Buscar artigo ou registro:

PROCESSO DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Simone Ângela Menegassi[1]

Artigo Científico apresentado à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação Infantil e Neurociência.

 

 

RESUMO

Este estudo revela o processo de alfabetização e letramento na Educação Infantil, além de uma breve abordagem de como o mesmo precisa evoluir nos anos posteriores da vida escolar do aluno. Por meio desse trabalho promoveu-se uma reflexão sobre como deve ser a prática pedagógica do professor na Educação Infantil e se ela tem contribuído na aprendizagem dessa etapa da Educação Básica. Além disso, enfatizou-se a importância do planejamento docente, a fim de diagnosticar, avaliar e elaborar metodologias de ensino, com fundamentação e objetivos adequados às dificuldades e aos avanços dos alunos. Diante das dificuldades em leitura, interpretação e produção de textos que muitos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental (e até do Ensino Médio) apresentam, comprovadas através das provas ou exames estaduais e nacionais, observou-se que ainda existem muitas falhas no processo de alfabetização e letramento e falta uma prática pedagógica que explore as linguagens oral e escrita, desde a Educação Infantil. A fundamentação teórica desse estudo mostra que a metodologia aplicada no processo de alfabetização e letramento deve estar adequada à realidade do aluno e relacionada aos conhecimentos que ele traz da vida familiar e social, pois uma criança aprende por meio das relações que estabelece com seu ambiente.

Palavras-chave: Alfabetização e Letramento. Educação Infantil. Metodologia.

 

ABSTRACT

This study reveals the process of literacy and literacy in Early Childhood Education, in addition to a brief approach to how it needs to evolve in the later years of a student's school life. Through this work, a reflection was carried out on how the teacher's pedagogical practice in Child Education should be and whether it has contributed to the learning of this stage of Basic Education. In addition, the importance of teaching planning was emphasized in order to diagnose, evaluate and elaborate teaching methodologies, with adequate rationale and objectives for students' difficulties and progress. Faced with the difficulties in reading, interpreting and producing texts that many students of the final years of Elementary School (and even high school) present, proven through state and national tests or exams, it was observed that there are still many flaws in the process of Literacy and literacy and lack a pedagogical practice that exploits oral and written languages, since Early Childhood Education. The theoretical basis of this study shows that the methodology applied in the process of literacy and literacy must be adequate to the reality of the student and related to the knowledge that he brings from family and social life, because a child learns through the relationships he establishes with his environment.

Keywords: Literacy and Literacy. Child education. Methodology.

 

Introdução

 

A organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil deve estar voltada ao desenvolvimento da autonomia da criança, de modo que sua capacidade de construir pensamentos e conhecimentos possa gerar reflexões e atitudes que promovam o crescimento de sua vida individual, escolar e social.

O processo de alfabetização e letramento tem sido um grande desafio a ser enfrentado pelo professor, desde os primeiros anos da Educação Básica. Nesse sentido, faz-se necessário entender que a Alfabetização não pode ser uma aprendizagem mecânica e que ela deve estar ligada ao Letramento, ou seja, não basta que o ser humano saiba somente ler e escrever, mas que ele possa experimentar e dominar as práticas de leitura e de escrita que circulam na sociedade.

Com base nos resultados, ainda insuficientes, das avaliações nacionais e regionais realizadas pelos alunos do Ensino Fundamental e Médio, percebe-se a necessidade de compreender como está acontecendo a prática pedagógica do professor com relação à Alfabetização e ao Letramento dos alunos das séries iniciais, pois grande parte dos alunos das séries posteriores tem demonstrado muita deficiência em leitura, interpretação e produção de textos.

 

 

Para atuar e ter sucesso junto a crianças de 0 a 6 anos e em fase inicial de alfabetização há que se repensar alguns aspectos que se relacionam diretamente com a prática do professor. Sua postura e as considerações sobre sua influencia no processo são fundamentais. Assim, uma prática pedagógica que se sustente em teorias e praticas condizentes com um desenvolvimento construtivo das crianças faz-se fundamental de ser refletida. (MATERIAL DIDÁTICO da UCAM: “Teorias e Práticas da Educação Infantil” – p. 58).

 

 

Muitos fatores influenciam no surgimento dessa situação. No entanto, a prática pedagógica do professor, que deve ser enriquecida com objetivos definidos, conteúdos de qualidade, metodologias contextualizadas à realidade dos alunos, além de avaliações críticas e reflexivas, pode ser considerado o principal deles.

Sabe-se que ainda há insuficiência de formação continuada do professor para que haja maior compreensão de como deve acontecer esse processo escolar de forma adequada, pois a maneira como ele é conduzido pode estar desvinculada do contexto social no qual os alunos estão inseridos. “Trata-se de compreender o processo que as crianças estão vivendo, a cada momento, ajudando para que o diálogo entre professor e aluno não seja destruído”. (Material Didático da UCAM).

É fato que as atividades de fala, escrita e leitura são primordiais na aquisição de conhecimentos. Desde o nascimento, o ser humano utiliza a linguagem como meio de comunicação e aprende por meio das relações que estabelece com o seu ambiente. Dessa forma, o processo de alfabetização nunca acaba. Diante disso, é importante enfatizar que a Educação Infantil é a etapa escolar que deixará marcas profundas na vida da criança.

O professor alfabetizador é o mediador entre essa etapa e os demais anos de estudos dos alunos. Portanto, o trabalho de alfabetização e letramento deve explorar todos os meios de leitura e escrita existentes na sociedade para que o aluno possa exercer as práticas sociais desse processo no decorrer de sua vida individual, escolar e social.

 

Desenvolvimento

 

Os movimentos de renovação da educação já produziram uma infinidade de pesquisas, seminários, livros, artigos, teses, entre outros meios de estudos e divulgação de resultados. Conhecendo os métodos de alfabetização e letramento mais utilizados e que mostraram resultados positivos, além de comparar e avaliar o desempenho dos alunos diante de cada metodologia aplicada em sala de aula, o professor terá condições de definir, com mais clareza, porque muitos alunos apresentam defasagens na leitura, na escrita e na interpretação e produção textual.

Muitos especialistas e pesquisadores afirmam que se faz necessário perder o medo do fracasso e do desconhecido para que haja evolução na prática pedagógica do professor alfabetizador, compreender o que está acontecendo com o processo de alfabetização e realizar um trabalho significativo para o aluno, que venha contribuir de forma interativa e contextualizada. “Para aprender a ler e a escrever, é preciso aprender a observar e a fazer levantamento e análise de hipóteses com o objetivo de buscar solucionar os conflitos cognitivos e efetivar a aprendizagem”. (Material Didático da UCAM – Apostila “Práticas de Alfabetização e Letramento”, p. 6).

Nos dias atuais, em que as pessoas estão cada vez mais envolvidas com os meios tecnológicos e que a leitura e a escrita têm se revelado de modo insuficiente para corresponder adequadamente às demandas da sociedade, é necessário que a criança inicie, já na Educação Infantil, o seu Letramento, isto é, as experiências de conviver, experimentar e dominar as práticas de leitura e de escrita que circulam na sociedade.

 

 

Para Emilia Ferreiro, o importante é compreender o desenvolvimento das ideias da criança sobre a escrita como um processo evolutivo. Na prática tradicional, a criança sabe ou não sabe, pode ou não pode, equivoca-se ou acerta. Isso torna muito difícil compreender que a criança está apresentando uma evolução e que certas coisas são normais dentro da evolução, ainda que ela cometa "erros" em relação à escrita adulta. (MATERIAL DIDÁTICO da UCAM: “Teorias e Práticas da Educação Infantil” – p. 59).

 

 

Ferreiro (2001, p. 30), deixa claro que os saberes que o aluno traz para a escola, e como eles devem ser trabalhados pelos professores, fazem parte da linguagem no processo de alfabetização”. Sendo assim, os processos de aquisição da leitura e da escrita começam antes da criança ser introduzida na escola e o professor não deve apresentar textos desconectados do contexto escolar e social.

 

 

O processo de alfabetização estende-se ao longo de toda a escolaridade e tem início muito antes do ingresso da criança na escola, em suas primeiras tentativas de compreender o universo letrado que a rodeia. Também implica tomar como ponto de partida o texto revestido de função social, e não mais as palavras ou muito menos as sílabas sem sentido. (LUIZE, Revista Vila XXI, Jan/2000).

 

 

Segundo Soares (Jornal do Brasil, Nov/2000), “letrar é mais que alfabetizar”. Conforme a criança vai se desenvolvendo em tamanho e maturidade, vai também adquirindo mais consciência do mundo e criando a necessidade, cada vez maior, de agir sobre os objetos humanos e imitar os adultos.  

Assim acontece no processo de alfabetização e aquisição de novos conhecimentos, pois, de acordo com estudiosos sobre o tema, é necessário não desmerecer a importância de ensinar a ler e a escrever, porém reconhecer que isso não basta. E ainda, a alfabetização e o letramento não devem ser encarados de forma distinta, ou seja, a Alfabetização é um componente do Letramento.

 

 

A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só no papel, mas também através dos meios eletrônicos. Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista ou um jornal e se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, ela é alfabetizada, mas não é letrada. (SOARES, Jornal do Brasil - Nov/2000).

 

 

Analisando as experiências já divulgadas sobre a alfabetização e a formação de professores, verificou-se como a criança convive e se revela de forma mais significativa na vida familiar e social se for alfabetizada e letrada com metodologias ligadas à utilização de tudo o que ela já conhece. Tanto as crianças das classes mais favorecidas, quanto àquelas residentes nas camadas populares da sociedade, convivem diariamente com práticas de leitura e escrita, ou seja, vivem em ambientes de Letramento. Portanto, esse processo deve prosseguir por toda a vida.

            A formação continuada do professor vai muito além da Graduação, Especialização ou dos saberes teóricos em sala de aula. O conhecimento das questões históricas, sociais e culturais da prática educacional, o desenvolvimento dos alunos nos aspectos afetivo, cognitivo e social, bem como a reflexão crítica sobre o seu papel diante dos alunos  e da sociedade, são elementos e características indispensáveis no processo de alfabetização e letramento e no trabalho docente.

            De acordo com estudos desse curso de Especialização (Educação Infantil e Neurociências), “o professor deve sempre interpretar a produção gráfica das crianças de maneira positiva”. Sendo assim, o planejamento é a forma do professor organizar os pensamentos, as ações e as intenções, traçando caminhos para alcançar os objetivos propostos. Além disso, é necessário que o professor revise as atividades que planejou ou as que já foram realizadas em sala de aula, refletindo se as mesmas foram adequadas ao interesse e à necessidade dos alunos.

Vasconcellos (2000, p. 35) diz: “Planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de acordo com o previsto; é buscar fazer algo incrível, essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal”. E acrescenta (2000, p. 80): “O planejamento é o processo contínuo e dinâmico de reflexão, de tomada de decisão, colocação em prática e de acompanhamento”.

Analisando mais profundamente a linguagem escrita no processo de alfabetização durante a Educação Infantil, deve ficar claro para o professor que nesses primeiros anos de escolaridade não é necessário antecipar a aprendizagem ou acelerar esse processo.

 

 

Muito antes de serem capazes de ler, no sentido convencional do termo, as crianças tentam interpretar os diversos textos que encontram ao seu redor (livros, embalagens comerciais, cartazes de rua), títulos (anúncios de televisão, estórias em quadrinhos, etc.). (FERREIRO, 1992, p. 69).

 

 

Com relação a esse assunto, os estudiosos deixam claro que as crianças da Educação Infantil descobrem sobre a língua escrita antes de aprender a ler. Essa afirmativa se baseia em estudos nos quais estabelecem comparação entre a aquisição da linguagem oral e da linguagem escrita, ou seja, assim como as crianças adquirem a linguagem oral quando envolvidas em contextos comunicativos e quando essa linguagem é significativa para elas, da mesma forma o uso constante e significativo da linguagem escrita possibilita e enriquece o seu processo de alfabetização no decorrer do processo escolar e educativo. “Desse modo percebe-se que a alfabetização é contínua, não possui um ponto final, é um processo constante de transformação”. (MATERIAL DIDÁTICO da UCAM: “Práticas de Alfabetização e Letramento” – p. 10).

 

 

Quando uma criança rompe a barreira do código e entende como a língua escrita funciona, ela inicia sua caminhada dentro do letramento, pois já é capaz de decodificar símbolos escritos, de captar o sentido de um texto escrito, de fazer comparações, de emitir conclusões, de fazer avaliações, de ampliar o sentido do texto, entre outros (...). (MATERIAL DIDÁTICO da UCAM: “Práticas de Alfabetização e Letramento” – p. 8).

 

 

Com relação à linguagem oral, destacada por meio da fala, da escuta, da interpretação e da compreensão, que acompanham todas as interações das crianças em suas práticas sociais, é um dos meios mais importantes, senão o maior, de se apropriar da cultura familiar e social e disseminá-la dentro da sala de aula.

É através da fala que as crianças, quando ingressam na escola, levam as marcas da classe social, da origem e da identidade cultural, nas quais nasceram e foram criadas. “Por isso a alfabetização exige a aquisição de um conjunto de habilidades que contemplem as diferentes facetas da língua”. (Material Didático da UCAM – Apostila “Práticas de Alfabetização e Letramento”, p. 6).

Os conhecimentos, as crenças e os valores também serão repassados por meio da linguagem oral. Essa variedade linguística deve ser aproveitada pelo professor que atua na Educação Infantil, de forma consciente e natural, pois a forma culta de falar vai sendo melhorada gradativamente, sem discriminações ou preconceitos. Tudo isso faz parte do processo de alfabetização e letramento do aluno.

 

 

A escola, incorporando esse comportamento preconceituoso da sociedade em geral, também rotula seus alunos pelos modos diferentes de falar. (...) Em outras palavras, um se torna o aluno “certinho” porque é falante do dialeto de prestígio, o outro é um aluno carente (“burro”) porque é falante de um dialeto estigmatizado pela sociedade. (CAGLIARI, 1993, p. 82).

           

 

            Contudo, para que o professor alfabetizador possa contribuir de forma eficiente na continuidade do processo de ensino e aprendizagem das crianças que frequentam a Educação Infantil ele deve desenvolver uma prática pedagógica livre de preconceitos relativos à linguagem oral das crianças que vivem nas classes populares e acolher os alunos com toda a bagagem cultural que trazem para a escola. Assim, também estará promovendo a alfabetização e o letramento.

Segundo a Mestra em Educação, Edna Castro de Oliveira, “de nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável a mudanças” (1996, p.10). Já, Freire (1996, p. 50) declara: “como professor crítico, sou um aventureiro responsável, predisposto à mudança, à aceitação do diferente”. Dessa forma, o professor é capaz de intervir no mundo, realizando várias ações, como exemplos de dignidade e ética. As mudanças poderão ser lentas e as situações devem melhorar, ou podem até piorar, mas é essencial que ele esteja sempre atento e disposto a evoluí-las.

           

Conclusão

 

Considerando as pesquisas de grandes educadores e alfabetizadores, o processo educacional, que envolve a alfabetização e o letramento, nunca termina. Sendo assim, o professor precisa ser letrado em sua área de conhecimento, dominando a produção escrita, sendo bom leitor e interpretador, além de um bom produtor de textos.

Para que o professor seja capaz de desenvolver o processo de alfabetização e letramento de seus alunos, ele precisa conhecer as características do mesmo e participar de cursos de formação continuada voltados a esse tema, bem como cursos relacionados à formação docente que ajudem os alunos a serem bons leitores, interpretadores e produtores de texto.

Diante dos problemas enfrentados no processo educacional, especialmente na alfabetização das séries iniciais, necessita-se de soluções que ajudem na construção do conhecimento, com educação de qualidade e que prepare o ser humano para a vida, pois as atividades de fala, escrita e leitura são muito importantes nesse processo.

Para os educadores, que pretendem assumir os desafios dessa revisão sobre o processo de alfabetização e letramento, é fundamental que não deixem de ser críticos e criativos, considerando ou desconsiderando todos os pontos estudados, pois não podem pensar que todas as informações, pesquisas e experiências necessárias a essa prática docente já estejam analisadas e finalizadas.

Portanto, esse tema precisa estar sempre em discussão nos encontros de formação, no planejamento de conteúdos e atividades de sala de aula, nas reflexões e questionamentos sobre a prática pedagógica, nas pesquisas e também nos seminários e documentos científicos redigidos e publicados. Desse modo, a educação não será privilégio de poucos e renderá valores significativos na vida de cada cidadão.

 

REFERÊNCIAS

 

 

CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 1993.

 

FERREIRO, E. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2001.

 

______. Alfabetização em Processo. 8ª ed. – São Paulo: Cortez, 1992.

 

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

LUIZE, A. Texto com sentido. Revista Vila XXI, São Paulo, Edição Especial do Informativo do Centro de Estudos da Escola da Vila, janeiro 2000. Disponível em: http://www.vila.org.br/revista_vila_21/alfabetizacao. Acesso em 19 de julho de 2016.

 

SOARES, M. Letrar é mais que alfabetizar. Jornal do Brasil, 26 nov. 2000. Disponível em: http://intervox.nce.ufrj.br/%7Eedpaes/magda.htm. Acesso em 17 de julho de 2016.

 

UCAM – Universidade Candido Mendes – Teorias e Práticas da Educação Infantil e Práticas de Alfabetização e Letramento. (Material didático do Curso de Especialização em Educação Infantil e Neurociência). Impressão e Editoração: Instituto Prominas.

 

VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São Paulo, Libertad, 2000.

 

 

 

 

 



[1] Graduada em Normal Superior - FAEL (Faculdade Educacional da Lapa). Pós-graduada em Educação Infantil e Neurociência pela Universidade Cândido Mendes.