibliográfica que segundo Justino (2012, p. 27) este tipo de pesquisa deve ser “realizado a partir de publicações como livros, artigos, periódicos e materiais disponibilizado na internet”, no aprofundamento do tema. Tendo como início estudos realizados nos autores pertinentes ao tema em questão tais como: Paula Inez Cunha Gomide (2012), Devries e Zan (1998), Yves de La Taylle (2010), Telma Vinha (2000) e Josep Maria Puig (1998).

Posteriormente será realizada uma coleta de dados em uma Escola Municipal de Campo Largo no Paraná. Mediante a perspectiva do tema, os procedimentos metodológicos serão estruturados e desenvolvidos com base em uma abordagem de pesquisa qualitativa, baseando-se na pesquisa descritiva e no estudo de caso.

Dessa forma, dando ênfase aos aspectos qualitativos, serão utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados: a pesquisa bibliográfica, a observação direta e a entrevista. Em seguida, realizar-se-á uma análise dos dados obtidos por meio desta coleta de dados. Neste contexto, serão buscados maiores detalhes sobre os dados coletados com a finalidade de tentar responder às indagações, que nesta pesquisa será a verificação do conhecimento e das metodologias adotadas pelos professores dos anos iniciais do ensino fundamental da Instituição sobre comportamento moral na escola.

Logo após o objetivo é sugerir a escola a aplicação do Programa de Comportamento Moral[1] sugerido no livro “Comportamento moral: uma proposta para o desenvolvimento das Virtudes” da autora Paula Inez Cunha Gomide (2012, p. 217 a 242).

A apresentação deste trabalho ocorrerá de forma descritiva, tanto neste primeiro momento na fase do levantamento bibliográfico como depois na coleta de dados na pesquisa de campo e no processo de intervenção. Por meio do embasamento desta pesquisa em referências teóricos que tratam da temática proposta, busca-se construir conhecimentos científicos significativos que poderão vir auxiliares discentes e demais profissionais do campo educacional.

 

  1. A MORAL E A ÉTICA NA HISTÓRIA

 

            Todos os dias depararam com situações onde nos impõem tomarmos decisões que dependem daquilo que consideramos bom, justas ou moralmente corretas. Essas situações necessitam de decisões que envolvem um julgamento moral, a partir do qual nos orienta como serão nossas ações. Como afirma Vallandro e Bornheim (1991, p. 108) “a característica específica do homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais”.

            A moral deve ser uma construção do ser humano, e como, todo ser humano é um ser social que junto com a sociedade sofre transformações ao longo da história, vemos que dessa forma a moral além de possuir um caráter social, caracteriza-se também por essas transformações históricas.

A preocupação com os problemas éticos e morais teve inicio desde a época de Sócrates[2], que segundo Valls (1994, p. 17) foi o “fundador da moral”:

 

A sua ética (e a palavra moral é sinônimo de ética, acentuando talvez apenas o aspecto de interiorização das normas) não se baseava simplesmente nos costumes do povo e dos ancestrais, assim como nas leis exteriores, mas sim na convicção pessoal, adquirida através de um processo de consulta ao seu "demônio interior" (como ele dizia), na tentativa de compreender a justiça das leis.

 

Sócrates sustentava que o homem possuía um saber universalmente válido, que decorre do conhecimento da essência humana, a partir da qual se pode conceber a fundamentação de uma moral universal, sua alma racional. É essa razão que fundamenta as normas e costumes morais, por isso que se definiu que a ética socrática é racionalista. O homem que age conforme a razão age corretamente.

Se devermos a Sócrates o início da filosofia moral, devemos a Aristóteles[3] a distinção entre saber teorético e saber prático, que conforme Chaui (2000, p. 438):

 

O saber teorético é o conhecimento de seres e fatos que existem e agem independentemente de nós e sem nossa intervenção ou interferência. Temos conhecimento teorético da Natureza. O saber prático é o conhecimento daquilo que só existe como consequência de nossa ação e, portanto, depende de nós. A ética é um saber prático.

 

De acordo com a autora para Aristóteles não temos o poder de interferir sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dos minerais ou dos vegetais, não interferimos ou temos o poder de decisão sobre tudo aquilo que é regido pela natureza, isto é, pela necessidade. Mas temos o poder de interferência e de decisão sobre tudo àquilo que, para ser e acontecer, depende de nossa vontade e de nossa ação.

Já na idade média a ética cristã diferenciou radicalmente da ética grega, como de acordo com Chaui (2000, p. 441) e Valls (1994, p. 36) deixam claro nestes dois relatos:

 

Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem (obediência a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca). Em outras palavras, enquanto para os filósofos antigos a vontade era uma faculdade racional capaz de dominar e controlar a desmesura passional de nossos apetites e desejos, havendo, portanto, uma força interior (a vontade consciente) que nos tornava morais, para o cristianismo, a própria vontade está pervertida pelo pecado e precisamos do auxílio divino para nos tornarmos morais.

O homem deve adotar uma nova posição que manda agir de acordo com a vontade do Deus pessoal. Para que isto seja praticamente viável, torna-se necessário conhecer a vontade deste Deus pessoal, e a filosofia sente a necessidade de uma ajuda fundamental fora dela: os homens procuram a revelação de Deus. A revelação de Deus não é uma exposição teórica, mas é toda ela voltada para a educação e o aperfeiçoamento do homem. O homem busca ser santo, como Deus no céu é santo.

 

A ética cristã abandonou a ideia de que é pela razão que se alcança a perfeição moral e centrou a busca dessa perfeição no amor a Deus levando a uma nova ideia de moral, a moral baseada no dever. A ética cristã tratou a moral do ponto de vista estritamente pessoal, como uma relação entre cada indivíduo e Deus, isolando-o de sua condição social e atribuindo à subjetividade uma importância desconhecida até então.

Na idade moderna há uma retomada do humanismo, apresentando duas tendências, sendo elas segundo Valls (1994, p. 38) “a busca de uma ética laica, racional, muitas vezes baseada numa lei natural que se supõe comum a todos os homens, e, novas formas de síntese entre o pensamento ético-filosófico e a doutrina da Revelação (especialmente a cristã)”. De acordo com o próprio autor surgiram grandes pensadores como: Rousseau e Kant.

Para Jean-Jacques Rosseau[4] tem os seus pensamentos difíceis de sintetizar, pois ele escreveu ao longo de toda a sua vida, mudando algumas de suas concepções fundamentais com o passar do tempo.

Rosseau acreditava que o ser humano vivia em um estado de harmonia com a natureza, tratando-se de um ser essencialmente bom, no entanto, o contato com a civilização corrompeu a alma humana, tornando seu caráter cheio de vícios como a mentira, a calúnia, o desprezo, a inveja, a hipocrisia, o ciúme e todos os demais vícios que segundo Rosseau envenenam a alma humana.

Rosseau vem propor uma educação voltada em sintonia com a natureza, de modo que o ser humano possa desenvolver suas potencialidades sem comprometer a retidão de seu caráter e a pureza de sua alma. Para expor suas teorias Rosseau escreve uma obra de ficção: “Emilio ou da educação” na qual o próprio autor se apresenta como um personagem, o de preceptor, onde sua função é a de educar um aluno, o Emilio, desde seu nascimento até sua idade adulta.

Conforme Vasconcelos (2011, p. 55):

 

Para Rosseau, o ideal é que a criança cresça e se desenvolva em um alto grau de isolamento, tendo contato praticamente só com o preceptor, que deve ser uma pessoa especial, alguém dotado de um caráter moral irrepreensível. Mesmo a presença dos pais é dispensada, pois eles se preocupam em demasia com o bem-estar de seus filhos, privando-os muitas vezes de experiências desagradáveis, mas necessárias a seu desenvolvimento.

 

Para Rosseau havia outro problema relacionado às crianças pequenas, a punição física. Como a criança nasce em um mundo natural e de liberdade desconhece o termo disciplina, portanto deve ser orientada, não sob ameaças ou castigo, mas percebendo as consequências de suas ações. Segundo Vasconcelos (2011, p. 56) “o castigo é sentido pela criança como uma injustiça e só gera ressentimento; por outro lado, ela é capaz de compreender as consequências desagradáveis de uma má ação praticada, evitando, assim, repeti-la no futuro”.

Conforme Rosseau somente a partir dos doze anos é que se inicia-se a idade da razão, sendo uma fase importante para evitar que o amor de si se transforme em amor-próprio, fonte de todos os vícios.

Ora, se este movimento de interiorização da reflexão e de valorização da subjetividade ou da personalidade começou com Sócrates, parece que ele culmina com Kant[5], lá pelo final do século XVIII, pois segundo Valls (1994, p. 18):

 

Kant buscava uma ética de validade universal, que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens. Sua filosofia se volta sempre, em primeiro lugar, para o homem, e se chama filosofia transcendental porque busca encontrar no homem as condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro e do agir livre.

 

Valls coloca que para Kant, as normas morais devam ser obedecidas como deveres, a noção kantiana de dever se confunde com a própria noção de liberdade, porque, em seu pensamento, o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à liberdade da razão, isto é, aquilo que a razão, no uso de sua liberdade, determinou como correto.

A exposição kantiana parte de duas distinções, segundo Chaui (2000, p. 443) “a distinção entre razão pura teórica ou especulativa e razão pura prática e a distinção entre ação por causalidade ou necessidade e ação por finalidade ou liberdade”, a própria autora explica essas duas distinções:

 

A razão pura teórica e prática são universais, isto é, as mesmas para todos os homens em todos os tempos e lugares – podem variar no tempo e no espaço os conteúdos dos conhecimentos e das ações, mas as formas da atividade racional de conhecimento e da ação são universais. Em outras palavras, o sujeito, em ambas, é sujeito transcendental, como vimos na teoria do conhecimento. A diferença entre razão teórica e prática encontra-se em seus objetos. A razão teórica ou especulativa tem como matéria ou conteúdo a realidade exterior a nós, um sistema de objetos que opera segundo leis necessárias de causa e efeito, independentes de nossa intervenção; a razão prática não contempla uma causalidade externa necessária, mas cria sua própria realidade, na qual se exerce. Essa diferença decorre da distinção entre necessidade e finalidade/liberdade. (CHAUI, 2000, p. 443).

 

Émile Durkheim[6] “argumentava que, embora a sociedade seja formada a partir dos indivíduos, ela é algo mais do que a soma deles”. Assim como em um ser vivo cada órgão cumpre uma função sem se confundir com a totalidade do organismo, o comportamento e a personalidade do indivíduo não se confundem com o comportamento e a personalidade do grupo social ao qual esse indivíduo pertence.

Outro importante princípio da teoria de Durkheim é o de que os conhecimentos, crenças, hábitos, valores, normas, tudo vem do exterior, isto é, do meio que o indivíduo vive.

 

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança particularmente se destine. (VASCONCELOS, 2011, apud. Durkheim, 1975, p. 81)

 

            Para Vasconcelos Durkheim acreditava que a sociedade em que a criança estava inserida tinha um grande poder de inserir nela todo o seu conhecimento, e quanto mais eficiente fosse esse processo melhor seria o desenvolvimento de ambas as partes. Dessa forma as consciências individuais são formadas pela sociedade. Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo.

 

Toda educação consiste num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente [...] desde os primeiros anos de vida, são as crianças forçadas a comer, beber, dormir em horas regulares; são constrangidos a terem hábitos higiênicos, a serem calmas e obedientes; mais tarde obrigamo-las a aprender a pensar nos demais, a respeitar usos e conveniências, forçamo-las ao trabalho etc. (MELO, 2011, apud. Durkheim 1984, p. 29).

 

            Melo concebe a educação num duplo movimento de um lado, como impondo valores e regras sociais a serem assimiladas pelas novas gerações; por outro, a necessidade intrínseca dessa imposição para a perpetuação da sociedade coesa, como um organismo em bom estado de funcionamento.

De acordo com Stoltz (2011, p. 26) para Jean Piaget[7] as crianças não pensam como os adultos, como se acreditava naquela época, certas habilidades ainda não foram totalmente desenvolvidas. Para Piaget os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais e será durante a convivência diária, principalmente com o adulto, que ela irá construir seus valores, princípios e normas morais.

Para que estas interações aconteçam, há a ocorrência de processos de organização interna e adaptação, isso ocorre na interação de processos denominados assimilação e acomodação.

 

Assimilação é o processo de incorporação do objeto aos esquemas que o sujeito já construiu. Esse mecanismo permite uma primeira compreensão da realidade, que pode, contudo, ser deformada, dependendo dos esquemas práticos e conceituais que o sujeito possui. Se explicássemos o conhecimento somente pela assimilação, não entenderíamos a possibilidade de avanços. Por isso, a assimilação é constantemente balanceada pela acomodação. STOLTZ (2011, p. 18).

Acomodação é o processo de ajuste do sujeito ao objeto novo. Isso não ocorre de uma hora para outra, mas lentamente, por aproximação, determinando a possibilidade de avanço do conhecimento. A adaptação pode ser entendida como um estágio temporário de equilíbrio. Temporário porque logo aparecerão novos objetos por conhecer, que determinarão novos desafios para o sujeito. STOLTZ (2011, p. 19).

 

Os esquemas de assimilação se modificam de acordo com os estágios de desenvolvimento do indivíduo e consistem na tentativa destes em solucionar situações a partir de suas estruturas cognitivas e conhecimentos anteriores. Ao entrar em contato com a novidade, retiram dele informações consideradas relevantes e, a partir daí, há uma modificação na estrutura mental antiga para dominar o novo objeto de conhecimento, gerando o que Piaget denomina acomodação.

De acordo com Araguaia (2011, p. 17) num artigo colocado no portal Brasil Escola aponta que Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral abrange três fases, denominadas:

 

... anomia (crianças até 5 anos): geralmente a moral não se coloca, com as normas de conduta sendo determinadas pelas necessidades básicas. Porém, quando as regras são obedecidas, são seguidas pelo hábito e não por uma consciência do que se é certo ou errado. Um bebê que chora até que seja alimentado é um exemplo dessa fase. heteronomia (crianças até 9, 10 anos de idade): O certo é o cumprimento da regra e qualquer interpretação diferente desta não corresponde a uma atitude correta. Um homem pobre que roubou um remédio da farmácia para salvar a vida de sua esposa está tão errado quanto um outro que assassinou a esposa, seguindo o raciocínio heteronômico. autonomia: legitimação das regras. O respeito a regras é gerado por meio de acordos mútuos. É a última fase do desenvolvimento da moral.

 

2.1 DISTINÇÕES ENTRE MORAL E ÉTICA

 

Na linguagem comum, costumeira ética e moral por vezes são usados como sinônimos, conforme La Taille (2010, p. 108) “diz-se de uma pessoa que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e atitudes; poder-se-ia chamá-la ‘imoral’. Quando se fala em ‘problemas éticos’, costuma-se fazer referência a questões atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral”. Vemos que tal junção pode ser perfeitamente aceitável do ponto de vista acadêmico.

Vejamos definições de ética e moral no dicionário Michaelis on-line:

 

Ética: 1 Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática. 2 Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão;

Moral: adj. De acordo com os bons costumes. / Que é próprio para favorecer os bons costumes. / Relativo ao espírito; intelectual (por oposição ao físico, ao material). Estado de espírito, disposição de ânimo. / A parte da filosofia que trata dos costumes, deveres e modo de proceder dos homens nas relações com seus semelhantes; ética. / Corpo de preceitos e regras para dirigir as ações do homem, segundo a justiça e a equidade natural. / As leis da honestidade e do pudor; moralidade.

 

Para Gomide (2012, p. 22) “a ética é o estudo filosófico da moral e esta é o conjunto de normas aceitas, livre e consciente, que regulam o comportamento individual e social dos homens”. São normas que regem condutas humanas, como um conjunto de normas e princípios que um grupo estabelece como exemplo: os códigos de ética dos médicos, dos advogados, dentre outros.

Sendo que a moral tem duas dimensões segundo Gomide (2012, p. 23) são elas:

 

A normativa, que implica em normas ou regras de ação e imperativos que enunciam o que deve ser feito, e a moralidade, plano dos fatos morais, constituídos por aqueles atos humanos sujeito à aprovação ou reprovação no sentido moral, uma vez que por seus resultados ou consequências afetam os outros.

 

A moralidade nada mais é que nossa consciência moral que de acordo com é a possibilidade de observar sua própria conduta e através disso julgar seus atos do passado, presente e suas intenções futuras sobre o ocorrido, para somente após ter condições de escolher, dentre as circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida. Essa condição de possibilitar suas próprias escolhas, construir sua maneira de ser e sua história é o que chamamos de liberdade.

 

O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva. Chaui (2000, p. 431).

 

O senso e a consciência moral é o que nos inclina para o caminho da virtude, há muitas interpretações sobre o significado de virtudes, mas pode-se dizer, basicamente, que é a prática constante do bem, correspondendo ao uso da liberdade com responsabilidade moral.

 

2.1. O COMPORTAMENTO MORAL E PRÁTICAS EDUCATIVAS

 

Temos acompanhado o profundo desânimo do magistério frente às questões que dizem respeito aos mais variados problemas do sistema educacional brasileiro. Assim a escola dos “sonhos” (lugar onde deveriam existir relações dialógicas, cooperativas, afetivas, justas) está longe de tornar-se uma realidade concreta no cotidiano das instituições, Puig (1998, p. 08), alerta que “a sociedade contemporânea vive uma ‘crise de valores’”.

Em 1971, a Lei nº. 5692/71 constituiu a Educação Moral e Cívica como área da educação escolar no Brasil. La Taille (2010, p. 106) faz uma crítica à forma como as questões morais foram trabalhadas neste período, afirmando que “a investida pedagógica do governo militar que levou o nome de Educação Moral e Cívica ajudou a empurrar a palavra “moral” para os calabouços semânticos da Educação”.

As Diretrizes Curriculares para o Ensino de 1º grau aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, em janeiro de 1998, propuseram uma perspectiva curricular que se preocupava em garantir o pleno desenvolvimento do discente. Para isto os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL,1997) implicam em propostas de conteúdos que devem referenciar e orientar a estrutura curricular das escolas brasileiras, contemplando os conteúdos curriculares tradicionais (Matemática, Língua Portuguesa, Ciências, entre outros) e os conteúdos considerados transversais: Ética, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde, Trabalho e Consumo.

 

O conjunto de temas aqui proposto (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual) recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando a metodologia proposta para sua inclusão no currículo e seu tratamento didático. (PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p. 25).

É preciso atentar para o fato de que a possibilidade de inserção dos Temas Transversais nas diferentes áreas (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Arte e Educação Física) não é uniforme, uma vez que é preciso respeitar as singularidades tanto dos diferentes temas quanto das áreas. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS,1997, p. 32).

 

O currículo ganha a flexibilidade e a abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais e, devem ser discutidos com relação às disciplinas tradicionais de forma interdisciplinar, levando à necessidade de se considerar a teia de relações entre diferentes aspectos sociais.

 

Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam essa tendência e a incluem no currículo de forma a compor um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. O currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais e outros temas podem ser incluídos. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p. 25).

 

            Gomide (2012, p. 34) coloca que “o comportamento moral, virtudes, valores ou ética precisam ser ensinados ao homem, desde sua infância, para que o ser humano se aprimore a ponto de preservar a própria espécie, a cultura e as gerações futuras”. Neste contexto vemos a importância de se iniciar já no início da vida escolar o aprendizado de regras e valores morais para a construção dos futuros cidadãos.

Para a organização dessas regras e valores existe a moralidade que se refere ao desenvolvimento das crenças, dos valores, das ideias dos sujeitos sobre a noção do certo, do errado, dos juízos. De acordo com a autora a moral não é um valor que nasce com o ser humano, ela é passada aos filhos pelos pais e adultos ao seu redor, sendo vista como um conjunto de regras e, princípios, que orientam o comportamento humano, sendo o caminho onde os valores são relacionados ao que nos faz bem ou o que nos faz mal.

 

Para a criança, a construção da inteligência se dá a partir da interação com o meio. O mesmo vale para a moralidade. A construção dos valores, o desenvolvimento moral, se dá a partir da interação da criança com pessoas e situações. Não existe moral sem o outro. A moral, necessariamente, envolve o outro, porque se refere a regras, a normas, como as pessoas devem agir perante o outro. A construção dos valores se dá a partir das experiências com o outro. (VINHA 2000, p. 18)

 

            A criança aprende convivendo e observando o meio em que vive, com troca de experiência com os que estão ao seu redor. Esses ambientes de troca de experiência que chamamos de ambiente sócio moral que de acordo com De Vries e Zan (1998, p. 17) é “toda a rede de relações interpessoais que forma a experiência escolar da criança. Essa experiência inclui o relacionamento da criança com o professor, com as outras crianças, com os estudos e com as regras”.

Conforme Stoltz (2011, p. 17) de acordo com a teoria construtivista de Piaget “os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais” comprovam que a criança necessita de uma estreita conexão com o meio social, para o processo de construção da moralidade, que não ocorre somente através do ato verbal.

De acordo com Vinha (2000, p. 17):

 

Piaget mostra o que vai fazer diferença entre uma moral autônoma – quando uma pessoa governa a si mesma, é responsável pelos seus atos, leva em conta o outro antes de tomar uma decisão – e uma moral heterônoma – quando a pessoa é governada pelos outros. É uma pessoa que justifica o que ela faz, justifica o que ela sente em nome do outro, do terceiro.

 

Na teoria de Piaget, a criança nasce na anomia, ou seja, na ausência total de regras e leis. Após os cinco anos, quando começa a si perceber e aos outros ao seu redor começa a entender as condições do que se pode ou não fazer, entra no estágio heteronomia. Na, heteronomia as crianças aceitam os deveres como impostos; não como obrigações criadas pela consciência. O bem é aceito quando há o cumprimento de uma ordem, o certo é a observação da regra que não deve ser deixada de lado por quaisquer interpretações. Todos nós obedecemos a normas e leis por medo de uma punição ou castigo, mas, na ausência de uma autoridade pode ocorrer a indisciplina. De Vries e Zan (1998 p. 54) complementam a teoria de Piaget dizendo que “a moralidade heteronomia é o conformismo com as regras externas que são simplesmente aceitas e seguidas sem questionamentos”.

Já na autonomia, o sujeito passa a ter uma consciência moral. Os deveres são cumpridos através de uma consciência de haver necessidade e possui coerência. Os fundamentos passam a ter valor nos princípios éticos e morais. E na ausência de uma autoridade segue-se o mesmo padrão, ou seja, não se foge a regra. O indivíduo tem responsabilidade, é auto disciplinado e muito correto. A responsabilidade pelos atos se dá de acordo com a intenção e não apenas pela consequência. “Seguir regras de outros por meio de uma moralidade de obediência jamais levará à espécie de reflexão necessária para o compromisso com princípios internos ou autônomos de julgamento” De Vries e Zan (1998, p. 55).

 

O que faz uma criança desenvolver mais ou menos a sua moralidade e a sua autonomia é justamente o convívio, se ela está interagindo num ambiente autoritário ou democrático. Mas a concepção de autoritário não é apenas o “não”. Em um ambiente em que tudo é não, é natural que a criança tenha mais dificuldades de tomar decisões para assumir responsabilidades e ficar com medo de punições. [...] Assim, um ambiente autoritário é um ambiente em que não é permitido que a criança faça as coisas por ela mesma. O democrático é o contrário, é aquele ambiente em que a criança planeja junto com o professor quais atividades vão ter naquele dia. Ela vai tomar decisões, escolher, dentre as opções oferecidas pelo professor, que quer fazer. É o ambiente em que as crianças montam os cantinhos, pegam os materiais e estes são compartilhados. A criança é quem decide e o ritmo dela é respeitado. (VINHA 2000, p. 23).

 

Vinha coloca a importância do indivíduo construir uma moral autônoma, com a capacidade de elaborar suas próprias normas, a qual se constitui nas relações de cooperação com o meio em que vive ser capaz de resolver seus próprios objetivos e saber agir na resolução destes. Respeitar a autonomia é valorizar e considerar as opiniões e escolhas, evitando, da mesma forma, o impedimento de suas ações, a menos que elas sejam prejudiciais para outras pessoas. Desrespeitar um sujeito autônomo é não valorizar seus julgamentos, é negar a ele a liberdade de ação. A autonomia só é visível quando há respeito mútuo e quando o indivíduo se depara com a necessidade de tratar o próximo da maneira como gostaria de ser tratado.

Vinha descreve que a autonomia não se desenvolve em uma atmosfera de autoridade, opressão intelectual e moral. Também não se consolida por discursos, sermões, sanções ou normas. Ao contrário, para que ela ocorra, é fundamental as experiências em situações de cooperação, liberdade e respeito mútuo e também as experiências de vida. É a partir dessas trocas que a criança desenvolve sua personalidade, e percebe aos poucos que as pessoas possuem diferentes necessidades e maneiras de pensar e agir.

Não podemos falar de construção de valores e virtudes sem considerar os sentimentos dos envolvidos no processo, pois de acordo com Vinha (2000, p. 17) “o desenvolvimento moral refere-se ao desenvolvimento das crenças, dos valores, das idéias dos sujeitos sobre a noção do certo, do errado, dos juízos”. Esses sentimentos devem ser considerados, e para que haja orientação desses sentimentos devem existir princípios como: lealdade, verdade e honestidade.

Construção da moralidade implica numa reflexão de o porquê seguir determinadas regras ou leis, muito mais em somente obedecê-las.  A importância não está em a criança obedecer às ordens dos adultos ou cumpre as regras determinadas na escola, pois não queremos que a criança obedeça às regras apenas quando o adulto está presente, ou para conseguir a sua aprovação, ou por medo de perder o seu amor ou de ser castigada, na verdade a criança deve ter a consciência sobre a necessidade de existir determinada normas nas relações entre pessoas. Queremos na verdade que ela acredite realmente na importância de seguir certos valores morais como o respeito por si e pelos outros.

A educação moral dentro do ambiente escolar deve sensibilizar os alunos a discutir as questões éticas e morais contemporâneas e através do diálogo contribuir para a formação de indivíduos capazes de tomar decisões autonomamente e tornar-se críticos em seu meio.

Mas como toda relação onde há o envolvimento de diferentes tipos de pessoas, de sentimentos, de culturas e de valores há conflitos. Esses conflitos são necessários para o desenvolvimento da criança, devendo ser encarada pelos professores como ricas oportunidades de se trabalhar valores e regras. De acordo com De Vries e Zan (1998, p.13) “na perspectiva construtivista pode ser única ao apresentar o conflito e a sua resolução como partes importantes do currículo e não apenas o vendo como um problema a ser administrado”, dessa forma o professor não deve priorizar a solução do conflito em si, mas todo o processo de resolução e a forma com que os envolvidos enfrentaram o problema.

Na concepção de Puig (2007, p. 114) a inteligência moral compõe-se de acordo com esses conflitos gerados no convívio em sala de aula:

 

[...] um conjunto de capacidades psicomorais que tornam possível a deliberação e a direção moral. Diante de experiências de conflito moral, nós, humanos, colocamos em ação – de forma imediata e frequentemente inconstante – uma série de capacidades que nos permitem atividades como valorar, questionar, compreender, contrastar, tomar decisões e levá-las a termo. A inteligência moral tem uma natureza funcional e seu uso correto permite a cada sujeito enfrentar adequadamente as questões morais que lhe são colocadas pela vida cotidiana.

 

Sendo a inteligência moral um conjunto de múltiplas capacidades para definir e deliberar sobre a direção moral e os conflitos sociomorais, isto é, um elemento impulsionador no processo de construção da personalidade moral, é imprescindível que a escola que se preocupa com a formação moral de seus educandos considere tais situações nas práticas educativas da instituição. Conforme Puig (2007, p. 95):

 

A tese que defendemos é que a construção da personalidade moral depende, em parte do efeito causado pelo conjunto da instituição educacional. Afirmamos que a totalidade da instituição é uma poderosa força educativa que incide sem cessar na formação pessoal dos alunos.

 

Assim, identificar e compreender as causas da existência dos conflitos, problematizarem essas situações entre os alunos quando ocorrem violências físicas e psicológicas são atitudes necessárias a qualquer professor. Essas atitudes favorecem a construção de um ambiente de diálogo no qual as crianças são convidadas a expressar seus pontos de vista, ao mesmo tempo em que conhecem as razões de seus pares. Nesse sentido, as experiências de trocas entre as crianças contribuem para a conquista da autonomia e para a aprendizagem de capacidades como a empatia, a reciprocidade e a sensibilidade moral.

Os professores que dominam esta concepção compreendem o conflito e sua solução como partes importantes do currículo, assim como outros conteúdos que precisam ser trabalhados. E, ao invés de gastarem tempo e energia tentando preveni-los, aproveitam para auxiliar os alunos a conhecerem seus próprios pontos de vista, os pontos de vista dos outros e a buscarem soluções aceitáveis, respeitosas e cooperativas.

De acordo com Puig a melhor forma de o professor desenvolver simultaneamente a sensibilidade, o juízo e a conduta moral de seus alunos é os aproximando das situações reais nas quais se vivencia uma problemática moralmente relevante. Ver a realidade de perto é o melhor modo de entendê-la e de sentir-se tocado por ela.

Sendo assim, visando o alcance desses objetivos, segundo Puig, (1998, p. 30):

 

As atividades de educação moral devem ser sistemáticas. Nem as metodologias específicas, nem seu estabelecimento transversal podem recair em atividades ocasionais e talvez desordenadas, mas sim devem estar regulados e orientados por uma proposta curricular específica.

 

Puig coloca que a proposta de uma educação voltada para a ética e para os valores deve estar presente durante o decorrer do ano letivo, nas salas de aula. Os trabalhos e atividades desenvolvidos mesmo que de maneira transversal, devem conter posturas, comportamentos e atitudes que incentivem o desenvolvimento de tais aspectos.

De acordo com Puig (1998, p. 15)

 

A educação moral deve ajudar a analisar criticamente a realidade cotidiana e as normas sociomorais vigentes, de modo que contribua para idealizar formas mais justas e adequadas de convivência. Também pretende aproximar os educandos de condutas e hábitos mais coerentes com os princípios e normas que vão construindo. E finalmente, a educação moral quer formar hábitos de convivência que reforcem valores como justiça, a solidariedade, a cooperação ou o cuidado com os demais.

 

A educação moral estabelece a necessidade de apreciar, manter e aprofundar a democracia, incorporando hábitos pessoais de inter-relação, permitindo organizar de forma mais justa os conflitos gerados pela vida coletiva, mas para isto deve haver planejamento, organização e execução interdisciplinar.

Gomide (2012, p. 34) introduz uma categoria intitulada “comportamento moral, como prática educativa positiva e aponta que o desenvolvimento desta categoria deve ocorrer na mais terna infância”. A autora sugere que pais e professores a ensinem assim como ensinam a criança a se alimentar, se comunicar, ter hábitos de higiene, dentre outros. O comportamento moral compreende diferentes comportamentos, entre eles, polidez, obediência, empatia, amizade, mentira, honestidade, justiça, generosidade, vergonha e culpa, perdão e reparação de danos.

A polidez não é propriamente uma virtude segundo Gomide (2012, p. 35), mas tem a aparência de uma, “ela é anterior à moral, pois representa o respeito e a consideração que fazem das relações sociais mais agradáveis”.

O conceito de obediência requer conforme Gomide (2012, p. 45) que sejam “considerados comportamentos como respeitar leis; acatar regras; seguir instruções; aderir a modismos e a normas, incluindo a adesão a tratamentos médicos e a procedimentos de prevenção de doenças; comprar produtos em oferta, etc”. A autora coloca que o comportamento de obedecer é considerado como base para o desenvolvimento do comportamento moral e para a prevenção do comportamento antissocial.

A empatia, segundo os autores Del Prette e Del Prette (2001 apud Gomide 2012, p. 72) a empatia “refere-se à capacidade de compreender e sentir o que alguém pensa e sente em uma situação de demanda afetiva, comunicando-lhe tal compreensão e sentimento”. Aquele que recebe a expressão empática sente-se apoiado, seguro e merecedor de afeto.

Segundo Garcia (2005 apud Gomide 2012, p. 83), amizade é um “laço afetivo com atividade social intensa em que há desempenho efetivo em tarefas de maior reciprocidade e intimidade”, surgindo então, um contexto para crescimento social e emocional.

Para Gomide (2012, p. 101) quando se fala de comportamento moral, é possível “diferenciar dois tipos de mentira: a “leve” ou “mentira social” e a “nociva” ou “prejudicial””. A primeira é socialmente aceita e não implica em prejudicar outrem. Ela ajuda a preservar relações e estreitar laços. A segunda, é aquela por meio da qual se obtêm vantagens, prejudicam-se outras pessoas, esta é vista como desleal e desonesta.

 Ser honesto, para Gomide (2012, p. 115) “trata-se de ser íntegro, honrado, agir sempre com base em regras morais vigentes”. Para um individuo ser considerado honesto de acordo com a autora, este deve ser moralmente irrepreensível e enquadrar seu comportamento rigorosamente dentro das regras de uma ética socialmente aceita.

A justiça pode ser considerada a mais importante de todas as virtudes, pois nos remete a um valor de igualdade e equidade, indo além do sentido da legalidade segundo Gomide (2012, p. 133).

Segundo Gomide (2012, p. 149) a generosidade é a “virtude que possibilita que o indivíduo saia de seu próprio espaço, onde tem toda a sua vida e seus problemas, para atender o outro”, que nada lhe dará em troca, ainda que o outro tenha usado seu tempo e vontade para ajudá-lo, é realmente dar sem esperar resposta, já que esse ato já é causador de seu bem-estar, e não o seu resultado.

Vergonha e culpa de acordo com Gomide (2012, p. 175) estão intimamente ligados ao “desenvolvimento do comportamento moral e associados à apresentação ou não de comportamentos antissociais”. Quando uma pessoa sente vergonha ou culpa ela também refreia a tendência à ação de atos inadequados que foram, no passado, relacionados à consequências punitivas.

Para Snyder e Lopez (2007 apud Gomide 2012, p. 202), o perdão tem uma “vantagem evolutiva adaptativa, dado que auxilia a preservar a estrutura social e assim como os demais comportamentos humanos, o perdão é, em grande parte, aprendido, sendo incentivado de forma preliminar”.

Logo, o comportamento moral, segundo Gomide (2012, p. 27), é um “conjunto de atitudes que permite ao indivíduo obter bom comportamento dentro de sua cultura, aceitação e aprovação social”, além de ser uma alternativa a disposição da sociedade capaz de recolocar a espécie humana em um caminho onde exista preservação da cultura em gerações futuras.

Ainda que não seja uma tarefa fácil determinar qual o comportamento ético a ser ensinado, o que é moralmente correto ou, ainda, quais comportamentos morais a ser discutida em disciplinas escolares, a construção desta prática nas escolas, visando melhor preparar a comunidade escolar e fomentar experiências de comportamento moral nas crianças, parece ser um caminho interessante para se desenvolver valores que favoreçam a sobrevivência da cultura e, por conseguinte, das vidas futuras.

 

2.2 RELATÓRIO DE PESQUISA, OBSERVAÇÃO E APLICAÇÃO DO PROJETO

 

A escola pesquisa foi selecionada devido ao grande índice de reclamações e relatos de violência entre os alunos, pelos professores a estagiaria durante um estágio remunerado realizado nesse contexto escolar pela estagiaria pesquisadora no ano anterior.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico a escola possui 212 alunos matriculados, sendo divididos da seguinte forma o primeiro ano tem 28 alunos, o segundo ano A 23 alunos e o segundo ano B 24 alunos, o terceiro ano A 15 alunos e o terceiro ano B 21 alunos, o quarto ano A tem 25 alunos e o B 23 alunos, o quinto ano A tem 26 alunos e o B tem 27 alunos. A escola oferta o turno matutino e vespertino.

Foi realizado uma semana de observações, nos dias 20, 21, 22, 23 e 24 de março de 2017, na sala do terceiro ano A do ensino fundamental, onde foi aplicado o Programa de Comportamento Moral, sendo levantado uma entrevista com professores dos anos iniciais do ensino fundamental, como benefício a contribuição para um melhor resultado no fim da aplicação do Programa em questão.

Através de entrevista com a diretora do contexto escolar estagiado soubesse que não há nenhum programa ou projeto sendo realizado sobre valores para tentar mudar essa realidade de violência que se encontra a escola. A diretora comentou sobre a importância de se iniciar algo para tentar recuperar o respeito entre os alunos e principalmente propiciar um ambiente saudável para o ensino e recuperar o ânimo dos professores, que devido ao constante desrespeito dos alunos, estão em processo de estresse.

Para a conclusão da pesquisa foi selecionado dez professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, todos foram informados dos objetivos da pesquisa e que poderiam se recusar a dar tais informações ao entrevistador sem que ocasionassem qualquer tipo de constrangimento, e não precisariam apresentar quaisquer justificativas para isso, suas identidades seriam mantidas em sigilo e caso quisessem poderiam ser informados de todos os resultados obtidos com a pesquisa, independentemente do fato de mudar seu consentimento quanto a sua participação. A pesquisa foi realizada individualmente, mas todos os entrevistados tiveram conclusões e respostas muito parecidas, uma complementando a outra.

Os professores entrevistados foram questionados se há algum tipo de problema de comportamento entre os alunos na turma em que atua e quais são esses problemas, todos os entrevistados responderam que sim, sendo os problemas citados: brigas entre os alunos tanto em sala quanto em horários de intervalo, sendo que a grande parte dessas brigas ocorre agressões físicas, ofensas verbais entre os alunos, ocorrências de agressões verbais e físicas de alunos contra os próprios professores e há ocorrências de agressões de assédio sexual de alguns meninos contra as meninas colegas de sala.

Segundo a diretora na maioria dessas ocorrências a professora pede auxilio da equipe pedagógica ou da direção e muitas vezes os professores saem em prantos da sala de aula, demonstrando o elevado grau de estresse em que os professores têm vivido dentro desse contexto escolar.

Ao serem questionados sobre a frequência dessas ocorrências todos os professores relataram que elas ocorrem diariamente. Foi perguntado aos entrevistados como são resolvidos os problemas ocorridos, foi relatado que normalmente é chamado à atenção, dependendo da ocorrência, o aluno é encaminhado à direção onde passa por um diálogo com a pedagoga e os pais são chamados para conversar a respeito da ocorrência, não resolvendo é acionado o conselho tutelar.

De acordo com a diretora e a pedagoga esse é mais um dos problemas enfrentados pela escola, a maioria dos pais não comparecem alegando não terem tempo devido ao trabalho e quando atendem a solicitação culpam a escola ou o professor, dificilmente há um acordo entre a escola e os pais para solucionar o problema.

Dessa forma ao serem questionados, todos os entrevistados responderam que todas as ocorrências de problemas comportamentais ocorridas no contexto escolar retornam a acontecer e sempre envolvendo os mesmos alunos envolvidos anteriormente. Todos os entrevistados acreditam que isso ocorre devido a vários fatores sendo eles: a escola não possuir um projeto de como trabalhar com esses alunos “problemáticos”, a escola não desenvolver um método disciplinar eficiente, os pais não participarem ativamente da vida escolar dos filhos, a realidade precária que se encontra essas famílias como pais separados, pais envolvidos com drogas, alcoolismo ou problemas com a justiça.

Os entrevistados foram questionados se trabalham em sala valores comportamentais todos os entrevistados responderam que não, devido à grande carga curricular repassada a eles e as cobranças por parte da equipe pedagógica para estarem em dia com os conteúdos, relatam não disponibilizarem de tempo para desenvolver outros trabalhos em sala.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 48) a escola deve se preocupar com o desenvolvimento das capacidades de seus alunos, “ajustando sua maneira de ensinar e selecionar os conteúdos de modo a auxiliá-los a se adequarem às várias vivências a que são expostos em seu universo cultural”, não deixando de considerar as capacidades trazidas pelos seus alunos e potencializando-as, preocupando-se com aqueles alunos que encontram dificuldade no desenvolvimento das capacidades básicas. Para que isso ocorra da melhor forma os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 62) dão autonomia à escola:

 

A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se, elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento, organizar-se em função de metas eleitas, governar-se, participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala de uma relação emancipada, íntegra com as diferentes dimensões da vida, o que envolve aspectos intelectuais, morais, afetivos e sociopolíticos. Ainda que na escola se destaque a autonomia na relação com o conhecimento — saber o que se quer saber, como fazer para buscar informações e possibilidades de desenvolvimento de tal conhecimento, manter uma postura crítica comparando diferentes visões e reservando para si o direito de conclusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o desenvolvimento da autonomia moral (capacidade ética) e emocional que envolvem autorrespeito, respeito mútuo, segurança, sensibilidade, etc.

 

De acordo com a Diretora e a Pedagoga há dificuldades para realizar um trabalho pedagógico de qualidade devido aos professores encontrar problemas como: alunos desmotivados que chegam famintos na escola. A maioria das crianças fica ociosa nas ruas, existe uma grande quantidade de pais alcoólatras, totalmente ausentes da vida escolar dos filhos, crianças sem limites e violentas, sem valores éticos e morais. São na grande maioria alunos que trazem para a escola as defasagens sociais e culturais consequentes da sociedade desigual e discriminatória.

Gomide (2012, p. 30) relata bem essa questão da dificuldade da escola nos dias de hoje:

 

Um dos grandes problemas enfrentados pela educação brasileira, nos dias de hoje, é a inadequação dos conteúdos da grade curricular. Uma visão mais crítica mostra que, de maneira geral, esses conteúdos estão dissociados da realidade e do cotidiano dos alunos. Uma possibilidade de reorganização da escola, que não abra mão dos conteúdos curriculares tradicionais, é a inserção transversal na estrutura curricular de temas como saúde, ética e meio ambiente.

 

A autora coloca a importância de a escola trabalhar os conteúdos da grade curricular associando-os com a realidade vivida pelo aluno, assim como trazer para dentro da sala de aula a realidade da sociedade em que o aluno está inserido, podendo dessa forma se beneficiar dessa grande variedade de vivencias que encontramos dentro de um contexto escolar.

Gomide (2012, p. 30) vai além, dando sugestões de que maneiras como o professor pode vir a trabalhar com seus alunos em sala de aula:

 

Os conteúdos devem ser administrados através de atividades reflexivas, conceituais concretas e prático-experienciais. As reflexivas trabalhariam a realidade pessoal e coletiva, relacionando-as aos conteúdos escolares, utilizando discussões em grupos, análise de filmes, discussão de dilemas, resolução de conflitos. As atividades conceituais concretas e as prático-experenciais promoveriam atividades onde os conceitos seriam experenciados, através de dramatização ou de experiências reais ( fazer doações, participar de grupos comunitários, etc.)

 

A turma do terceiro ano A do ensino fundamental tem quinze alunos no total, sendo nove meninas e seis meninos. Durante as observações notou-se o total desrespeito dos alunos com a professora regente da turma, ela não conseguiu concluir nenhuma das aulas observadas. Constantemente os alunos brigaram em sala, chegando muitas vezes rolarem no chão e se agredirem fisicamente. As meninas sofrem com o desrespeito dos colegas masculinos da sala de aula, onde as chamam de feias, gordas, dentre outros pejorativos de baixo calão.

No primeiro dia de observação, após o recreio um aluno decidiu que não queria mais assistir a aula e quis sair da sala, ao a professora proibi-lo ele começou a jogar os materiais que estavam na mesa de seus colegas no chão, chegando em alguns momentos jogar alguns penais para fora da sala, para conte-lo a professora trancou a porta e ficou o tempo todo tentando acalmá-lo, não houve mais aula nesse dia.

No segundo dia de observação a professora distribuiu uma folha para cada aluno onde deveriam escrever o que tinham feito nas férias escolares, alguns minutos depois do início a atividade um aluno foi passando de carteira em carteira puxando e jogando no chão as folhas dos colegas originando uma enorme briga entre os envolvidos, a professora chamou a direção para auxiliá-la na briga.

No terceiro dia de observação, dois alunos brigaram violentamente chegando a jogarem as carteiras um no outro no momento de fúria. A professora saiu da sala aos prantos para chamar ajuda da pedagoga e da diretora para conter os alunos enfurecidos, deixando os alunos sozinhos na sala no momento da briga. Nesse mesmo dia o tio de um dos alunos veio buscá-lo na escola totalmente embriagado necessitando da ajuda do aluno para conseguir caminhar de volta para casa.

No quarto dia de observação, um aluno pediu para ir ao banheiro, alguns minutos depois de seu retorno à sala o aluno iniciou um incêndio na sala, colocando fogo em uma pilha de livros para recorte que estava no fundo da sala. Houve muitos gritos e correria na sala, a professora correu para apagar o incêndio. O pai do aluno foi chamado a escola para conversar a respeito da ocorrência.

No último dia dois alunos brigaram e um dos envolvidos retirou da mala um pequeno canivete para tentar agredir o outro colega envolvido na briga. Os pais foram chamados para comparecer à escola. Os pais são separados e ao chegarem no portão da escola se agrediram verbalmente um ao outro procurando achar o culpado pela atitude do filho na escola.

A todo o momento os alunos agridem verbalmente a professora, a chamando de vagabunda, retardada, idiota, dentre outros xingamentos. Em nenhum dos casos de agressão à professora os alunos envolvidos tiveram algum tipo de represália, afastamento, acompanhamento por parte da direção da escola ou método disciplinar.

O Programa de Comportamento Moral foi elaborado para ser realizado em 13 aulas, com duração média de 90 minutos cada, sendo uma por semana. Cada aula tem um objetivo específico, visando a aquisição de um comportamento moral, através do ensinamento das virtudes, de forma gradativa.

A primeira sessão teve como objetivo estabelecer as apresentações e as regras do grupo. Durante o primeiro encontro realizado no dia 05/03, em um primeiro momento foram realizadas as apresentações, através da utilização de bombons. Cada criança pegou um bombom e as crianças com bombons iguais foram convidadas a conversar com um colega (duplas) sobre seus gostos. Enquanto conversavam, receberam um crachá e canetinhas coloridas, e cada uma confeccionou o próprio crachá.  No fim do tempo cada um apresentou o colega para o resto do grupo. A estagiária também confeccionou crachá e se apresentou.  Uma média de 2 minutos por aluno.

Em um segundo momento desse encontro, com um papel cartaz colado no quadro negro, cada participante foi convidado a indicar uma regra para o bom funcionamento do grupo. A estagiária também indicou uma regra. As regras foram: é proibido gritar, bater no colega, para falar levante a mão, aguarde sua vez, ficar em silencio, bater na porta antes de entrar, dentre outras. O encontro foi finalizado com a leitura de todas as regras e esclarecimentos sobre a necessidade e importância dos cumprimentos das mesmas por todos. 

A segunda sessão visa conhecer e exercitar os comportamentos de polidez ou boas maneiras, avaliando a sua importância com o bom convívio social. Esse segundo encontro foi realizado no dia 1203. Primeiramente a estagiária explicou aos alunos como funcionará em todos os encontros o “Quadro de Reforçamento” onde foram revistas algumas regras estabelecidas no primeiro encontro. Logo após o grupo de alunos foi dividido em cinco subgrupos. Foram oferecidas cinco situações em quadrinhos animados (anexo 01) em que os personagens não apresentavam comportamentos de polidez adequados: Quadro 1: agradecer; Quadro 2: pedir “por favor”; Quadro 3: pedir com licença; Quadro 4: desculpar-se e Quadro 5: cumprimentar. Em seguida pedimos aos alunos para que identificassem os comportamentos não polidos. Logo após foi solicitada a elaboração e dramatização sobre os cinco comportamentos de boas maneiras, que corrigiam os comportamentos impolidos. Os temas foram distribuídos de maneira aleatória. Instruímos os alunos a representarem a situação de forma polida. Após cada encenação foram levantadas reflexões sobre o tema apresentado. No segundo momento desse encontro foi lida uma estória (Joaquim e José – Livro Comportamento Moral, anexo 02) e, em seguida, discutidas as consequências das boas e más maneiras. Por último foi solicitado como tarefa de casa: a prática de cada um de pelo menos um dos cinco comportamentos aprendidos para ser relatado no encontro seguinte.

A terceira sessão apresenta as formas brandas e nocivas da mentira, formas de aprendizagem da mentira, o porquê mentir e como reparar o dano, foi realizado no dia 19/03, onde primeiramente foi feita a discussão a respeito da tarefa de casa solicitada no encontro anterior. No segundo momento foi apresentado o Filme do Pinóquio produzido pela Walt Disney com o objetivo de apresentar as formas brandas e nocivas da mentira, formas de aprendizagem da mentira, por que mentir e como reparar o dano.

Para finalizar esse encontro foi pedido como lição de casa uma reflexão para responder as seguintes questões: O que representa o grilo falante e qual era o papel dele? O que representa a raposa? O que representa a fadinha?

A quarta sessão é uma continuidade da sessão anterior, dada a complexidade do tema, aconteceu no dia 26/03, primeiramente foi discutido sobre a reflexão realizada como tarefa de casa. Logo após os alunos foram divididos em dois subgrupos: um deles preparou uma apresentação de uma situação de mentira branca e o outro sobre uma mentira nociva. Os temas foram debatidos. Como tarefa de casa foi solicitada para que cada um realizasse a reparação de um dano feito.

. A quinta aula exercita a obediência através de tarefas simples, e discutem os motivos e as consequências da desobediência, realizado no dia 02/04 no qual foi feita a brincadeira “Siga o Mestre”: Os alunos receberam cores de bandeiras diferentes e cada uma delas corresponderia a um comportamento. Sempre que o mestre (estagiaria) levantasse uma cor, os alunos deveriam se comportar de acordo com a cor da bandeira levantada.

A seguir, em duplas as crianças foram instruídas e posicionarem-se uma em frente à outra. Primeiramente uma delas fazia o papel de mãe ou pai dando ao outro uma instrução. Assim que a/o colega obedecia a/o mãe/pai agradecia. Para finalizar discutiram-se as dificuldades e facilidades em obedecer nas atividades propostas. Como tarefa de casa os alunos deveriam obedecer a uma ordem da mãe e relatar como se sentiu e a reação da mãe.

A sexta sessão proporciona condições de o participante discriminar a diferença entre comportamento honesto e desonesto, bem como as suas consequências, realizou-se no dia 09/04 foi lida uma história sobre honestidade (Livro Comportamento Moral, anexo 03) para os participantes. Foram apresentados três dilemas (anexo 04) relacionados ao tema para que os participantes os resolvessem.  Foram discutidas as motivações, as consequências, os sentimentos de culpa e vergonha e reparação do dano em cada dilema. Para finalizar o encontro, foi selecionada a música de Noel Rosa “Onde está a honestidade” que foi discutida pelos alunos.

A sétima sessão elabora, junto aos alunos, o conceito de amigo ideal, do inimigo, e do amigo real, e discute suas características, aconteceu no dia 16/04, durante o qual foram elaborados três cartazes: do amigo ideal, do inimigo e do amigo real, em dois grupos. Cada grupo recebeu uma cartolina com o contorno de um boneco, revista, tesoura, cola e lápis coloridos. Pediu-se a eles que procurassem nas revistas ou escrevessem na cartolina, as características que eles acreditavam que um amigo tem. Esse procedimento foi repetido também para confeccionar os cartazes sobre o inimigo e o amigo real. Logo após, chamou-se cada grupo na frente da sala para apresentar seu boneco. Foram discutidas as características do amigo ideal, do inimigo e do amigo real de cada grupo.

A oitava sessão reconhece, nomeia, e expressa as emoções (raiva, medo, alegria, tristeza, nojo, espanto, dentre outros, ocorreu no dia 23/04. Foi lida a estória “A caixa de Pandora” (Livro Comportamento Moral, anexo 05) para os participantes. Antes e durante a leitura, foi mostrada uma caixinha fechada contendo tiras de papel com nomes de sentimentos. Após a leitura distribuíram-se as tiras de papel entre os participantes e solicitou-se que, sem dizer o nome da emoção, cada um pensasse como o corpo reagia àquela emoção, qual a situação que produzia aquele sentimento e quais suas reações naquele momento. Em seguida, cada participante tentava representar a sua emoção para o grupo, com o objetivo dos colegas a identificarem.

A nona sessão identifica os sentimentos de vergonha e culpa, as situações em que aparecem e as formas positivas de lidar com eles, ocorreu no dia 30/04. Primeiramente pediu-se para que os participantes representassem papeis que simulassem situações em que as pessoas normalmente sentem vergonha, logo após, foi feita a identificação do sentimento de vergonha e foram descritas suas reações fisiológicas através da figura de um boneco desenhado em cartolina (foi pintada a cor da vergonha no rosto do boneco). Foi feita a discussão sobre o sentimento em foco (situações em que as pessoas sentem motivos, o que pode ser feito para evitar, etc). Foi solicitado que cada um contasse de alguma experiência própria em relação à esse sentimento juntamente com o sentimento de culpa. Foi discutido o sentimento de culpa (situações em que as pessoas sentem, motivos, o que pode ser feito para evitar, etc). Por último foi solicitada uma tarefa de casa: identificar no decorrer da semana situações em que sentiram vergonha ou culpa.

A décima sessão propicia a discriminação do que é o ato de perdoar, e da importância de reparar os danos provocados por ofensa a outrem, ocorreu no dia 09/05, no qual foi lida a estória “O roubo da caixa de lápis de cor” - Livro Comportamento Moral (anexo 06), Paula Inez Cunha Gomide. Foi realizada discussão a respeito da estória: a culpa é um sentimento positivo ou negativo? Como reparar o dano causado? O que cada um entende por perdão? Após a reflexão o grupo foi dividido em dois subgrupos. Um deles representou uma forma de reparação de dano e o outro representou uma parte da estória contada que consistia em relatar o real arrependimento sentido pelo dano causado. Para finalizar foi solicitada a tarefa de casa: pensar em algo que fez a alguém e que prejudicou a pessoa e logo em seguida escrever um bilhete pedindo desculpas.

A décima primeira sessão leva a compreensão do conceito de justiça, disputa e dilema sobre a igualdade, a desigualdade e como promover a igualdade para seres desiguais. Ocorreu no dia 16/05 foi lida a adaptação da história da Bíblia “A Parábola do Filho Pródigo” (anexo 07) para posterior discussão a respeito do assunto central. Para complementar o tema foram apresentados quatro dilemas contendo fatos do cotidiano que envolviam o assunto abordado. Os alunos refletiram a respeito dos dilemas e propuseram soluções.

A décima segunda sessão proporciona a discussão sobre o conceito de generosidade “dar ao outro sem esperar nada em troca” e facilita o exercício da generosidade. A estagiária apresentou o filme “A corrente do bem”. Em cima do filme foi promovido a reflexão a respeito do conceito de generosidade e os alunos puderam dar exemplos pessoais e contar sobre experiências que já tiveram acerca do tema.

A décima terceira sessão e última foi realizado no dia 23/05, discutiu-se as boas ações realizadas pelos participantes do grupo (inclusive a estagiaria) sendo feito uma revisão de todos os temas trabalhados durante os encontros. Para finalizar foi realizada uma confraternização entre os participantes e a entrega de pequenas lembranças. O participante que obteve melhor comportamento durante todos os encontros pôde escolher seu presente em primeiro.

 

  1. METODOLOGIA

 

A metodologia utilizada neste trabalho consistiu-se primeiramente em uma pesquisa bibliográfica que segundo Justino (2012, p. 27) este tipo de pesquisa deve ser “realizado a partir de publicações como livros, artigos, periódicos e materiais disponibilizado na internet”, no aprofundamento do tema com o objetivo de investigar como a educação moral na escola, pode ser o caminho para a construção da cidadania nas séries iniciais do ensino fundamental. Tendo como início estudos realizados nos autores pertinentes ao tema em questão tais como: Paula Inez Cunha Gomide (2012), Devries e Zan (1998), Yves de La Taylle (2010), Telma Vinha (2000) e Josep Maria Puig (1998).

Posteriormente foi realizada uma coleta de dados em uma Escola Municipal de Campo Largo. Mediante a perspectiva do tema, os procedimentos metodológicos sendo estruturados e desenvolvidos com base em uma abordagem de pesquisa qualitativa, baseando-se na pesquisa descritiva e no estudo de caso.

A opção pela abordagem qualitativa foi devido ao fato desta pesquisa facilitar a descrição do conhecimento a ser produzido. Segundo Martins (2004, p. 292) “se há uma característica que constitui a marca dos métodos qualitativos, ela é a flexibilidade, principalmente quanto à técnica de coleta de dados, permite incorporar aquelas mais adequadas à observação que está sendo feita”.

Dessa forma, dando ênfase aos aspectos qualitativos, foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados: a pesquisa bibliográfica, a observação direta, e a entrevista. Em seguida, realizou-se uma análise dos dados obtidos por meio desta coleta de dados. A análise da coleta de dados pode ser definida como “a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores.” (MARCONI E LAKATOS, 2003, p. 167).

Neste contexto, foram buscados maiores detalhes sobre os dados coletados com a finalidade de responder às indagações, que nesta pesquisa foi a verificação do conhecimento e das metodologias adotadas pelos professores dos anos iniciais do ensino fundamental da Instituição sobre comportamento moral na escola.

Logo após o objetivo foi sugerir a escola a aplicação do Programa de Comportamento Moral[8] sugerido no livro “Comportamento moral: uma proposta para o desenvolvimento das Virtudes” da autora Paula Inez Cunha Gomide (2012, p. 217 à 242).

A apresentação deste trabalho ocorreu de forma descritiva, tanto no primeiro momento na fase do levantamento bibliográfico como depois na coleta de dados na pesquisa de campo e no processo de intervenção. Por meio do embasamento desta pesquisa em referências teóricos que tratam da temática proposta, buscou-se construir conhecimentos científicos significativos que poderão vir auxiliares discentes e demais profissionais do campo educacional.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O tema pesquisado decorreu da questão de como a educação moral através de um trabalho psicopedagógico institucional na escola pode contribuir no caminho para a construção da cidadania dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental? Questão levantada ao longo da formação acadêmica do pesquisador na pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional e do acompanhamento com desalento o profundo desânimo do magistério frente às questões que dizem respeito aos mais variados problemas do sistema educacional brasileiro, como a violência entre alunos e com os professores, o bullying, dentre outros.

Dessa forma, a pesquisa e o programa de comportamento moral realizado pelo presente trabalho de conclusão de curso, foram iniciativas para beneficiar não somente os alunos participantes da intervenção, mas também todos os agentes escolares, pois no ambiente escolar se dá o reflexo da ação proposta, reforçando o professor como interventor, os alunos que atingiram a meta, e todos os outros agentes que tiveram a oportunidade de compartilhar a mudança.

Os resultados do Programa de Comportamento Moral proporcionaram resultados objetivos, indicando um caminho promissor para a intervenção junto a crianças com problemas de comportamento oriundos de várias fontes. Foi observada uma diminuição de problemas comportamentais, principalmente os internalizastes. Por este caminho é possível à ampliação das perspectivas de relacionamento, onde é mais fácil sentir-se feliz, satisfeito, construindo relações com os pares ou familiares mais agradáveis por serem permeadas por respeito e generosidade.

Acredita-se que os objetivos só não foram melhores e contínuos devido a não continuação do Programa de Comportamento Moral, assim como o não envolvimento de todos os envolvidos no contexto escolar. Houve diminuição das agressões, brigas, dentre os outros problemas citados durante as observações, mas somente nas aulas realizadas pelo Programa, segundo a professora em suas aulas os alunos deram continuidade à rebeldia.

Acredita-se que os educadores (pais, professores) poderão melhorar a qualidade de vida de seus educados ensinando-lhes virtudes, boas maneiras, comportamentos de obediência e formas de pedir desculpas e reparar o dano.

Com o grupo trabalhado, aplicaram-se técnicas adequadas para a viabilização do Programa, porém, por uma inviabilidade do sistema escolar, próprio da cultura e disponibilidade desta escola, os comportamentos adquiridos no Programa não serão generalizados, em função da ausência de agente mantenedor e mudança contingencial, porém, o mesmo programa, se aplicado em sala de aula, com treinamento de professor, viabiliza esse objetivo.

Os resultados obtidos ao longo do estudo foram portas abertas para novos questionamentos no local estagiado, pois se sugere que todo o contexto escolar se envolva no Programa estabelecendo a necessidade de apreciar, manter e aprofundar a democracia, incorporando hábitos pessoais de inter-relação, permitindo organizar de forma mais justa os conflitos gerados pela vida coletiva, mas para isto deve haver planejamento, organização e execução interdisciplinar. Isto significa discutir moral e ética durante todo o ano letivo.

É relevante ressaltar que a prática docente é essencial na formação de uma educação moral que enseje formar valores como justiça, respeito, diálogo, solidariedade entre outros, tendo em vista garantir a autonomia e a democracia, além de dar o significado preciso da interdisciplinaridade.

Sabemos que toda mudança requer envolvimento de ações coletivas e conscientes de todos os envolvidos no processo, por isso o Programa realizado no espaço educativo pesquisado contribuiu para uma percepção provisória e consciente na escola, pois o Programa foi algo que somente foi realizado para um início da busca por soluções que produzam mudanças comportamentais positivas aos alunos, tornando-os seres humanos “bons” por dentro e por fora, pois o Programa deverá ser ampliado, melhorado e até modificado dependendo da futura realidade em que a escola se encontrará. O Programa de Comportamento Moral demonstrou ser um caminho promissor como forma de desenvolver comportamentos com probabilidade alta de inibir comportamento antissocial.

 

ANEXOS

 

Anexo 01

Anexo 02

            José e Joaquim eram primos. José era muito educado, sempre pedia licença para entrar na casa dos vizinhos, agradecia quando alguém lhe dava algum doce e, se empurrava alguma criança sem querer no recreio, pedia desculpas. Já o Joaquim estava sempre dizendo palavrões, nunca pedia desculpas, abria a geladeira na casa dos vizinhos sem permissão. Certo dia, alguém pisoteou o jardim florido de D. Rosinha, quebrando vasos e arrancando as flores. Qual dos dois meninos fez isto?

 

 

Anexo 03

Uma história sobre honestidade

            Conta-se que por volta do ano de 250 a. C., na China antiga, um príncipe da região norte do país, estava as vésperas de ser coroado imperador, mas, de acordo com a lei, ele deveria se casar. Sabendo disso, ele resolveu fazer uma “disputa” entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta.

            No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe. Ao chegar em casa e relatar o fato a jovem, espantou-se ao saber que ela pretendia ir a celebração, e indagou incrédula:

_ Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta ideia insensata da cabeça, eu sei que você deve estar sofrendo, mas não torne o sofrimento uma loucura.

            E a filha respondeu:

_ Não, querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca, eu sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, e isto já me torna feliz.

            Á noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, as mais belas joias e as mais determinadas intenções.

            Então, finalmente, o príncipe anunciou o desafio.

_ Darei a cada uma de vocês uma semente. Aquela que, entro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China.

            A proposta do príncipe não fugiu as profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de “cultivar” algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos etc... O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se preocupar com o resultado.

            Passaram três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Consciente de seu esforço e dedicação a moça comunicou a sua mãe que, independentemente das circunstancias, retornaria ao palácio, na data e hora combinadas, pois não pretendia nada alem de mais alguns momentos na companhia do príncipe.

            Na hora marcada estava lá, com seu vazo vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada, nunca havia presenciado mais bela cena. Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado.

Então, calmamente o príncipe esclareceu:

_Esta foi a única que cultivou a flor que tornou digna de ser uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.

            Se para vencer, estiver em jogo a sua honestidade, perca. Você será sempre um Vencedor.

 

 

Anexo 04

Dilemas

Dilema 1: Sua mãe te deu dinheiro para você ir ao mercado comprar café, pão e bolacha. Então, você fica com vontade de comer um chocolate, mas o dinheiro é insuficiente para tudo. O que você faz?

  1. Pega o chocolate e põe no bolso porque percebe que ninguém está vendo;
  2. Deixa de comprar um dos ingredientes para poder comprar o chocolate;
  3. Compra somente o que foi combinado.

Dilema 2: Você não estudou para a prova:

  1. Prepara a cola e na hora que a professora não estiver olhando, copia as respostas;
  2. Procura olhar as respostas na prova do colega que é estudioso;
  3. Faz somente o que sabe;
  4. Usa a cola na hora da prova, mas sente-se mal depois.

Dilema 3: Você vai à casa de um amigo e vê a carteira do avô dele com bastante dinheiro na sala:

  1. Você pega uma nota de 10, porque ele nem vai perceber;
  2. Você diz pro seu amigo pedir dinheiro pro avô pra vocês irem se divertir;
  3. Esquece a carteira e vai brincar com seu amigo;
  4. Você pega o dinheiro, mas ao ver que o avô de seu amigo está preocupado procurando o dinheiro, você conta a verdade e pede desculpas.

 

 

Anexo 05

A caixa de Pandora

            Há muito tempo atrás, as pessoas acreditavam na existência de diferentes deuses. Existia o deus do mar que se chamava Netuno, o deus da guerra, cujo o nome era Marte, a deusa da sabedoria que era chamada de Minerva e assim por diante. Os deuses, segundo se acreditava, viviam em um lugar chamado Olimpo e apareciam frequentemente aos homens.

            Conta-se que um desses deuses entregou a uma jovem, chamada Pandora, uma caixa fechada para ela guardar, semelhante a esta que eu tenho na mão. Aquele deus disse que o conteúdo da caixa não podia ser revelado a ninguém e que cabia a ela a tarefa de proteger a caixa com muito cuidado. Pandora, então, guardou a caixa e nada disse para as suas amigas, e nem para seus familiares.

            Com o passar dos dias, Pandora foi ficando cada vez mais curiosa para saber o que continha aquela caixa misteriosa. Ela não cansava de examina-la. Apertava, balançava, colocava junto aos ouvidos, de um lado, de outro e nada ouvia. Por fim, chegou à conclusão de que só poderia descobrir o mistério se abrisse a caixa. Mas a recomendação recebida era que a caixa não poderia ser aberta.

            Pandora foi ficando cada vez mais desesperada. Até que um dia, não resistindo mais, Pandora abriu a caixa. Vocês nem podem imaginar o que aconteceu! De repente, pularam da caixa umas coisas estranhas, com diferentes cores, difícil saber o que eram. Essas coisas se multiplicavam rapidamente e entravam nas pessoas.

            Foi aí que todo mundo, todo mundo mesmo, ficou com sentimento de medo, alegria, surpresa, raiva, amor, ódio, e tantos outros. Alguns desses sentimentos traziam felicidade, bem-estar; outros traziam desconforto, infelicidade. Ela percebeu que faltava um único sentimento para sair e então fechou a caixa rapidamente impedindo que ele saltasse para fora.

             Aquele deus logo ficou sabendo o que Pandora havia feito e veio voando muito zangado. Ao chegar foi logo perguntando:

 _ Pandora, o que você fez?

            Pandora tremeu, a boca secou, os olhos se abriram bastante e ela pensou em se esconder, mas viu que isso era impossível. Então resolveu enfrentar a situação, porque enganar as pessoas com mentiras, isto ela não fazia. Ela respondeu a pergunta do deus:

_Olha! De fato, eu errei ao abrir a caixa.

Minha curiosidade foi muito grande. Mas acho que teve um lado positivo porque todo mundo precisava ter sentimentos. Para compensar minha falta, disponho a ajudar as pessoas a identificarem os seus sentimentos. Logo de cara todo mundo deve saber que lá no fundo do nosso cérebro existe uma caixinha do sentimento. Além disso. O último sentimento que não saiu, é o da esperança. Assim quando todos os sentimentos forem vividos pelas pessoas, nada mais restando, elas podem abrir a caixa e deixar que a esperança tome conta delas.

            Desse dia em diante, todas as pessoas do mundo inteiro passaram a ter sentimentos diferentes e, de vez em quando, depende da situação que estão vivendo, os sentimentos saem lá da caixa e se refletem no corpo todo delas. Aparecem principalmente no olhar de cada um. É por isso que adivinhamos, olhando o rosto e os olhos de cada pessoa, o medo, a raiva, a amizade, o desprezo, a esperança, o amor.

 

Anexo 06

O roubo da caixa de lápis de cor

            Era uma vez um menino chamado Carlinhos, ele estudava em um colégio cheio de alunos. Alguns eram seus amigos, outros apenas colegas de sala. Sua mãe trabalhava como cozinheira de uma lanchonete do bairro e seu pai era encanador. Ele tinha mais dois irmãos, um mais velho que ele e outro mais novo. Naquele ano, a lista de material escolar pedia uma caixa de lápis de cor, com no mínimo 12 cores. A mãe de Carlinhos não podia comprar uma nova, mas deu a ele a que tinha sido usada pelo irmão mais velho. Colou bem a caixinha que já estava um pouco rasgada, apontou os lápis com capricho e completou os 12 com dois tons de azul diferentes já que na caixinha faltava um lápis. Carlinhos foi a escola meio contrariado com aquilo, pois gostaria mais se sua mãe tivesse comprado uma nova só para ele.

            Um belo dia chegou a hora de usar os lápis de cor. Todos estavam animados com a aula de artes. Carlinhos pegou seu material, mas antes olhou para os lados e viu seu colega Fábio com sua caixinha de lápis de cor novinha em folha, e com 24 cores! Carlinhos desejou muito que aquela fosse a sua caixa, então num descuido, de Fábio no fim da aula, ele pegou rapidamente a caixa e colocou dentro da sua mochila. O sinal bateu naquele momento! Ai, que bom! Fábio saiu tão ligeiro que nem sentiu falta da sua caixa de lápis de cor.

            Carlinhos chegou em casa ansioso, pegou os lápis de cor, desenhou, desenhou, puxa como eram lindos!! Até seu irmãozinho gostou. Ao ver que a mãe se aproximava tratou de esconder bem escondido no fundo da mochila.

            Mas não adiantou, sua mãe viu que ele havia guardado algo rapidamente em sua mochila e perguntou o que era. Inicialmente ele não quis contar. Mas a mãe disse que iria revistar a mochila e então ele entregou a caixa de lápis de cor. D. Maria, perguntou de quem era a caixa de lápis de cor. Carlinhos respondeu que era do Fábio, que ele havia pegado emprestado. D. Maria insistiu “Carlinhos será mesmo que o Fábio sabe que você pegou a caixa de lápis de cor dele? Vou telefonar para a mãe dele e perguntar.” Carlinhos então abaixou a cabeça envergonhado e disse: “Não telefone mãe, ele não sabe que eu peguei.” D. Maria disse a ele: “E agora Carlinhos o que vamos fazer?”

 

 

Anexo 07

 

A parábola do filho pródigo

            Um homem tinha dois filhos. Certo dia o mais moço disse ao pai: “Pai quero que o senhor me dê agora a minha parte da herança.”

            E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais moço reuniu tudo o que era seu e partiu para um país que ficava muito longe. Ali viveu uma vida cheia de pecado e desperdiçou tudo o que tinha.

            O rapaz já havia gastado tudo, quando houve uma grande fome naquele país, e ele começou a passar necessidade. Então procurou um dos moradores daquela terra e pediu ajuda. Este o mandou para a sua fazenda a fim de cuidar dos porcos. Ali, com fome, ele tinha vontade de comer o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. Caindo em si, ele pensou: “Quantos trabalhadores do meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui morrendo de fome.”

            Vou voltar para a casa do meu pai e dizer: “Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho. Aceite-me como um de seus trabalhadores.” Então saiu dali e voltou para casa de seu pai.

            Quando o rapaz ainda estava longe de casa, o pai o avistou. E com muita pena do filho, correu, o abraçou e o beijou. E o filho disse: “Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho.”

            Mas o pai ordenou aos seus empregados: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Ponham um anel no dedo dele e sandálias nos seus pés. Também tragam e matem o bezerro gordo. Vamos começar a festejar porque este meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado.”

            E começaram a festa. Enquanto isso, o filho mais velho estava no campo. Quando ele voltou e chegou perto da casa, ouviu a música e o barulho da dança. Então chamou um empregado e perguntou: “O que é que está acontecendo?”

            O empregado respondeu: “O seu irmão voltou para casa vivo e com saúde. Por isso seu pai mandou matar o bezerro gordo.”

            O filho mais velho ficou zangado e não quis entrar. Então o pai veio para fora e insistiu para que ele entrasse. Mas ele respondeu: “Faz tantos anos que trabalho para o senhor como um escravo e nunca desobedeci a uma ordem sua. Mesmo assim o senhor nunca me deu nem ao menos um cabrito para eu fazer uma festa com os meus amigos. Porém esse seu filho desperdiçou tudo o que era do senhor, gastando dinheiro com bebidas. E agora ele volta, e o senhor manda matar o bezerro gordo?”

            Então o pai respondeu: “Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas era preciso fazer esta festa para mostrar a nossa alegria. Pois este seu irmão estava morto e viveu de novo, estava perdido e foi achado.”

 

REFERÊNCIAS

 

ARAGUAIA, Mariana. Piaget e o desenvolvimento moral na criança. Disponível em: http://www.brasilescola.com/biografia/piaget-desenvolvimento-moral-na-crianca.htm. (Acesso em: 03 set. 2013).

 

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.

 

DE VRIES, Rheta e ZAN, Betty. A ética na educação infantil: O ambiente sócio moral na escola. Porto Alegre: Artes médicas, 1998.

 

GOMIDE, Paula Inez Cunha Gomide. Comportamento moral: uma proposta para o desenvolvimento das virtudes. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2012.

 

LA TAILLE, Yves de. Moral e ética: uma leitura psicológica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2010, vol. 26, n. especial, pp. 105-114.

 

MARTINS, Heloisa Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300, maio/ago, 2004 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n2/v30n2a07.pdf. Acesso em: 20 de jul 2013.

 

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

 

MELO, Alessandro de. Fundamentos socioculturais da educação. Curitiba: Ibpex, 2011.

 

MICHAELIS. Dicionário Michaelis português on-line. Disponível em:   http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/. (Acesso em: 04 de set. 2013).

 

PUIG, Josep Maria. A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática, 1998.

 

PUIG, Josep Maria, ARANTES, Valéria Amorim (Org). Educação e Valores. São Paulo: Summus, 2007. p. 65 – 104.

 

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12640%3Aparametros-curriculares-nacionais1o-a-4o-series&catid=195%3Aseb-educacao-basica&Itemid=859 (Acesso em: 12 de set. 2013).

 

STOLTZ, Tania. As perspectivas construtivistas e histórico-cultural na educação escolar. 3. ed. Curitiba: Ibpex, 2011.

 

VASCONCELOS, José Antônio. Fundamentos filosóficos da educação. Curitiba: Ibpex, 2011.

 

VALLANDRO, Leonel. BORNHEIM, Gerd. Ética a Nicômaco. 4. ed.  São Paulo: Nova Cultura, 1991.

 

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 1994. Coleção Primeiro Passos, nº 177.

 

VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil: uma visão construtivista. Disponível em:  http://www.cogeime.org.br/revista/cap0214.pdf (Acesso em: 06 de maio 2013).

 

WIKIPÉDIA. Sócrates. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3crates (Acesso em: 03 de set. 2013).

 

[1] O Programa de Comportamento Moral foi elaborado para ser realizado em 13 sessões, com duração de 90 minutos cada, tendo como objetivo específico visar à aquisição de um comportamento moral, através do ensinamento das virtudes, de forma gradativa.

[2] Sócrates: (469 – 399 a. C.) filósofo ateniense do período clássico da Antiga Grécia, fundador da filosofia ocidental, contribuiu no campo da ética, da epistemologia e lógica. (WIKIPÉDIA, 2013).

[3] Aristóteles: (383 – 322 a. C.) sua contribuição é atemporal e inconstante no campo da moral à literatura, criador da lógica formal, é considerado um dos principais filósofos da Antiguidade. (VASCONCELOS, 2011, p. 29)

[4] Jean-Jacques Rosseau: (1712 – 1778) pregava, acima de tudo, a liberdade dos grilhões e dos males com os quais a sociedade vem a nos assolar; célebre é a sua frase “O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. (VASCONCELOS, 2011, p. 52).

[5] Immanuel Kant: (1724 – 1804) seu pensamento foi responsável por uma revolução da filosofia de sua época. Sua obra “Critica da razão pura” explora de maneira original os limites do conhecimento teórico. (VASCONCELOS, 2011, p. 37).

[6] Émile Durkheim: (1858 -  1917) considerado o “pai da sociologia”, criou a associação dos conceitos de patologia e normalidade à sociedade, sendo considerado um dos maiores teóricos do conceito de coerção social. (VASCONCELOS, 2011, p. 79).

[7] Jean Piaget: (1896 – 1980) biólogo e psicólogo suíço responsável pela criação da corrente construtivista. Influenciou a educação ao provar que a criança obtém conhecimento por meio de suas próprias descobertas. (MELO, 2011, p. 237).

[8] O Programa de Comportamento Moral foi elaborado para ser realizado em 13 sessões, com duração de 90 minutos cada, tendo como objetivo específico visar à aquisição de um comportamento moral, através do ensinamento das virtudes, de forma gradativa.