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TRANSTORNO DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

Márcia Hoffmann

Nilza Maria Centa Fávero

Léia Mazuchine Almeida

 

RESUMO

O Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um Transtorno onde os neurônios pulsam mais lentamente, ocasionando a desatenção, desorganização, falta de planejamento, cognição e funções executivas. É considerado um fator preocupante pelos educadores, com grande impacto na vida da criança e principalmente na fase de alfabetização escolar. Este artigo, do tipo estudo de caso descritivo, busca analisar o processo de desenvolvimento de uma criança diagnosticada com TDAH no 3° ano do Ensino Fundamental I, através de referencial teórico e de vivência relatada por uma professora de uma instituição de ensino do município de Sorriso/MT. O presente artigo está estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo é abordada toda a teoria sobre os aspectos clínicos acerca de pessoas portadoras de TDAH; o segundo capítulo aborda a teoria sobre o papel da escola e dos educadores; o terceiro e ultimo capítulo relata a experiência vivida pelo professor em uma instituição de ensino do município de Sorriso/MT, junto a uma aluna portadora de TDAH. O professor não pode trabalhar sozinho. Ele tem, sim, que fazer a sua parte, que é perceber o problema, observá-lo, descrevê-lo, descrever as contingências que o cercam, discutir com os profissionais da equipe técnica, com o diretor da unidade, acompanhar os procedimentos de encaminhamento para profissionais especializados, buscar estratégias pedagógicas diversificadas, implementá-las, monitorar seu efeito, reajustar sua prática pedagógica, buscando orientação e o suporte dos profissionais especializados.

 

Palavras-chave: Transtorno. Atenção. Hiperatividade.

 

INTRODUÇÃO

 

O Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um Transtorno onde os neurônios pulsam mais lentamente, ocasionando na desatenção, desorganização, falta de planejamento, cognição e funções executivas. É considerado um fator preocupante pelos educadores, com grande impacto na vida da criança e principalmente na fase de alfabetização escolar, pois esse transtorno repercute na vida da criança e do adolescente levando a prejuízos em múltiplas áreas, como a adaptação ao ambiente acadêmico, relações interpessoais e desempenho escolar.

Diante do exposto, este artigo, do tipo estudo de caso descritivo, busca analisar o processo de desenvolvimento de uma criança diagnosticada com TDAH no 3° ano do Ensino Fundamental I, através de referencial teórico e de vivência relatada por uma professora de uma instituição de ensino do município de Sorriso/MT.

Para a obtenção do êxito deste artigo, foi realizado o levantamento de documentos referentes a trajetória escolar do indivíduo, investigou-se o processo de desenvolvimento e aprendizagem com base nos dados coletados, verificou-se a percepção dos pais e professores quanto ao desempenho escolar do indivíduo, distinguiu-se durante as intervenções pedagógicas ações que contribuam no processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança com TDAH e identificada de que forma a escola pode contribuir para a aprendizagem da criança com TDAH.

Como instrumento foram utilizados laudos, pareceres, testes, relatórios, questionários, realizados por professores, psicóloga, fonoaudióloga e neuropediatra. Os resultados foram analisados através de uma abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada através do estudo junto à aluna, coletando e analisando informações sobre ela, sua família e a comunidade onde viveu, a fim de estudar aspectos variados de sua vida, de acordo com o assunto pesquisado.

O presente artigo está estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo é abordada toda a teoria sobre os aspectos clínicos acerca de pessoas portadoras de TDAH; o segundo capítulo aborda a teoria sobre o papel da escola e dos educadores; o terceiro e ultimo capítulo relata a experiência vivida pelo professor em uma instituição de ensino do município de Sorriso/MT, junto a uma aluna portadora de TDAH.

 

1. O TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

 

O Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um Transtorno onde o lobo pré-frontal tem seu funcionamento comprometido por uma hipofunção, ou seja, os neurônios pulsam mais lentamente, o que desregula os neurotransmissores de dopamina e noradrenalina, que entre outros, são responsáveis pela atenção, organização, planejamento, cognição e funções executivas. É considerado um fator preocupante pelos educadores, com grande impacto na vida da criança e principalmente na fase de alfabetização escolar (Benczik, 2010).

O TDAH repercute na vida da criança e do adolescente levando a prejuízos em múltiplas áreas, como a adaptação ao ambiente acadêmico, relações interpessoais e desempenho escolar. (ARNOLD e JESEN, 1995; BARKLEY, 1996) Os sintomas podem se manifestar antes dos sete anos, mas na maioria dos casos geralmente a família percebe as tendências e sintomas do transtorno após sucessivas observações do comportamento depois de alguns anos.

 

No processo de construção do diagnóstico, além dos sintomas típicos como a desatenção e/ou a hiperatividade persistentes, é importante atentar para as alterações do funcionamento cognitivo que interferem diretamente nas funções executivas, na linguagem e nas habilidades motoras que constituem parte do quadro e que ficam evidenciadas, especialmente, no contexto escolar (RIBEIRO, 2013, p. 11).

 

A escola também tem papel fundamental neste primeiro diagnóstico, que pode ou não ser confirmado através de exames em um neurologista. O diagnóstico não pode ser feito se o comportamento for acompanhado exclusivamente de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outros transtornos psicóticos. Também não pode ser considerado como TDAH um caso que seja melhor explicado por outro transtorno mental.

Segundo Araújo Filho (2003, p. 14):

 

Algumas crianças, entretanto, podem apresentar sintomas de hiperatividade como resultado de ansiedade, frustração, depressão ou de uma criação imprópria. Este transtorno é considerado uma doença relacionada à essência de produção de determinados neurotransmissores que são substâncias produzidas em maior ou menor quantidade no sistema nervoso central e regula o funcionamento do mesmo.

 

Na infância, as crianças apresentam dificuldades no relacionamento com os colegas, pais e professores. Muitas vezes são vistas como inquietas e frequentemente a queixa que chega para a família é que elas “vivem no mundo da lua” e que estão sempre “ligadas”. Tanto na infância quanto na adolescência, os indivíduos apresentam problemas de comportamento e dificuldades com regras e limites.

Apresentam dificuldades para se manter concentrado em atividades longas, repetitivas ou desinteressantes. Facilmente se distraem com os estímulos do ambiente externos e pensamentos internos. Em provas ou exercícios erram por distração, omitindo ou trocando sinais de pontuação, acentos, etc. São vistas como impulsivas, não respeitando a vez dos colegas e não lendo a pergunta até o final para respondê-la. Frequentemente são vistos com o desempenho inferior para sua capacidade intelectual (GOLDSTEIN, 2006).

Embora sejam igualmente desatentas, as meninas apresentam menos sintomas do que os meninos, o que levou a errônea conclusão de que o TDAH só se manifestasse em indivíduos do sexo masculino. Isto ocorre por que em média, as meninas incomodam menos que os meninos, e por conta disso são menos encaminhadas para tratamentos médicos e diagnósticos.

O diagnóstico em pacientes adultos muitas vezes é errôneo, como Transtorno de Personalidade, por exemplo. Quando os mesmos apresentam outro problema associado (como depressão ou ansiedade, por exemplo) o TDAH pode ser desconsiderado e o tratamento é focado apenas no outro distúrbio. É importante acrescentar que o diagnóstico só pode ser feito em adultos que apresentaram o transtorno desde a infância.

Na fase adulta a desatenção se volta para o cotidiano e para o trabalho. Apresentam também baixa capacidade de memória e são muito agitados e inquietos. Possuem dificuldade em avaliar como seu comportamento afeta a si e aos outros. Costumam também apresentar dificuldades de organizar e planejar suas atividades diárias, ficando frequentemente estressados quando se sentem sobrecarregados, algo que geralmente ocorre pelos diversos compromissos que são assumidos. Por medo de errar ou de não dar conta, deixam trabalhos pela metade, fazendo outras coisas e às vezes se esquecendo de completamente da atividade que estavam realizando anteriormente (GOLDSTEIN, 2006).

Diversas pesquisas no mundo demonstram que a prevalência do transtorno é semelhante em diversas regiões, o que significa que o TDAH não é determinado por fatores culturais, o modo como os pais educam os filhos ou o resultado de conflitos psicológicos, algo inovador e que revoluciona a forma de muitos verem a doença (JENSEN, 1999).

A região frontal orbital é relevantemente desenvolvida no ser humano e é responsável pelo controle do comportamento, capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento. Com base nisto, é possível afirmar, com base em estudos científicos, que os portadores apresentam alterações no lobo frontal e nas alterações com o resto do cérebro, pois a incapacidade de modular a resposta ao estímulo, reagindo com impulsividade, é a característica fundamental do TDAH (JENSEN, 1999).

Apesar de nenhum estudo conseguir até o momento afirmar qual gene é considerado necessário ou suficiente ao desenvolvimento do transtorno, pesquisas ressaltam a alteração do funcionamento do sistema de neurotransmissores de dopamina e noradrenalina que passam informação entre os neurônios (JENSEN, 1999).

Há também dados de pesquisas que relacionam fatores como substâncias ingeridas na gravidez, sofrimento fetal, exposições ao chumbo e problemas familiares com o transtorno. Entretanto não há dados significativos que afirmem que estes fatores possam causar a doença, e sim apenas agravá-la. O tratamento deve conter uma combinação de medicamentos (psicoestimulantes, de ação prioritária dopamirnérgica, e a imipramina, de ação noradrenérgica), orientações aos pais e professores e técnicas específicas para o paciente (JENSEN, 1999).

A psicoterapia chamada de Terapia Cognitiva Comportamental, visa ajudar o paciente entender melhor a si mesmo e às pessoas e problemas ao seu redor, possibilitando maneiras de enfrentar as dificuldades. O psicólogo foca sua atenção nas áreas emocionais e sociais que estão sendo ou que estão afetando o paciente, levando em conta quais os pilares centrais de cada um e como eles podem influenciar suas emoções, tratando este tópico (JENSEN, 1999).

Outro tipo possível de tratamento se chama Neurofeedback, e é baseado em tecnologias avançadas naturais e funciona de forma não-invasiva. Age diretamente sobre as estruturas responsáveis pelos sistemas que causam os sintomas e tem a função de “treinar o cérebro”, normalizando assim as alterações cerebrais típicas do transtorno. Esta novidade no tratamento no Brasil altera o padrão da frequência de ondas cerebrais em longo prazo. Pode ser utilizado com ou sem a companhia de remédios (JENSEN, 1999).

O tratamento com um Fonoaudiólogo também pode ser relevante no que diz respeito à atenção e concentração da aprendizagem na escola, melhorando assim o desempenho de crianças que apresentem a doença. A participação de pais e professores estimulando e incentivando o paciente é fundamental neste caso. As repercussões do mau desempenho escolar na vida do aluno com TDAH como necessidade de turmas especiais de apoio, sofrimento pessoal e familiar, bem como a influência na vida adulta, justificam o investimento no diagnóstico e manejo precoces do problema. (KLEIN e MANNUZZA, 1991)

Percebe-se nas crianças com TDAH uma capacidade de produção prejudicada, deficit que pode ser associado aos sintomas desatenção e hipercinesia, que dificultam o desempenho nas tarefas em geral. Levando-se em conta as hipóteses levantadas pode-se afirmar que crianças com TDAH possuem indicadores de capacidade de produção e desempenho em índice do que as crianças sem esse deficit, de impulsividade e dificuldade de controle emocional em índice mais elevado do que em crianças sem esses transtornos e tendem a aumentar o nível de ansiedade diante de algumas situações, tornando-se mais apreensivas, tensas e inseguras do que as consideradas normais.

 

 

2. O PAPEL DOS EDUCADORES E DA ESCOLA

 

Assim como os problemas da inclusão de alunos com necessidades especiais, na maior parte das escolas brasileiras os alunos portadores de TDAH não recebem qualquer tipo de orientação pedagógica adequada, pela falta de capacitação dos professores nas universidades.

 

Apesar de notícias equivocadas e opiniões sem embasamento científico, a maior parte dos indivíduos com TDAH em nosso país continuam sem receber o tratamento adequado Como todo problema complexo, existem diferentes razões para a dificuldade de identificar indivíduos com o transtorno (Mattos et al, 2012, p. 6).

 

Geralmente, o professor é a primeira pessoa a observar comportamentos não adaptados apresentados pelo aluno, e solicitar orientação para a equipe técnica e a direção da unidade, para que sejam providenciados encaminhamentos para profissionais especializados, quando necessário. Porém:

 

A escola, que é um apoio, mas não uma alternativa para o lar da criança, pode fornecer oportunidade para uma profunda relação pessoal com outras pessoas que não os pais. Essas oportunidades, apresentam-se na pessoa das professoras e das outras crianças e no estabelecimento de uma tolerante, mas sólida, estrutura em que as experiências podem ser realizadas (WINNICOTT, 1985, p. 217).

 

É importante que o professor, ao observar esse tipo de comportamento, registre, descrevendo objetivamente como ele se caracteriza, em que momentos ele é apresentado pelo aluno, qual a frequência, quais as consequências para o aluno e para os demais alunos da classe, que estratégias de intervenção já foram tentadas, qual foi o resultado de tais intervenções, dentre outras informações. Esses registros têm o objetivo de contribuir para a identificação das necessidades educacionais do aluno, de modo que a escola busque respostas adequadas para seu processo de aprendizagem.

Apesar desses comportamentos muito provavelmente já serem conhecidos no contexto familiar, na maioria das vezes os familiares, até então, “viraram-se” como puderam, tentando administrar, nos meandros do cotidiano doméstico, a convivência com o problema. A escola deve contar com as informações fornecidas pela família para melhor compreender os comportamentos do aluno e o seu processo de aprendizagem. Tais informações devem ser discutidas com os profissionais da equipe técnica, com a direção da unidade escolar e todos os procedimentos regulares devem ser explorados antes de se encaminhar o aluno para atendimentos outros, na comunidade.

 

Idealmente, a investigação diagnóstica deve ter pais relatando sobre os sintomas em casa ao passo que o melhor informante para o ambiente escolar é obviamente o professor. Por outro lado, adolescentes – e naturalmente as crianças – tendem a minimizar seus sintomas, o que novamente remonta à necessidade de ter informações dos professores (ROHDE et. al., 1999, p. 15)

 

É nessa instância, finalmente, que se deve decidir, em comum acordo com a família, sobre o encaminhamento do aluno, e às vezes, até, de sugerir aos familiares que procurem outros profissionais especializados, para que possam fazer uma avaliação mais detalhada do problema e nortear os atendimentos especializados necessários, bem como orientar o professor.

Nesse momento, efetiva-se, então, a presença de uma equipe multidisciplinar para auxiliar o desenvolvimento do aluno. Há que se lembrar, entretanto, que uma equipe multidisciplinar somente poderá cumprir seu papel se ela assumir a função de transdisciplinaridade, ou seja, que o grupo se reúna, compartilhe informações e reflexões, e produza, no coletivo, uma síntese realmente representativa da complexidade que constitui e contextualiza o problema focalizado. Assim, o estudo de caso implica na realização de entrevistas, de avaliações técnicas de reflexões e discussões conjuntas e de elaboração coletiva de sínteses diagnósticas e orientadoras da intervenção.

 

As estratégias de intervenção incluem os diferentes tipos de terapia psicológica, terapia familiar e terapia medicamentosa, bem como diferentes ações educacionais, implementadas na sala de aula, e nas demais instâncias da unidade escolar. (ROHDE et. al., 1999)

 

Adaptações organizativas que podem auxiliar em sala de aula se fazem importantes, como o estabelecimento claro juntos aos alunos de limites necessários para a convivência num coletivo complexo e a identificação de uma forma mais adequada de comunicação para cada aluno para que ele trabalhe com compreensão, com prazer e com a maior autonomia possível.

É de grande importância, também, que o ensino seja individualizado, norteado por um Plano de Ensino (Currículo) que reconheça as necessidades educacionais especiais do aluno, tendo este que relacionar o que está aprendendo na escola, com as situações de sua própria vida. As atividades acadêmicas devem ocorrer em um ambiente que por si só tenha significado e estabilidade para o aluno.

A previsibilidade de ações e de acontecimentos pode diminuir em muito a ansiedade do aluno que apresenta comportamentos não adaptativos. Assim, o professor dever estruturar o uso do tempo, do espaço, dos materiais e a realização das atividades e estabelecer programas que favoreçam ensinar o que é útil para a vida do aluno, de sua família e da comunidade aonde vive.

A equipe técnica deve sempre estar buscando estratégias que sejam efetivas e realistas para o caso em questão, pedindo ajuda a profissionais da equipe técnica sempre que necessitar de apoio, ou se sentir inseguro e cooperar com os pais, usando na sala de aula os mesmos procedimentos recomendados pelos terapeutas e usados em casa (quando a família é participante do processo de intervenção).

 

É de extrema importância que alunos com TDAH sejam motivados nas práticas do dia a dia. Esses sujeitos necessitam de professores capacitados, pois sua inconstância de atenção e não deficit de atenção fazem com que sejam capazes de uma hiper concentração quando houver motivação (BARKLEY, 2002, p. 11).

 

Cabe ainda à equipe técnica estabelecer claramente com os alunos da sala, as regras de participação verbal na aula, dando oportunidades dos alunos praticarem o desejável, mostrando ao aluno claramente quando seu comportamento está sendo cooperativo e desejável, observando os interesses dos alunos pelas atividades dadas, registrando seu tempo de permanência nelas, favorecendo oportunidades para que o aluno se movimente pela classe e outros locais na escola.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES DE UMA VIVÊNCIA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO COM UMA ALUNA PORTADORA DE TDAH

 

O presente tópico busca descrever algumas situações vivenciadas, bem como as estratégias pedagógicas desenvolvidas pela professora durante a sua vivência em uma sala de aula de uma instituição de ensino do município de Sorriso/MT, com a aluna E.B.M., que possuía dificuldades de aprendizagem, vindo de outra instituição com base curricular inferior, ou seja, a instituição anterior não possuía em seu corpo educadores capacitados para lidar com a situação.

O momento inicial do estágio foi caracterizado pela apresentação da aluna ao corpo docente e administrativo e ao espaço físico da instituição de ensino, bem como a preparação de estratégias e planejamento de ensino da professora junto a outros setores como coordenação, secretaria e direção. Somente após esses procedimentos, deu-se início às atividades dentro da sala de aula. Segundo Barkley et al (2008, p. 7):

 

O sucesso educacional de crianças com TDAH não envolvem apenas uma tecnologia comportamental documentada, mas também a presença de professores envolvidos de forma ativa e voluntária no processo de trabalhar com esses alunos.

 

Nas séries iniciais, com o passar do tempo, a aluna não apresentou dificuldades para se adaptar à base curricular adotada pela instituição de ensino, que se tratava de uma base mais completa e significativa, conseguindo concluir o ano letivo sem grandes dificuldades.

O ano seguinte foi caracterizado pelas dificuldades, pois desde o início dos trabalhos no bimestre a aluna apresentou estado emocional bastante abalado, devido ao seu fraco desempenho. Concomitante a esse comportamento, o Manual de Saúde Mental IV (DSM IV) apresenta 3 subdivisões para o TDAH:

 

[...] o TDAH com predomínio de sintomas de desatenção, o TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade e o TDAH combinado. Os sintomas deste transtorno abrangem três categorias: desatenção (dificuldade para sustentar a atenção por períodos prolongados, seguir instruções, completar as lições e organizar tarefas; tendência a perder objetos, esquecer compromissos e distrair-se com estímulos externos); hiperatividade (agitação motora, inquietude e tendência a falar excessivamente); e impulsividade (dificuldade de aguardar sua vez e tendência de interromper os outros ou intrometer-se em assuntos alheios).

 

Em razão disso, os pais foram convocados para uma reunião junto à professora e à coordenação, com o objetivo de buscar estratégias para a amenização desse comportamento. Obtendo êxito no resultado, as medidas propostas na reunião e adotadas na vida escolar e familiar da aluna, fizeram com que a mesma concluísse mais uma etapa de sua vida escolar.

 

[...] as duas devem participar juntas no desenvolvimento da criança; a falta de integração entre a família e a escola faz com que ambas fiquem alheias às dificuldades que a criança possa estar enfrentando. Escola e família constituem sistemas nos quais a criança está inserida e onde deve desempenhar papéis diversos, às vezes conflitantes. (MARTURANO, 1999, p. 135)

 

No 1° ano do ensino fundamental, iniciado em 2016, período caracterizado pela fase de alfabetização onde a concentração é imprescindível no processo, a aluna inicialmente surpreendeu a todos, apresentando poucas dificuldades de assimilação. Porém, no decorrer do período, as dificuldades aumentaram e sua concentração e atenção não fluíram de maneira satisfatória, fazendo que a mesma concluísse o ano letivo com leitura e escrita fluente.

Iniciado o 2° ano do Ensino Fundamental, novamente os pais da aluna foram convocados para uma reunião na escola, onde foram apresentadas todas as observações realizadas e proposto o encaminhamento de E.B.M. a profissionais médicos especializados fora do ambiente escolar para um melhor desenvolvimento da aluna.

 

[..] o tratamento para o TDAH deve ser multidisciplinar, requerendo a assistência de profissionais de saúde mental, educadores e médicos em vários momentos de seu curso. O tratamento deve ser proporcionado durante longos períodos para ajudar a pessoas com TDAH no manejo contínuo do seu transtorno. Assim, muitos portadores poderão ter uma vida satisfatória, razoavelmente ajustada e produtiva (BARKLEY et al, 2007, p. 9).

 

Assim, o trabalho foi complementado com o tratamento junto a uma Fonoaudióloga, por um período de um ano, onde diante das dificuldades de aprendizagem apresentadas pela paciente e após diversos testes realizados em seu consultório, foi diagnosticado um provável TDAH.

O laudo concluído pela Fonoaudióloga foi entregue à direção da instituição de ensino que, de posse deste documento, realizou um novo encaminhamento para uma Neurologista Pediátrica, afim de obter um diagnóstico mais preciso, onde se obteve a confirmação do TDAH. As estratégias de intervenção incluíram os diferentes tipos de terapia psicológica, terapia familiar e terapia medicamentosa, bem como diferentes ações educacionais, implementadas na sala de aula, e nas demais instâncias da unidade escolar.

Após a constatação no final do ano letivo de 2017, a aluna foi medicada e as todas as medidas receitadas pela Neurologista começaram a ser adotadas em casa e na escola: adaptações curriculares, psicólogo e psicopedagoga para um melhor desenvolvimento e aprendizagem escolar da aluna. Nesse momento, constatou-se a importância da equipe multidisciplinar para auxiliar no desenvolvimento da aluna, onde foi assumido a função de transdisciplinaridade, ou seja, o grupo se reuniu, compartilhou informações e reflexões, e produziram em conjunto uma síntese realmente representativa da complexidade que constitui e contextualiza o problema detectado.

A adaptação curricular tem o objetivo de melhorar cada vez os aparatos que o aluno portador de TDAH necessita. Caso apareçam obstáculos, são necessários meios que amenizem essa dificuldade. Assim, as adaptações curriculares podem ser definidas como toda adequação que favorece o aluno na sua aprendizagem.

 

Para que ocorra aprendizado se faz necessário que o professor apresente diferentes adaptações curriculares, para desta forma, proporcionar aos alunos com deficiência intelectual mais possibilidades de acesso ao currículo. A importância da adaptação curricular deve-se à constatação de que práticas educativas homogeneizadoras não alcançam as especificidades dos alunos, promovendo o fracasso escolar (DALBOSCO, 2016, p. 13).

 

Há que se mencionar que os profissionais da educação envolvidos na aprendizagem de E.B.M. na instituição de ensino respeitaram às peculiaridades individuais de cada um dos alunos, buscando meios para sanar as necessidades educacionais especiais presentes no grupo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O presente artigo, através de fundamentações teóricas, bem como do relato de experiência vivida pela professora, procurou buscar reflexões sobre o comportamento da criança dentro do contexto escolar e social, onde alunos portadores do TDAH são muitas vezes incompreendidos, desencadeando um afastamento coletivo por parte de seus colegas, professores e familiares que mostram dificuldades em atender as necessidades dessas crianças.

A professora levou em consideração a significativa dificuldade de aprendizagem da aluna, onde adotou-se estratégias para obter informações sobre suas preferências como: a reação do estudante nos diversos ambientes, os materiais utilizados, as atividades, pessoas envolvidas e outros estímulos.

Coube à professora fazer com que a avaliação e o currículo refletissem nas necessidades da aluna, considerando transições, isto é, preparando-a para ambientes, expectativas, normas, regras e outras fases subsequentes. Considerou que a avaliação e o currículo devem ser baseados no desejo, necessidades, preferências e no meio cultural em que ela viveu e vive.

Há de se ressaltar, também, a coleta e repasse de informações junto aos pais, onde foi enfatizado que os conhecimentos e habilidades adquiridas na escola possam ser usadas na sua vida cotidiana, em diversos ambientes e consequentemente serão úteis em toda sua vida, para que sejam mais independentes, produtivos e felizes.

O professor não pode trabalhar sozinho. Ele tem, sim, que fazer a sua parte, que é perceber o problema, observá-lo, descrevê-lo, descrever as contingências que o cercam, discutir com os profissionais da equipe técnica, com o diretor da unidade, acompanhar os procedimentos de encaminhamento para profissionais especializados, buscar estratégias pedagógicas diversificadas, implementá-las, monitorar seu efeito, reajustar sua prática pedagógica, buscando orientação e o suporte dos profissionais especializados.

Para promover o desenvolvimento cognitivo constante e consistente do paciente é preciso psicoeducar e preparar muito bem os pais e professores para seguirem como monitores/mediadores de modo a incentivar e engajar a criança no processo de mudança comportamental para que ela mesma possa aos poucos ir detectando erros, corrigindo-os e ajustando comportamentos.

Todos têm papel fundamental neste processo, pois quando há o trabalho em conjunto há também uma melhora visível na interação da criança, na motivação para mudança o que leva, consequentemente, a uma diminuição do uso de práticas disciplinares. Quando a criança se sente socialmente integrada e pertencente a um grupo, ela consegue lidar com os pensamentos e as emoções de maneira mais clara e criativa, e assim, exercer melhor a autorregulação.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ARAÚJO FILHO, D. Hiperatividade. Petrópolis: Vozes. 2003.

 

BARKLEY, R. A et al. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH): Guia completo para pais, professores e profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2007.

 

BENCZIK, E. B. P. Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade: Atualização diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

 

DALBOSCO, M. Os desafios da escola pública Paranaense na perspectiva do professor PDE. Vol. II. Curitiba: Unioeste, 2016.

 

GOLDSTEIN, S. Hiperatividade: Compreensão, Avaliação e Atuação: Uma Visão Geral sobre TDAH. Artigo: Publicação, novembro/2006.

 

JENSEN, P. S. et. al. Adaptação transcultural de instrumentos de pesquisa em saúde mental. Revista Psiquiatria Clinica. Maio de 1999.

 

MARTURANO, Edna Maria. Recursos no Ambiente Familiar e Dificuldades de Aprendizagem na Escola. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Ribeirão Preto, v. 15, n. 2, p. 135-142, maio/ago. 1999.

 

MATTOS, P.; ROHDE, L. A.; POLANCZYK, G. TDAH é subtratada no Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, 1999.

 

RIBEIRO, V. M. O TDAH na família e na sociedade: um estudo sobre os relacionamentos sociais e familiares de pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.

 

WINNICOTT, Donald Woods. A criança e o seu mundo. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.