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MUDANÇAS NA EDUCAÇÃO PÓS PANDEMIAS

Tatiane Bertolazi Fonseca


RESUMO

Falar sobre educação é um tema bastante abrangente, afinal muitos fatos ocorreram ao longo da história da educação, porém, as pandemias que surgiram mostraram o quão deficiente e sensível é a nossa estrutura educacional. Para Kodama e Pimenta, as primeiras pandemias registradas no mundo, ocorreram com a conquista de territórios, o que disseminou os vírus e bactérias responsáveis pela contaminação de toda a população. Febre amarela, varíola, gripe espanhola, cólera, pandemia de SASR, dentre tantas outras que surgiram e desestruturaram todo o sistema de saúde, saneamento básico, economia e educação. A primeira grande pandemia foi registrada durante o século XIX, com uma grave epidemia de cólera sucessivamente em vários países, podemos observar também a epidemia da gripe espanhola ocorrida no final da Segunda Guerra Mundial que deixou mais de 50 milhões de mortes, e atualmente a pandemia da COVID-19, causada pelo vírus SARS-COV-2 que teve início no ano de 2019 na China e perdura até os dias atuais com mais de 4 milhões de mortes por todo o mundo. Podemos observar que em todos os momentos de crise global, a educação é um dos setores mais prejudicados pois ainda vivemos em uma educação precária de recursos que utiliza o modelo tradicional de educação com professores como detentores de todo conhecimento e os alunos como receptores que precisam de atenção e auxilio especial para se desenvolverem. Este novo cenário nos mostra que a educação grita por socorro mais uma vez e que precisamos o quanto antes de métodos e até mesmo soluções eficazes para implementar e educar nossas crianças que estão cada vez mais deixadas de lado. O presente artigo abordará questões históricas polemicas envolvendo a educação e a apresentação de dados sobre a atual situação escolar vivenciada pelos alunos do setor público de ensino na cidade de Colíder, situada ao norte de Mato Grosso e apresentar as medidas adotadas pelas entidades locais responsáveis pelo setor.

Palavras chave: Educação. Pandemia. COVID-19. Pós pandemia. Recursos tecnológicos.


ABSTRACT

Talking about education is a very wide-ranging topic, after all, many facts have occurred throughout the history of education, however, the pandemics that have emerged show how deficient and sensitive our educational structure is. For Kodama and Pimenta, the first pandemics recorded in the world occurred with the conquest of territories, which spread the viruses and bacteria responsible for the contamination of the entire population. Yellow fever, smallpox, Spanish flu, cholera, SASR pandemic, among many others that emerged and disrupted the entire health system, basic sanitation, economy and education. The first major pandemic was recorded during the 19th century, with a severe cholera epidemic successively in several countries, we can also observe the Spanish flu epidemic that occurred at the end of World War II that left more than 50 million deaths, and currently the pandemic of COVID-19, caused by the SARS-COV-2 virus that started in the year 2019 in China and continues to the present day with more than 4 million deaths worldwide. We can observe that at all times of global crisis, education is one of the most affected sectors because we still live in a precarious education of resources that uses the traditional model of education with teachers as holders of all knowledge and students as recipients who need special attention and assistance to develop. This new scenario shows us that education cries out for help once again and that we need as soon as possible methods and even effective solutions to implement and educate our children who are increasingly left out. This article will address controversial historical issues involving education and the presentation of data on the current school situation experienced by students in the public education sector in the city of Colíder, located in the north of Mato Grosso, and present the measures taken by the local entities responsible for the sector.

Key words: Education. Pandemic. COVID-19. Post pandemic. Technological resources.


Um Breve Relato da Educação

A educação surgiu da necessidade de se aprender a monetizar produtos em grande escala lá no início das civilizações, e apesar de não ser a educação escolarizada como a conhecemos, ela já possuía um importante papel no desenvolvimento social, econômico e formativo para as pessoas.

As primeiras escolas tinham o papel de preparar os meninos para o mundo, com conhecimentos voltados para a área das letras, alquimias e engenharias e posteriormente foram sendo agregadas novas teorias de ensino. Com o passar do tempo várias foram as conquistas no campo da educação, as meninas passaram a ter direito a frequentar as escolas, foram incorporadas leis que asseguravam a gratuidade de ensino e também preconizava o direito a todos pela educação, independentemente de sua classe social ou etnia.

As aulas eram ministradas por tutores que ensinavam comportamento e obediência a seus alunos e estes por sua vez, eram dispostos em uma sala enfileirados em carteiras escolares onde deveriam apenas ouvir e decorar tudo aquilo que o professor teria a dizer. Consegue perceber alguma semelhança com a educação atual? Mesmo hoje, com todo desenvolvimento e tecnologia, a educação permanece estagnada na mesmice sem sequer trazer interatividade e praticidade aos alunos.


A Educação nos dias de hoje

Mais de três séculos separam o início legal da educação e os dias atuais e, apesar de muitos direitos terem sido conquistados e reconhecidos ao longo dos anos, pode-se perceber que há muitas mudanças que precisam ser feitas o mais breve possível.

Em 1918 a educação passou por grande trauma com a pandemia da gripe espanhola que se propagava com o contato direto ou com gotículas de saliva contaminada, e com isso a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou como medida preventiva o isolamento social total para amenizar o contágio.

Com as medidas restritivas milhões de alunos por todo o mundo ficaram sem ir à escola e consequentemente sem o devido aprendizado, ao final do ano letivo, os parlamentares brasileiros optaram pela aprovação automática dos alunos e a sequência das atividades no ano subsequente. Esta decisão trouxe diversos prejuízos aos alunos que deixaram de receber a educação que deveriam.

Hoje, um século depois o mundo passa por uma nova pandemia, o mesmo cenário de caos e desespero, causando conflitos religiosos, econômicos e sociais, novamente a educação se vê paralisada por um vírus mortal que exige o distanciamento para conter sua propagação. Mas qual a diferença entre as pandemias da gripe espanhola em 1918 com o COVID-19 em 2020?

Pode-se perceber inúmeras semelhanças na forma de propagação, de tratamento e também na prevenção da doença, entretanto com a chegada da era digital muitos recursos podem ser utilizados para amenizar os efeitos colaterais que a doença impôs para a sociedade estudantil.


Medidas adotadas pelas escolas do município de Colíder

A princípio as escolas da rede pública do município de Colíder anteciparam as férias de julho para tentar amenizar a propagação do vírus e não prejudicar o andamento das aulas letivas, entretanto, com o passar dos dias foi percebido o alto risco eminente de um surto de contaminação e, através de decretos estaduais as aulas permaneceram suspensas.

Com o aumento no número de casos positivos e até mesmo óbitos na cidade surgiu a necessidade de manter o vínculo dos alunos e da família com a escola, para que as famílias não se sentissem desamparadas e abandonadas, surgiu aí um projeto inocente de atividades remotas que tinha por objetivo auxiliar as famílias na descontração, trazendo momentos de leveza e alegria.

O objetivo inicial era auxiliar os pais a ensinarem seus filhos através de atividades rápidas e lúdicas o conteúdo que antes era trabalhado em sala de aula, e assim promover mais interação da família que antes estava se desmaterializando e também causar o conhecimento escolar para que as crianças não ficassem ociosas.

A princípio as atividades poderiam ser elaboradas livremente de acordo com a criatividades dos professores desde que seguissem uma sequência com a formação das habilidades pré-definidas pela BNCC e encaminhadas para as famílias.

Para aprimorar e dar mais credibilidade para as aulas, os professores do ensino fundamental e médio optaram por utilizar ainda mais recursos através de plataformas de reuniões online como o google class rom ou google meet, assim poderiam ter um controle melhor das participações e teriam um momento maior de interação para a tirada de dúvidas e aulas um pouco mais longas.

Com isso, os professores passaram a se reinventar, a aprender a gravar, editar e também interagir em redes sociais, tudo em nome da educação, tudo para chamar a atenção e cativar as crianças, trazendo sua atenção para o conteúdo trabalhado, ampliando assim as habilidades e conhecimentos que estavam sendo adquiridos pelas crianças e facilitando seu aprendizado.


Adaptação de uma nova rotina

Esse novo modelo de ensino veio a princípio para auxiliar as famílias e principalmente as crianças no momento de crise, trazendo um pouco de interação familiar com brincadeiras leves e inocentes, resgatando as tradições folclóricas e também regionais, essa nova pratica mudou completamente a rotina das famílias e trouxe novos significados para os momentos de interação.

Em uma pesquisa realizada com um pequeno grupo de pessoas, focou constatado que 92% dos entrevistados disseram que o meio de acesso as atividades é o celular, enquanto que 8% utilizam de computadores ou notebooks para a prática de ensino, isto porque a grande maioria não possui computadores e 15% nem se quer tem acesso à internet em casa.

Das famílias entrevistadas apenas 27% declararam ter um horário estabelecido para realizar as aulas e as atividades de casa, enquanto que 73% preferem desenvolvê-las em horários alternados conforme o tempo disponível pelo trabalho ou conforme a vontade das crianças.

Para as famílias, esta forma de ensino vem causando transtornos e caos por deixarem as crianças fora da sala de aula e sem receber as devidas orientações de educação, entretanto, percebe-se que a maior frustração é que os pais estão tendo que reassumir seus papeis como educadores principais e isto “atrapalha” o desenvolvimento de seus trabalhos profissionais. Estes dados mostram o quanto a educação das crianças está sendo deixada de lado e abandonada pelos pais que delegam a tarefa de educar os filhos para a escola.

A escola por outro lado, tenta auxiliar em todos os sentidos para que as famílias consigam reestabelecer essa conexão para que seja possível educar e escolarizar as crianças de uma forma geral, mas é notório que não basta apenas oferecer a mão, os dois lados da história precisam se entender em um acordo amigável pois, está em jogo o futuro das crianças e também do país.


A Educação Pós Pandemia

Com a chegada da vacina para a covid – 19 uma porta de esperança se abriu para todos os brasileiros, a expectativa de ter a rotina de volta ao normal traz um brilho a mais que a muito tempo havia se perdido no meio do caos.

Agora a pergunta que não quer calar é, o que é normal hoje? Qual o normal que esta nova rotina trouxe para todos os cidadão e que perdurará até após a amenização do contagio e imunização do vírus? Como a escola se portará diante de um retorno as aulas presenciais? Como as famílias abordarão a conexão entre escola-aluno-família?

Estas são perguntas que apenas com o tempo poderão ser respondidas de forma definitiva, entretanto, neste momento com um possível retorno já programado, as escolas se preparam para receber os alunos de forma escalonada e respeitando todos os protocolos de segurança estabelecidos pela vigilância sanitária.

Em entrevista, a coordenadora pedagógica da escola A, informou que a proposta para o possível retorno seria com um esquema de rodizio, uma parte dos alunos irão presencialmente em determinados dias (por exemplo, dias pares), e a outra parte da turma irão em outro dia (por exemplo, dias impares), desta forma as carteiras poderão ser dispostas com as distancias necessárias para que se tenha o distanciamento apropriado dos alunos.

Nos dias que a turma A ficará em casa, ou B, as aulas e atividades permaneceram via aplicativos de multimídia e deverão ser encaminhadas para a correção no dia seguinte. As atividades físicas também deverão ter mudanças, com atividades ao ar livre e individualmente sem contato e sem jogos com bola.

Outro momento muito importante que também sofrerá mudanças, será o horário do lanche que deverá ser liberada 1 única sala por vez e sem contatos próximos, com a vigilância dos responsáveis para que seja um horário de tranquilidade, sem correria de brincadeiras tradicionais das escolas.


Considerações

Mas o que se pode tirar de vantagens deste momento? a história mostra que a educação pedia por socorro a muitos anos e a pandemia do COVID-19 veio para forçar essa mudança, os professores aprenderam a se reinventar, a cativar a atenção das crianças através de meios tecnológicos e em contrapartida, as famílias passaram a compreender como é trabalhado o conteúdo na escola e acompanhar o aprendizado de seu filho, a valorizar o trabalho dos professores e compreender o quão difícil e valoroso é esse trabalho.

Este momento mostra que é necessário valorizar cada segundo que é possível viver ao lado das pessoas que são especiais, da família e amigos, mostrou que a espécie humana apesar de forte, também pode ser uma espécie frágil e indefesa e que pode ser abalada por algo tão pequeno mas incrivelmente forte e maligno que fez toda a humanidade mudar drasticamente a rotina e os hábitos, tanto no âmbito social quanto higiênico.

Contudo, este momento trouxe a verdade que estava encoberta pela mesmice, a educação precisava mudar, e mudou, a partir de agora a educação entrou na era digital, utilizando de recursos tecnológicos e aulas interativas, rotina essa que não mais deixará de estar presente nas salas de aulas, mesmo após o retorno das aulas presenciais com todos os alunos e que apesar dos desafios impostos pela pandemia a humanidade venceu e com mais uma chance de viver e serem seres humanos melhores.


REFERENCIAS


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