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AS CONTRIBUIÇÕES DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO

 

Sonia Fatima Lorenzetti[1]

                                                             Sueli Martins Lorenzetti[2]

 

RESUMO

O presente trabalho versa sobre as contribuições da contação de histórias para a alfabetização e o letramento. Através de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo testaremos a hipótese de que a criança, através da contação de histórias pode desenvolver-se de formas diversas, construindo saberes de relevante importância na sua alfabetização e letramento e que a família tem um papel fundamental nesse processo, devendo estar em parceria com a escola no desenvolvimento desse trabalho para fazer acontecer essa aprendizagem. Analisaremos as diferenças que possam possibilitar melhores ou piores resultados entre as crianças no seu desenvolvimento. Procuraremos descobrir qual o vocabulário utilizado por cada criança, como o aplica enquanto faz o reconto das histórias visando traçar estratégias adequadas para auxiliar buscando melhorias necessárias. Para tanto nos valemos da pesquisa de campo, capaz de proporcionar a visão real de como acontece esse processo em sala de aula, vivenciando a experiência em loco. Sendo imperativo instrumentalizar adequadamente as crianças para atender as demandas sociais, na atual conjuntura onde a sociedade do conhecimento requer dos sujeitos uma postura crítica, analítica, dinâmica e comunicativa, por meio de pesquisas de renomados autores que mostram  que a contação de histórias para crianças na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental é de relevante importância no seu desenvolvimento oral e escrito, bem como na interpretação de textos, sendo útil para todas as áreas do conhecimento e melhorando a capacidade de aprendizagem e aproveitamento em todas as áreas de estudos bem como na vida em sociedade, de modo geral.

Palavras-chave: Contação de histórias. Literatura Infantil. Alfabetização e Letramento.

 

 

ABSTRACT

This paper discusses the contributions of storytelling for literacy and literacy. Througliterature research and field research will test the hypothesis that the child through storytelling can develop in different ways, building knowledge of relevant importance in their literacy and literacy and that the family plays a key role in this process, should be in partnership with the school in the development of this work to make that learning happen. We will analyze the differences that may provide better or worse outcomes among children in their development. We will try to find out what the vocabulary used by each child, as it applies while the recall of the stories in order to draw appropriate strategies to help seeking improvements. For this purpose we make use of field research, able to provide real vision of how this process happens in the classroom, living the experience in place. While it is imperative adequately equip children to meet the social demands in the current situation where the knowledge society requires a subject of critical, analytical, dynamic and communicative, through research of renowned authors show that storytelling for children in education childhood and early years of primary education is relevant in their written and oral development, as well as the interpretation of texts, it is useful to all areas of knowledge and improving learning ability and performance in all areas of study and in society in general.

Keywords: Storytelling. Children's literature. Literacy and Literacy.

 

INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho versa sobre as contribuições da contação de histórias para a alfabetização e o letramento. Visando definir algumas dessas contribuições seguimos alguns passos que estarão relacionados a seguir.

Este trabalho foi realizado na linha de pesquisa da Psicologia da Educação, mesmo havendo o desejo de encaixar esse tema em Metodologias de Ensino também, ao perceber o quanto se enquadra nesse campo.  

A opção escolhida para o desenvolvimento do presente trabalho foi a Pesquisa Bibliográfica acrescida de Pesquisa de Campo.

Partindo do pressuposto de que as dificuldades na alfabetização e no letramento são de grande vulto em nossos dias, onde vivemos numa sociedade grafocêntrica e as demandas sociais se multiplicam cada dia mais, com novas tecnologias que não param de surgir, exigindo um desenvolvimento maior das crianças e se iniciando esse processo cada vez mais cedo, esse trabalho tem a intenção de mostrar a relevante contribuição de um ato muitíssimo antigo, praticado por pais e professores, principalmente, que sempre deu bons resultados, mas que se bem utilizado nas escolas, promete melhores resultados ainda, que é a Contação de Histórias. 

Testaremos aqui a hipótese de que a contação de histórias para crianças da educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental seja de relevante importância no seu desenvolvimento oral e escrito, bem como na interpretação de textos, sendo útil para todas as áreas do conhecimento. Que através desse trabalho seja melhorada a capacidade de aprendizagem e aproveitamento em todas as áreas de estudos.

Numa conjuntura de desafios, se torna necessário valorizar e respeitar os diferentes estilos de aprendizagem e, neste caso, a valorização se firma na utilização da contação de histórias como proposta de letramento, significando neste espaço as experiências proporcionadas pela literatura infantil, crendo verdadeiramente que a literatura é uma arte que deve privilegiar a emoção, os sentimentos e, assim, proporcionar prazer e interesses pela leitura e escrita.   

O presente trabalho tem como Objetivo Geral identificar algumas das muitas contribuições que a Contação de Histórias pode trazer para a Alfabetização e o Letramento.

Tem como Objetivo Específico: 1º: Demonstrar a extrema necessidade de se integrar família e escola para solucionar ou evitar problemas relacionados à Alfabetização e ao Letramento, apontando meios para buscar efetivar essa parceria.  2º: Analisar as diferenças que possam possibilitar melhores ou piores resultados entre as crianças no desenvolvimento da Alfabetização e do Letramento. 3º: Descobrir qual é o vocabulário utilizado por cada criança, como o aplica enquanto faz o reconto das histórias visando traçar estratégias adequadas para auxiliar buscando melhorias necessárias.

Este trabalho é endereçado a todos os docentes e demais pessoas que de uma forma ou de outra se interessem pelas questões relacionadas a  utilização de histórias infantis para auxiliar na alfabetização e letramento, evidenciando a necessidade de inclusão dessas práticas pedagógicas na educação formal com maior intensidade.

 

DESENVOLVIMENTO

 

A oralidade, a leitura e a escrita estão presentes em nosso dia-a-dia de forma articulada. Uma contribui para o desenvolvimento da outra. Assim, uma das principais funções da escola seria fazer com que todos os educandos tivessem  conhecimento e domínio das diversas funções da linguagem, onde esta se manifesta de diferentes formas  e saber que a mesma tem por objetivo a ação da comunicação entre as pessoas.

De acordo com DIAS (2001, p. 25) nossa tarefa, como educadores, seria abordar os mais variados tipos de textos em sala de aula, analisando as semelhanças e diferenças, a estrutura textual de cada um, o vocabulário utilizado, buscando incentivar a leitura, a interpretação e a produção pelos próprios alunos dos mais variados portadores de textos existentes e utilizados em nossa sociedade. 

Ao ouvir histórias, a criança acaba percebendo que a leitura é feita da esquerda para a direita (importante para o momento em que ela vai começar a traçar as primeiras letras), consegue diferenciar o que é texto do que é desenho. Percebe que as palavras são escritas separadamente formando frases que fazem sentido. Nota o que é volume de texto. Torna-se possível e até comum a criança perceber quando a mãe está pulando trechos da história, talvez por estar cansada e pretender dar uma resumida na historinha.

 

  Ao recontar a história, a criança ocupa o lugar de intérprete e não de copiadora, até mesmo porque sua estrutura da memória é parcialmente dependente da estrutura das operações Isso significa que as interações entre sujeito e objeto são mais ricas do que aquilo que os objetos podem fornecer por eles mesmos, e que os conceitos de assimilação e de acomodação são orientados para esta construção inventiva que caracteriza o pensamento. Sabemos que o ato de recontar a história está intimamente relacionado com as ligações de tempo (ordem) ou causa que unem os acontecimentos da história e, quando preservados na narração da criança, revelam sua organização do real e objetividade do pensamento. (PIAGET, 1923, p.189).

 

O ato de escutar, recontar, comentar ou discutir uma história, por exemplo, torna-se importante para entender a ação da linguagem e do meio social no processo construtivo do pensamento, isto é, no processo da interiorização das ações. Não é apenas a linguagem que contribui nesse processo, mas toda a função simbólica (jogo simbólico, imitações, imagem mental, desenhos), incluindo a linguagem.

Através da literatura as crianças imaginam, conhecem, crescem, formando senso crítico, incentivando a possibilidade de termos futuros leitores e grandes escritores.

O conhecimento de mundo é construído através de informações não visuais que o leitor armazena associando as informações e sensações com que obteve contato desde seu nascimento, com origem nas informações vividas. Portanto, ler não é simplesmente colocar os olhos sobre um papel para decodificar símbolos.

É uma maneira, e talvez seja a mais especial, para o ser humano entrar no mundo exterior e ampliar seus conhecimentos anteriores, retirando para si o maior número de significados a todo o momento.

Algumas questões afligem aos alfabetizadores, às voltas com alunos que se apresentam em diferentes estágios de aprendizagem em um espaço onde todos, aparentemente, estão em contato com os mesmo estímulos e ensinamentos.

Como a criança aprende a ler, como ensinar uma criança  a ler, como a criança aprende a escrever e como ensiná-la a fazer isso, quando se deve corrigir os erros de escrita nos textos dos alunos,  como tornar uma criança apta a trabalhar com a maior variedade possível de textos, que situações propor para que as crianças  se preparem para responder, de maneira satisfatória, aos inúmeros desafios de uma sociedade mediada por um código linguístico que adquire, a cada dia, maior complexidade... esses e tantos outros questionamentos não param de surgir na cabeça de um educador.

 

Analisando as Praticas Pedagogicas em três Instituiçoes Escolares

 

Na primeira escola pesquisada observou-se que todos os dias da semana, sem exceção, inicia suas aulas reunindo todas as turmas na quadra esportiva, bem na entrada da escola, fazendo a acolhida das crianças, uma oração, cantando duas a três músicas aproximadamente e partindo, então, para a historinha do dia. Há uma escalação prévia das professoras designadas para a contação de histórias para cada dia da semana. Eu mesma contei a história do dia da pesquisa, em si. Contei a história “Dona Galinha e Seus Pintinhos”. É uma história que contém músicas também, e foi de grande interação e participação da turma toda. Ficaram muito satisfeitos. Ao chegar na sala de aula, as crianças conversam com a professora sobre a história contada naquele dia. Depois, desenham algo que represente a história para elas.

Ao final de cada semana, na sexta-feira, uma criança, seguindo pela lista de chamada, é quem leva a cartilha viajante ou o saco da contação de histórias, como costumam chamar, que é constituído por uma sacola de loninha (tecido) confeccionada especialmente para essa finalidade, com uma pintura à mão com motivos infantis, um caderno de desenho com uma capa personalizada artisticamente pela professora, um livrinho de história infantil escolhido pela professora, um estojo com lápis de cor, lápis preto, borracha e apontador. A finalidade desse projeto é que alguém da família, durante o final de semana, se disponha a contar a história do livrinho para a criança, a criança faça o desenho representativo da mesma, e, ao chegar na classe na segunda-feira, possa recontar a história para toda a classe, “lendo” no livrinho. Ao terminar, mostra o desenho que fez para toda a turma e então recebe os aplausos e elogios dos coleguinhas.

Na segunda escola, há uma Biblioteca bem organizada, onde uma bibliotecária fica responsável pelo trabalho da contação de histórias. É estipulado um dia da semana para cada turminha, desde os menores até os maiores, para visitarem a Biblioteca e ouvirem a historinha. A bibliotecária utiliza sempre um cartaz ou outro recurso como um avental com velcro, para colar os personagens, uma caixa mágica, de onde tira os personagens e/ou itens da história, um ou mais fantoches, etc., para tornar a história mais atrativa para as crianças. Eles ficam sentadinhos em um tapete de EVA bem grande e escutam em silêncio a história. Quando termina conversam sobre o que ouviram. A bibliotecária então escolhe uma criança que ainda não foi antes, em outras aulas, para recontar a história aos coleguinhas. Esta recebe um microfone de mentirinha, confeccionado pela bibliotecária também, e se posiciona para a contação. Quando ela termina, é aplaudida. Em seguida, é aberto um espaço para as perguntas e comentários sobre o que foi ouvido. Porém, só fala quem estiver com o microfone, que é levado para a criança que levantar a mão, solicitando a palavra. Quando a atividade se encerra na Biblioteca, a turma volta à sala de aula e faz um desenho representando o que entendeu da história.

Na terceira escola a contação se processa dentro da sala de aula mesmo, sendo a professora a contadora de história. Ao chegarem à escola a rotina é sempre a mesma, com exceção da segunda-feira, quando vão para o pátio, para a execução do Hino Nacional, todas as turmas reunidas. A professora escolhe uma história previamente, lê a mesma e depois conversa com as crianças sobre o que acabaram de ouvir.  Pede então, que recontem a história, escrevendo-a em seus cadernos de classe, e em seguida, façam lá mesmo, no caderno de classe, um desenho representativo.  Uma vez por semana as crianças visitam a biblioteca para lerem algum livrinho lá à escolha, e retirarem um livro emprestado para levarem para casa e lerem, devolvendo na semana seguinte.  Porém, não recontam as histórias lidas nesses livros.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 Os resultados foram satisfatórios de modo geral, porém com diferenças ocasionadas pelas especificidades de cada escola, a saber:

Ao aplicar a pesquisa de campo na primeira escola  percebemos claramente a diferença  entre as crianças que recebiam auxilio e estímulo da família e as que não recebiam. Seus resultados em todas as atividades foram bem mais satisfatórios do que os das crianças que não receberam ajuda familiar. Na segunda escola observou-se que a  influência da família teve menor importância, digamos assim, já que a escola desenvolve um trabalho onde não espera muitas participações da família, mas os resultados obtidos com a utilização dos métodos de contação de histórias também foram satisfatórios. Na escola 3 que já não é mais de educação infantil, foi possível constatar que as crianças pouco falam com suas famílias de como ocorre esse processo de contação de histórias e seu desenrolar, ficando mais restrito ao ambiente escolar mesmo. Muitas crianças tem dificuldades em fazer o reconto das histórias ouvidas. Escrevem esse reconto em seus cadernos, porém, raras vezes são convidados a lerem o que escreveram.

A partir da pesquisa realizada não são generalizados. Encontramos alunos que vivem em ambientes bastante difíceis para uma criança e mesmo assim conseguem contornar as situações com muita criatividade, bom humor e desenvoltura, sendo capazes de se demorar até mais que os outros em suas apresentações, alguns chegando a aumentar os itens desenhados, supondo que alteraram a história como melhor lhes pareceu. Há ainda aquelas que conseguem fazer apresentações perfeitas surpreendendo a todos que assistem e superando as expectativas, independentemente da situação sócio-econômico-cultural a qual estejam expostas. .

Verificamos que nas casas onde a criança tem apoio, incentivo e estímulos para manusear material literário, a alfabetização e o letramento fluem melhor sobremaneira. É notório o desempenho de crianças que são familiarizadas com as práticas de leitura e contação de histórias em casa. Manifestam o conhecimento prévio das historinhas com alegria e procuram transmitir o que já sabem para os outros. Isso se verifica em todas as idades, classes sociais e  escolas.

 

REFERÊNCIAS

 

FERREIRA, Márcia. Ação Psicopedagógica na Sala de Aula: Uma           Questão de Inclusão / Márcia Ferreira. – São Paulo: Paulus, 2001. – (Pedagogia e educação)

 

FERREIRO, Emília. Uma aula inédita para 10 mil professores. Nova escola. n. 139, jan./fev.2001.

 

FEIL, Iselda Terezinha Sausen. Alfabetização: um desafio novo para um novo  tempo. 6.ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que  se completam. São Paulo: Autores Assossiados, Cortês, 1982.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MARIN, Alda Junqueira. Educação, arte e criatividade: Estudo da    criatividade não verbal. São Paulo, Pioneira,1976. p.  ilust.

 

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia/ Jean Piaget; tradução Maria    Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. – 24ª ed. – Rio de Janeiro:  Forense-Universitária, 200

 

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991.


 


[1] Formada em Língua Portuguesa.

[2] Formada em Pedagogia.