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A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E A DIALÉTICA INCLUSÃO/EXCLUSÃO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Carmem Deborah Lima Fernandes

Regiane Ferreira Brito Torres

 

RESUMO:

O presente artigo traça um breve histórico sobre os avanços que ocorreram no séc. XX, considerada por historiadores como uma era de extremos, no campo tecnológico e social; extermínio de grupos étnicos, avanços tecnológicos/científicos, instaurando-se como uma nova era, globalizada, mudando o modo de relacionamento das pessoas. Cria-se uma visão de mundo necessária para quebrar barreiras e fronteiras entre pessoas, principalmente as excluídas por marcas físicas ou sociais, logo precisa-se entender o papel da escola e seus métodos como aquela que auxilia no processo de inclusão, negando aqueles métodos descontextualizados e excludentes que antes permeavam o âmbito escolar e o método avaliativo. Não se trata, porém, de um processo definido e acabado, um movimento desenvolvido em uma subjetividade social, responsável pelas ações e questionamentos, mobilizando para uma compreensão da inclusão das pessoas com necessidades especiais nos diversos espaços sociais.

 

Palavras-chave: Escola. Cultura. Sociedade.

 

DESENVOLVIMENTO:

 

O ideal de inclusão é um processo complexo, que envolve toda a história, desde o iluminismo, até o holocausto da Segunda Guerra, ainda forte na humanidade; que influenciaram nesse processo em desenvolvimento desde os anos 60 e, que encontra inúmeras resistências por vários setores da sociedade e das pessoas. Por ser multideterminado e multifacetado, a inclusão mobiliza e também provoca interesse e resistência e nos leva a olhar para a dificuldade e necessidade do outro, como também um resgaste do nosso. É uma discussão que abrange a inclusão da diferença/diversidade, o que se contradiz a um modelo estereotipado do capitalismo do como ser uma pessoa, em que a sociedade “exige” para um padrão do “ser feliz”, se encaixando num modelo pós-moderno de beleza, de roupas, pensamento e comportamento; como se houvesse ou fosse preciso uma negação da própria identidade e aceitação de outra para ser inserido a determinado grupo social. Contra esse modelo, segundo as autoras, estão as pessoas com deficiência bem como as demais, minoria/maioria, que buscam se encaixar nesses modelos para conseguirem seu lugar. Por essa razão, além de ter-se um olhar compassivo, há que se buscar uma maneira para que essa inclusão aconteça, que haja e seja espaço para todos, numa sociedade que exclui.

A mudança de comportamento e pensamento do homem ocorre a partir da “ruptura” com a religião enquanto ciência que tudo se explica, para uma nova organização econômica social e cultural, o capitalismo contribuindo para a criação de uma forma de constituição da subjetividade social e individual, que se desenvolveram por meio deste sistema. Muda-se a forma de pensa e agir, ao passo que surge um novo conceito de homem e trabalho, baseado em teorias científicas que rejeitam as religiosas. Nesse processo de subjetividade social, relacionado a um desenvolvimento científico e tecnológico, a escola, como uma instituição universal e obrigatória, constitui-se como política educacional no séc. XIX, embasada por pensamentos iluministas e em projetos liberais de um mundo onde haja a igualdade de oportunidades. Enquanto as modificações sociais mostravam que a escola como um modelo baseado nos modelos de igualdade de direitos e deveres, permitindo ao cidadão ser transformado para o trabalho; por outro lado o desenvolvimento e ascensão econômica, permitiram que as pessoas com deficiência física fossem vistas como incapazes e inaptas para este processo social.

A psicologia baseada em critérios médicos e pedagógicos, criou mecanismos de controle e categorização da sociedade, surgindo o critério de “normal”, ou seja, a pessoa que trabalha e obedece a regras, não protesta e colabora para uma ordem estabelecida, o que era fora disso considerava-se como comportamento patológico. Assim, nas escolas “buscava-se o controle dos impulsos que eram considerados inadequados nas crianças por meio de práticas disciplinares e moralistas”, criando-se a partir deste contexto modelos que buscavam sempre uma padronização e homogeneidade, desenvolvendo-se a linha da naturalização da desigualdade, tornando-se desigualdades étnicas, pessoais ou culturais.

Se torna comum também, diante do ponto de padronização de comportamento e pessoa, os testes psicológicos, mesmo sendo estigmativo e excludente, em particular os de inteligência, que se baseava numa forma objetiva científica de conhecimento, sem levar em consideração a realidade sociocultural do sujeito; o que caracteriza a criança como vítima de um fracasso escolar, que visto a uma bateria de testes personalizados, fracassa por ser incapaz de aprender e ter baixo nível de inteligência, colocando-a como única responsável. São testes que continuam sendo aplicados de forma descontextualizada, buscando os mais capazes de ocuparem melhores lugares sociais, excluindo os que não são avaliados, levando em conta toda o contexto social no qual ele se encontra. Esse método surgiu para que fosse criado um padrão de normalidade na escola, separando as crianças de acordo com suas capacidades de inteligência. Para as autoras, as escolas especiais também são outro modelo de rotulação e segregação social, pois nelas eram inseridas aquelas não aceitas no sistema regular de ensino. Neste contexto, surges as APAEs, um centro de reabilitação e associação desportivas especiais, um lugar de acolhimento daqueles aos quais a sociedade negava espaços comuns.

Dentro do que se vê como segregação, as creches antes não eram consideradas educacionais, mas sim como para guardas as crianças, já que o papel e a presença da mulher começou a sofrer mudanças na sociedade; eram vistas como uma nova concepção assistencial, dirigida à classe menos favorecida, enquanto às de classe ascendentes eram educadas em pré-escolas que visavam o desenvolvimento intelectual. Hoje, porém, as creches fazem parte do sistema educacional e prioriza-se o desenvolvimento integral da criança, considerando seu conhecimento de mundo.

O surgimento do processo de inclusão escolar tem proporcionado uma maior abrangência na discussão sobre o assunto, em relação às práticas educativas/pedagógicas em nossa sociedade. A integração propõe mudanças que privilegiam as pessoas com deficiência e a proposta de inclusão busca inserir todas as crianças na escola regular de forma total e incondicional, beneficiando a todos e não somente um grupo; logo a sociedade deve se adaptar às necessidades do outro e seus sistemas de qualidade. Nesse processo de inclusão, a presença do professor é importante quanto a ao ensino-aprendizagem da realidade social, a relação entre ambos ocorre no espaço das emoções e, quando há uma dificuldade nessa interação os dois lados são prejudicados na comunicação levando à impotência de um e a incapacidade do outro. Por essa razão a escola precisa quebrar a barreira do diálogo com as famílias, fazendo-as participar e ter conhecimento sobre seu filho e o progresso do seu desenvolvimento.

Sendo assim, em todo esse processo ainda precisa ser discutido sobre as avaliações, que se destitui de uma compreensão da complexidade do sujeito e muitas não têm seu desenvolvimento percebido pelo professor, que pode ser refletido em demais esferas, que não a escolar. A avaliação reitera o resultado em certo ou errado, determinando o fracasso ou o sucesso do aluno; inclui-se o aluno que acerta e, exclui-se o aluno que erra, tido como incapaz. Uma avaliação muito objetiva só mostrará se o aluno domina ou não determinado conteúdo, são baseadas em concepções elitistas e discriminatórias, descontextualizadas do cotidiano da criança, sem levar em conta sua individualidade e participação do professor. Portanto, precisa-se de uma proposta de desenvolvimento, articulando os processos humanos em sua complexidade e contradição, auxiliando na formação dos educadores, novos sentidos e significados a respeito do que é humano, sem ser categorizado e padronizado em conceitos de anormalidades e deficiências.

 

REFERÊNCIAS:

 

DIAS. Diogo Lopes. Método Científico. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/metodo-cientifico.htm.

 

MENDONÇA, Onaide Schwartz. Didática. UNESP/Presidente Prudente. S.d. Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40137/1/01d16t02.pdf

 

VASCONCELOS Jr., Raimundo Elmo de Pula; et. al. Hierópolis. UFC. Fortaleza. 2013. Disponível em: https://eventos.uece.br/siseventos/processaEvento/evento/downloadArquivo.jsf;jsessionid=16ed00392c713a0247112d10ea1c.eventoss1?id=88&diretorio=documentos&nomeArquivo=88-03062014-154639.pdf&contexto=sinecgeo2013.