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EDUCAÇÃO DO CAMPO, SUA IDENTIDADE - FAMÍLIA/ESCOLA/COMUNIDADE

Sandra Pegoraro dos Santos[1]

Artigo científico apresentado à Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação do Campo.

 

RESUMO

A educação do campo precisa ser construída a partir da realidade dos povos do campo. Partindo dessa afirmação este estudo pretende defender o respeito as pessoas que residem no  campo, as quais possuem identidade e não podem passar despercebido no contexto atual em que se discute o respeito a diversidade, portanto utilizamos de uma fundamentação específica básica para enfatizar tal discussão. Tais como Caldart, Arroyo e Fernandes, fazemos um percurso sobre a identidade e o conceito de educação do campo, sendo estas categorias básicas para a  compreensão deste diálogo.

Palavras-chave: Família. Escola. Comunidade.  Identidade.  

 

ABSTRACT

The education field must be built from the reality of the peoples of the field. From this statement this study intends to defend respect people residing in the country, which have identity and can not go unnoticed in the current context in which it discusses about the diversity, so we use a basic specific reasons to emphasize this discussion. Such as Caldart, Arroyo and Fernandes, we make a journey on the identity and the concept of rural education, and these basic categories for understanding this dialogue.

Keywords: Family. School. Community. Identity

 

EDUCAÇÃO DO CAMPO, SUA IDENTIDAE-FAMILIA/ESCOLA/COMUNIDADE

 

Para a construção de uma educação específica e uma realidade específica, temos como um importante desafio pensar a realidade das classes trabalhadoras, respeitando a identidade dos sujeitos. Com base em Caldart e Arroyo vimos que no decorrer da história educacional do território brasileiro a educação do campo não foi pensada pelos moradores do campo, ou seja, sempre foi imposta de cima para baixo não se importando com cultura, costumes, conhecimentos, ou seja, o ser do campo era visto como atrasado e a ele era oferecido somente as sobras, na realidade a educação era oferecida simplesmente para manter as aparências governamentais sem se preocupar com a qualidade. Não se entendiam o campo como

 

(...) lugar de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a sua identidade cultural. O campo não é só o lugar da produção agropecuária e agroindustrial, do latifúndio e da grilagem de terra. O campo é espaço e território dos camponeses e dos quilombolas (...). (Fernandes et al., 2004, p. 137)

 

É o lugar construído por quem ali habitam e por muito tempo não se considerou a diversidade, a cultura, as diferentes formas e modos de vida, os conhecimentos e saberes das populações do campo. De acordo com Sousa (2009):

 

Os conhecimentos históricos das comunidades camponesas, assim como a cultura do campo, foram negligenciados. Os valores do homem do campo foram negados, considerados inferiores e desprovidos de significado prático para a vida humana. De acordo com essa ideia, a educação em todos os níveis, deveria ensinar os valores urbanos de desenvolvimento, fazendo do campo o reflexo da cidade.

 

Hoje a educação do campo vem por meio das demandas dos movimentos e organizações sociais dos trabalhadores rurais, conquistando lugares na agenda política nas instâncias municipal, estadual e federal nos últimos anos. Buscando uma educação do campo que valorize cada vez mais  os conhecimentos da prática social dos camponeses e enfatiza o campo como lugar de trabalho, moradia, lazer, sociabilidade, identidade, enfim, como lugar da construção de novas possibilidades de reprodução social e de desenvolvimento sustentável.

De acordo com o texto Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo, observa-se:

 

A educação do campo deve compreender que os sujeitos possuem história, participam de lutas sociais, sonham, tem nomes e rostos, lembranças, gêneros e etnias diferenciadas. Cada sujeito individual e coletivamente se forma na relação de pertença a terra e nas formas de organização solidária. Portanto, os currículos precisam se desenvolver a partir das formas mais variadas de construção e reconstrução do espaço físico e simbólico, do território, dos sujeitos, do meio ambiente. (BRASIL. Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo, Caderno de Subsídios, 2003, p. 22, grifo nosso).

 

         Sabemos que muito tem a ser feito para que a Educação do Campo seja emancipatória e libertadora como nos diz Paulo Freire, para isso o ensino deve ser adequado à realidade local.            A escola do campo tem essa finalidade, desenvolver no interior das mesmas atividades que faz com que os estudantes  e os membros dessa comunidade percebam que não precisam permanecer à margem, só por que “alguns” acham isso, pois são protagonistas da história que seus antepassados iniciou e confiou que suas futuras gerações que somos nós teríamos orgulho de ser quem somos e do que temos.

         As escolas do campo precisa levar em conta os conhecimentos trazidos pelos pais, alunos e a comunidades e resgatá-los dentro da sala de aula num dialogo permanente com os saberes produzidos nas diferentes áreas de conhecimento.  A escola deve trabalhar a cultura e valorização dos saberes e fazeres desse povo que há muito tempo vem sendo discriminado e desvalorizado, precisamos erguer a cabeça do homem do Campo, mostrar a eles seu valor e que eles têm história, tem identidade e não tem motivos para se envergonhar e sim para se orgulhar, pois se não fosse a cultura, a produção e o trabalho dos moradores do campo a cidade pereceria.

No entanto a escola do campo deve estar vinculada à realidade dos sujeitos, realidade esta que não se limita ao espaço geográfico, mas se refere, principalmente, aos elementos socioculturais que desenham os modos de vida desses sujeitos. Uma escola que proporcione aos seus estudantes condições de um olhar crítico que permita optar e escolher o melhor caminho para se manter, estudar, se profissionalizar sem ter a necessidade de sair do campo. Para isso é preciso ter assegurado conteúdos e metodologias adequados aos interesses da população. Sabemos que essa ainda é uma realidade nada fácil de ser concretizada devido a vários fatores dos quais a educação necessita para ter um bom andamento que é necessário: transportes, verbas, estruturas física, formação profissional e acima de tudo vontade e interesse do poder público e do público do campo em se pertencer, em gostar do chão que pisa e dele tira o sustento. E para isso é necessário que a escola trabalhe a valorização e preservação da cultura rural e faça adequação do conteúdo a realidade. Um fator muito importante é a capacitação docente efetiva da preparação do professor para compreender que ele está desenvolvendo uma outra linha pedagógica, para um conjunto de ações e que há um outro pensamento sobre aula, sobre conteúdo, sobre avaliação e isso muitas vezes acaba não acontecendo, pois na maioria das vezes o professor é urbanista e não possui perfil e muitas vezes nem formação e isso acaba desmotivando os estudantes.

Segundo Arroyo (2007) “um programa de formação de educadores do campo deve conhecer a centralidade da terra e do território na produção da vida, da cultura, das identidades, da tradição, dos conhecimentos”.

No entanto o profissional tem que caminhar junto com a comunidade ter um sentimento de pertença para poder trabalhar escola e comunidade, conhecer a realidade, as necessidade das famílias que ali vivem.

Nota se que há um elo de deficiências que fizeram e ainda fazem a educação perder forças por estar desvinculadas a realidade local e atual, atualmente o que vem motivando os estudantes é o famoso “colocar a mão na massa”, sentir e ver, saber pra que serve e como vai ser usado em seu próprio beneficio.

Um fator de suma importância é a relação Família e Escola, ambas são referenciais que dão sustentação ao bom desenvolvimento da aprendizagem da criança, portanto, quanto melhor for a parceria entre elas, mais positiva e significativa será o desempenho escolar dos filhos/estudantes. Porém, a participação da família na educação dos filhos precisa ser constante e consciente, pois vida familiar e vida escolar se complementam.   Entretanto, para conhecer a família é necessário que a escola abra suas portas, intensificando e garantindo sua permanência através de eventos e reuniões mais interessantes e motivadoras. À medida que a escola abre espaços e cria mecanismos para atrair a família para o ambiente escolar, novas oportunidades com certeza irão surgir para que seja desenvolvida uma educação de qualidade, sustentada justamente por esta relação FAMÍLIA/ESCOLA. Essa parceria deve ter como ponto de partida a escola, visto que, os professores são vistos como “mediadores”. Portanto, cabe a eles dar início a construção desse relacionamento.

Embora ainda hoje encontrarmos dificuldades de permanência do homem do campo no campo, principalmente pelo fato de acesso a educação dos filhos, pois na maioria das vezes encontra se desvinculado ao contexto em que vivem e o grau de estudo não contempla todas as series de formação, sendo necessário o deslocamento das famílias ou do jovem do campo para a cidade onde exercerá jornada dupla entre trabalho/estudo.

         Diante do exposto, trona-se relevante a discussão sobre aspectos da educação do campo que nos ajudam a compreender esta temática e que se refere aos conceitos e princípios construídos pelos próprios sujeitos, em processos de lutas cotidianas, como forma de edificação de sua identidade enquanto Educação do Campo.

 

CONCLUSÃO

 

Assim, acreditamos que enquanto educadores não podemos nos deixar levar pela rotina de um cotidiano massificante e alienador, temos que nos desafiar a cada dia em construir uma escola que vá além das quatro paredes, que se integre com a comunidade que seja diferente, crítica e participativa.  As relações dentro da escola precisam também ser pensadas a partir da realidade dos sujeitos e com os próprios sujeitos e suas necessidades.

 

REFERÊNCIAS

 

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Apedagogia da alternância e o debate da educação no/do campono estado de Goiás1

 

José Novais de Jesus Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) – Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA) – 2010.

 



[1] Pedagoga. Pós-graduada em Educação do Campo.