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 INTERVENÇÃO AFETIVA NA PRATICA PEDAGÓGICA

 

Leuda Guia de Souza[1]

Eucilene Gusmão de Lara[2]

Maricélia Mendes de Souza Tataíra Machado[3]

 

 

RESUMO

O presente artigo trata de um tema bastante importante e controvertido no âmbito escolar: A afetividade na relação professor-aluno. A afetividade é um elemento fundamental para o desenvolvimento do ser humano, é através dela que o individuo expressa suas emoções que exterioriza seus desejos suas vontades, ou seja, são manifestações internas importantes e perceptíveis. Um aspecto, portanto, tão fundamental na vida do aluno e tão pouco estimulado pela e na escola. Aspecto que tem sido visto pelas pesquisas neuro científicas atuais como determinante na relação sujeito-aprendizado-objeto. O presente artigo foi construído na metodologia da revisão bibliográfica com autores atuais, dentre os quais destacam-se  Damásio, Cury, Chalita, Rossini e outros. Toda a revisão primou em mostrar que a observação atenta do professor com relação aos aspectos afetivos das crianças, lhes permitirá um desenvolvimento melhor e mais autônomo.

Palavras chaves: Afetividade. Relação Professor-aluno. Ensino-aprendizagem.

 

ABSTRACT

This article deals with a very important and controversial issue in schools: Affection in the teacher-student relationship. Affection is a key element for the development of the human being, it is through it that the individual expresses his emotions that externalizes their wishes their will, that is, they are important and noticeable internal manifestations. One aspect, therefore, so fundamental in the student's life and so little stimulated by and school. Aspect that has been seen by current scientific research as the determining neuro-learning in the subject-object relationship. This article was built on the methodology of literature review current authors, among which stand out Damasio, Cury, Chalita, Rossini and others. The whole review excelled in showing that the close observation of the teacher in relation to affective aspects of children, allow them to better and more autonomous development.

Key words: Affectivity. Teacher-student Relationship. Teaching and Learning.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Na Prática Pedagógica a afetividades é uma ação facilitadora no processo ensino-aprendizagem, pois o aluno passa a ser alvo da empatia do professor, que ao apoderar se desse recurso sente se estimulado a desenvolver uma pratica pedagógica direcionada ao aluno.

Segundo (GADOTTI, 1999), a afetividade são conjuntos de fenômenos que envolvem os seres humanos durante toda vida. “Esses fenômenos caracterizam por sentimentos, emoções e paixões, acompanhados sempre de prazer ou desprazer”.

Entendemos que o afetivo exerce uma forte influência no cognitivo. Quando se sente amada e respeitada pelo professor a criança demonstra tal atitude, nesse sentido haverá um enorme desejo da criança em aprender; Ou seja o bom relacionamento entre ambos professor x aluno facilita o aprendizado.O professor tem a responsabilidade de contribuir na formação da personalidade do aluno, não cabe a tal função somente a escola.

Cunha (2008) nos mostra a importância que o professor deve ter ao procurar conhecer o seu aluno de forma particular, principalmente no que diz respeito aos estágios de desenvolvimento cognitivo de seu aluno, para que possa utilizar de recursos adequados e ao mesmo tempo estimulativos, facilitando assim de forma significativa o aprendizado do mesmo. Para Piaget (2005) a afetividade é um dos principais elementos da inteligência, e que a afetividade pode ajudar no desenvolvimento do aluno, como também pode prejudicar pelo excesso dos pais, que ocorre na super proteção.

Já Saltini (2008) diz que o professor além de conhecimentos teóricos, ele precisa conhecer o seu aluno, tendê-lo, demonstrar disponibilidade de mudanças, quando perceber que está cometendo certos equívocos, pois o professor não é dono do saber, e se faz necessário, reconhecer quando existem falhas na sua prática pedagógica, o aluno deve ser encarado como sujeito ativo, o qual deseja aprender de forma significativa, não sendo mero expectador, em que só são repassados os conteúdos, sem haver uma preocupação por parte do professor. Por isso é tão importante entendermos de seres humanos e praticarmos uma pedagogia afetiva.

 

A Afetividade na prática Pedagógica

O Afeto na relação professor-aluno

 

A palavra afetividade no dicionário da língua portuguesa quer dizer: disposição para receber experiências externas. De acordo com Vigotsky, ”a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade”. Ou seja: o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem, uma criança só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos. Outro conceito de Vigotsky é a mediação, portanto, toda relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos, como por exemplo, a ferramenta agrícola que modifica e transforma a natureza, todo o aprendizado é também mediado, porque recebe a informações/ferramentas de alguém.

Segundo Vigotsky a zona proximal, se refere ao aprendizado e desenvolvimento, ou seja, a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela poderá aprender com a ajuda de um adulto, o desenvolvimento para o autor, portanto, ocorre de fora para dentro: o indivíduo se desenvolve porque aprende. Dessa forma o desenhar e brincar deve ser estágio preparatório para o desenvolvimento da linguagem escrita. Nestes momentos a intervenção pedagógica é muito importante para o desenvolvimento da criança, ela provoca avanços que não aconteceria espontaneamente, segundo o referido autor; e todo o aprendizado amplia a mente do aluno e o novo conteúdo não é só informação, mas um “conhecimento”, um repertório novo que conseqüentemente interfere nas estruturas cognitivas da criança.

Portanto, o educador é um dos impulsionadores do desenvolvimento psíquico do aluno. O papel mais importante do educador é apresentar formas diferenciadas de atividades e vivências aos educandos, porém deve investigar antes se eles têm condições de absorvê-las. È necessário avaliar as habilidades que o aluno já tem e as que ele poderá adquirir, pois algumas atividades estimulam a criança a pensar e outras não despertam entusiasmo.    

Todavia quando a criança é estimulada adequadamente tem um desenvolvimento intelectual, emocional e social equilibrado, por isso há necessidade de uma reflexão pedagógica que fundamente a prática docente facilitando a construção da consciência da criança em relação a si mesma. Tal formação da consciência se dá por meio da interação social.

Diante deste processo de construção da criança, Antunes comenta:

 

Para um cientista da cognição a mente infantil é um conjunto fantástico de células nervosas colocando em contato bilhões de neurônios e de correntes eletroquímicas em agitação permanente, formando uma consciência dinâmica que rapidamente se transforma. (ANTUNES, 2004, p.21).

 

  Portanto é sabido que nos anos 60 acreditava-se que o cérebro de uma criança obteria conhecimento natural com o tempo, haja vista que para estes estudiosos o conjunto de células neurais seria capaz de construir o pensamento idealizado e a dita consciência.  Com o avanço das pesquisas, descobriram que a criança corresponde positivamente aos estímulos que lhe são propostos, que desenvolve os aspectos intelectuais, sociais e afetivos mediante treinamento sistematizado e muita dedicação e interesse. Nos dias atuais, os cientistas sabem que quando o cérebro de uma criança é estimulado dentro do processo de desenvolvimento da criança, ocorre a transformação de conhecimento e isso não seria possível sem os estímulos e as experiências com o meio. (ANTUNES, 2004).

Nesta perspectiva a afetividade está também presente como um campo passível de aprendizado. Segundo (Capeletto 2002), a raiva, a dor, o medo, a insegurança e outros sentimentos movem nossas mentes, nosso ser, na interação com o mundo que nos cerca. As emoções são a força motriz das relações humanas, uma fonte química de prazeres e dores, evolutivamente relacionada a nossa sobrevivência.   

Nesse sentido a contribuição dos professores seria possibilitar ao aluno ter uma relação mais prazerosa e satisfatória possível com a busca de novos conhecimentos. Também há que se ter um respeito aos limites do aluno para alcançar o aprendizado. Através do afeto, o professor pode conseguir um melhor estabelecimento de limites nos momentos que se fizerem necessários. O contrário no entanto pode ocorrer: a destruição de uma boa relação  existente sem consciência de ambas as partes. Para (CAPELETTO, 2002), quando o sujeito aprende a cuidar dessas emoções internas poderá ter equilíbrio pra lidar com as situações do cotidiano.

Portando, há crianças que necessitam de um cuidado especial na sua formação. Pensando nisso os professores tem como missão desenvolver na prática pedagógica trabalhos que facilitem a interação afetiva entre si e seus alunos, pois desta forma poderão acompanhar o processo de desenvolvimento dos mesmos na construção de sua identidade, valores e autonomia intelectual, tão preconizada por Piaget (Kamii, 1999).

Devido a evolução socioeconômica e cultural da sociedade atual os pais estão cada vez mais preocupados com a educação formal de seus filhos, porém numa educação pautada no racionalismo, pois estão preocupados com a atuação de seus filhos na sociedade competitiva. Devido a isto propõe várias atividades extras, para além da escola, exclusivamente centradas no desenvolvimento do intelecto. Porém o processo de desenvolvimento do ser humano não está ligado a quantidade de atividades que são desenvolvidas, está ligado a qualidade da educação afetiva que o envolve a todo o tempo.

Segundo Cunha (2008) as escolas precisam necessariamente ser lugares onde se aprende ética e valores humanos:

 

É bom que os filhos tenham condições na escola de aprenderem conceitos sobre família, cidadania, ética e valores humanos para que não sejam surpreendidos pelas circunstâncias de uma vida pungentemente imprevista. (CUNHA, 2008. p.17).

 

Por isso o professor deve ter o cuidado de dar possibilidades para que o aluno desenvolva suas habilidades intelectuais e emocionais, nas escolhas dos temas da sala de aula, no posicionamento nos debates, para além do conteúdo em si, e dessa forma saiba lidar com a resolução de conflitos e as frustrações que fazem parte da vida.  

O aluno é movido por sentimentos que o acompanham em seu processo de desenvolvimento, tanto sentimentos positivos quanto negativos, sendo que estes últimos podem acarretar dificuldades de aprendizagem mais ou menos acentuadas em relação a este ou aquele professor ou ainda áreas específicas do conhecimento ou de maneira global. Pautado nestas possibilidades o professor deve atuar e estimular o interesse cognitivo e o amor a quem está tão próximo. Para Cury ( 2003, p 126) “educar é provocar a inteligência, é arte dos desafios”.

Portanto a formação do aluno na instituição escolar inicia-se pela ação do professor diante do conhecimento cumulativo de ambos, por isso ele deve propor uma educação de qualidade. E na escola é o lugar onde aprendemos e educamos. Segundo Freire,

O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de intervir no mundo, conhecer o mundo. (FREIRE, 1996, p 28),

 

Para ele o conhecimento novo hoje se torna velho amanhã em toda fase  de nossa história de vida.

Dessa mesma forma também somos tomados pela sociedade capitalista atual que seduz as crianças e jovens ao sucesso imediato em busca de encontrar sua identidade pelo consumismo material, sem perceber que estão sendo influenciados pelo desejo de obter o objeto, que amanhã já será ultrapassado. Este é um dos grandes desafios da educação: revelar o esquema dos anti-valores  da sociedade de consumo, onde o ter sobrepõe-se ao ser. Pois a sociedade moderna leva o ser humano a mudanças de comportamentos influenciados somente por valores externos.

Levar em conta a afetividade na escola pode contribuir para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social do aluno no seu processo de aprendizagem. Segundo Cunha (2008),

O sujeito pós-moderno torna-se maleável, capitulado pela celebridade dos acontecimentos, pelas necessidades e manifestações, esquecendo dos rudimentos que tornaram elementares o desejo e o amor a vida. (CUNHA, 2008. P.22).

 

Portanto estamos nos distanciando da nossa própria identidade e potenciais humanos, com o intuito de nos tornarmos cada vez mais modernos e esse comportamento social tem um impacto direto na educação. O aluno vem para escola com o conhecimento desta modernidade atual. Por isso os profissionais da área da educação precisam investigar mais sobre maneiras mais ativas de ensinar, pesquisar sobre pressupostos do ensino e buscar mudanças, envolver-se na arte de ensinar e aprender no contexto social juntamente com todos os atores envolvidos: a família, escola e comunidade. Por conseguinte o professor pesquisador acompanhará o desenvolvimento da sociedade moderna em todos os aspectos: político, socioeconômico e principalmente emocional do aluno.

Segundo Cunha (2008), a escola é o melhor lugar onde se pode desenvolver o conhecimento pleno do aluno, para que o mesmo se sinta seguro pra alcançar novas metas de vida para além da escola. E através do afeto, que neste âmbito se traduz por uma relação afetiva e amorosa com o objeto estudado, o aluno tem chance de registrar maior quantidade de informações e assim ampliar seus conhecimentos.

Segundo Antunes, (2004). O neurologista Harry Chugani desenvolveu uma pesquisa e constatou que o cérebro de uma criança é duas vezes mais ativo que de um adulto e isso continua até os nove anos de idade havendo declínio  após entrar na puberdade. Através de pesquisas cientificas observa-se a preocupação atual dos pesquisadores no desenvolvimento da criança. Constata-se que é valorizando o aprendizado da criança, estimulando-as com experiências concretas para que possam ter auto-estima que se consegue desenvolver suas habilidades; haja vista que a mente humana aprende e cria significados durante toda a vida.

Portanto o aluno tem capacidade para desenvolver suas habilidades cognitivas a partir de uma prática pedagógica voltada à construção do sujeito, estimulada pela afetividade na interação com o professor, pois a mente não está separada do corpo, o sujeito não só está receptivo as experiências do meio, quanto confunde-se com este.

Para (Cury 2003), quanto maior o volume emocional envolvido em uma experiência mais o registro será privilegiado e mais chance terá de ser resgatado. Yesquierdo (1999), um pesquisador latino americano revela que, muitas vezes, pelos métodos tradicionais de ensino ainda usados nas escolas, e sob pressão destes, o aluno não consegue acessar conteúdos da memória que em situações sem tal stress acessaria tranquilamente. Diante disto percebe-se que os alunos podem conhecer/ver as informações que são mediadas pelo professor, porém somente serão capazes de reeditar – compreender, analisar, sintetizar, aplicar e criticar, que são os aspectos da taxonomia de Bloom para avaliação (BLOOM, 2008), somente aquelas experiências que forem significativas em seu processo de aprendizagem.

Conforme já mencionado o professor deve ter o cuidado e o domínio do fazer pedagógico para não causar danos no processo de ensino – aprendizagem, pois a escola é este lócus legítimo da interação professor-aluno, e o mesmo tem como função organizar estratégias pedagógicas tais sobretudo privilegiando o afeto para desenvolver a cognição e o equilíbrio emocional do aluno.

Atualmente vem despontando os estudos sobre os aspectos cognitivos, e qual sua vinculação com o afeto, tentando retirar a dicotomia da relação razão e emoção, uma vez que nossas ações têm um impacto direto em nossas emoções.

Para o neurocientista Damásio (apud Cunha 2006), as emoções na produção da racionalidade implicam em alguns comportamentos na sociedade entre eles, aqueles relacionados à educação. Para ele não há uma dualidade entre o cérebro e corpo, pois os fenômenos sociais não estão isolados do corpo e o meio social do sujeito.

Portanto o professor que estimula seus alunos a desenvolver o aspecto cognitivo, os mesmos estarão mais aptos à aprendizagem, uma vez que a ação pedagógica do professor é mediada pela relação afetiva de ambos. E certamente será mais saudável, pois quando amamos, aprendemos com isso a qualidade do aprendizado é maior. Segundo Cury (2003), a memória humana não está disponível a hora que se quer acessá-la simplesmente; o que determina a abertura dos arquivos da memória é a quantidade de emoção que vive-se a cada momento: conceito que de certa forma relaciona-se ao anteriormente citado por Yesquierdo. Dessa forma a afetividade no processo de aprendizagem é indispensável na formação do sujeito.

Em muitos casos em que o aluno apresenta dificuldade cognitiva, possivelmente a memória dele não foi estimulada para obtenção destes conhecimentos de modo que as respectivas experiências tivessem sido armazenadas no arquivo e sujeitas, portanto à reedição, permitindo novos acessos, associações com outros conteúdos e, portanto novos aprendizados. Hoje estudos atuais em neurociência dizem que pela interação afetiva entre professor e aluno as lembranças vividas produzem novos conhecimentos

Uma criança que possui boa relação afetiva é segura, compreende a realidade e apresenta melhor desenvolvimento na escola. Se ela está feliz, apreende, desenvolve um aprendizado prazeroso, tem disposição e curiosidade para aprender mais.

  Portanto, é justo e seguro investir na afetividade para um futuro mais humanizado, de cidadãos críticos, reconhecedores de seus direitos e obrigações. Segundo Rossini, "a tecnologia deve estar a serviço de pais e professores apenas como instrumento, nunca com a intenção de substituí-los" ( 2007, p 13)

  Partindo dessa premissa temos um exemplo: quando colocamos um vídeo para a criança assistir, não estamos criando vínculo afetivo, como acontece quando contamos uma história, é isso que faz a diferença. Por conta da modernidade, os pais trabalham muito e não encontram tempo para dar atenção, carinho e afetividade para seus filhos, para compensar essa ausência, acabam por não conseguir impor limites resultando numa educação permissiva. Dessa forma ao chegar à escola esse aluno está desatento e impulsivo.

Quando se concede total permissão, na percepção da criança, isto é entendido como ausência de afeto. A criança quer e gosta que lhe digam o que fazer e como fazer. Ensinar que as regras devem ser cumpridas, também é um gesto de afeto.  As crianças ainda se deliciam com as histórias de "era uma vez", de príncipes e princesas, de fadas e de animais que falam, essa magia que envolve a criança ao ouvir histórias dão a elas conforto e esperança. A serenidade, o equilíbrio e a firmeza são elementos para trabalhar com criança para que ele se torne um adulto feliz, com chance de se realizar como ser humano.

Segundo Lucca “a dificuldade fundamental do homem é seu relacionamento com suas emoções e sentimentos, que ora são suaves e harmoniosos e ora são avassaladores e desestabilizantes”. ( 2001. p.9).

  Por isso, precisamos encontrar equilíbrio interno e viver em harmonia com o mundo, nessa perspectiva o professor que usa o afeto como uma ferramenta indispensável, além de envolver o aluno numa situação de harmonia, conquista seu coração e o deixa com o pensamento livre para a criatividade, para a capacidade de inventar respostas novas e diferentes. Com afetividade o aluno se descontrai e se expressa livremente.  Como diz Chalita, o costume de dar prêmio aos melhores alunos e apontar os piores, para que sirvam de modelo a ser seguido e a ser evitado, não tem absolutamente nada de educativo”. ( 2004, p.136).

Ainda que este aluno não consiga acompanhar os demais, ele merece respeito à história de vida. Sua experiência e vivência pessoal podem indicar o potencial que ele possui. Quando o aluno percebe seu valor no âmbito escolar, sente-se amado e querido terá maior chance de se tornar um adulto bem resolvido.

Infelizmente os professores têm poder de profetizar na vida de seus alunos, acerca de estes serem futuramente bons profissionais, ou isto ou aquilo, etc. Também esta foi uma das conclusões de Freud ao final da vida, quando escreveu a carta acima referida em alusão a sua relação, e de seus colegas de classe com seus professores.

A respeito da tecnologia para o ensino-aprendizado, Chalita diz que, o computador nunca substituirá o professor”. ( 2004. p.161)

Todavia a máquina não é capaz de dar afeto, passar emoção e vibrar com a vitória de cada um. A fala do professor, a pergunta do aluno, essa troca, essa interação coletiva de aprendizagem, é privilégio do ser humano, mas para o professor passar afeto para o aluno é preciso que seja sincero, pois ninguém dá o que não tem e ninguém ama o que não conhece tudo o que se refere ao aluno deve ser genuinamente de interesse do professor. Ou não será, porque o aluno sentirá que não é!

A primeira tarefa será planejar bem a aula, pois para o referido autor, o professor que não prepara bem as aulas, desrespeita os alunos e o próprio ofício”. (CHALITA, 2004, p.166)

Portanto, uma aula preparada, bem planejada, não quer dizer que não se pode mudar, adaptar e permitir a interferência do aluno, muitas vezes idéias surgidas durante a execução, enriquecem o tema e conseqüentemente o aprendizado de todos. O professor não sabe tudo, sempre tem algo a aprender, é uma via de mão dupla, é o diálogo, é a construção da autonomia do aluno enquanto aprendiz.

Sabemos que o aluno precisa ser ouvido, precisa de atenção e de afeto, pois cada vez mais vemos famílias sem estrutura e os filhos carentes esperam do mestre um gesto de carinho que afinal ameniza essa falta. A preparação, o respeito, a atenção tudo isso antecede uma aula planejada com carinho, o aluno sente-se motivado em contribuir com idéias e ser participativo numa aula interessante.

Segundo Cunha, “a escola foi alicerçada sobre pilares que não promoveram um ensino democrático, afetivo e acessível a todos, com reflexo na cultura que se estabeleceu na relação entre professor e aluno”. (2008, p. 28)

 Porém, durante um longo tempo o comodismo não deixou ver o que deveríamos ter mudado. A escola não incluiu no seu processo educativo a livre escolha, o livre acesso nas relações de ensino aprendizagem. Durante décadas o afeto não esteve em sala de aula, não promovendo o equilíbrio entre a emoção e a razão, e assim não compartilhando de saberes na coletividade.

Conforme Relvas (apud Cunha, 2007, p. 36)  “A memória necessita de dois mecanismos fundamentais: a fixação e a vocação e o afeto estimula os dois mecanismos”.

Enquanto professores devemos sempre nos perguntar: o que importa mais é ensinar ou despertar no aluno a vontade de aprender ? Para conquistar sua atenção o meio mais indicado é o afeto, quando então o aprendizado terá mais qualidade. O educador que ama sua profissão busca sempre novos caminhos e sua busca não o deixa repetitivo e sim afetivamente criativo.

Uma necessária busca contínua por encontrar alternativas para as dificuldades de aprendizagem faz com que o professor seja dinâmico e sinta prazer em ensinar e como resultado acontece a fixação do que foi elaborado, construído pela classe composta de alunos e professor mediador, o que acaba por constituir-se numa pedagogia afetiva.

  O educando deveria ser o centro das atenções entre família e escola, o afeto representa o gosto pela ordem e disciplina, é a energia que comanda a ação. Alunos que chegam à escolas carentes e encontram acolhimento, tem a oportunidade de mudar o rumo de sua história e eles próprios estimularem suas famílias.

Segundo Alves “a proteína mínima de qualquer educação  é composta por três elementos: o pensar, o perceber e o comunicar-se” (ALVES, apud Saltini, 2008, p.17). Talvez ainda existam muitos professores que avaliam seus alunos pelo que eles decoram acerca do que foi falado nas suas aulas, deixando de valorizar a criatividade e o compartilhamento de saberes anteriores e experiências do grupo. Haja vista que uma boa medida para saber se o aluno se apropriou da idéia ou conteúdo estudado, é quando o mesmo revela uma posição de comprometimento e responsabilidade pelo meio social em que está inserido.  Como diz Saltini “a qualidade de nosso objetivo, vai depender da qualidade de nossa vida”. (2008, p. 52).

Dessa forma devemos buscar enquanto professor compartilhar nossa teoria e prática na ação pedagógica cotidiana, proporcionando o desenvolvimento do aluno mais criativo, pensante, autônomo e transformador de sua realidade. Construir sujeitos felizes de e com sua história, deveria ser a meta maior da escola.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

                   

A afetividade é um elemento fundamental para o desenvolvimento do ser humano, é através dela que o individuo expressa suas emoções que exterioriza seus desejos suas vontades, ou seja, são manifestações internas importantes e perceptíveis. Um aspecto, portanto, tão fundamental na vida do aluno e tão pouco estimulado pela e na escola.

Aspecto que tem sido visto pelas pesquisas neurocientíficas atuais como determinante na relação sujeito-aprendizado-objeto. (Damásio, 2000).   

É interessante a observação do professor com relação aos aspectos afetivos das crianças, se tiver uma troca afetiva consistente, o desenvolvimento delas certamente será melhor. As crianças precisam sentir-se seguras mediante a prática pedagógica adotada pelo professor seja na exploração do ambiente físico ou social, assim como para as brincadeiras. Quando de fato estabelecer essa base de segurança entre professor e aluno os diversos aspectos do desenvolvimento serão mais plausíveis.

A criança constrói sua própria identidade e autonomia, portanto sob a influencia de um profissional qualificado, que visa uma educação quantitativa e ao mesmo tempo qualitativa terá mais capacidade para construir bases sólidas emocionais na infância. Isso possibilitará a integração em todas as áreas de conhecimento da criança, facilitando o aprendizado em lidar com suas emoções e assim tornar-se um adulto consciente de suas ações.

Com a interação afetiva entre professor e aluno as lembranças vividas produzem novos conhecimentos.

No entanto o perfil dos profissionais da educação vem se alterando, as tecnologias têm contribuído para essa evolução. Não quer dizer que o professor tenha que abandonar a relação docente com os conteúdos, mas acrescente dedicação e carinho para que avance em sua jornada do aprender, onde construa e reconstrua, elabore e reelabore seu conhecimento, de acordo com sua habilidade.

Muito se tem falado nos últimos tempos de distúrbios ou dificuldades de aprendizagem e isso tem provocado grandes debates relacionados as causas e processos de tratamento.

Em qualquer situação escolar, seja de dificuldades de aprendizagem, ou inclusão, ou reprovações escolares, quaisquer problemas relacionados a permanência e sucesso dos alunos na escola, observar a qualidade das relações afetivas é aconselhável. Jamais o afeto poderá intervir negativamente, a evolução afetiva é o processo que permite a criança superar as etapas do seu desenvolvimento, no caminho da construção da sua autonomia. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ANTUNES, Celso. Educação Infantil: Prioridade Imprescindível. 3. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2004.

 

CAPELATTO, Ivan Roberto. Jovem voluntário, Escola Solidária. [S.l.]: Virtual Books, 2002. Disponível em: <http://www. Voluntariado. org.br/biblioteca/img/col_faca_parte_11.pd > Acesso em: 12 jun. 2010.

 

CUNHA, Antonio Eugenio: Afeto e aprendizagem, Rio de Janeiro, editora Wak, 2008.

 

CURY, Augusto Jorge. Pais Brilhantes e Professores Fascinantes: Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

 

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no feto, São Paulo: editora Gente, 2001.

 

LUCCA, Lousanne Arnoldi de. Alfabetização afetiva, São Paulo: vida e consciência editora ltda, 2001.

 

ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia afetiva, Petrópolis R.J: Vozes, 2007.

 

SALTINI, Cláudio j.p. Afetividade e Inteligência, Rio de janeiro: Wak ed,2008.

 

VIGOSTSKY, Lev: DVD. Educação escolar, teoria do cotidiano e a escola de Vigotsky, editora autores associados ltda.impresso no Brasil em 2007.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, São Paulo: Paz e terra 1996     

 

 



[1] Licenciada em Pedagogia.

[2] Licenciada em Pedagogia.

[3] Atua na Área da Educação.