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O ORIENTADOR EDUCACIONAL COMO PROMOTOR DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Cristiane Lemes de Arruda1

Jovina Benedita de Campos Moraes2

 

RESUMO

O presente artigo teve como finalidade apresentar o papel do orientador educacional como promotor da educação inclusiva, visando apontar as dificuldades encontradas no ensino, bem como as possibilidades de enfrentamento acerca do atendimento à alunos com necessidades educacionais especiais. Sabe-se que a orientação educacional surgiu a partir da orientação profissional e que inicialmente legitimava práticas que mais excluíam do que incluíam pessoas. A metodologia foi desenvolvida a partir da revisão bibliográfica, tendo como sites de busca Scielo, Lilacs e banco de dados de universidades. Como critério de seleção dos artigos utilizou-se os seguintes descritores “O papel da Orientação Educacional no Brasil”, “Histórico da Orientação Educacional no Brasil”, “Competências do Orientador Educacional”, “Orientador Educacional e educação inclusiva”. Após utilizou-se as referências que mais se aproximaram da discussão proposta no artigo. Frente à isso, a necessidade do estudo se fez relevante para contribuir em outros estudos e pesquisas que visem explorar, compreender e questionar práticas do orientador educacional com foco na adoção de melhoria contínua aos alunos e toda a comunidade escolar que também encaram a educação inclusiva como uma possibilidade de promoção a autonomia e emancipação do sujeito.

 

Palavras-chave: Orientador Educacional. Orientação Profissional. Educação Inclusiva. Necessidades Educacionais Especiais.

 

1 INTRODUÇÃO

 

As fronteiras do conhecimento são vastas e complexas. Ao longo da formação de cada pessoa, encontramos fatores de motivação e possibilidades de enfrentamento de realidades as vezes incabíveis a nós. Nesse processo encontramos a educação como a fronteira possibilitadora do conhecimento e da técnica que permite explorar e desenvolver outros aspectos da vida humana.

Cada vez mais, nos espaços escolares, se discute a importância da inclusão e respeito às diferenças. Isso se caracteriza como um dos exímios desafios da prática de professores, coordenadores e diretores de instituições escolares e, principalmente da figura e representação do profissional que atuam em orientação educacional.

Frente à isso, este presente artigo, visa discutir acerca do papel do orientador educacional que busca promover uma educação inclusiva, apresentando as dificuldades que podem encontrar bem como as possibilidades de enfrentamento acerca do atendimento à alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas.

Assim, inicialmente propôs conhecer como se deu a construção história da orientação educacional em outros países, bem como seu início e implantação no Brasil. Além disso, se apresenta os principais tipos de serviço ofertados no século XX de orientação educacional explorando sua finalidade e países de origem, assim como as competências que regem à profissão do orientador educacional e qual tem sido hoje o seu papel em relação a tentativa de lidar com a inclusão nas escolas.

Para a construção desse artigo, cujo caráter é de revisão bibliográfica, escolheu-se por pesquisar artigos e livros, buscando-se por descritores como “O papel da Orientação Educacional no Brasil”, “Histórico da Orientação Educacional no Brasil”, “Competências do Orientador Educacional”, “Orientador Educacional e educação inclusiva” em bases de pesquisa como Scielo, Lilacs e banco de dados de universidades.

Essa pesquisa se fez relevante cientificamente justamente pela tentativa de propor estudos mais atualizados sobre o tema, buscando suscitar em acadêmicos e teóricos repensar a prática do orientador educacional, bem como despertar o interesse em realizar pesquisas de observação participante a fim de explorar como tem sido a atuação da orientação educacional, principalmente pela perspectiva da educação inclusiva.

Sua relevância social, por sua vez, se apresenta em relação ao fato de que este estudo poderá contribuir para se compreender melhor o papel do orientador educacional, visando melhorar o nível de desempenho desse profissional nas instituições, já que uma vez que se tem definido seu papel e como tem de ser sua atuação, facilita para que junto à comunidade escolar atinjam os objetivos esperados.

Reconhece-se a importância de explorar os conhecimentos na área, buscando adotar estratégias e instrumentações na prática profissional que visem realmente contemplar as necessidades educacionais especiais dos alunos.

 

2 HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO MUNDO

 

Historicamente, a orientação educacional teve suas influências históricas fundamentadas em experiências realizadas em países europeus, bem como nos Estados Unidos da América, que iniciaram os primeiros trabalhos na área de Orientação Profissional e que deram base para a formação de um trabalho científico e uma atuação em orientação educacional (NUNES, 1982).

 

O século XX, momento em que a orientação educacional surgiu, foi marcado por inúmeras influências de outras áreas do conhecimento. Os principais movimentos de ordem científica foram encontrados na Psicometria, Orientação Vocacional, Psicoterapia, Psicanálise, Psicopedagogia e movimentos referentes à saúde mental. No que tange aos movimentos de ordem social, a Revolução Industrial e a Primeira e Segunda Guerra Mundial tiveram um forte impacto para a construção de um trabalho em orientação educacional (NUNES, 1982).

De acordo com Teixeira (1979, p. 11-12)

 

Outros teóricos, entretanto, tais como Blocher (1966), Gordillo (1972), Hill (1973) e Tyler (1974) têm descrito a evolução da orientação em termos da sua crescente necessidade, atribuída à complexidade das exigências da vida moderna. As constantes solicitações da vida social, as necessidades econômicas, a luta pelas oportunidades escolares e profissionais, colocam o indivíduo em situações de escolha constantes. Estes processos são cada vez mais conflituosos para a pessoa e esta precisa de ajuda para melhor se conhecer e ter condições de optar e assumir sua escolha e mudanças posteriores que podem vir a acontecer.

 

Desta forma, todos esses movimentos contribuíram para se pensar a orientação como necessária para estabelecer ordem social, bem como necessária para ser aplicada nas instituições.

Segundo Nunes (1982), desde o ano de 1895, teóricos já estudavam a orientação profissional, todavia, foi a partir de 1902 que surgiu o primeiro Instituto de Orientação Profissional. Após o Congresso Internacional de Higiene e Demografia, aumentou-se o número de institutos especializados em orientação profissional.

O marco da orientação profissional se dá na Primeira Guerra Mundial, quando se identifica que os pilotos de avião não possuem todas as aptidões necessárias para exercer a profissão. Assim, em vários países europeus como Alemanha, França, Itália e Bélgica passaram a selecionar os seus pilotos, tornando a orientação profissional uma das áreas mais requisitadas como estratégia de intervenção para selecionar as melhores aptidões que tivessem a ver com o cargo (NUNES, 1982).

Nesse período, enxergou-se na orientação profissional uma possibilidade para ser aplicada ao contexto escolar. Todavia, um serviço propriamente instituído no ambiente escolar surgiu anos mais tarde, já que se oferecia inicialmente os serviços da área em centros ou instituições.

O objetivo da orientação era o de assegurar que estudantes escolhessem sua profissão de acordo com suas habilidades. Assegura-se que “as primeiras experiências em orientação apresentaram duas etapas distintas: a primeira fase caracterizada pela seleção profissional e a segunda pela orientação profissional” (NUNES, 1982, p. 15). A primeira fase tem a orientação profissional como seleção, já que se parte de escolher a profissão de acordo com as aptidões; no segundo caso de orientação, refere-se a um momento já marcado como um processo que pode facilitar o indivíduo a escolher sua profissão.

 

2.1 A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL COMO UM SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA AOS ALUNOS

 

Como salientado, a orientação educacional começa a ser pensada a partir dos estudos e atuações que se realizaram por meio dos conceitos de seleção e orientação profissional. Três correntes americanas contribuíram para pensar estes campos, sendo a primeira ideia defendida por Parsons que postulava a orientação como sendo apenas de caráter profissional. Mayers (1941), tempo depois reformulou as ideias de Parsons, defendendo que para ele a orientação só é possível se houver uma escolha a ser feita.

Por sua vez, Jones (1970) e Brewer (1932), a orientação representava educação, defendendo a ideia de que “A consequência da imprecisão desses conceitos resulta numa subdivisão dos princípios da orientação como ramos da educação, tem-se: orientação profissional, orientação moral, orientação religiosa, orientação vital, orientação do lazer, etc” (NUNES, 1982, p. 18).

Por último, Koos e Kefauwer (1932), acreditavam que a orientação possuía três funções básicas, sendo elas a de “informar sobre as oportunidades escolares e profissionais; conhecer o estudante através de vários informes obtidos e guiar individualmente o estudante” de acordo com Nunes (1982, p. 19). Estes últimos teóricos já demonstravam estabelecer diferenças entre a orientação profissional e a educacional.

Na Europa, a distinção entre os dois campos de atuação ficou claro, principalmente no que tange à termos administrativos, na qual viu-se no trabalho de orientação educacional como essencial ao ambiente escolar. Esse trabalho se efetiva quando todo e qualquer aluno pode ter acesso ao atendimento do orientador educacional, bem como a alunos que estejam em níveis do processo de ensino aprendizagem distintos, já que a orientação deve ser contínua e, principalmente quando a orientação educacional contempla todos os muros da escola, isto é, alunos, professores, equipe gestora e administrativa, comunidade e demais atores sociais envolvidos devem fazer parte dessa rede (SCHERTZER e PETERS, 1969).

 

2.3 A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO BRASIL

 

No Brasil, a orientação educacional surge na década de 1940 em São Paulo, criada pelo engenheiro Roberto Mangue, cuja orientação se baseava na profissional e de seleção dos estudantes do curso de Mecânica.

 

Em 1931, a Orientação Educacional torna-se oficial pelo professor Lourenço Filho que organizou o primeiro serviço Público de Orientação Educacional e Profissional, sendo extinta em 1935. Segundo Grinspun (2001, p. 17) esse período é denominado implementador, pois menciona que a “orientação começa a aparecer no cenário educacional brasileiro timidamente associado à Orientação Profissional, com ênfase nos trabalhos de seleção e escolha profissional” (CASTELEINS e COSTA, S/A, p. 281).

 

Deste modo, a orientação educacional se consolida através destes teóricos, bem como em 1947 pelo Decreto nº 17.698 referente às Escolas Técnicas e Industriais é que se faz menção ao cargo de orientador educacional (PASCOAL, HONORATO e ALBUQUERQUE, 2008).

Foi a partir da reforma do ensino, através das Leis Orgânicas do Ensino Industrial em 1942, que se implantou o Serviço de Orientação Educacional com o objetivo de corrigir e encaminhar alunos com problemas, a fim de adaptá-los socialmente. Em 1958, o MEC regulamentou a atuação do orientador educacional pela Portaria n. 105, de março de 1958, tornando a área um campo profissional. Todavia, até o ano de 1961 quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação regulamentou a formação do Orientador Educacional.

 

O campo de atuação do orientador educacional era, inicialmente, apenas e tão somente focalizar o atendimento ao aluno, aos seus “problemas”, à sua família, aos seus “desajustes” escolares etc., pouco ou quase nada voltado à autonomia do aluno e à sua contextualização enquanto cidadão. Após, voltou-se à prestação de serviços, mas sempre com o objetivo de ajustamento ou prevenção (PASCOAL, 2006, p. 116).

 

Deste modo, o caráter preventivo e de adequação social tornavam o orientador educacional o responsável por preparar pessoas para encaixarem-se nesse formato de organização social.

De acordo com Pascoal, Honorato e Albuquerque (2008, p. 104)

 

Uma leitura crítica da legislação e dos contextos sociais em que foram promulgadas pode nos levar a entender que a orientação educacional no Brasil tem cumprido os papéis que dela eram esperados; muitas vezes a favor do sistema excludente e poucas vezes carregada de ousadia no sentido da emancipação das camadas populares. Isso se deve, principalmente, ao fato de estar atrelada às políticas educacionais vigentes nos diferentes momentos históricos.

 

Frente à isso, na década de 1970, a orientação ainda continuou encontrando dificuldades de ser facilitadora do processo de desenvolvimento do ensino aprendizagem, ainda estando fadada a relações de poder e segregações.

A partir da década de 1980, a orientação educacional começa a ser refutada, passando a ter teorias e técnicas sendo repensados e debatidas. Nesse momento, o orientador começa

 

[...] a participar de todos os momentos da escola, discutindo questões curriculares, como objetivos, procedimentos, critérios de avaliação, metodologias de ensino, demonstrando sua preocupação com os alunos e o processo de aprendizagem. Os cursos de reciclagem que foram oferecidos aos orientadores contribuíram para que a discussão fosse mais ampla, envolvendo as práticas, os valores que a norteavam, a realidade dos alunos, assim como o mundo do trabalho.

 

Um trabalho que anteriormente estava totalmente baseado na identificação de alunos “problemas”, passa a ser compreendido num enfoque diferente e mais adaptativo ao aluno com outras necessidades. O profissional segundo Millet (1987) percebe a necessidade de entender o aluno e o ambiente em que está inserido, buscando tomar consciência dessa realidade e possibilitando ao aluno o fortalecimento da luta por seus direitos.

 

2.4 TIPOS DE SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FORNECIDOS NA DÉCADA DE XX

 

Os serviços em orientação educacional inicialmente não ligavam-se apenas a áreas da educação. Todavia, por ter sido mais amplamente explorada nesse contexto, enxergou-se na mesma a possibilidade de desenvolver sujeitos.

A orientação educacional, todavia, ao longo de sua formação, assumiu várias frentes de atuação, sendo elas

 

Guidance Service ou Serviço de Orientação, que incluía “exames do orientando através de testes, realizava entrevistas, colhe informações de várias fontes e aconselhamento que pode ser do tipo informativo ou psicológico” (NUNES, 1982, p. 22). Esse serviço trata-se do caracteristicamente clássico padrão de seleção;

Student Personal Work, tratou-se do serviço que adequava estudantes ao ensino superior, tendo como bases a “obtenção de empregos, bolsas de estudos, providências diversas como alojamento, viagens, alimentação, etc.” (NUNES, 1982, p. 22);

 

Conseling Service, que tinha como foco o aconselhamento psicológico, incluindo atividades que se aproximavam para estudar a comunidade, bem como conhecimento do estudante que busca o aconselhamento;

 

Clínicas Psicológicas, que tinham como papel fundamental o atendimento de pessoas para a resolução de problemas psicológicos, priorizando teorias e metodologias mais psicoterápicas;

 

Diante disso, as maiores influências da orientação educacional nasceram dos Estados Unidos, fundamentando seus programas de orientação em princípios como

 

- o centro do processo é o aluno e que deve ser visto na sua totalidade;

- todo aluno, na escola, precisa de um certo serviço de orientação;

- participação e cooperação de todos os agentes do processo educativo;

- todos os especialistas, em sua maioria, atuam também como professores nas escolas;

- a orientação individual e o aconselhamento são técnicas prioritárias;

- a formação dos orientadores e o tipo de escolas são aspectos a serem considerados nos programas de orientação;

- o treinamento dos orientadores é essencial (NUNES, 1982, p. 23-24).

 

Por sua vez, na França, os orientados foram nomeados de “Psicólogos escolares” e tinham como papel identificar e auxiliar alunos com dificuldades de aprendizagem. Isto significa que a orientação educacional estava totalmente atrelada à escolha da profissão, de modo que orientasse o aluno a se ajustar socialmente.

 

2.5 COMPETÊNCIAS E PAPEL DO PROFISSIONAL QUE ATUA EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

 

Há décadas o orientador educacional que tinha como papel primordial selecionar e segregar estudantes que encontrassem dificuldades em relação à escolha da profissão, bem como problemas de aprendizagem, hoje se encontra em um movimento completamente distinto. Atualmente, o orientador educacional deve segundo Pascoal (2006) ser um mediador entre o estudante e o ambiente social, buscando debater com o mesmo aspectos de problemáticas e impactos sociais, que compõem os contextos político, cultural e econômico em que vive. O objetivo principal é facilitar o processo de despertar a consciência crítica do estudante frente sua realidade.

Além disso, cabe ao orientador educacional compreender o “desenvolvimento cognitivo do aluno, sua afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes” (PASCOAL, 2006, p. 121), para que envolva o aluno num processo mais profundo, de autoconhecimento e assim possa conseguir lidar com suas questões educacionais, bem como emocionais.

Dar condição para a formação do aluno trata-se da prioridade do profissional em orientação educacional, tendo em vista que é preciso ver o aluno como o centro da ação pedagógica (PASCOAL, HONORATO e ALBUQUERQUE, 2008, p. 110), cabendo ao orientador atender a todos os alunos independentemente do nível de aprendizagem que se encontrar.

O orientador educacional deve estar disposto

 

[...] no espaço escolar para orientar o aluno, ajudando a solucionar problemas que vão surgindo durante a caminhada escolar e na vida pessoal. É ele quem faz a mediação escola/família, aluno/professor, aluno/família, aluno/comunidade, comunidade/aluno família/professor e mediações/prevenções ligadas a drogas, violência e sexo, mostrando os caminhos e escolhas que o educando pode seguir. Seu papel ultrapassa os muros da escola (SILVA, 2015, p. 20).

 

Nesse momento, uma das principais competências que o profissional necessita é ser dinâmico e estar preparado para lidar com as mudanças no contexto escolar que ocorrem diariamente, afinal, deve-se trabalhar em prol de uma lógica de atendimento que privilegie todos os tipos de alunos, incluindo principalmente a promoção da inclusão na instituição.

Formar alunos que respeitam as diferenças é crucial para formar pessoas que são críticas e que sabem lidar com todos os aspectos que regem a forma de organização social, não reproduzindo práticas que individualizam e quantificam sujeitos.

Ao orientador caberá atuar no desenvolvimento do trabalho pedagógico, sendo ativo e participando dos momentos no ambiente escolar, na elaboração e avaliação do projeto político pedagógico (PPP), bem como nas reuniões de Conselho de Classe, de modo que também fomente na equipe escolar discussões e questionamentos acerca de como a escola tem funcionado, quais caminhos devem ser adotados pensando em currículo do aluno, os conteúdos que são dados e a forma como apreendem a atenção do aluno.

Pensando nesse contexto de formação que o orientador deve promover, neste presente artigo, busca-se apresentar como o orientador educacional pode ser um facilitador da educação inclusiva.

 

2.6 O ORIENTADOR EDUCACIONAL COMO PROMOTOR DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

 

Como vimos, o orientador educacional possui um exímio papel na formação do aluno, bem como na atuação em estratégias junto à escola para pensar melhores condições de ensino. Nesse contexto, em que o profissional tem de lidar com inúmeros desafios, encontra-se a necessidade de dispor de instrumentos teóricos e técnicos que deem subsídio aos alunos com necessidades educacionais especiais.

Sabe-se que a educação inclusiva trata-se de uma trajetória de lutas e da busca pela emancipação de alunos com dificuldades de aprendizagem, motoras, de visão, dentre outros, que foi ganhando espaço nas discussões sociais a partir da Constituição Brasileira de 1988 que

 

[...] garante o acesso ao ensino fundamental regular a todas as crianças e adolescentes, sem exceção, e deixa claro que a criança com necessidade educacional especial deve receber atendimento especializado complementar, de preferência dentro da escola (MIRANDA, VIANA e BIAGGIO, 2007, p. 19).

 

Após alguns anos, mais precisamente em 1994, na Espanha, foi formulada a Declaração de Salamanca cujo finalidade foi de garantir que

 

toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,

toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas,

sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades,

aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades,

escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, p. 01, 1994).

 

A Declaração de Salamanca veio como uma proposta de promover diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social. É o resultado de uma tendência mundial que consolidou a educação inclusiva, e cuja origem tem sido atribuída aos movimentos de direitos humanos e de desinstitucionalização manicomial que surgiram a partir das décadas de 60 e 70.

A Educação Inclusiva não é pensada com base em um caráter classificatório e excludente. É vista como uma possibilidade integradora e que propicia aos alunos um resgate de sua identidade, pois assim como as crianças apresentadas como “normais”, as crianças com necessidades educacionais especiais também querem reafirmar-se enquanto sujeitos que possuem direitos e deveres merecendo respeito acima de tudo.

Deste modo, ao orientador educacional que visa atuar na busca de uma educação inclusiva, é preciso trabalhar para que se desconstrua culturalmente concepções que ainda colocam a pessoa com necessidade educacional especial como se fosse “retardada”, “lesada”, desajustada socialmente”. Essa proposta de enfrentamento às estigmatizações que são atribuídas devem partir primeiramente do profissional, tendo em vista que ele será o responsável por contribuir na formação do pensamento escolar.

Incluir o aluno significa dar condições a ele de desenvolver suas potencialidades, representando também que ele tem capacidades que podem vir a alcançar os mesmos níveis de alunos ditos “normais”. Nas salas de aula, é necessário que se invista em uma educação que realmente inclua e coloque todos os alunos de níveis de aprendizagem estudando juntos, já que dar ao aluno um atendimento especializado deverá ocorrer só quando há limitações maiores.

Ao orientador educacional deve estar claro que

 

O termo inclusão parece significar coisas distintas para pessoas distintas em distintos contextos, mas sugere que se resultem três pontos de consenso e de compromisso: Criação de uma sociedade mais justa; Desenvolvimento de um sistema educativo mais equitativo; Promoção de resposta da escola regular à diversidade e heterogeneidade, como meio para tornar realidade tais desígnios (PINTO, 2011, p. 14).

 

Isto significa que é importante o orientador educacional atentar-se à práticas que permanecem legitimadas atualmente nas instituições de ensino, uma vez que se observa ainda a dificuldade que professores possuem em relação ao atendimento de pessoas com necessidades educacionais especiais. Ainda se vê nas escolas um ensino centralizador, no qual o professor é quem transmite o conhecimento e o aluno apenas recebe sem poder dialogar ou ser protagonista (PINTO, 2011).

O trabalho do orientador educacional também está em auxiliar o professor a enfrentar essas dificuldades em relação ao ensino. Sabe-se que muitos não conseguem lidar com a inclusão devido à falta de preparo durante sua formação profissional e podem vir a sentirem-se inseguros ao terem de lidar com uma pessoa com necessidades educacionais especiais. Para tal, é preciso pensar em estratégias que venham a facilitar esse processo que não pesa só para professores, mas principalmente para os alunos.

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Neste presente artigo, vimos que a orientação educacional surgiu a partir das ideias que nortearam a construção da orientação profissional, que vinha carregada de métodos segregacionistas e de seleção de acordo com as capacidades de cada pessoa. Ao longo dos anos, tanto nos Estados Unidos, como em países europeus, essa prática difundida fez uso de diferentes áreas do conhecimento para pensar como seria fornecida serviços de orientação educacional, tendo sua base principal fincada na Psicometria, uma medida em Psicologia.

No Brasil, a partir da década de 1940, isso não foi diferente, e novamente tivemos a reprodução de uma orientação educacional apoiada no modelo de outros países. Só a partir da década de 1980, que iniciou-se maiores discussões acerca de como deveria ser o trabalho do orientador educacional e como este viria a ser eficaz nas instituições de ensino.

Dada a regulamentação de sua prática, o orientador educacional, dentro dos muros dos espaços escolares, se viu no desafio de implantar uma forma de orientação que fugisse à lógica tradicional e que realmente contemplasse as necessidades dos alunos e equipe gestora, permitindo assim atuar na conscientização crítica e busca junto ao aluno e professor de seus respectivos processos de emancipação.

O orientador educacional deve ser um profissional que está além do seu tempo, que necessita junto à instituição de ensino ir em busca das melhores estratégias que repensem o formato de ensino que almejam e que trarão resultados mais significativos. Quanto à isso, não estamos falando de resultados apenas quantitativos atribuídas as atividades escolares, mas sim de resultados qualitativos, que exige do orientador um trabalho de compreensão das necessidades cognitivas, motoras, afetivas, emocionais e sociais de seus alunos e de toda a comunidade escolar.

E como foi apresentado, um dos principais desafios que se encontram na atuação do orientador educacional, se encontra na tentativa de implantar e facilitar a inserção de uma educação que incluía a todos aqueles que possuem uma necessidade educacional especial. Que fique claro que quando falamos nessa terminologia, estamos incluindo todos as pessoas que possuem necessidades motoras, cognitivas, afetivas/emocionais, auditivas, Transtornos Globais do Desenvolvimento, Superdotação (Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2007).

 

ReferênciaS

 

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1 Graduada em Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Docência na educação Infantil. Técnica em Desenvolvimento Infantil. Atua também na Creche Municipal Manoelino de Jesus. Professora na EMEB Onofre de Oliveira. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

2 Graduada em Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil e Anos Iniciais. Técnica em Desenvolvimento Infantil, CEMEI Aliane Fatima. Professora na EMEB Onofre de Oliveira. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.