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A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NAS AULAS DE HISTÓRIA

Enir Salete Gasparetto
Thais Soares Lima Dantas Alves
Rosenilda Laurentino
Vivian Maria da Silva
Eliene da Silva Sousa dos Santos

 

RESUMO

O objetivo principal foi é um olhar reflexivo para a importância da música como ferramenta pedagógica nas aulas de história, considerando a perspectiva teórica acerca dessa metodologia. O presente trabalho faz uma breve análise das relações entre música e ensino de história ser fundamental devido ao fato de a música ter importância significativa na cultura cotidiana dos estudantes e devido o professor de história poder encontrar na música um aliado, um recurso didático que cria vínculo e favorece o engajamento dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem.

 

Palavras-chave: História. Música. Metodologia.

 

1. INTRODUÇÃO

 

No Brasil, ensinar história é sempre uma tarefa difícil. Aqui, o passado é sinônimo de velharia, e velharia é algo a ser descartado. Poucas são as cidades em que há preocupação com o Patrimônio Histórico, e normalmente o que se vê é o oposto: casas, igrejas e construções “velhas” sendo demolidas. Em nossas práticas escolares verificamos que os alunos, com algumas exceções, não têm a percepção do passado na sua prática cotidiana: não utilizam nem interagem com objetos antigos, não identificam construções do passado, não conversam com os membros mais velhos das famílias ou vizinhos. Ironicamente, a novidade que extingue o passado do cotidiano vivido proporciona às crianças e adolescentes uma cultura midiática que os remete a todo instante ao passado não vivido por meio dos filmes, minisséries, documentários, videoclipes e músicas.

A escola de Educação Básica tem o dever de contribuir para a formação histórica de seus alunos juntamente com outros campos em que ocorrerem o aprendizado histórico como: a família, o círculo social do educando, a influência de meios de comunicação, a igreja, entre outros. A consciência histórica do aluno começa a ser formada antes mesmo do processo de escolarização e se prolonga no decorrer de sua vida, fora da escola, em diferentes espaços educativos, por diferentes meios.

Desta maneira, a construção de uma prática de ensino de História que contribua para a formação de cidadãos críticos, requer a valorização permanente de diferentes sujeitos, do diálogo, do respeito à diferença, bem como o combate às desigualdades e o exercício da cidadania em todos os espaços.

São muitos os desafios impostos atualmente, em oferecer nessa etapa de formação, noções históricas básicas de temporalidade, de identidade, de orientação que possam ser significativas para a vida do educando. Assim, torna-se importante contribuir para a existência de ações que possibilitem à conquista de uma formação escolar que proporcione ferramentas intelectuais para uma vida plena em sociedade.

Segundo Bittencourt (2013), ensinar História no século XXI constitui um desafio para os professores e uma impossibilidade de se ensinar uma história ampla da humanidade. A sociedade brasileira, imersa em contradições historicamente reafirmadas que se refletem no campo educacional, vive um presente marcado por um intenso avanço tecnológico e com estudantes com dificuldades na leitura e compreensão dos tempos históricos.

Segundo Godoi (2011), a presença da música na vida das pessoas é incontestável. Em muitas culturas vem acompanhando a história e se fazendo presente em diferentes continentes. Ela é uma forma de expressão artística, tanto no campo popular, como no erudito. A linguagem musical faz-se presente especificamente no Brasil, em suas diversas classes sociais e nas diferentes manifestações religiosas que se espalham por todo território nacional. Embora sua linguagem seja diversificada, dependendo de onde venha essa expressão cultural, a música acompanha o desenvolvimento e as relações interpessoais em suas comunidades, bairros e cidades.

Nesse sentido, a análise das relações entre música e ensino de história é fundamental por duas razões básicas: porque as músicas têm importância significativa na cultura cotidiana dos alunos, e porque o professor de história pode encontrar na música um aliado, um recurso didático dos mais importantes, que cria empatia com os alunos (SOARES, 2017).

O presente trabalho é um olhar reflexivo para a importância da música como ferramenta pedagógica nas aulas de história.

 

2. DESENVOLVIMENTO

 

HISTÓRIA DA MÚSICA EM RESUMO

 

A música sempre esteve presente nos mais diversos povos desde a antiguidade, como nos gregos, egípcios e árabes. A palavra música tem origem na mitologia grega e significa “a arte das musas”. As musas eram seres celestiais ou divindades que inspiraram as artes e as ciências e tinham Orfeu, filho de Apolo, como seu deus. Orfeu foi, na mitologia grega, o deus da música.

Já na Roma antiga, a música não atingiu grande desenvolvimento, como podemos ver na obra História da música, de Ellmerich (1973), em que diz: “os romanos não alcançaram grande desenvolvimento nas artes em virtude de sua tendência guerreira e de constantes preocupações nas lutas de conquista. Assim o florescimento artístico romano começa com subjugação da Grécia em 146 a.C”.

Percorrendo um pouco mais a história, chega-se na Idade Média encontramos um mundo dominado pelo fanatismo religioso. Luis Ellmerich (1973) escreve que esse cenário de fanatismo extremo levou àquele período histórico quase total estagnação. A música ganha a pauta de quatro linhas (nos dias de hoje usamos uma pauta de cinco linhas que é a da música clássica convencional), criada pelo monge italiano Guido d‟Arezzo, hoje esse sistema é usado no canto gregoriano e a ele é atribuído o sistema silábico que nominava as notas musicais.

O protestantismo também utilizava a música nos seus cultos religiosos. Assim, naquele momento a disputa por fiéis entre as duas igrejas, a católica e a protestante, a “reforma protestante”, como foi chamada a divisão da igreja católica romana, que acabou dando origem à igreja luterana, liderada por Martinho Lutero, usava a música para seu progresso.

Ellmerich (1973) ainda explica que todas essas mudanças religiosas levam a igreja de Roma à “Contra Reforma” que transformou em muito os dogmas da igreja de Roma, que refletiu definitivamente na música daquela época, pois a igreja católica passa a admitir a música não Gregoriana em seus cultos, isso fica mais claro nas palavras de Ellmerich (1973) quando expressa que: “no célebre Concílio de Trento (reunião de altos dignitários da igreja católica para tratar assuntos dogmáticos), ficou decidido, ainda, que o canto não Gregoriano também faria parte nas igrejas, contanto que sua música fosse simples e o texto bem compreensível”.

A música barroca substituiu o estilo renascentista que se caracterizava predominantemente em corais de vozes usados nas igrejas, e ainda os resquícios da idade média. Após o século XVII a música barroca dominou a cena europeia até cerca de 1750. Era elaborada e emocional, expressando sentimentos no conjunto de sua obra, tanto em sua estrutura (musical) complexa, como no refinamento de sua oratória, ideal para integrar enredos dramáticos e de compreensão muito difícil.

O romantismo coloca a força da expressão substituindo o refinamento que faltava em suas obras. Esse período sofre uma mudança substancial em toda a Europa, pois esse momento histórico acontece logo após a revolução francesa. Ellmerich (1973) enfatiza que o romantismo significava o abandono às regras e a disciplina do classicismo, que expressa por sua arte, nesse caso, na música a emoção que sente o compositor.

A música até este momento não havia sido direcionada ao ensino escolar, ou envolvida na educação de crianças. Ainda estava muito ligada à igreja, tanto católica romana como a protestante de Martinho Lutero, ou era apresentada em teatros ou grandes concertos que eram comuns nos vários impérios europeus daquela época, sempre ligada ou a assuntos políticos ou assuntos religiosos (GODOI, 2011)

 

A MÚSICA NO BRASIL

 

A música do Brasil se formou a partir da mistura de elementos europeus, africanos e indígenas, trazidos respectivamente por colonizadores portugueses, escravos e os padres jesuítas que a usava em cultos religiosos e para atrair atenção à fé cristã. Os nativos que aqui já habitavam também tinham suas práticas musicais, fato que ajudou a estabelecer uma enorme variedade de estilos musicais, que se solidificaram com o decorrer da história. Em terras brasileiras, as primeiras manifestações musicais, que recebem registros históricos, são as dos padres jesuítas, que, naquele momento, queriam mais fiéis para sua igreja do que promover educação ou manifestações artísticas por meio de sua música.

Apesar de haver ensino de cantos e apresentação de instrumentos pelos padres jesuítas, não havia conotação educativa nessa prática, esse processo era puramente religioso, usado para espalhar a fé dos padres pela população indígena. A partir do século XVII, a música popular ganha força no Brasil, principalmente o lundo ou landu, inicialmente uma dança africana, assim descrita por Mário de Andrade (1980). No período colonial e primeiro império chegam ao Brasil as valsas, polcas, tangos e outras diversas manifestações musicais estrangeiras, que nos Brasil achavam veículo de expressão.

Já no fim século XIX e início do XX, com o fim da escravidão em 1888, são abertas novas fronteiras para a vinda de imigrantes europeus, para o trabalho nas lavouras de café e algodão. Esses chegam com diversos ritmos de sua terra natal, como a mazurca, que acaba sendo abrasileirada (sic.) e transformada no maxixe. Essa transformação de ritmo dá origem ao choro. Mas, uma música popular brasileira só se formaria mesmo com o carnaval carioca e a chegada do gramofone ao Brasil na década de 1930 do século XX. Apareceria então o samba urbano, o ritmo mais famoso do Brasil. Depois disso, com o rádio, a televisão e a indústria fonográfica a música popular se consolida e chega à variedade gigantesca que hoje encontramos.

Segundo Godoi (2011), em relação ao ensino de música, do descobrimento até meados do século XX, ocorria aleatoriamente, sem conotação educativa, sem registros que esclareçam uma organização pedagógica no seu uso. Era utilizada na perspectiva de ensinar a tocar instrumentos (cravo, piano, violão) ou para professar a fé cristã pelos padres jesuítas e como manifestação cultural.

Em 1854, por decreto real é regulamentado o ensino de música no Brasil, mas não havia formação compatível, por parte dos professores, e a música era usada para o controle dos alunos. De acordo com Loureiro (2003), nessa fase, a escola dava pouca ênfase aos aspectos musicais. A visão de trabalhar na educação musical os aspectos culturais dos alunos, seu meio e a música como elemento de interação entre as outras disciplinas escolares, apareceria em nossa história a partir da metade do século XX, junto à evolução da educação infantil como instituição educativa.

 

POR QUE ENSINAR HISTÓRIA?

 

Diante da nova concepção de ensino, trabalhar a história em sala de aula é muito mais do que ficar preso aos fatos do passado, como decorar datas importantes. O ensino desta deve ser um grande suporte para preparar o educando em um sujeito consciente de seu papel na sociedade (RABELO, 2009).

No final da primeira década do século XXI, pesquisadores, formadores, gestores e professores têm uma clara compreensão de que a escola constitui um espaço complexo de debates, fontes históricas e diferentes propostas de saber. A escola constitui um espaço democrático, onde diversas possibilidades de ensinar e aprender estão presentes. Nesse sentido, a concepção de História como disciplina formativa aponta para a construção de novas práticas e possibilidades metodológicas que potencializam, indicam outras relações educativas no ensino de História desde o processo de alfabetização da criança nos primeiros anos de escolaridade.

É valioso fomentar a interdisciplinaridade com o objetivo de dimensionar o processo ensino/aprendizagem de História bem como a construção do saber. Este saber específico se faz necessário para que se entenda a relação entre diferentes tempos, significando então reconhecer o valor do passado para o presente e o futuro.

Terra e Freitas (2004) apontam que os professores de História provocam reflexões sobre como o presente mantém relações com outros tempos, inserindo-se em uma extensão temporal, que inclui o passado, o presente e o futuro. Esse mecanismo ajuda analisar os limites e as possibilidades das ações de pessoas, grupos e classes no sentindo de transformar realidades ou consolidá-las; colabora para expor relações entre acontecimentos que ocorrem em diferentes tempos e localidades; auxilia a entender o que há de comum ou de diferente no ponto de vista, nas culturas, nas formas de ver o mundo e nos interesses de grupos, classes ou envolvimento político. Enfim, são questões mais comprometidas em formar pessoas para analisar, enfrentar e agir no mundo.

Vale ressaltar, que devemos mostrar aos educandos que se admite socialmente a ocorrência de alguns fatos no futuro recorrendo ao que se sabe do passado. Se podemos afirmar que o tempo continua a passar, que a gravidade continuará a estender-se através do tempo, e que o carnaval levará milhares de brasileiros aos sambódromos do país, é graças ao que estudamos do passado “sem isso não teríamos nem mesmo o conhecimento dessas verdades fundamentais, não saberíamos as palavras para expressá-las, ou até quem, ou onde, ou o que nós somos. Só conhecemos o futuro através do passado nele projetado. Nesse sentido, a história é tudo que temos” (GADDIS, 2003).

Segundo Hobsbawn (1998), é inevitável que nos situemos no contínuo de nossa própria existência, da família, e do grupo que pertencemos. É inevitável fazer comparações entre passado e presente. Não podemos deixar de aprender com isso, pois é o que a experiência significa.

Compreender as transformações sofridas pelas sociedades e também as permanências culturais existentes em nosso tempo, permite planejar com mais clareza nossas ações, assim como valorizar as diversidades culturais étnicas e sociais que vão se constituindo ao longo do tempo (Hobsbawn,1998).

Contudo, sabemos que nem todos apropriam-se da História para que a sociedade viva melhor. No decorrer da história da humanidade, elementos do passado foram utilizados para justificar ideologias nacionalistas ou étnicas ou fundamentalistas. Como exemplo desse uso indevido, tivemos regimes como o nazismo, o fascismo e organizações como a Ku-klux-klan.

Para Bernardo (2009), os historiadores possuem um papel importante, de autores políticos, ao promover através das pesquisas, conhecimento histórico, que retirem dos olhos as vendas colocadas pelas ideologias.

Para Rusen (2001) a formação histórica permite as pessoas recepcionar o conhecimento histórico científico, lidar com ele, tomar posição quanto a ele e por fim utilizá-lo. Esta formação não deve ser apenas privilégio dos historiadores. Se assim fosse a História como ciência ficaria tão restrita que poderia perder sua utilidade. Ao contrário, ela deve estar disponível a todos aqueles que a desejam. Dessa forma é possível desde o início da formação escolar desenvolver capacidades e habilidades que proporcionem a formação histórica. Para que se dê o processo de aprendizado e apropriação da experiência histórica, são necessárias, de acordo com Rusen (2007b), três operações: experiência, interpretação e orientação:

O aprendizado histórico corresponde ao aumento de experiência no quadro de orientação da vida prática. O contato com outras experiências vividas por diferentes sujeitos, em diferentes épocas e lugares, permite uma vivência a nível intelectual que contribui para o aprofundamento da consciência “de que os dias de hoje se passam de outra forma do que no passado, porque as condições de vida prática de cada um são historicamente específicas”.

O aprendizado histórico resulta na evolução da capacidade interpretativa, ou seja, a aprendizagem histórica proporciona que os modelos de interpretação, utilizados no processamento da experiência e na organização do saber, põe-se em movimento, tornem-se flexíveis, expandam-se e diferenciem-se, enfim, tornem-se conscientemente refletidos e utilizáveis. “Trata-se da capacidade de transpor sua contemporaneidade para novos pontos de vista e novas perspectivas, nas quais e com as quais podem fazer e interpretar as experiências históricas”.

O aprendizado histórico acarreta aumento da competência de orientação.

Essa competência diz respeito à função prática das experiências históricas interpretadas e ao uso dos saberes históricos, ordenados por modelos abrangentes de interpretação, com o propósito de organizar a vida prática, com sentido, em meio aos processos temporais, ao longo dos quais os homens e seu mundo se modificam.

A aprendizagem histórica deve ser planejada, para contemplar múltiplas habilidades e competências, assim como o desenvolvimento de procedimentos que auxiliem na formação histórica.

E finalmente, se refletirmos historicamente sobre a estruturação da história enquanto disciplina escolar e sua implantação no Brasil entende-se porque esta por muito tempo favoreceu a formação histórica pouco abrangente, contemplando muito pouco os aspectos elucidados acima.

 

MÚSICA PARA ENSINAR, APRENDER E PRODUZIR HISTÓRIA

 

Segundo Vigotski (2001), ensinar é disponibilizar uma aprendizagem que possibilite aos alunos o desenvolvimento pessoal, social e cognitivo. Diante disso, estamos na defesa de um ensino de história que possibilite aos alunos esse desenvolvimento. Como as demais disciplinas escolares, a história deve estar a serviço dos processos de elevação das capacidades humanas de crianças e adolescentes. Não podemos aceitar que as crianças oriundas das classes sociais desfavorecidas estejam afastadas dos processos de produção do conhecimento (LIBÂNEO, 2012), pois em nossa concepção, uma boa educação escolar não apenas reproduz ou transmite conhecimento, mas produz conhecimento.

Para Soares (2017), o conhecimento histórico escolar deve possibilitar às crianças e adolescentes a desnaturalização da vida e do cotidiano. Isso se torna possível na medida em que os estudantes são incentivados a ter acesso ao conhecimento que não têm. Mas no cotidiano é que se localizam as sensações e os sentimentos, bem como a sua vivência. Nesse sentido, a cultura cotidiana pode ser uma das chaves que nos permita inserir os alunos na história da humanidade.

Ouvir e interpretar exigem capacidades cognitivas elevadas, aquilo que Vigotski (2000) definiu como funções psicológicas superiores. Porém, assim como é possível reprimir o desenvolvimento dessas funções, com “decorebas” e interpretações predefinidas, também é possível desafiar os alunos e suas capacidades.

Nessa concepção, ensinar história tem dois objetivos básicos: inserir os alunos no contexto histórico da humanidade e possibilitar a eles desenvolvimento e cognitivo.

A instituição escolar, tem entre as suas funções, proporcionar a formação intelectual dos indivíduos. Trata-se de oferecer às crianças e adolescentes noções básicas de leitura e compreensão das diversas linguagens e realidades que configuram a sociedade.

A escola, mais do que um local de instrução e transmissão de saberes, passou a ser considerada como um espaço configurado e configurador de uma cultura escolar, onde se confrontam diferentes forças e interesses sociais, econômicos, políticos e culturais.

Diferente do historiador, a escola possui dinâmica própria e embora ela trabalhe com conceitos científicos, assim como o historiador, seus objetivos e funções são outros. Entretanto, a diferença apontada, não significa uma hierarquização entre o universo do historiador e o universo escolar, muito menos que haja uma incompatibilidade de relações entre eles. Faz se necessário compreender a especificidade de cada área para que ambas se beneficiem.

Entre os currículos prescritos e os vividos nas aulas de História, há diversas mediações entre os sujeitos (alunos e professores), saberes de diferentes fontes (livros didáticos, fontes históricas, imprensa, textos, filmes, literatura, documentos e outros), práticas institucionais, burocráticas e comunitárias em contextos muito diferenciados. Nessa trama relacional, é imprescindível a valorização do papel do professor, de sua formação, autonomia e das condições do trabalho docente (FONSECA, 2010).

Na prática escolar, o ensino de música deve ter atenção prioritária, já que falar em ensinar música ou musicalizar é falar em educar pela música, contribuir na formação do indivíduo, como um todo, lhe dando oportunidade de imergir em um imenso universo cultural, enriquecendo sua inteligência através de sua sensibilidade musical.

O ensino e, consequentemente, o aprendizado da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso dessa linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto seus aspectos subjetivos. Em consequência, transformará também o mundo deste sujeito, que adquirirá novos sentidos e significados, modificando também a sua própria linguagem musical.

Nogueira (2003) diz que a música deve ser vista além de uma “arma” pedagógica, também como uma das mais importantes formas de comunicação do nosso tempo. No texto a autora ainda cita Snyders (1997), o qual contribui expressando que uma geração nunca viveu mais a música que a nossa, mas o autor ainda ressalta que para entendermos o processo de desenvolvimento de uma criança, temos de ir muito além de seus aspectos físicos ou intelectuais, é um processo que envolve uma grande rede de questões, questões que são uma complexidade muito além às da maturação biológica.

Os campos de desenvolvimentos são os que lidam com a afetividade, na prática como a música, que se dá pelo aprendizado de um instrumento ou a apreciação dos sons, isso, segundo o autor, potencializa o aprendizado, tanto no emocional quanto no cognitivo. Particularmente no campo do raciocínio lógico, ressalta mais uma vez o autor, há um grande desenvolvimento da memória e nos espaços do raciocínio abstrato.

Então é preciso mostrar e entender a prática de como a música pode ser usada na escola, ou seja, apresentar atividades com música que contribuam para o desenvolvimento emocional e cognitivo dos estudantes.

 

MODIFICANDO AS METODOLOGIAS E PRÁTICAS DE ENSINO ADOTADAS EM SALA DE AULA

 

Os cursos de formação de professores, em geral não contemplam a música em nenhuma das suas disciplinas. O que acontece na prática é o exercício realizado por alguns professores que trabalham músicas ou atividades do gênero, por conta própria, por entenderem que a música contribui mais para o desenvolvimento do educando do que mediados por um embasamento teórico.

A música pode ser usada de forma constante nas salas de aula, como por exemplo, para cantar canções e quem as crianças digam seus nomes e os nomes de seus colegas, possibilitando uma interação muito interessante entre os alunos.

Atualmente os Docentes podem contar com uso de tecnologias e objetos para despertar o interesse dos alunos, a motivação como parte essencial para uma aula produtiva, e transformar uma metodologia tradicional como as aulas expositivas em algo realmente interessante e prazeroso, aliar às práticas de ensino tradicional a elementos que promovam o desenvolvimento do pensamento crítico reflexivo dos alunos, permitindo através de uma visão real do mundo, detectar os problemas que o assolam e ao mesmo tempo, dotá-los de ferramentas capazes de compreender a realidade histórico-social (OLIVEIRA, 2013).

É importante ressaltar que a seleção e a abordagens dos conteúdos de história só irá ter importância e sentido para o aluno, se o mesmo tiver algo relacionado com o seu mundo social, e com seus interesses (SOUSA, 1999).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), os conteúdos de história não devem ser considerados fixos. As escolas e os professores devem recriá-los e adaptá-los à sua realidade local e regional.

A facilidade para transmissão dos fatos históricos com essas novas ferramentas de transmissão do saber, permite ao educando uma compreensão maior ao ser abordados temas que lhe são transmitidos através de uma linguagem que lhe

mais próxima ou interessante. Só que isto não parece claro no ambiente no escolar quando muitos professores são impossibilitados de inovarem na sala de aula por falta de uma estrutura física que é visível principalmente nas entidades públicas de ensino, falta de material didático e superlotação das salas, o que favorece uma possível desconcentração dos alunos.

De acordo com Gohn (2011), a escola que necessitamos hoje é escola da liberdade e da criatividade, onde buscamos uma articulação entre a educação formal e a não formal, essa nova escola deve reconhecer a existência de demandas individuais e coletivas, uma escola que una a formação para a cidadania, a transmissão competente de universo de saberes disponíveis, passado e presente, no esforço de pensar/elaborar/reelaborar sobre a realidade de cada um.

Fonseca (2010) discorre sobre algumas propostas metodológicas e estratégias de ensino que vêm se consolidando entre educadores e produzindo resultados exitosos na aprendizagem de História por crianças e jovens. São elas:

A educação patrimonial: o trabalho pedagógico com os diferentes lugares de memória (museus, arquivos, bibliotecas, monumentos, objetos, sítios históricos ou arqueológicos, paisagens, parques ou áreas de proteção ambiental, centros históricos urbanos ou comunidades rurais) e com as manifestações populares (as cantigas, o folclore, as religiões, os hábitos e costumes, os modos de falar, de vestir) pode contribuir para o desenvolvimento do respeito à diversidade, à multiplicidade de manifestações culturais.

A incorporação e diversificação de diferentes fontes, linguagens e artefatos da cultura contemporânea no processo de ensino e aprendizagem: conforme já foi explicitado anteriormente, o professor, ao ensinar História, incorpora as noções transmitidas no processo de socialização da criança, no mundo vivido fora da escola, na família, no trabalho, nos espaços de lazer, nos diversos ambientes sociais e educativos, etc. A formação do aluno/cidadão se processa ao longo da vida, nos diversos espaços, entre eles a escola. Logo, devemos considerar como fontes do ensino de História todos os veículos, materiais, vozes, indícios que contribuem para a produção e difusão do conhecimento, responsáveis pela formação do pensamento crítico: os meios de comunicação de massa (rádio, TV, imprensa em geral), a internet e os espaços virtuais, a literatura, o cinema, fontes orais, monumentos, museus, arquivos, objetos, poesias e canções, além de documentos impressos e textuais e das fontes iconográficas. Os livros didáticos e paradidáticos como fontes, suportes de trabalho, também propiciam o acesso de alunos e professores à compreensão desse universo de linguagens.

Para Soares (2017), a tomada de consciência sobre o estudo é um processo “rico em conteúdo e orientado a um fim”. Aqui, aprender não é responder corretamente às questões ou fazer o que os professores solicitam. Aprender é estabelecer vínculos “internos” com o conteúdo, querer aprender, se interessar, voltar sua atenção para aquele conhecimento. A tomada de consciência é uma “ação interna” do sujeito em relação ao conteúdo da atividade, ocorre quando o estudante tem os objetivos das ações que desenvolve claros para si. Para pensar prospectivamente, podemos sugerir que a ação de ouvir uma música seja orientada para um fim específico no âmbito da produção do conhecimento histórico.

O mesmo autor ainda menciona que para a utilização da música em sala de aula é fundamental que seus objetivos específicos sejam muito bem explicitados aos alunos, pois ao inserir a música como material e objeto de estudo, o professor coloca toda a sua intuição à prova. É preciso que o professor esteja atento à cultura musical dos alunos, que consiga modificar o “ambiente” da sala de aula quando for ouvir as músicas, que fique atento para identificar se os alunos estão “com os ouvidos disponíveis” para a audição. Isso é tanto mais difícil quanto mais avançamos no ensino fundamental II e ensino médio. Mas, quando isso ocorre, as possibilidades de um bom ensino e de uma boa aprendizagem são maiores.

No momento em que os estudantes interpretam a letra de uma música, as necessidades de conhecimento deles estão voltadas para o texto. Mas, quando o professor sugere a audição, muitas necessidades surgem, dispersando os vínculos criados entre os estudantes e aquilo que está estimulando a atividade. A incorporação do motivo da atividade ocorre quando os estudantes se conscientizam das novas necessidades, que nos casos da educação escolar são despertadas pela forma como o professor propõe e conduz a atividade (SOARES, 2017).

Importante ressaltar que ao mudar a estrutura de uma atividade e inserir a música como objeto e fim do conhecimento, os estudantes despertam para a necessidade de produção de um novo conhecimento sobre as músicas, um conhecimento histórico (SOARES, 2017).

Diante do exposto, fica evidente a necessidade de sempre rever conceitos e estratégias pedagógicas para podermos reformular não só o ensino de História, mais das demais áreas da Educação e assim, possamos entender de fato a importância da História como elemento transformador de uma sociedade opressora que seja capaz de desenvolver uma nova pedagogia do oprimido, para que através da educação possamos mudar a História da humanidade (COSTA, 2012).

 

2.1 METODOLOGIA

 

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizada a metodologia descritiva bibliográfica.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A utilização da música discutido no presente trabalho não é o de formação de instrumentistas, concertistas e nem dominar instrumentos ou cantar almejando uma carreira profissional como músico. O estudante poderá no futuro almejar uma dessa carreiras, mas o ato do professor cantar, trabalhar a música ou tocar alguns instrumentos, deve ter como objetivo o desenvolvimento emocional e cognitivo do estudante, aliando a música a elementos pertinentes do currículo oficial.

Diante do exposto neste trabalho, devemos repensar o papel da música como ferramenta pedagógica e tentar ressignificar a música para o ensino da história, mostrando que é possível uma prática consistente e exitosa.

Torna se importante que os professores tenham essa consciência, mas ainda são necessárias políticas que envolvam a formação deles para atuação com música e melhores recursos para seu trabalho em sala.

É notório que o ensino de história passou por diversas mudanças ao longo dos anos e que a tendência desse sistema de ensino é continuar renovando à medida que a sociedade avança em termos tecnológicos e científicos.

Faz-se necessário que a escola e o professor de História, provoquem no estudante a formação de uma consciência crítica e cidadã. Assim, o professor deve trabalhar atividades que envolvam questionamentos, reflexões, análises, pesquisas, interpretações, confrontamentos e organização de conteúdos históricos.

O ensino/aprendizagem de História é imprescindível à formação dos educandos, pois promove a compreensão da realidade social e condições para atuar sobre ela. Neste processo, com uma metodologia que contemple os procedimentos da pesquisa histórica, o ensino de História evoca as demais áreas do saber escolar, como a Língua Portuguesa, a Matemática, a Geografia, a Ciência, a Educação Física, a Arte como as demais disciplinas auxiliares e ao mesmo tempo interage com elas.

O governo por sua vez deve trabalhar e investir para melhorar as condições de ensino, as estruturas das escolas, universidades e centros de pesquisas. Além disso, deve estabelecer uma política de valorização dos profissionais da educação e acima de tudo cumprir com a sua obrigação de garantir a educação a todos os cidadãos brasileiros de forma gratuita e de qualidade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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