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UM ESTUDO SOBRE A PRÁTICA DO BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR: QUANDO A BRINCADEIRA VIRA AGRESSÃO

Cristiane Alves Meira
Fátima Gutierrez da Silva Correa
Alciene Santos Siqueira
Mariza da Silva Santos

 

RESUMO

A prática de violência na escola não é um acontecimento recente – no entanto, dado o seu agravo, tem se tornado também um sério problema de ordem social. A sua manifestação acontece de maneiras diversas e com sutilezas específicas no ambiente escolar. Dentre os diferentes tipos de violências e agressões que podem acontecer no ambiente escolar, nessa produção será abordada a violência ocorrida por meio de: humilhações, gozações, ameaças, apelidos constrangedores, chantagens e intimidações – desencadeada de forma repetitiva contra uma mesma vítima ao longo do tempo, conhecida como bullying. Nessa direção, esse estudo descritivo pautado em autores como Silva (2010), Fante (2005) e Saviani (1983), traz como problemática: quais os impactos do bullying ao processo de ensino-aprendizado da criança no espaço escolar? – tal abordagem qualitativa apresenta em seu bojo o objetivo de analisar as principais causas do bullying para a intervenção adequada em prol do desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor do aluno. É fato que o combate a esse tipo de violência escolar é uma importante contribuição à construção de uma sociedade mais justa. Uma cultura de paz é possível através de movimentos de idas e vindas, de práticas combinadas que estimulem melhorias e mudanças de pensamento e de comportamento.

 

Palavras-chave: Bullying. Educação. Espaço Escolar.

 

ABSTRACT

The practice of violence at school is not a recent event - however, given its grievance, it has also become a serious social problem. Its manifestation happens in different ways and with specific subtleties in the school environment. Among the different types of violence and aggression that can happen in the school environment, this production will address the violence that occurs through: humiliation, teasing, threats, embarrassing nicknames, blackmail and intimidation - repeatedly triggered against the same victim over the course of the year. time, known as bullying. In this sense, this descriptive study based on authors such as Silva (2010), Fante (2005) and Saviani (1983), brings as problematic: what are the impacts of bullying on the teaching-learning process of children in the school space? - Such qualitative approach presents in its core the objective of analyzing the main causes of bullying for the adequate intervention in favor of the student's cognitive, affective and motor development. It is a fact that combating this type of school violence is an important contribution to building a fairer society. A culture of peace is possible through back and forth movements, combined practices that stimulate improvements and changes in thinking and behavior.

 

Keywords: Bullying. Education. School space.

 

INTRODUÇÃO

 

A prática de violência na escola não é um acontecimento recente – no entanto, dado o seu agravo, tem se tornado também um sério problema de ordem social. A sua manifestação acontece de maneiras diversas e com sutilezas específicas no ambiente escolar.

Nos idos dos anos de 1980, as violências que aconteciam no ambiente escolar, eram tratadas como simples questão de disciplina. Com o passar dos anos, esses ocorridos começaram a ser observados como manifestação de delinquência juvenil e expressão de comportamento antissocial. Hoje em dia, elas são percebidas de maneira ampla, como resultado de fenômenos sociais mais profundos, que requerem um olhar mais cauteloso para seu total entendimento.

Dentre os diferentes tipos de violências e agressões que podem acontecer no ambiente escolar, nessa produção será abordada a violência ocorrida por meio de: humilhações, gozações, ameaças, apelidos constrangedores, chantagens e intimidações – desencadeada de forma repetitiva contra uma mesma vítima ao longo do tempo, conhecida como bullying.

Os estudos revelam que o bullying é um fenômeno social já conhecido das áreas da Psicologia e Pedagogia, onde sua inserção de maneira multidisciplinar nos meios acadêmicos ocorreu recentemente. O seu conceito é oriundo do anglicanismo e significa, de maneira geral, tratar de maneira grosseira, desumana e autoritária os mais fracos, por manifestações verbal, moral, psicológica, física, sexual, material e virtual.

Nesse sentido, a prática de bullying assola a todos os envolvidos no convívio da escola, por meio da agressão e da violência, que elimina o direito à educação plena em um ambiente sadio e equilibrado, repercutindo em um malefício que envolve toda a sociedade.

Reforçamos o papel da educação, sendo responsável pela transformação do ser humano, promovendo seu desenvolvimento de maneira plena, preparando-o para a vida pessoal, social, familiar, econômica e acadêmica, por meio da inclusão das suas habilidades.

O direito à educação concretizado na escola, possui características gerais propagadas pelo Art. 225 da Constituição Federal de 1988, ou seja, deve ser sadio, equilibrado, digno e de qualidade.

O ambiente escolar é um espaço de inclusão, socialização e politização, que objetiva o exercício da cidadania perante os sujeitos envolvidos na comunidade escolar, de modo que a escola deva ser um local harmonioso para o ensino e a aprendizagem de conhecimentos e práticas dos valores humanos, como a gentileza, fraternidade e cortesia.

De acordo com a Constituição Federal, um dos princípios do Estado Democrático de Direito é a educação para a formação de uma sociedade justa e fraterna, que contribua para a evolução integral do sujeito, tanto no aspecto cognitivo, como na construção do caráter.

A criança está protegida pelo princípio da proteção integral, no Art. 227 da CF/1988, constituindo os direitos à vida, à saúde, à educação, à liberdade, à dignidade e ao respeito.

Nessa direção, esse estudo descritivo pautado em autores como Silva (2010), Fante (2005) e Saviani (1983), traz como problemática: quais os impactos do bullying ao processo de ensino-aprendizado da criança no espaço escolar? – tal abordagem qualitativa apresenta em seu bojo o objetivo de analisar as principais causas do bullying para a intervenção adequada em prol do desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor do aluno.

Diante do exposto, consideramos a relevância dessa investigação a fim de que a escola saiba, em seu contexto, como proceder com a identificação do fenômeno, de modo que sejam usadas as melhores ferramentas e/ou recursos para sanar tal prática no comportamento de seus educandos.

 

1. A MANIFESTAÇÃO DO BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR

 

A palavra bullying é de origem inglesa e no Brasil é traduzida como ato de bulir, tocar, bater, socar, zombar, tripudiar, ridicularizar, colocar apelidos humilhantes. Tal violência é praticada por um ou mais indivíduos, com o objetivo de intimidar, humilhar ou agredir fisicamente a vítima (CAMPOS&JORGE, 2010).

A prática do bullying tem se tornando comum no espaço escolar por meio de atos de violência, excesso de apelidos, atitudes agressivas intencionais e repetidas

de um estudante contra o outro. Como consequências, os efeitos negativos desse comportamento para o desenvolvimento e para a saúde mental do educando.

A prevenção é fundamental, pois o bullying sem controle é assustador, a família e a escola devem ter o compromisso de promover um ambiente de segurança, inclusão e responsabilidade, visando a resolução saudável do conflito como regra em lugar de exceção (Ibidem).

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixo autoestima; tendem a adquirir sérios problemas de relacionamentos – podendo inclusive contrair comportamento agressivo e, em casos extremos, a vítima poderá até cometer suicídio.

Fante (2005) aponta em seus estudos que as crianças vítimas de bullying “sentem-se por muito tempo solitárias, incompreendidas, indefesas, desconectas, e não se sentem alcançadas pelo respeito, não tendo o sentimento de proteção [...]” (2005, p. 11).

A autora acima mencionada, acrescenta ainda que crianças e adolescentes vitimizados por maus tratos físicos e psicológicos pela família são mais propensos a reproduzir o comportamento familiar no ambiente escolar, mas mudando da posição de vítima para de vitimizador (FANTE, 2005).

 

Frequentemente, o bullying ocorre durante brincadeiras na infância e é o começo de uma história que termina em violência doméstica, sobretudo emocional e, por vezes, em violência física na idade adulta [...]. Uma característica fundamental é a repetição e o fato de que a vítima não consegue se defender, pela falta de força física ou psicológica perante o autor ou os autores da agressão (FANTE, 2005, p.27-28).

 

Uma característica fundamental do bullying é a repetição de situações em que a vítima não consegue se defender, pela falta de força física ou psicológica, perante o autor das agressões.

Algumas orientações podem ser sugeridas para a vítima de bullying e/ou utilizadas pela família e pela escola na condução dessas situações. Segundo Middelton-moz e Zawadski (2007) entre elas, podem ser destacadas:

 

Obter os fatos (em caso de boatos e fofocas, conferir os fatos e quem supostamente os está espalhando);

Falar em particular com a pessoa;

Não se surpreender se o “agressor” negar o que foi dito e atribuir os acontecimentos a um mal-entendido (MIDDELTON-MOZ E ZAWADSKI, 2007, p.37-38).

 

Segundo Silva (2010) as vítimas do bullying são diversas – cada indivíduo tem uma maneira de lidar com essas situações, pois, cada um apresenta características que lhe são únicas que resultam de sua estrutura, constituição genética e a gravidade das agressões. Entretanto, toda vítima de bullying passa por sofrimentos – alguns menos, outros mais; muitas precisarão de apoio especializado para superação das marcas deixadas pelas agressões que trarão problemas na vida adulta.

Como descrito acima o bullying pode causar problemas graves, sendo assim, é necessário que se esclareça a todos os envolvidos as consequências que esse fenômeno pode acarretar na vida de crianças e adolescentes, que sofrem ou praticam agressões desse tipo. Os problemas mais comuns evidenciados são: desinteresse pela escola, problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia, bulimia, fobia escolar, fobia social.

De acordo com Silva (2010, p. 09) “o bullying pode agravar devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio”. Silva (2010) ainda destaca que as crianças e adolescentes têm uma necessidade de atividades e trazem consigo, diversas habilidades quando bem orientadas e estimuladas pelos adultos, conseguem agir coletivamente para produção de formas justa do exercício de cidadania.

No tocante à Educação, a Pedagogia, por sua vez, tem tratado o processo de socialização como um estágio de integração da criança à sociedade. A escola é uma agência idealizadora de uma sociedade que se afirma democrática. Se o processo de socialização-integração não é possível, preserva-se a escola e a ordem democrática, pois a responsabilidade será sempre do indivíduo.

Nesse sentido, Saviani (1980) conceitua a educação como “uma atividade mediadora no seio de uma prática social global” (p. 120). A escola não é neutra. Ela atua como um instrumento de dominação, funcionando como reprodutora das classes, a criança vive um processo de socialização qualitativamente distinto, passando a idealizar novos contextos, padrões de comportamentos e valores sociais.

Sendo assim, a escola deve se manter atenta para os sinais de violência, procurando coibir os agressores, também supervisionar as vítimas e transformar

essa realidade na qual se ouve muito no contexto escolar – não somente em instituições públicas de ensino, mas também nas privadas existe esse tipo de comportamento, trazendo traumas e sequelas que a vítima pode carregar para o resto da vida.

Segundo Chalita (2008, p. 17) “a violência é um problema crescente em todo mundo e há um clima de perplexidade diante de atitudes cruéis que alteram e fere a vida de todos na sociedade”.

O bullying nos traz um olhar atento de que estamos diante de uma nova forma de ver e perceber a violência em seus mais variados contextos.

 

As definições de violência pretendem torná-la mais legível e a cada novo paradigma construído novos olhares e definições vão sendo elaborados. O vocabulário científico, então, não ‘descobre’ o que é verdade; é construído e, por sua vez, constrói novos paradigmas (DEBARDIEUX, 2002, p.64).

 

A escola reflete os impasses mais amplos presentes na realidade social brasileira, o que não pode aceitar como natural é que a escola não reage diante dessas situações.

 

O intimidador é aquele sádico que põe em ação a sua malvadeza cujo traço principal é a covardia. Isso mesmo, o intimidador é, acima de tudo, um covarde, mas não por isso menos maléfico. Sua estratégia de ação é manipular palavras e pessoas. Tenta formar um pequeno exército que também deve se voltar contra a vítima. Ao perceber-se capaz de capaz de acuar e anular alguém se sente poderoso e triunfante (MAKARON, 2010, p.06).

 

Para Pereira (2002), sentimentos como respeito e solidariedade parecem estar sendo substituídos por ódio, intolerância, discriminação e violência seres da mesma espécie se destroem, se matam e se agridem.

As vítimas, muitas vezes, não falam da violência que estão sofrendo por medo de represália ou por vergonha, e até mesmo por não confiar que as pessoas podem ajudar. Com isso, começa a se manifestar nelas o pensamento de vingança e até de suicídio; comportamentos agressivos e violentos que prejudicam a si mesmas e a outros de sua convivência.

 

1.1 Bullying: Uma tendência social

 

Segundo Brandão (2013 p.14), “a vida que transporta de uma espécie para a outra, os princípios por meio dos quais a própria vida aprende e ensina a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser”. Assim, a escola é um espaço que reflete este contexto, mas também favorece o aparecimento da violência; no espaço escolar ocorrerem diversas manifestações, como: a violência física e a simbólica caracterizadas por atos de incivilidade, humilhações, falta de respeito.

A educação existe onde não há a escola e por toda parte pode haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado, “[...] porque a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida” – ressalta Freire (2003, p.75).

Importante salientar que o que ocorre dentro da família ou o que se relaciona a ela tem uma importante contribuição para o desenvolvimento do indivíduo e para sua adaptação social em outros contextos, como por exemplo: a escola.

Dentre as formas de violência no contexto escolar, o bullying vem se destacando, e tem se tornado um tema central nas escolas. Estudiosos procuram achar motivos que estão levando ao aumento desse fenômeno, bem como meios de combatê-los já que a escola é um lugar onde se constrói a integridade do sujeito.

Socialmente, o bullying está presente em várias formas: na pobreza, na exploração econômica, no preconceito de raça, religião, etc. – as vítimas sempre são os mais fracos e vulneráveis.

 

1.2 A escola: Lugar de socialização e construção do sujeito

 

O homem que transforma com trabalho e consciência, partes da natureza em invenções de sua cultura, aprendeu com o tempo a transformar partes das trocas feitas no interior dessa cultura em situações sociais de aprender-ensinar-e-aprender

esse é o começo do momento em que a educação vira o ensino, ressalta Brandão (2013).

Na realidade, a escola se constitui em um espaço que não é imune às questões que acontecem na sociedade. Nela são refletidos os problemas com os quais nos deparamos na atualidade e dentre eles se encontra a violência em suas diferentes manifestações – revela Fante (2005), em sua produção. O bullying é uma expressão de violência ainda ignorada pela sociedade.

Uma das medidas que podem ser tomadas frente às práticas do bullying é a garantia à formação docente para que se possa contribuir na prevenção – além

disso, é necessário que todos os envolvidos com a educação (família comunidade, gestores, educadores) valorizem o aluno e a escola, e ajudem na promoção de um ambiente escolar de cultura da paz, que prevaleça a tolerância, a solidariedade e o respeito.

Nesse contexto, reforça a formação docente visando a prática reflexiva, voltada para a renovação e cooperação, promovendo, assim, uma relação menos temerosa e individualista com a sociedade; a escola carece de um olhar mais atento por todos, principalmente pelos educadores, não apenas no momento de uma briga entre alunos ou entre professores – é preciso parar, pensar e estudar os aspectos que contribuem para que o bullying aconteça.

Segundo Schimitt (2011), a necessidade de uma reformulação do contexto pedagógico deve levar em consideração uma “abordagem reflexiva” atribuindo valor no processo de construção do conhecimento.

A proposta é que se agregue ao campo epistemológico a legitimidade da práxis reflexiva, na medida em que se ressalte o quanto a reflexão sobre a prática é importante, e deve ser vista como exercício permanente” (SCHIMITT, 2011, p. 60).

O bullying é um tipo de problema que se apresenta de forma diferente em cada situação. A sua prevenção entre estudantes constitui-se em medida capaz de possibilitar o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, habilitando-os a uma convivência social sadia e segura.

É válido enfatizar aqui o olhar humanizado de Freire (2005, p. 42), “[...] não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários e conceitos... Escola é, sobretudo, gente [...], escola é a nossa segunda casa”.

 

1.3 O bullying no espaço escolar: O jogo das relações infanto-juvenis

 

O ser humano, como ser social, transforma a natureza a partir do seu trabalho consciente, transformando partes da natureza em ferramentas de sua cultura. No processo de evolução, aprendeu com o tempo, a transformar partes das trocas feitas no interior dessa cultura em situações sociais de aprender-ensinar-e-aprender, transformando a educação em ensino (BRANDÃO, 1989).

A escola se constitui como espaço constantemente atravessado pelas questões sociais. Em sua estrutura, são reproduzidos os problemas sociais da

atualidade, dentre eles se encontra a violência em suas diferentes manifestações – revela Fante (2005), em sua produção. O bullying é uma expressão de violência ainda ignorada pela sociedade.

A socialização é um processo interativo, necessário para o desenvolvimento e a construção do sujeito. Oliveira (1987, p. 92) destaca que:

 

[...] a escola, enquanto um dos organismos da sociedade é o local por excelência para o desenvolvimento do processo de transição, assimilação do conhecimento elaborado. Isto é, a escola é o local onde o indivíduo estaria se instrumentalizando para atuar no meio social ao qual pertence.

 

Nesse sentido, um dos objetivos mais relevantes no processo de socialização consiste no processo de aprendizado das crianças, momento de internalização das normas sociais. É a partir da socialização, proporcionada pela escola, que as crianças aprenderem os valores e normas sociais moralmente aceitas (OLIVEIRA, 1987).

Assumimos o que Pais (1990) diz, sobre conceber a juventude não só como um grupo social de uma mesma faixa etária, mas também um grupo social, com atributos sociais que diferenciam os jovens, ou seja que evidenciam a diversidade que compõe a categoria juventude.

A escola se torna espaço de encontro da diversidade cultural, presente na sociedade. Entre tantas diferenças, a forma com que se lida com o diferente, frequentemente é através da violência. Se os modelos de socialização oferecidos na escola, no processo de ensino e aprendizagem, se pautam na lógica da violência, muito provavelmente a violência entre os pares será reproduzida (CAMPOS&JORGE, 2010).

Conforme afirma Pais (1990), a maneira como os jovens se relacionam, parte do modelo social presente em seu contexto de vida. Neste sentido, como a diferença e a diversidade cultural é vista como errada em nossa sociedade, quando as diversas culturas dos sujeitos se colidem no contexto escolar, o Bullying acaba por se estabelecer como uma atitude naturalizada (CAMPOS&JORGE, 2010).

Nesse sentido, sobre o bullying no contexto escolar, segundo Campos & Jorge (2010, p. 110), tal comportamento “[...] traz à tona a dificuldade do sujeito ou de seu grupo de se relacionar e conviver com valores e características pessoais diferentes das suas, configurando as incivilidades”. A dificuldade em lidar com a diferença acaba gerando um contexto de constantes conflitos e tensões entre os atores da escola, uma vez que segundo o mesmo autor, o bullying, é uma forma de violência que expressa um padrão de sociabilidade marcada pelo desrespeito. A partir do exposto, pode-se pensar o educador como um mediador entre o aluno e sua formação e as esferas da vida social (CAMPOS&JORGE, 2010).

 

2. BULLYING, EDUCADORES E O PROFESSOR REFLEXIVO

 

Compreendendo a escola como espaço de socialização, em que o professor é responsável pela mediação do processo de ensino e aprendizado entre aluno e as esferas sociais, a manifestação do bullying também coloca o educador como ator do processo de violência, uma vez por vezes o docente vive a situação apenas como espectador (CAMPOS & JORGE, 2010).

A dificuldade de encontrar subsídios para uma identificação precoce do bullying, muitas vezes se dá justamente por falta de estudos e pesquisas que tratem a questão da violência escolar como componente curricular em sua formação (SCHIMITT, 2011).

Nesse sentido, a prática reflexiva, possibilita ao professor um suporte teórico para sua prática no “mesmo tempo-espaço em que se constrói o fazer pedagógico”. Ou seja, a prática reflexiva pode oferecer mais segurança para sustentar sua prática diante os pares (Ibidem, p. 60).

Durante o processo de reflexão, o professor tem possibilidade de repensar sua prática, percebendo a necessidade de inovar, buscando estimular a criação de ferramentas para superar os desafios emergentes dos conflitos no contexto escolar.

O professor reflexivo transforma a relação professor-aluno fazendo deste processo, uma ação educativa ativa e reflexiva. A proposta pedagógica que se pauta na reflexão, “constrói, compartilha, reflete e transforma o conhecimento prático na e da sala de aula”. Ou seja, o professor vai de encontro com as necessidades do aluno, transformando a relação e mediando o conhecimento de maneira significativa (Ibidem, p.61).

Em um cenário de conflitos socioculturais, emerge como proposta pedagógica, para superação do quadro constante de violência da escola, da construção de uma cultura de paz e de uma pedagogia da convivência (NASCIMENTO; SALES-FILHO, 2013).

Segundo Nascimento&Sales-Filho (2013), a escola é lugar de conflitos em que muitas vezes o professor deve intervir:

 

 

Na escola constantemente vivencia-se situações onde é preciso a intervenção de professores, equipe pedagógica e direção, para auxiliar os educandos na mediação de atos de desrespeito e violência. Situações de violência ao outro são vivenciadas diariamente no cotidiano escolar. Seja ela agressão física, verbal, simbólica (bullying) e a violência silenciada (indiferença ao outro) e a violência estrutural (NASCIMENTO, SALES-FILHO, 2013, p.3).

 

Dentre todas as questões que são apresentadas no contexto do bullying, as questões identitárias são as que frequentemente motivam a manifestação da violência: “A principal violência enfrentada por muitos alunos e a verbal, através do bullying onde por sua cor, religião, condição social, opção sexual sofrem muito a discriminação e o preconceito” (Ibidem).

Nesse cenário, os autores defendem a necessidade de políticas educacionais que possam superar o modelo tradicional de educação:

 

Nesse sentido, a demanda pela ampliação na discussão sobre cultura de paz na educação é crescente. O esgotamento de modelos voltados ao enfrentamento da violência (cultura repressiva) faz com que haja a intenção de buscar aspectos preventivos e educativos, nas escolas para que a violência seja contida (NASCIMENTO, SALES-FILHO, 2013, p.3).

 

O modelo disciplinar, ao invés de diminuir o cenário de violência, passa a reproduzir a violência. Segundo Nascimento&Sales-Filho (2013):

 

Quanto mais se fala da violência, mais ela se reforça, por isso a importância de se mudar o foco, dar ênfase na questão da cultura de paz, só assim com o passar dos anos pode-se conseguir uma escola com clima escolar positivo em que as pessoas se respeitem (NASCIMENTO, SALES-FILHO, 2013, p.3-4).

 

Para que esse cenário seja repensando, e efetivamente transformado, é necessária uma mudança do foco: deixar a violência de lado, e promover a cultura da paz. Essa mudança, só será possível se o professor adotar a prática reflexiva.

Por fim, os autores seguem demonstrando a importância da inclusão da família e sociedade no processo de escolarização, uma vez que ainda:

 

Preocupa-se muito com aquilo que está ocorrendo no dia a dia escolar, mas por outro lado, se esquece de trabalhar com a prevenção, ou trabalha-se de uma forma que ao invés de abordar e reforçar o ambiente de paz faz-se o contrário, enfatiza a questão da violência. Por isso da importância em se trabalhar a cultura de paz no ambiente escolar. (NASCIMENTO, SALES-FILHO, 2013 p. 4)

 

Assim sendo, a escola toma outra dimensão na medida em que a educação amplia sua visão, concebendo conhecimento crítico-reflexivo – a escola se torna um lugar de mudança de atitudes e de desenvolvimento de valores, não podendo despertar nos educandos esses valores se os seus educadores não forem pessoas humanas capazes de compreender e ajudar o outro – destacam Nascimento e Sales-Filho (2013, p. 5). Dessa feita, a escola deve não só garantir o acesso e permanência dos alunos – mas fazê-los de maneira que garanta o desenvolvimento integral e humanizado de seus educandos.

 

CONCLUSÃO

 

O bullying é um fenômeno que nos deixa em alerta diante da nova epidemia de doenças comportamentais. Como educadoras, acreditamos ser necessário criar escolas promotoras de uma educação cada vez mais humanizada e abrangente, no sentido de se promover uma cultura de paz no espaço escolar, a fim de se prevenir traumas intencionais, violência e até mesmo o suicídio.

É fato que o combate a esse tipo de violência escolar é uma importante contribuição à construção de uma sociedade mais justa. Ao que tange à escola, cabe a ela um olhar atento e a promoção de projetos de fortalecimento de vínculos que oportunizem a socialização, o respeito e a inclusão – margeados pelo diálogo. Uma cultura de paz é possível através de movimentos de idas e vindas, de práticas combinadas que estimulem melhorias e mudanças de pensamento e de comportamento.

 

REFERÊNCIAS

 

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