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UM RELATO SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO PERÍODO JESUÍTICO NO BRASIL

Cheila Cristina Sikora Grigol
Erilaine Champan
Gilvani Abatti
Juliana Aparecida dos Santos
Suely Cavalcante Soares

 

Introdução


O presente artigo tem por objetivo relatar a história da educação no Brasil no período jesuítico, da sua chegada a seu termino, a educação no Brasil se deu quase de imediato ao seu descobrimento, com a chegada dos primeiros colonizadores portugueses ao país também vieram os jesuítas para implantar seu método educacional, que ao longo foi se desenvolvendo, porém com alguns fatores que ocorriam no período o sistema jesuítico de ensinar não vinha de encontro com os senhores da época, esse acabou sendo um dos principais fatores que levou a expulsão dos mesmos do Brasil.


A chegada dos jesuítas ao Brasil


Em 1500 com o descobrimento do Brasil e não muito distante desse momento os primeiros jesuítas vieram ao recém descoberto local, com a decisão de se criar um governo central no Brasil com a vinda de Tomé de Souza também vieram os jesuítas para iniciar o processo de educação fato esse que ocorreu em 1549, os padres vieram sob o comando do padre Manoel da Nóbrega como podemos confirmar em Costa e Menezes:

 

Os primeiros jesuítas que, em 1549, chegaram às terras brasileiras na frota de Tomé de Souza eram chefiados pelo padre Manoel da Nóbrega (1517-1570). O fato de a Companhia de Jesus ser a ordem religiosa escolhida para o empreendimento religioso exatamente no momento em que a Coroa lusitana decidiu-se por instalar um governo com poder centralizado na figura do Governador-Geral, ligado diretamente ao rei de Portugal, é revelador da importância que ela tinha na corte portuguesa. (p. 35)

 

A sua missão inicial era catequizar os nativos, alfabetizar as crianças brancas e o pastoreio de animais, com o decorrer de algum tempo eles já se depararam com algumas situações problemas pois perceberam que os moradores locais não seguiam a uma religião em si, sim a cultos e algo do gênero e também não estavam muito interessados na igreja ou nos ensinamentos religiosos jesuíticos.

 

As primeiras tarefas dos jesuítas foram a conversão e a catequese dos gentios, ou seja, dos índios; a catequese e o ensino das primeiras letras às crianças brancas; o pastoreio das antigas ovelhas, dos cristãos brancos que viviam no Brasil. Dessas atividades, aquelas que talvez tenham mais ocupado a atenção e a ação dos “filhos” de Inácio foram a conversão e a catequese dos nativos da terra. Nos primeiros meses, os jesuítas identificaram os desafios e os problemas que enfrentariam para se desincumbir de sua missão. Primeiramente, Nóbrega concluiu que os gentios da terra não eram de má índole, uma vez que não praticavam uma religião cuja teologia se opusesse profundamente ao cristianismo. (Costa e Menezes, p 35).


E após um tempo em solo foi erguida a primeira escola no Brasil, cerca de 15 anos após a chegada dos mesmos aqui, porém eles não levavam em consideração que os locais também educavam suas crianças, mas era uma educação para a vida, como ensinar a caçar, pescar, plantar e várias outras situações da qual se necessitava um indígena da época, algo que como foi se levantado algum tempo se diferenciava do interesse da educação da qual os jesuítas pregavam, como Saviani (2010, p 36) nos diz os índios viviam em comunas, comunidades que viviam numa economia natural e de subsistência. A educação não era dividida por classes. Pelo contrário, todos tinham acesso à educação. A única diferença estava na distribuição do que aprendiam de acordo com o sexo. Pois então podemos verificar que a única diferenciação na educação indígena era por gênero, homens caçavam, mulheres cozinhavam entre outros exemplos.

No ano de 1570 os jesuítas já tinham instalados cinco escolas em toda região e após cerca de 20 anos eles já tinha se fixado de norte a sul do Brasil, mas principalmente na parte costeira do país. As cinco escolas eram (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espirito Santo e São Paulo de Piratininga) e tinham também três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).

Nesse período também vale destacar um personagem importante da época, José de Anchieta, sabemos que ele foi mestre no Colégio de Piratininga e missionário em São Vicente. Escreveu na areia os "Poemas à Virgem Maria". Foi missionário também no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Esteve à frente da Companhia de Jesus como provincial de 1579 a 1586. Também foi reitor do conhecido Colégio do Espírito Santo. Sua obra mais conhecida é a Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil.

No começo as escolas funcionavam de acordo com os ensinamentos de Manoel da Nóbrega que tinha como início o ensino da língua portuguesa e ia até a doutrina cristã, depois eles eram enviados para as escolas de ler e aprender, que também tinha canto e música instrumental para depois finalmente receberem formação profissional, agrícola e o aprendizado do latim, porém a partir de Inácio de Loiola que escreveu o Ratio Studiorum, que iniciava no curso de humanidade, filosofia e findava em teologia, os que almejavam outras profissões tinha que se encaminhar a Coimbra para se formar em ciências jurídicas e teológicas e na França para a medicina.

Segundo Saviani (2010, p.56):

 

O Ratio Studiorum, é considerado uma organização e plano de estudos da Companhia de Jesus, publicado em 1599, a partir de elementos da cultura européia, evidenciando assim o desinteresse de instruir também os índios, o plano contido no Ratio era de caráter Universalista (adotado por todos os jesuítas em qualquer lugar) e Elitista (destinado aos filhos dos colonos – excluindo os indígenas – formação da elite colonial). Este novo plano excluía as etapas de estudos instituídas por Nóbrega, a educação toma dois rumos: educar os colonizadores e catequizar os índios, tornando-os mais “dóceis” e mão de obra barata. Conforme o autor diferente das dificuldades da primeira fase (período heróico 1549-1570), a segunda fase (último quartel do século XVI), foi um período marcado pela prosperidade, facilidade e conforto, pois dez por cento dos impostos da colônia eram destinados à manutenção dos colégios jesuíticos.

É importante ressaltar que antecedendo o Ratio, o autor descreve sobre o modus italicus e modus parisiensis, que consistia nos seguintes métodos de ensino:

- modus italicus (século XV), método utilizado nas regiões da Itália, caracterizava por não seguir um programa estruturado e nem vincular a assistência dos discípulos a determinada disciplina, podiam passar para outra disciplina sem nenhum pré-requisito, os grupos eram por diferentes idades e níveis de formação.

- modus parisienses (século XVI), método adotado pela capital da França-Paris, marca da Universidade de Paris, tem com aspectos básicos:

1)Distribuição de alunos em classes (mesma idade e mesmo nível de instrução, classe regida por 1 professor)

2) Exercícios escolares (mobilizar processo do aluno para a aprendizagem, baseado na Escolástica, que tinha como pilares a lectio (preeleção dos assuntos a ser estudados); exame questiones (suscitados pelo lectio); repetitiones (alunos em grupos pequenos que repetiam as lições explanadas)

3) Mecanismo de incentivo (castigos corporais e prêmios).


Continuemos com as ideias de Saviani (2010), Tendo como base o modo de estrutura de ensino parisiense por terem estudado em Paris, os Jesuítas desde o primeiro Colégio de Messina (1548) o consagrou no Ratio e regulou o seu funcionamento, sendo o Padre Nadal e mais seis de oito padres que deram início aos primeiros Colégios Jesuítas, que nos aponta a criação de uma Regra comum aos colégios foi implantada primeiramente em 1584 pelo padre Cláudio Aquaviva, que elaborou uma primeira versão em 1586 destinada apenas à apreciação e críticas das autoridades responsáveis pelos melhores colégios da Companhia. A partir daí Aquaviva designou três compiladores e associou uma comissão com os professores mais notáveis do Colégio de Roma para a criação de uma nova versão, que foi encaminhada a todos os colégios em 1591 em caráter experimental, após três anos os resultados dessa experiência chegaram a Roma e em 1599 foi feita a versão definitiva do Ratio.

Uma carta enviada por José de Anchieta comprova como funcionava as escolas antes do Ratio:


[...] nele há de ordinário escola de ler, escrever algarismo, duas classes de humanidades. Leram-se já dois cursos de artes em que se fi zeram alguns mestres de casa e de fora, e agora se acaba o terceiro. Há lição ordinária de casos de consciência, e, às vezes, duas de teologia, donde saíram já alguns mancebos pregadores, de que o Bispo se aproveita para sua Sé, e alguns curas para as freguesias. A este colégio estiveram subordinadas todas as casas das capitanias, até que houve outros colégios, e agora não são mais a ele subordinadas que as de Ilhéus e Porto Seguro (ANCHIETA, 1988, p. 334).


Ainda durante o período jesuítico se construí muitas escolas e colégios, ainda vale destacar a educação dos escravos, que no período os principais eventos ocorriam nos seus engenhos e cabia ao senhor local organizar e arcar com todas as custas, desde a construção da capela até o pagamento do padre para realizar as missas na capela local, evidenciando um padre sobre esse assunto que foi Antônio Vieira.


Nesse caso, cumpre-nos destacar padre Antônio Vieira (1608-1697). Esse jesuíta discutiu quase tudo em seus sermões. A corrupção dos administradores coloniais, a defesa dos índios, a necessidade de uma reforma tributária e a escravidão dos africanos foram questões tratadas com a sua inigualável engenhosidade barroca. De sua extensa obra cumpre ressaltar, para as finalidades deste capítulo, os sermões vigésimo e vigésimo sétimo da série Maria, a Rosa Mística (VIEIRA, 1959).


O fim do domínio dos jesuítas sobre a educação brasileira ocorreu em 1759 quando os mesmos foram expulsos do Brasil pelo marques de Pombal, que entrou em atrito pois os jesuítas educavam mais para a fé, formando seres religiosos, enquanto os senhores de engenhos e demais comerciantes da época estavam necessitando de uma formação mais profissional, fato esse que culminou com os jesuítas sendo enviados embora do país. Outro fato que também corroborou foi a tentativa de assassinato ao rei. Costa e Meneses (p. 42)


Os desejos dos estrangeirados portugueses tornaram-se realidade – pelo menos em parte – quando, em 1750, D. José I12 assumiu o trono português e nomeou como ministro Sebastião José de Carvalho, futuro Marquês de Pombal (1699-1782). Após a tentativa de assassinato do rei – em que os jesuítas foram considerados implicados – e o episódio dos Sete Povos das Missões na região sul do Brasil, os padres da Companhia de Jesus foram expulsos tanto do Reino quanto do Brasil. A expulsão dos jesuítas e as reformas no ensino, especialmente da Universidade de Coimbra, a criação da Aula de Comercio (uma espécie de escola de administração), a Criação do Colégio dos Nobres em Portugal e a criação das Aulas Régias no Brasil são os aspectos mais visíveis das reformas educacionais pombalinas. O Marquês de Pombal procurou ainda estimular os brasileiros a estudar na Universidade de Coimbra.


Fatos esses que fez com que a hegemonia dos jesuítas acabasse não somente no Brasil como também em Portugal, onde foram expulsos sem direito a levar nada, deixando para trás um pequeno império, com vastas construções.


REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO


ANCHIETA, José de. Cartas: informações, fragmentos históricos e sermões. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988. (Coleção cartas jesuíticas)

COSTA, Célia Juvenal; MENEZES, Sezinando Luiz. A educação no período colonial (1549-1759), 2. ed. rev. e ampl. Maringá: Eduem, 2009.

LOMBARDI, José C.; NASCIMENTO, Maria Isabel M. (Org.). Fontes, história e historiografia da educação. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR; Curitiba, PR: PUCPR; Palmas, PR: UNICS; Ponta Grossa, PR: UEPG, 2004.

ROSSI, Ednéia Regina; RODRIGUES, Elaine; NEVES, Fátima Maria. organizadoras. Fundamentos históricos da educação no Brasil, 2. ed. rev. e ampl. Maringá: Eduem, 2009.

SAVIANI, D. Historia das Ideias Pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2010.

RIBEIRO, M. L. A. Historia da Educação Brasileira. Campinas, Autores Associados, 1998.