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NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM: ESTUDO DA REALIDADE DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DO COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, PORTO NACIONAL, TOCANTINS, BRASIL

Helena Lise Rodrigues
Nibelle Aires Lira

 

RESUMO

A aprendizagem ocorre a partir da modificação do cérebro. Por isso, a Neurociência é uma ferramenta valiosa para a Educação. Embasado nas descobertas dessa área da Ciência, o presente trabalho tem como objetivo estudar a situação escolar dos alunos do Ensino Médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus na cidade de Porto Nacional - TO. A partir dos dados coletados, a instituição poderá planejar e executar ações para melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Para isso, foi aplicado um questionário on-line no formato Google Docs a 152 discentes. As perguntas avaliaram três aspectos gerais que influenciam diretamente a aprendizagem: Mindset, Saúde e Estudo. Dos alunos entrevistados, 61,2% deles creem que seu cérebro é capaz de aprender qualquer tipo de informação. 77% relataram que sentem prazer ao estudar dependendo da disciplina ou do conteúdo. Mas, 83,6% dos participantes disseram que estudam porque precisam e não porque querem. 56,6% dos alunos dormem em média 6h a 8h por noite. 47,4% não praticam atividades físicas e 17,1% não destinam tempo para atividades de lazer. 80,3% detectaram situações que os deixam ansiosos e a maioria delas está relacionada a provas e apresentações de trabalhos. Desses, 66,4% sentem necessidade de fazer um acompanhamento psicológico. 82,2% dos educandos não adotam uma rotina de estudos sistematizada. 59,2% estudam pelo menos 2h por dia. A maioria dos alunos (75,7%) escolhe um ambiente adequado para o estudo e 59,9% não fazem outra atividade enquanto está estudando. Outros dados relevantes sobre os discentes entrevistados são: 65,1% se concentram nas aulas, 29,6% realizam todas as atividades propostas pelos professores e 67,8% revisam o conteúdo somente um ou dois dias antes da avaliação. Os resultados mencionados acima são todos discutidos e explicados pela Neurociência. Com base nisso, conclui-se que este trabalho ajudará a Instituição Escolar avaliada a corrigir muitos aspectos na rotina dos alunos potencializando a aprendizagem.

Palavras-chaves: Neurociência – Educação – Aprendizagem.

 

ABSTRACT

Learning occurs from the modification of the brain. Therefore, Neuroscience is a valuable tool for Education. Based on the discoveries in this area of ​​Science, this paper aims to study the school situation of high school students at Colégio Sagrado Coração de Jesus in the city of Porto Nacional - TO. From the data collected, the institution will be able to plan and execute actions to improve the teaching-learning process. For this, an online questionnaire in the Google Docs format was applied to 152 students. The questions assessed three general aspects that directly influence learning: Mindset, Health and Study. Of the students interviewed, 61.2% of them believe that their brain is capable of learning any type of information. 77% reported that they enjoy studying while depending on the subject or content. However, 83.6% of the participants said that they study because they need it and not because they want it. 56.6% of students sleep an average of 6 to 8 hours a night. 47.4% do not practice physical activities and 17.1% do not allocate time for leisure activities. 80.3% detected situations that make them anxious and most of them are related to tests and work presentations. Of these, 66.4% feel the need for psychological counseling. 82.2% of students do not adopt a systematic study routine. 59.2% study at least 2 hours a day. Most students (75.7%) choose a suitable environment for the study and 59.9% do not do another activity while they are studying. Other relevant data about the interviewed students are: 65.1% focus on classes, 29.6% perform all activities proposed by teachers and 67.8% review the content only a day or two before the assessment. The results mentioned above are all discussed and explained by Neuroscience. Based on this, it is concluded that this work will help the evaluated School Institution to correct many aspects in the students routine, enhancing learning.

Keywords: Neuroscience - Education - Learning.

 

INTRODUÇÃO

 

As descobertas da Neurociência são de grande importância para fins diversos. O aprendizado é resultado de alterações nas conexões cerebrais. A memória, a atenção e também as emoções que condicionam a aprendizagem são objetos de estudo dessa área da Ciência. Conhecer o funcionamento do cérebro permite a compreensão de quais práticas pedagógicas e hábitos de estudo favorecem a aquisição de habilidades e competências.

Baseado nos princípios da Neurociência, o presente trabalho foi estruturado com o objetivo de analisar a realidade escolar dos alunos do Ensino Médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus na cidade de Porto Nacional, estado do Tocantins a fim de fornecer subsídios para a instituição planejar e executar ações que auxiliem alunos e professores, melhorando o processo de ensino-aprendizagem.

Para isso, foram entrevistados 152 alunos que cursavam a 2ª e 3ª séries do Ensino Médio. O questionário foi aplicado no mês de junho de 2019, através de um formulário on-line feito no formato Google Docs conforme o link descrito abaixo: https://docs.google.com/forms/d/1Lj70ojuDtkXmFKkfzM6xgpqvXVPNitr95Oo53oucz10/edit. As perguntas foram divididas em três grupos, avaliando três aspectos gerais: Mindset, Saúde e Estudo, respectivamente.

O Colégio Sagrado Coração de Jesus estabeleceu parceria com o presente trabalho visando avaliar os aspectos relacionados à aprendizagem dos alunos e a partir dos dados coletados, promoverem ações reflexivas e corretivas, com base na Neurociência, para potencializar os resultados escolares dos alunos. Por este motivo, o questionário foi subjetivo em algumas perguntas, instigando mais profundamente as dificuldades dos estudantes.

É importante ressaltar que antes dos alunos responderem a entrevista, a Coordenadora Pedagógica do Colégio apresentou aos alunos os motivos da aplicação do questionário pedindo seriedade e veracidade das respostas. Logo após isso, o mesmo foi liberado para ser preenchido pelos alunos interessados. A única identificação solicitada aos estudantes foi a série estudada para facilitar que a instituição planejasse as ações subsequentes.

 

O QUE É NEUROCIÊNCIA

 

A Neurociência é um campo de pesquisa que está sempre em pauta, em evolução, sendo continuamente estudado por se tratar do conjunto de órgãos que comanda um organismo vivo. Ela compreende o estudo anatômico e fisiológico do sistema nervoso e de seus processos de desenvolvimento e interação.

Além de compreender cada estrutura do sistema nervoso e suas respectivas funções, a Neurociência pesquisa a relação existente entre os nervos e a área psíquica, procura estabelecer uma ligação das emoções e pensamentos com o comportamento de uma pessoa, e estuda a capacidade cognitiva do indivíduo (raciocínio, memória e aprendizado).

A relevância desse campo da Ciência tem sido cada vez mais reconhecida e utilizada para fins distintos: médicos, biológicos, psicológicos, educacionais, tecnológicos e administrativos. A Neurociência abrange muitas áreas do conhecimento e isso se justifica no fato de que o cérebro está relacionado a todos os aspectos da vida de um ser.

Segundo Ventura (2010) a neurociência está em grande expansão, e foi eleita com destaque pelo Governo dos EUA como prioritária na década de 1990, que ficou conhecida como a “Década do Cérebro‟ (Library of Congress, 2010). O século XXI foi considerado por muitos como o século do cérebro, uma vez que grandes conquistas da humanidade estarão dirigidas para a compreensão das funções neurais humanas.

 

APRENDIZAGEM E NEUROCIÊNCIA

 

A neurociência vem despontando com estudos que podem auxiliar na compreensão dos aspectos envolvidos na aprendizagem. Segundo Relvas (2009), para entender o mecanismo de aprender, é preciso saber sobre o funcionamento do sistema nervoso central, que é o organizador dos comportamentos. Cada tipo de habilidade ou comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em particular.

A aprendizagem conforme Léo (2010) é resultado do crescimento e das alterações das células cerebrais, quando os axônios de uma célula recebem um potencial de longa duração com estimulações fortes. Para Herculano-Houzel (2013) o aprendizado consiste na modificação das conexões entre os neurônios, não somente fazendo conexões novas, mas eliminando o excesso de sinapses. Nosso cérebro seleciona as informações úteis e as fortalece gerando aprendizado e maturidade.

Conforme Tokuhama-Espinosa (2008 apud ZARO et al, 2010), o aprendizado é o resultado de dois fatores: memória e atenção. O primeiro, conforme Léo (2010) é o alicerce de todo o saber da existência do ser humano sendo a base da aprendizagem, pois são as experiências vividas e armazenadas, contidas na memória, que oportunizará a habilidade de mudar o comportamento do sujeito. É ela que capacita, abstrai, planeja, julga, critica e faz com que o sujeito permaneça atento.

Léo (2010) afirma ainda que, a memória está dividida em racional e emocional que se articulam através do sistema límbico, sendo este o responsável pelo prazer na aprendizagem. O hipocampo, parte desse sistema, é importante no mecanismo da memória, principalmente para transferir a memória de curto prazo para memória de longo prazo. O tálamo codifica, armazena e acessa conscientemente a memória de longo prazo, dirigindo a atenção da pessoa para a informação arquivada.

Herculano-Houzel (2013) ressalta que na adolescência ocorre uma grande quantidade de sinapses novas assim como na infância. Essa fase é um novo período de transformação do cérebro. Ele se reorganiza de modo que a substância cinzenta (local onde ficam os corpos dos neurônios) diminui provavelmente devido a eliminação de sinapses e a substância branca (local onde ocorrem as conexões) aumenta por causa do final da mielinização dos axônios.

A partir disso, a autora afirma que esse período da adolescência tem um potencial de grande aprendizado, de ampliação das habilidades cognitivas. O amadurecimento do córtex pré-frontal ocorre nesse período e gera novas capacidades como a atenção e o processamento de informações abstratas.

Relvas (2009 apud LÉO, 2010) ressalta fatores importantes sobre a aprendizagem:

 

Para que o sujeito armazene informações, é necessário que ocorram modificações permanentes nas sinapses das redes neurais de cada memória e, para a evocação de uma memória, é necessária a reativação de redes sinápticas de cada memória armazenada. É bom lembrar que as emoções, os níveis de consciência e o estado de ânimo podem inibir esses processos. A aprendizagem e a memória necessitam de mecanismos mediados pelas sinapses nervosas (RELVAS 2009 apud LÉO 2010, p. 19).

 

Para a Educação, a Neurociência contribui com informações importantes para auxiliar educadores e escolas a maximizarem o aprendizado dos alunos conforme cita Zaro et al. (2010):

 

Uma destas questões seria, por exemplo, buscar explicações sobre o papel das emoções no aprendizado, nos processos de tomada de decisão e nas várias possibilidades de motivação dos alunos para o aprendizado. Já para os educadores, estas informações seriam usadas para melhorar suas práticas em sala de aula. Poderiam, por exemplo, aproveitar o conhecimento já consolidado sobre as mudanças neuronais que ocorrem no cérebro, durante o aprendizado (área de pesquisa das Neurociências), e as técnicas e métodos de observação e documentação dos comportamentos observáveis (área de pesquisa da Psicologia), para fundamentar de forma consistente e verificável a eficiência de tais práticas (ZARO ET AL, 2010, p. 202-203).

 

Hardiman e Denckla (2009 apud ZARO, 2010) definem a Neuroeducação como um novo campo do conhecimento que integra “neurocientistas que estudam a aprendizagem e educadores que pretendem fazer uso de pesquisas desta natureza”. Os conhecimentos obtidos já são usados atualmente para planejar estratégias pedagógicas, produzir tecnologias educacionais e outros produtos que favorecem o processo de aprendizagem.

Tokuhama-Espinosa (2008 apud ZARO et al., 2010), enumera os 14 princípios básicos a serem usados como fio condutor da Neuroeducação:

 

Estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; stress impacta aprendizado; ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; estados depressivos podem impedir aprendizado; o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não ameaçador; as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e., intenções boas ou más); feedback é importante para o aprendizado; emoções têm papel-chave no aprendizado; movimento pode potencializar o aprendizado; humor pode potencializar as oportunidades de aprendizado; nutrição impacta o aprendizado; sono impacta consolidação de memória; estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devida à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; diferenciação nas práticas de sala de aula é justificada pelas diferentes inteligências dos alunos. (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008 apud ZARO et al., 2010, p. 204).

 

De posse desses e outros princípios abordados pela Neurociência, as instituições de ensino tem ferramentas para melhorar significativamente a aprendizagem dos alunos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Dos 152 alunos entrevistados, 55% cursavam a 3ª série do Ensino Médio e os demais a 2ª série. A primeira parte do questionário foi intitulada de “Mindset” e visava verificar como os estudantes se vêem e o quanto acreditam na sua capacidade de aprender.

A pesquisadora Carol Dweck do Departamento de Psicologia da Universidade de Standford afirma que o Mindset, o modo como uma pessoa pensa e as representações que tem de si mesmo, tem influência sobre sua capacidade de aprender e ter sucesso na vida acadêmica e profissional. Uma pessoa que apresenta um Mindset fixo evita desafios, desiste diante de um obstáculo, não valoriza o esforço, ignora feedbacks. Ao contrário, uma pessoa que possui Mindset de Crescimento busca desafios, persiste diante de obstáculos, vê o esforço como o caminho para a perfeição, aprende com críticas (DWECK, 2017).

A maior parte dos alunos entrevistados (61,2%) respondeu que acredita que seu cérebro é capaz de aprender qualquer tipo de conteúdo. Como tiveram a oportunidade de justificar a resposta negativa, a maioria mencionou a dificuldade de aprendizagem em algumas disciplinas e/ou conteúdos específicos.

A Neurociência comprova a plasticidade do cérebro humano. Inteligência, habilidades, competências, são construídas ao longo do tempo e depende do quanto e como esse órgão é utilizado. Há dificuldades, mas não incapacidades. Herculano-Houzel (2013) afirma que o controle das habilidades do seu cérebro pertence a cada indivíduo e quanto mais uma área cerebral é ativada, mais rápida e mais forte ela fica. Ela ainda acrescenta que o adolescente deve acreditar na sua própria capacidade de aprender e que faz muita diferença se os professores, a escola e a família também acreditarem.

Estudos comprovam que o talento se faz com a prática:

 

No imaginário popular, a genialidade é um traço inato, não adquirido. Já a ciência mostra que a verdadeira expertise é fruto, sobretudo, de anos de prática intensa e orientação dedicada. E não é uma prática qualquer: para atingir níveis estelares de desempenho, o indivíduo precisa superar reiteradamente sua capacidade presente e sair de sua zona de conforto. Essa disciplina é crucial para a conquista da expertise em todo e qualquer campo, inclusive o da gestão e o da liderança.

As conclusões foram tiradas por Ericsson, professor de psicologia da Florida State University; Prietula, professor da Goizueta Business School; e Cokely, pesquisador do Max Planck Institute for Human Development. Juntos, os três examinaram dados sobre o comportamento de craques em diversas áreas – dados reunidos por mais de cem cientistas. Reiteradamente, o que distinguia experts na medicina, no xadrez, na literatura, no esporte, na música e em outros campos era o hábito da prática deliberada – a busca incessante do domínio de algo até ali fora de seu alcance. Um expert analisa sem parar o que fez de errado, ajusta sua técnica e trabalha arduamente para corrigir os próprios erros (ERICSSON; PRIETULA; COKELY, 2007, p. 1).

 

Quando foram questionados sobre o prazer em estudar, 77% dos entrevistados relatam que depende da disciplina ou do conteúdo estudado (Gráfico 1). Mas, 83,6% relatam que estudam porque precisam e não porque querem.

Gráfico 1 – Quantidade de alunos que sentem prazer em estudar.

 

Há uma área em nosso cérebro denominada sistema de recompensa. Ela funciona por antecipação do prazer do que pode dar certo gerando motivação. Herculano-Houzel (2013) ressalta que esse sistema é essencial para a aprendizagem porque faz com que o aluno se exponha a situações/oportunidades para aprender; e facilita fisicamente o processo de aprendizado no cérebro porque propicia as modificações nas sinapses. Na adolescência, o sistema de recompensa perde de 30 a 50% de sua sensibilidade e é por este motivo que o tédio e a desmotivação são frequentes.

Suzana Herculano-Houzel (2013) completa dizendo que novidade e variedade promovem a motivação e o aprendizado. A presença de coisas novas aciona automaticamente no cérebro o locus coeruleus, estrutura que deixa a pessoa acordada e atenta. Esta, por sua vez, ativa outra área no sistema de recompensa, que direciona nosso interesse para objetos novos.

Segundo Suzana, descobrir respostas e soluções é um estímulo para o sistema de recompensa. Retorno positivo e expectativas positivas são importantes para que o indivíduo saiba que acertou. E acrescenta que o elogio é poderoso para a motivação. Sabendo que o esforço foi válido, ele continuará persistindo e melhorando. Também importantes são as críticas, para que o indivíduo saiba onde errou.

A segunda etapa do questionário avaliou alguns aspectos da saúde que interferem diretamente na aprendizagem. No gráfico 2 observa-se que 56,6% dos alunos dormem em média 6h a 8h por noite. Uma quantidade relevante de alunos não dorme o tempo adequado.

Gráfico 2 – Tempo médio que os alunos entrevistados dormem por noite.

 

 

Dos alunos entrevistados, 35% relataram que dormem somente no período noturno. O gráfico 3 ilustra o tempo que os alunos entrevistados dormem durante o dia. É possível observar que quase 50% deles dormem mais de 1h no período diurno.

Gráfico 3 – Tempo médio que os alunos dormem durante o dia.

 

O sono afeta a consolidação das memórias. Enquanto um indivíduo dorme, ele processa as informações que adquiriu. Nesse processo, várias sinapses se perdem e outras são fortalecidas. Por isso é importante solidificar as informações que precisam ser memorizadas. Não revisar o conteúdo estudado antes de dormir é um malefício, porque muitas delas serão eliminadas no processo de descanso. Por outro lado, não dormir também é um prejuízo tendo em vista que as sinapses fracas precisam ser removidas para que haja novas aprendizagens, pois a memória de trabalho é limitada.

O gráfico abaixo mostra que 47,4% não tem o hábito de praticar atividades físicas. O movimento potencializa a aprendizagem enquanto o estresse e ansiedade a dificulta. A prática de atividades físicas ajuda a minimizar esses sintomas e, portanto, favorece o aprendizado. Léo (2010) afirma que exercícios físicos melhoram a oxigenação das células do cérebro promovendo melhor memória e a capacidade de raciocinar.

Gráfico 4 – Frequência da prática de atividade física.

 

De forma bem semelhante à prática de atividades físicas, o lazer contribui para a qualidade de vida e a saúde, combate o estresse, trazendo benefícios físicos, mentais e psicológicos. No gráfico 5 fica visível que a maioria dos estudantes destinam tempo para atividades de lazer.

 

Gráfico 5 – Dedicação de uma parte do tempo para atividades de lazer.

 

O Gráfico 6 demonstra a regularidade na ingestão de água pelos discentes durante o período de estudo. A ingestão de água influencia a aprendizagem uma vez que ela altera o funcionamento das sinapses.

 

Gráfico 6 – Quantidade de alunos que tomam água regularmente durante o período de estudo.

 

As estruturas do sistema nervoso, bem como as demais partes do corpo humano, são formadas por água e essa substância é fundamental para o metabolismo celular. A nutrição também influencia a aprendizagem. O uso do cérebro necessita de energia e por isso é necessário se alimentar bem.

É possível observar no gráfico 7 que a maioria dos alunos avaliados se consideram ansiosos. A ansiedade bloqueia as oportunidades de aprendizado e estados depressivos podem impedir que ele aconteça.

Gráfico 7 – Quantidade de alunos que se consideram ansiosos.

 

Os dados coletados revelaram que 80,3% dos alunos já detectaram as situações que os deixam ansiosos, sendo que a maioria delas está relacionada a provas e apresentações de trabalhos. Eles relataram também que utilizam algumas técnicas para controlar a ansiedade sendo a meditação e respiração as mais citadas.

Desses alunos, 38,9% disseram que adotam alguma prática para minimizar os sintomas da ansiedade e 66,4% sentem necessidade de fazer um acompanhamento psicológico para tratamento desse distúrbio. Inclusive, 34,5% afirmaram que já fizeram ou fazem esse acompanhamento e alguns usam medicamentos para ajudar a controlar os sintomas.

Mais de 50% dos alunos responderam que se sentem excessivamente cobrados pela escola, pela família e também por eles mesmos. Essa informação, no questionário, não foi vinculada diretamente com a ansiedade, mas é um dado que foi considerado pela Instituição Escolar estudada por saber da sua relevância.

Os fatores emocionais influenciam significativamente a aprendizagem porque o sistema límbico é responsável pela gestão das emoções, memória e aprendizagem. Léo (2010) cita que

 

Sujeitos deprimidos possuem o hipocampo menor. O estresse é o responsável pela supressão da neurogênese no hipocampo. Isso ocorre pela falta de produção rápida de neurônios a fim de substituir aqueles que morrem. [...] Na assimilação, o hipocampo é ativado e seleciona os aspectos importantes para tudo o que for necessário ser armazenado. Tais informações fazem intercâmbio entre os neurônios, saindo o hipocampo de cena e entrando o lobo frontal, este é o coordenador geral das memórias, classificando-as, e dando origem ao raciocínio (LÉO, 2010, p. 19-20).

 

O sistema de recompensa funciona por antecipação, mas também é ativado por lembranças boas ou ruins do passado ou projetando uma situação emocional para o futuro. Nossos pensamentos podem influenciar nossas emoções de modo que pensar em algo ameaçador pode desencadear uma resposta emocional indesejada.

Nosso cérebro é preparado para procurar por ameaças ou receber recompensas. Quando ele detecta uma ameaça em potencial ele libera hormônios (adrenalina e cortisol) nos preparando para uma situação de luta ou fuga. Quando detecta recompensas, o cérebro libera dopamina, oxitocina ou serotonina, processos químicos que nos fazem sentir bem e nos motivam a continuar na mesma tarefa ou comportamento.

A terceira parte do questionário tratava especificamente do tempo de estudo e da qualidade deste. A maioria dos alunos (82,2%) não adota uma rotina de estudos sistematizada com horários e dias definidos. 78,3% dos alunos consideram que esse tempo que eles destinam ao estudo não é suficiente. O gráfico 8 mostra a quantidade de tempo extraclasse dispensado aos estudos pelos estudantes entrevistados. Observa-se que 59,2% estudam pelo menos 2h por dia.

Gráfico 8 – Quantidade de tempo destinado ao estudo extraclasse.

 

Foi questionado aos estudantes sobre a quantidade de vezes, em média, que o estudo de um determinado conteúdo é repetido. É possível verificar no gráfico abaixo que, aproximadamente 40% repetem 2 (duas) vezes, mas 21,7% não repete e 25% só repete uma única vez.

Gráfico 9 – Repetição, em média, do estudo de um determinado conteúdo.

 

O aprendizado remove ou enfraquece as sinapses que não são usadas e fortalece o que é funcional. Quanto mais um determinado conteúdo é estudado, os axônios vão sendo envoltos por bainha de mielina e isso aumenta a fidelidade e a velocidade dos impulsos elétricos. Raciocinar várias vezes fortalece as sinapses e as informações são armazenadas na memória. A prática produz a competência.

Para ajudar a aprender um determinado conteúdo, 61,1% dos alunos afirmaram que utiliza alguns métodos sendo os mais citados foram: assistir vídeo aulas, fazer resumos e resolver exercícios. Outros métodos interessantes foram mencionados como fazer mapa mental, paródias e ensinar outros colegas ou falar o conteúdo em voz alta. Quanto maior o número de zonas cerebrais ativadas, maior o aprendizado. A interação favorece o desenvolvimento cerebral.

A tabela 1 mostra que 65,1% dos alunos entrevistados se concentram nas aulas, apenas 29,6% realizam todas as atividades propostas pelos professores, 11,2% revisam o conteúdo da aula do dia enquanto 67,8% revelaram que revisa o conteúdo somente um ou dois dias antes da avaliação e 46,7% após uma avaliação, sempre verifica onde e porque errou.

 

Tabela 1 – Práticas regulares dos alunos no contexto escolar.

 

Atenção e prática, método e motivação são fatores que influenciam o aprendizado. Praticar, experimentar é uma oportunidade para que o cérebro se desenvolva. A atenção é o filtro usado para decidir qual informação será processada e memorizada. O cérebro não consegue representar o que ele nunca viu. Também não é possível aprender fatos isolados. Modelos, comparações, personificação, analogias, dentre outros, são metodologias eficazes para a aprendizagem.

Quando questionados quanto à realização de pausas para descanso durante o período de estudo, 67,1% afirmaram que realiza e dos demais, 11,8% disseram que não faz porque não sentem necessidade. As pausas durante o estudo são fundamentais. A mente precisa descansar. À medida que o tempo passa nossa capacidade de concentração tende a diminuir e consequentemente a assimilação do conteúdo também.

Outros dados relevantes que foram coletados são: 75,7% dos estudantes relataram que escolhem um ambiente adequado para o estudo e 59,9% não fazem outra atividade enquanto está estudando. A maioria dos 40,1% restante escuta música enquanto estudam. O cérebro humano não é capaz de realizar multitarefa. Só é possível fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo se uma delas for automatizada.

Existem ambientes mais propícios para a aprendizagem. Mas não existe um ambiente específico e único. Cada pessoa deve encontrar seu espaço ideal para o estudo. Aprender se torna mais fácil onde há menos distratores. A atenção é limitante para todo indivíduo. Ela é a porta de entrada para a memória de trabalho para que a informação seja processada e relacionada a outras informações e daí vai para sistemas mais duradouros de memória.

 

CONCLUSÃO

 

A Neurociência analisa a capacidade cognitiva do indivíduo, auxiliando na compreensão dos aspectos envolvidos na aprendizagem. Com base nas descobertas desse campo da Ciência, este trabalho analisou a situação escolar dos alunos do Ensino Médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus na cidade de Porto Nacional – TO.

A partir dos dados coletados pela entrevista com os educandos e dos conhecimentos da Neurociência, conclui-se que o conteúdo deste artigo é relevante para corrigir muitos aspectos na rotina de estudo deles: desde o local de estudo e o tempo dispensado para ele até a qualidade das ações dentro e fora da sala de aula.

Ações conscientizadoras poderão ser planejadas e executadas com professores, alunos e pais para potencializar a aprendizagem dos estudantes. Utilizando as informações presentes neste trabalho, os estudantes poderão optar por hábitos de vida mais saudáveis. Isso tanto no aspecto físico quanto no emocional e mental, trazendo benefícios que vão além da dimensão cognitiva.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DWECK, Carol. Mindset: a nova psicologia do sucesso. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2017.

 

 

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ERICSSON, K. A.; PRIETULA, M. J.; COKELY, E. T. O cultivo de um expert. Harvard Business Review, Brasil, jul. 2007. Disponível em: https://hbrbr.uol.com.br/o-cultivo-de-um-expert/. Acesso em: 22 de janeiro 2020.

 

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HERCULANO-HOUZEL, S. Neurociência na Educação. 2013. Disponível em: https://archive.org/details/Neurocienciasnarducao. Acesso em: 25 de abril de 2019.

 

 

LÉO, Maria de Fátima Gomes. Neurociência e Educação. 2010. Monografia (Pós-graduação em Psicopedagogia) - Universidade Candido Mendes, Niteroi, 2010. Disponível em: https://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/n203515.pdf. Acesso em: 25 de janeiro de 2020.

 

 

PSICOLOGIAS DO BRASIL. O cérebro precisa se “emocionar” para aprender. Jun, 2018. Disponível em: https://www.psicologiasdobrasil.com.br/o-cerebro-precisa-se-emocionar-paraprender/?fbclid=IwAR0DkKRc5aCTJBkmV7L_foZlu36Ct3a7JnVrWsXdGRS6Z0_MmdPA93-aECw. Acesso em: 20 de janeiro de 2020.

 

 

RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação. 4 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

 

 

VENTURA, D. F. Um retrato da área de Neurociência e comportamento no Brasil. Brasília, v. 26. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000500011. Acesso em: 25 de janeiro 2020.

 

 

ZARO M. A. et al. Emergência da Neuroeducação: a hora e a vez da neurociência para agregar valor à pesquisa educacional. Ciências & Cognição, v 15. 2010. Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v15_1/m276_10.pdf. Acesso em: 24 de janeiro de 2020.