BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA INTERPRETAÇÃO DOS SENTIMENTOS E REAÇÕES DAS VÍTIMAS
Heloene Cristina Cavalcanti da Silva[1]
Jônison Meira Araújo[2]
RESUMO
Bullying escolar é um fenômeno entendido como atos de violência física ou verbal, que ocorrem de forma repetitiva e intencional contra uma ou mais vítimas, causando sérias consequências na vida do aluno que podem permanecer para a vida toda. Existe grande dificuldade de todos os atores escolares em detectar este tipo de violência escolar que muitas vezes é confundida com brincadeira. Desse modo o objetivo geral desse estudo foi investigar quais os sentimentos e reações das vítimas de bullying em uma Escola Municipal do Município MT – Unidade de Sorriso. Especificamente buscou-se a) Detectar os alunos que sofrem bullying. b) Analisar as reações dos vitimados; c) Identificar os sentimentos dos vitimados. Portanto, na pesquisa foi realizado o método de abordagem qualitativa, com um estudo de caso. Participaram do estudo 28 alunos que responderam a um questionário. A análise das falas dos alunos vítimas de bullying mostrou que o fenômeno foi caracterizado por meio de atos de violência verbal, que geraram sentimentos e reações negativos e de mal estar às vítimas.
Palavras-chave: Bullying Escolar, Sentimentos, Reações.
ABSTRACT
School bullying is a phenomenon understood as acts of physical or verbal violence, occurring in a repetitive and intentional way against one or more victims, causing serious consequences in the student's life that can remain for life. There is great difficulty for all school actors in detecting this kind of school violence that is often mistaken for play. Thus the general objective of this study was to investigate the feelings and reactions of victims of bullying in a Municipal School of the Municipality MT - Smile Unit. Specifically it was sought a) Detect students who suffer from bullying. B) Analyze the reactions of the victims; C) Identify the feelings of the victims. Therefore, the research was conducted the method of qualitative approach, with a case study. 28 students who answered a questionnaire participated in the study. The analysis of the speeches of students who were victims of bullying showed that the phenomenon was characterized by acts of verbal violence, which generated feelings and negative reactions and of malaise to the victims.
Keywords: School Bullying, Feelings, Reactions.
1. INTRODUÇÃO
Quando falamos em bullying, um dos primeiros pensamentos que grande parte das pessoas podem vir a ter é a violência, que de acordo com Organização Mundial da Saúde (2002 apud MARZIALE 2004, p.1)
a violência é definida como o uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, danos, alterações do desenvolvimento ou privações
No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1999, p. 1779), a violência está ligada ao uso da força física ou mesmo moral e também à coação. “Violência significa qualidade de violento; ato violento, ato de violentar; constrangimento físico ou moral; uso da força; coação”.
Diversas formas de violência têm crescido no Brasil, vinculadas a uma vontade de destruição do outro, causando danos em vários graus, seja a integridade física, moral, posses ou participações culturais de uma ou diversas pessoas.
A pesquisa sobre o fenômeno, ao redor do mundo, aponta para o crescimento do problema: estima-se que de 5% a 35% das crianças em idade escolar estejam envolvidas em condutas agressivas no ambiente educacional. Neste quadro estatístico, incluem-se tanto jovens vítimas de violência quanto os próprios agressores. (SILVA, 2010, p. 112).
Também atinge variados espaços, entre eles o ambiente escolar por meio de intolerâncias, preconceitos e outras expressões. Segundo Lopes Neto (2011) o conceito de violência tende a ser determinado pela cultura, de acordo com as regras sociais vigentes, a violência não é manifestação recente, coincide com a história da civilização. Mas nem por isso devemos aceitar que esse tipo de violência faça parte da condição humana.
Bullying é um problema mundial, podendo ser observado em qualquer escola, não sendo exclusivo de nenhuma instituição pública ou privada, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Traz como consequência, sentimentos de medo, diminuição do rendimento e evasão escolar podendo chegar ao suicídio daqueles que são vítimas. Os agressores podem ter comportamentos antissociais que provavelmente repercutirão em outros ambientes.
As consequências trazidas pelo bullying são inúmeras, assim, os envolvidos nesse processo tendem a precisar de ajuda e para que isso ocorra é necessário saber, dentre outros fatores, como as vítimas desse fenômeno se sentem e como reagem diante dele.
Todos os dias somos alertados pelos meios de comunicação sobre a escola como local de violência, e ultimamente tem sido priorizado a violência em forma de bullying. Esta discussão virou assunto de moda nas escolas. O assunto está na pauta da discussão dos professores, alunos, pais e imprensa, que muitas vezes desconhecem a gravidade desse tipo de violência.
Cada aluno reage de uma forma diante dessa agressão, uns se calam, outros reagem, outros contam para os pais ou professores, e tem aqueles que guardam o sofrimento para si. Quando o aluno se cala diante destas manifestações fica difícil de serem tomadas as providências, e o aluno sofre muitas vezes sozinho, podendo ter sérias consequências para o resto da vida.
Compreendo como problemática desta investigação: Crianças que tem sido vítimas de sofrimentos causados por violência em formato de bullying, no ambiente escolar, e nem sempre os atores escolares percebem e tem consciência do sofrimento e da reação das vítimas.
O objetivo deste estudo é discutir os sentimentos e reações dos alunos vitimados por bullying em uma escola específica, no distrito de Primavera, no estado de Mato Grosso, com vista à sensibilização da comunidade escolar quanto a esta modalidade de violência, visando seu enfrentamento.
Para o atingimento desta proposta, mais especificamente propôs-se: Detectar entre os alunos do 9º ano, os que sofrem bullying. Identificar as modalidades mais aplicadas, analisar as reações dos vitimados. Constatar os sentimentos dos vitimados, através dos questionários e de algumas observações feitas na escola no decorrer da pesquisa.
O bullying se constitui numa das grandes preocupações de nossa sociedade, pois em todos os lugares onde você possa passar, ouve alguém comentando que já foi vítima de bullying ou já presenciou alguém sendo atingido. Esta forma de agressão também passou pelos muros das escolas. Outra forma de agressão que está muito acentuada é o cyberbullying que se trata do bullying tradicional, potencializado pelas tecnologias de informação e comunicação, porém este não será objeto deste estudo.
De acordo com a mídia e observando o nosso dia a dia, o bullying aparece com grande frequência em todas as escolas do mundo, sejam elas públicas ou particulares, nas áreas urbanas ou rurais, regiões pobres ou ricas, porém só passou a ter importância nas últimas décadas. Este tema vem sendo bastante discutido, tanto por seu acentuado acontecimento, quanto pela divulgação dos meios de comunicação de massa. Em virtude disso se torna necessário que as equipes escolares saibam como detectar, prevenir e lidar com estes conflitos, presentes no dia a dia das escolas.
Durante o estágio do curso de graduação em Educação Física, deparei-me com crianças que passavam por situações de bullying, apresentado sentimentos de isolamento, tristeza, ansiedade e até agressividade. Visto a dificuldade de lidar com estas situações tão complicadas, e por não ter conhecimentos suficientes sobre o assunto, decidi pesquisar os sentimentos e reações das crianças que sofrem bullying. Desta forma produzir conhecimento sobre o assunto e contribuir para a diminuição da violência escolar.
Como já mencionamos anteriormente o bullying está presente na escola, mas como será que devemos agir para detectá-lo no nosso dia a dia e principalmente em nosso ambiente escola e assim buscar evita-lo ou até mesmo ajudar os nosso alunos a superar esse tipo de violência?
Assim apresentamos a seguir algumas fundamentações teóricas e os resultados da pesquisa.
2. DESENVOLVIMENTO
É na escola onde podemos observar, talvez com mais clareza, o bullying, por ser o lugar onde os alunos ficam horas juntos. A violência escolar é um fenômeno social complexo que envolve toda a sociedade, mas não tem poupado à escola. O bullying é uma das formas de violência que pode acontecer, em sua maioria, nas escolas, porque é neste ambiente que os alunos possuem, até mesmo, um contato físico maior, e é porque normalmente neste ambiente onde estão seus amigos. O bullying ocorre em todos os estabelecimentos educacionais conforme explicitam Middelton-Moz e Zawadski (2008, p. 78):
[...] escolas privadas, públicas, religiosas, internatos, escolas técnicas, faculdades e universidades. O bullying acontece nas escolas onde os alunos tem alto desempenho em testes nacionais e em comunidades que tem famílias educadas, com ambos os pais presentes, baixas taxas de divórcio, excelente participação dos pais e situação econômica privilegiada. O fenômeno acontece também em escolas em que os alunos têm baixo desempenho em provas nacionais e em comunidades com alto índice de divórcios, com famílias com apenas um dos pais presentes e com situação econômica difícil.
O bullying que não é fenômeno que só acontece na escola, apenas existem condições que favorecem sua ocorrência dentro do espaço escolar. Igualmente, é um fenômeno social que acaba sendo visto inicialmente na escola. Bully é traduzido como brigão, valentão, tirano: como verbo significa tiranizar, oprimir, amedrontar, ameaçar, intimidar, maltratar. O termo é utilizado para identificar a forma mais frequente de violência utilizada entre crianças e adolescentes, por elas próprias. Em consistentes trabalhos realizados por Fante (2005, p. 28-29) esta afirma que:
Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os a exclusão, além de danos físicos e morais e materiais.
Silva (2006) também contribui e ressalta o caráter temporal do bullying, afirmando que ele tem continuidade no tempo e não acontece de forma esporádica. As vítimas estão marcadas, visadas e vigiadas pelos agressores, os quais, quando agridem, sabem exatamente o que estão fazendo e como farão.
Perreira (2002, p. 18), traz importantes afirmações que facilitam identificar quando se trata de bullying.
[...] é a intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma prática a que a vítima é sujeita o que diferencia o “bullying” de outras situações ou comportamentos agressivos, sendo três os fatores fundamentais que normalmente o identificam: O mal causado a outrem não resultou de uma provocação, pelo menos por ações que possam ser identificadas como provocações; As intimidações e a vitimização de outros têm caráter regular, não acontecendo apenas ocasionalmente; e geralmente os agressores são mais fortes (fisicamente), recorrem ao uso de arma branca, ou tem um perfil violento e ameaçador. As vítimas frequentemente não estão em posição de se defenderem ou de procurar auxílio.
As condutas agressivas repetidas e intencionais de uma criança ou adolescente para outros sem condições de se defenderem que caracterizam o bullying, podem ocorrer de três formas:
O bullying como se percebe é um ato de agressão entre agressores e vítimas. Também pode transformar-se e, por vezes acontece num “jogo” de quem caça quem, onde os papéis de agressor e vítima algumas vezes se invertem.
Vários autores conceituam a violência abordando algumas dimensões. Fante (2005, p. 157) define violência como “todo ato, praticado de forma consciente ou inconsciente, que fere, magoa, constrange ou causa dano a qualquer membro da espécie humana”.
Assim, Lopes Neto (2011) conceitua violência na escola como:
[...] em seu sentido amplo, diz respeito a todos os comportamentos agressivos e antissociais que ocorrem em ambientes relacionados à escola, incluindo os conflitos interpessoais (estudante/estudante, professor/estudantes etc.), danos ao patrimônio, atos criminosos (porte de armas, tráfico de drogas, violência social etc..), entre outras práticas. A solução para muitas destas situações depende de fatores externos, cuja intervenção está além da competência e capacidade das entidades de ensino. (p. 14)
Essa violência sem controle não possui regras ou freios e porque passa a ocorrer regularmente e fica comum, ninguém estranha. Esta manifestação agressiva costuma marcar a vida das pessoas, até mesmo artistas famosos vivem essa violência, como relata Esteve & Arruda (2014),
a) Leid Gaga a cantora, diz que quando criança por seu jeito diferente sofria gozações dos colegas por seu modo de se vestir e de falar, e mesmo depois quando entro na escola de artes ainda continuou sendo alvo de gozações.
b) Gisele Bündchen hoje uma das maiores modelos do mundo e símbolo de beleza na escola era alvo de piadas, por ser muito alta e magra, eram lhe atribuídos apelidos eram Olívia palito, Saracura e somaliana.
c) Madonna por não querer ser igual às outras garotas, se recusava a usar maquiagem e se depilar quando estava na escola, e isso a fez sofre e se tornar alvo para piadas de mal gosto de seus colegas.
d) David Beckham quando estava na escola era ridicularizado por seus colegas por se dedicar aos esportes e recusar participar de noitadas e bebedeiras, isso fazia com que ele fosse chamado de mulherzinha.
e) Miley Cyrus estrela adolescente contou em sua biografia que em sua infância era pequena e magrela e sofria ataques de um grupo que se dizia anti miley.
f) Steven Spielberg na infância mudou várias vezes de cidade por causa do trabalho de seu pai, e sofreu muito pois tinha um jeito desengonçado ele vivia solitário e excluído por seus colegas chegando a apanhar diariamente no recreio e ouvir sempre que judeus eram sujos.
g) Eminem, o cantor de rap sofreu muito com bullying na escola chegando a perder por um tempo a visão de um olho devido a agressões que sofria, sua mãe chegou a processar o sistema escolar de Detroit por não proteger seu filho.(2014, p.32)
Podemos peceber que tanto os famosos, quanto as pessoas comuns do nosso dia a dia participam de campanhas para a prevenção do bullying por todo o mundo, pois superaram esse tipo de violência e acreditam na necessidade de apoio e ajuda para superar estas agressões.
Este jeito de fazer violência tem confundido as pessoas, não sabem se é por brincadeira ou por intenção de violentar. O bullying com frequência é confundido com as brincadeiras infantis pelas pessoas do ambiente escolar, porém, estas diferenças são muito significativas. Por ser confundida não é levada em consideração na escola, os professores costumam não levar a sério. Até preferem fazer de conta que não vêm.
[...] a brincadeira é uma atividade ou ação própria da criança, voluntária, espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa, constituída por reforçadores positivos intrínsecos, com um fim em si mesmo e tendo uma relação íntima com a criança. É importante ressaltar que o brincar faz parte da infância, porém, em várias ocasiões, os adultos (pais ou professores) propõem determinadas atividades para as crianças que parecem não cumprir os critérios acima discutidos, mas que são chamadas de brincadeiras pelos próprios adultos. Se a atividade é imposta ou se parece desagradável para a criança, tudo indica que não se trata de uma brincadeira, mas de qualquer outra atividade. (ROBLES, 2007, p. 10):
“O bullying é soma de comportamentos intencionais e repetitivos, ou seja, são premeditados, não são passageiros” (MIDDELTON-MOZ; ZAWADSKII, 2007, p. 78).
Esses comportamentos podem acontecer durante algumas brincadeiras, onde o brincar para as crianças, vem da sua própria cultura, pode ser com brincadeiras coletivas e individuais, é natural na infância, e contribui para o desenvolvimento integral da criança nos aspectos emocionais, psicomotores e sociais.
Brincar é uma necessidade natural da criança, nela exerce sua liberdade de decidir sobre suas realizações, criando sentidos e significados no que realiza. É uma necessidade básica da infância e também da adolescência.
[...] poder brincar em um espaço seguro, permissivo, acolhedor e confirmador com aquilo que ela queira escolher, da forma como ela escolher, já é o suficiente para promover as reconfigurações necessárias ao bem estar e ao resgate de um funcionamento saudável na sua interação com o mundo. (Aguiar, 2005 apud Costa; Pedrini; Kunz, 2013, p. 518).
Brincando é que a criança se relaciona com o mundo, com os outros e consigo mesma, é essencialmente sem intencionalidade, o que vale é o prazer e o significado da ação do brincar, e está baseada na inocência. Maturana e Verden-Zöller (2004) Chamamos de brincadeira qualquer atividade humana praticada em inocência, isto é, qualquer atividade realizada no presente e com atenção voltada para ela própria e não para seus resultados.
Quando apenas uns se divertem à custas dos outros que sofrem, isto ganha outra conotação, bem diferente de um simples divertimento, Pois ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos, impossibilitando de fazer frente às agressões sofridas. A vítima de bullying desenvolve sentimentos intensos de medo e vergonha, aumenta a vulnerabilidade, tem a auto-estima afetada, tem sentimentos de ansiedade, depressão e sensação de impotência.
Tradicionalmente se denomina os protagonistas do bullying como: vítimas (que podem ser classificadas como típicas agressoras e provocadoras), agressores e espectadores (passivos ativos e neutros). São muitos os fatores que influenciam as atitudes do autor do bullying, e de acordo com os estudos feitos por Silva (2010, p. 43-44):
Os agressores apresentam desde muito cedo aversão às normas, não aceitam ser contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição do patrimônio público ou privado. O desempenho escolar destes jovens costuma ser regular ou deficitários; no entanto em hipótese alguma, isso significa uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Muitos apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais e acima da média.
Com relação ao agressor, este busca reconhecimento e admiração dos colegas, é intolerante àquele que é diferente dele, seja nos aspectos físicos como nos comportamentais.
Outro ator do bullying é o espectador. São alunos que presenciam a ação dos agressores contra as vítimas, mas não tomam qualquer atitude. Estes são os que não se manifestam ficam passivos. Silva (2010) divide os espectadores do bullying em 3 grupos distintos: espectadores passivos, espectadores ativos: espectadores neutros.
São vários os autores apresentam uma tipologia sobre as vítimas do bullying, estando estas classificadas em:
Vítimas típicas – sentem-se desiguais e prejudicadas e, dificilmente, solicitam ajuda. Silva (2010, p. 38, grifos do autor) especifica estas características:
Normalmente apresentam alguma “marca” que as destaca da maioria dos alunos: são as gordinhas ou magras demais, altas ou baixas demais; usam óculos; são caxias; deficientes físicos, apresentam sardas ou manchas na pele; orelhas e nariz um pouco mais destacados; usam roupa fora de moda; são de raça, credo, condições socioeconômica ou orientação sexual diferente... Enfim qualquer coisa que fuja do padrão imposto por um determinado grupo pode deflagra o processo de escolha da vítima do bullying.
Estas vítimas escondem o sofrimento por medo. Contudo, há sinais que facilitam a identificação de uma pessoa que esteja sofrendo maus-tratos, tais como agressividade, mal-estar na hora de ir às aulas, melancolia e notas baixas.
Vítimas Provocadoras – são provocadoras aquelas que atraem para si reações agressivas, sendo incapazes de resolvê-las e, segundo Silva (2010, p. 40-41, grifos do autor):
As vítimas provocadoras são aquelas capazes de insuflar em seus colegas reações agressivas contra si mesmas. No entanto não conseguem reagir aos revides de forma satisfatória. Elas, em geral, discutem ou brigam quando são atacadas ou insultadas.
Vítimas agressoras – são as que acabam revidando os maus tratos sofridos. No entanto, isso ocorre em colegas considerados mais frágeis do que elas. Neste contexto amplia-se o problema, pois contribuem para uma maior ocorrência de violência. Para Silva (2010, p. 42, grifos do autor):
A vítima agressora faz valer os velhos ditados populares “bateu, levou” ou “tudo que vem tem volta”. Ela reproduz a forma de maus tratos sofridos como uma forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima ainda mais frágil e vulnerável, e comete contra esta todas as agressividades sofridas, Isso aciona o efeito “cascata” ou de círculo vicioso, que transforma o bullying em um problema de difícil controle e que ganha proporções de epidemia mundial de ameaça à saúde pública.
Com base nos estudos de Fante (2005), podemos citar as diversas formas como o bullying se manifesta: Ofensas, discriminação e “gozações” sistemáticas; Apelidos depreciativos, devido ao uso de óculos, à obesidade ou outra característica que a vítima não quer que seja alardeada; Fofocas, comentários negativos e falsos sobre a vítima, uma pessoa de sua família, o local de moradia, a aparência física, a orientação sexual, a classe social, a nacionalidade, entre outros; Ordens, ameaças e chantagens que obrigam a vítima a fazer o que ela não quer; Exposição a situações embaraçosas ou vexatórias, como chupar balas ou chicletes encontrados no chão, beber água misturada com perfume, andar imitando animais; Isolamento social; Danos ou roubos aos materiais escolares e roupas das vítimas, ou mesmo de valores em dinheiro; Ataques físicos contínuos e repetitivos, entre outras manifestações.
As vítimas de bullying sofrem a incompreensão por parte dos outros. As consequências do bullying para a vítima são muitas e destacamos as seguintes: Baixa autoestima; Medo; Angústia; Pesadelos; Falta de vontade de ir para escola; Ansiedade; Dificuldades de relacionamento interpessoal; Dificuldade de concentração, diminuição do rendimento escolar; Dores de cabeça, dores de estômago e dores não especificas, Mudanças de humor; Vômitos; Falta de Apetite ou Apetite voraz; Choro; Insónias; Medo de escuro; Ataques de pânico sem motivo; Sensação de aperto no coração; Aumento do pedido de dinheiro aos pais e familiares; Stress; Suicídio.
[...] dependendo da estrutura psicológica de cada individuo o bullying poderá mobilizar: ansiedade, tensão, medo, raiva reprimida, angustia, tristeza, desgosto, sensação de impotência e rejeição, magoa, desejo de vingança, pensamentos suicidas, dentre outros. (Fante; Pedra, 2008, p 41)
O bullying vem sendo praticado dentro e fora da escola e Schultz et al. (2012), baseado na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, traz a necessidade de classificar o bullying como um fenômeno relacional, influenciado por vários indivíduos e sistemas, não sendo possível reduzi-lo à dualidade agressor/ vítima. Este fenômeno traz implicações para todos os atores envolvidos, vítimas, testemunhas, e agressores, dando segmento a violência diferentes contextos sociais.
Após o fechamento da pesquisa, percebeu-se que o termo bullying não é de conhecimento de todos os alunos, pois em várias perguntas houve coincidência no percentual de respostas afirmativas quando indagados se já haviam sofrido bullying.
Com relação aos sentimentos no ambiente escolar, predomina o acolhimento pela maioria dos respondentes, demonstrando que o ambiente é acolhedor. Pois apesar de acharem acolhedor não se sentem-se amados, portanto esse sentimento ou é fraco ou não é visível para os alunos. Quanto ao sentimento de angústia, medo, exclusão, humilhação, e maus tratos faz parte do cotidiano escolar, a prática do bullying se confirmou pela sua repetição no tempo.
Os motivos para a prática de maus tratos estão para os alunos que querem ser populares pois os alunos maiores ou mais fortes, líderes de turma são os que costumam se comportar de forma agressiva para atrair a atenção de seus colegas, eles têm poder e são respeitados e temidos. A forma mais comum de discriminação foram o xingamentos e falar mal da família da vítima.
Aparece também uma das formas mais cruéis de bullying que é desconsiderar a existência da pessoa, fazer de conta que ela não existe, este é o ml do qual não se pode reclamar, pois o agressor não fez nada, a vítima prefere se calar.
Constatou-se também que o bullying acontece mais no recreio e na sala de aula, mesmo com a presença do professor, isto significa a naturalização desta violência.
A quantidade de agressores em formato de bullying normalmente é por grupos de até 5 colegas, identifica-se mais como uma atitude coletiva. Desta forma a vítima não tem para onde correr, a perseguição vai tomando proporções cada vez maiores. Os alunos vítimas desta violência costumam agir conforme a liderança dos alunos que são mais fortes e fazem de tudo para obter poder, e até acontece de agirem por medo e imitação do grupo.
As vítimas do bullying são acometidas dos sentimentos de irritação, tristeza e mal estar. O índice pequeno porém mais preocupante foi “senti vontade de morrer”, isto leva a justificar o índice de suicídios ocorridos em todo o mundo. Também num pequeno percentual aparecem os que não sentiu nada, este pode ser aquele que já se acostumou com essas atitudes de violência e já nem liga mais.
As vítimas de bullying as vezes conseguem reagir às agressões, não necessitando de ajuda aparentemente, mas pedem ajuda aos professores, ao irmãos pois é com eles que sentem mais seguros. Outros não reagem e apenas choram e não sabem o que fazer, mas guardam este sentimento de impotência e mágoa para o resto da vida. Poucos solicitam diretamente aos agressores para que parem com a violência. O maior impacto desse tipo de violência é o medo de vir a escola, e de perder os amigos, que é um sentimento muito penoso para uma criança ou adolescente, isso impacta na construção de sua autoimagem.
- METODOLOGIA
Para desvendar os sentimentos e reações das vítimas de bullying no espaço escolar optou-se por um estudo de caso, na perspectiva fenomenológica. Segundo Bello (2006, p. 18) define, então, fenomenologia como uma reflexão sobre um fenômeno. Foi utilizado o método qualitativo que tem suas raízes na fenomenologia, buscando a compreensão da dinâmica do ser humano, partindo dos significados dos fenômenos vivenciados pelas pessoas.
Para a realização do estudo tivemos como sujeitos todos os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública do Município de Sorriso-MT. A escola conta com 515 alunos, mas a pesquisa será realizada apenas com uma turma, com 28 alunos com idade entre 14 a 18 anos, sendo 58% do sexo feminino e 42% do sexo masculino. Com relação a cor e etnia constatou-se que 57% são brancos e 40% pardos 3% mulatos.
O Instrumento utilizado foi um questionário estruturado contendo questões de múltipla escolha aplicado no próprio ambiente da escola e algumas observações pessoais. A coleta de dados foi através de um questionário com questões fechadas. Para elaboração do questionário tomou-se por base o Relatório Plan (2010), com algumas adaptações.
Os dados foram agrupados e separados em tabelas para facilitar a análise interpretativa que buscou através dos dados da pesquisa, em sentido restrito, tomar uma posição própria a respeito dos elementos enunciados, e “superar a estrita mensagem do texto, ler nas entrelinhas, estabelecer o diálogo, explorar a fecundidade das ideias expostas, enfim, dialogar com o sujeito da pesquisa e com os autores”. (GIL, 2007).
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa “BULLIYNG NO AMBIENTE ESCOLAR: Uma Interpretação dos Sentimentos e Reações das Vítimas” foi realizada com o objetivo de identificar os sentimentos e reações das vítimas de bullying no ambiente escolar numa Escola Municipal do Município de Sorriso -MT. Seus resultados poderão servir para ajudar os professores a dimensionar a ocorrência desse tipo de violência na escola, bem como perceber os sentimentos e reações das vítimas, que poderão influenciar negativamente sua vida futura. Estas informações poderão sensibilizar a comunidade escolar a tomar medidas preventivas em relação ao bullying, para reduzir seus danos.
Neste estudo utilizou-se o método qualitativo, na perspectiva fenomenológica, buscando a compreensão da dinâmica do ser humano, partindo dos significados dos fenômenos vivenciados pelas pessoas. O Instrumento utilizado foi um questionário estruturado contendo questões de múltipla escolha aplicado no próprio ambiente da escola, e passados por uma análise interpretativa.
Após os estudos realizados e ao final dessa pesquisa podemos constatar que na perspectiva dos alunos, os motivos para os maus tratos em forma de bullying no ambiente escolar no que se refere a seus modos de manifestação, espaço onde mais ocorrem, tempo de duração, quantidade de agressores e os sentimentos e reações e consequências para as vítimas.
O maior impacto desse tipo de violência é o medo de vir a escola, seguido da perda do entusiasmo e falta de concentração nas atividades escolares, sentimentos que impactam diretamente na aprendizagem, neste sentido também se inclui os que responderam que pararam de aprender. Com relação aos relacionamentos com os professores, alguns nutrem um sentimento de falta de confiança nos professores, não buscando ajuda diretamente. Outros dizem ter perdido amigos por isso, e perder amigo é um sentimento muito penoso para uma criança ou adolescente, isso impacta na construção da autoimagem do adolescente. Ninguém afirma que foi reprovado, mudou de escola e que falta a escola por esse motivo.
Este estudo conclui que as atitudes de bullying devem ser identificadas prevenidas, e combatidas no ambiente no qual é desencadeado, a escola, por todos os seus integrantes, a fim de evitar sentimentos negativos para as vítimas.
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Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/educacao-fisica-bullying-643430.shtml>. Acesso em 27 de março 2014.
[1] Licenciada em Educação Física pela Faculdade LA SALLE. Professora de Educação Física da Rede Municipal de Ensino do Município de Sorriso/MT.
[2] Licenciado em Educação Física pela Universidade de Várzea Grande/UNIVAG. Professor de Educação Física da Rede Municipal de Ensino do Município de Sorriso/MT.