ENSINAR QUÍMICA: UM DESAFIO QUE EXIGE CRIATIVIDADE
Altair Vieira Marinho1
Rosangela Arlete Siqueria2
RESUMO
Tendo em vista a complexidade que envolve as disciplinas voltadas para as ciências exatas, o ensino de química pela sua imprescindibilidade na vida das pessoas requer criatividade para ser ensinada e consequentemente aprendida. Este artigo tem por objetivo evidenciar possibilidades do ensino de química aliada à formas que chamam a atenção dos estudantes e que permitem que a relação ensino-aprendizagem se concretize. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com base na experiência docente de dois docentes do município de Poconé - MT que lecionam Química e artes respectivamente nas escolas de ensino público . O artigo se justifica por evidenciar que a criatividade pode permitir a aprendizagem de conteúdos tidos como complexos, mais que são de grande importância na vida estudantil dos discentes. Como resultado temos que a relação ensino e aprendizagem passa necessariamente pela criatividade e pela motivação.
Palavras chave: Ensino- Aprendizagem. Química. Criatividade. Motivação.
ABSTRACT
In view of the complexity that involves disciplines focused on the exact sciences, teaching chemistry for its indispensability in people's lives requires creativity to be taught and consequently learned. This article aims to highlight the possibilities of teaching chemistry combined with ways that attract the attention of students and that allow the teaching-learning relationship to materialize. This is a bibliographic research based on the teaching experience of two teachers from the municipality of Poconé - MT who teach Chemistry and Arts respectively in public schools. The article is justified by showing that creativity can allow the learning of contents considered as complex, more than they are of great importance in the students' student life. As a result, the relationship between teaching and learning necessarily involves creativity and motivation.
Keywords: Teaching-Learning. Chemistry. Creativity. Motivation.
INTRODUÇÃO
Conceito a importância da Química, os conceitos de matéria e suas propriedades, tais como a energia, substâncias e misturas além das unidades e conversão de unidades de massa, volume, temperatura, pressão assim como o estudo dos elementos químicos e suas aplicações.
Também a teoria atômica moderna, radioatividade a estrutura eletrônica e periodicidade química, as ligações químicas e funções químicas inorgânicas. Tudo isso fazem parte do rol de conteúdos ligados à química no Ensino Médio a fim de que o estudante possa:
Compreender as transformações químicas numa visão macroscópica;
Relacionar os fenômenos naturais com o seu meio.
Articular a relação teórica e prática, permitindo a ampliação no cotidiano e na demonstração dos conhecimentos básicos da Química;
Ler, interpretar e analisar os tópicos específicos da Química;
Desenvolver diversos modelos de sistemas químicos relacionados com o seu cotidiano;
Selecionar e organizar ideias sobre a composição da matéria;
Fazer uso dos gráficos e tabelas com dados referentes às leis das combinações químicas e estequiométricas.
Contudo, fazer materializar tais intenções não se caracteriza como uma tarefa fácil ou simples. Daí por que é importante fazer uso da criatividade, a fim de atrair o estudante para a aprendizagem de forma prazerosa. Nesta direção a arte se apresenta como um fator de significativa importância na relação entre ensino e aprendizagem de química.
A Arte é um componente obrigatório no ensino básico, entretanto a oferta da disciplina na grade normal, não contempla toda a extensão e complexidade que envolve essa área do conhecimento. O oferecimento da Arte como uma disciplina optativa, cria a possibilidade de preencher a lacuna existente, principalmente no que concerne a produção artística.
A execução de obras artísticas, nas suas diversas modalidades, exige um comprometimento individual e coletivo por parte dos que estão envolvidos no processo, o que não é possível nas turmas normais: a diversidade de interesses e aptidões é grande em cada turma de alunos.
Além disso, cada modalidade artística requer conhecimento específico de cada área, e atualmente a realidade mostra que são raros os professores que conseguem desempenhar com eficiência pelo menos as três modalidades básicas. Diante dessa realidade é necessário que haja um espaço específico para cada modalidade, a fim de possibilitar a produção, inicialmente nas modalidades: Música, Teatro e Artes Visuais.
O que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais Sobre o Ensino de Química
A química evidencia por sua natureza uma visão de complexidade. Fazemos parte de um mundo complexo, em que as especialidades nos apresentam certas a imprescindibilidade de tratar dos problemas da vida (MORIN, 2006). É neste sentido que a educação se apresenta como possibilidade para criar novas formas de encarar o conhecimento, ou seja, cada disciplina, partindo de suas áreas específicas de estudo, deve comunicar-se com demais, quer tenham uma proximidade imediata conforme espera-se entre química e física, integrante da Área de Ciências Exatas e da Terra ou um distanciamento histórico, como entre as ciências sociais e as naturais.
É neste contexto que se apresenta no cenário brasileiros os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, documento que foi elaborados com o objetivo de orientar o ensino nos diversos níveis e em áreas específicas em todo o país. O documento em tela evidencia as orientações para cada uma das disciplinas obrigatórias na Educação Básica, denominadas Base Nacional Comum. A elaboração deste material consistiu em possibilitar uma opção metodológica e curricular aos técnicos e professores que atuam nos diversos níveis e modalidades da educação brasileira.
O caráter oficial dos PCN`S não é o de imposição, apenas busca possibilitar aos profissionais de educação a oportunidade para desenvolver seu trabalho pedagógico em consonância com os avanços teórico-metodológicos oriundos das novas tendências educacionais, com foco no construtivismo, conforme pode-se observar na figura a seguir.
Figura 1: Teorias e Concepções que fundamentam os PCN´s – Conhecimentos de Química
Fonte: NUNES e NUNES (2007).
Os PCN`s são elaborados em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB (BRASIL, 1996) e vem estruturado em áreas do conhecimento para de favorecer a interdisciplinaridade conforme destaca Ricardo (2003). É perceptível no documento certa tendência de continuidade, em que idéias expressas na Lei maior da Educação no país, a LDB, são a posteriores transformadas em documento oficial de orientação para os profissionais da educação.
Nesta direção, os PCN´s são perpassado as capacidade de orientar um professor em seu ofício pedagógico no dia a dia. Tendo em vista seu caráter orientativo, carrega em si a tarefa de se apresentar na perspectiva de um texto de fácil leitura, uma vez que deveria ser lido, debatido e se fosse o caso “aplicado”, mas ao mesmo tempo deveria servir de suporte à prática docente, norteando o fazer pedagógico. Em especial quando diz respeito ao Ensino de Ciências da Natureza e Matemática, uma área com dificuldades mundiais na formação de professores (GIL-PÉREZ e CARVALHO, 2001), somado ao desinteresse dos estudantes que se apresenta cada vez menor, o que faz com que os professores desenvolvam a sensação de que os alunos de nível médio aprendem cada vez menos os seus conteúdos (POZO e GÓMEZ CRESPO, 2004).
Os PCN`s possui uma importância ainda maior que diz respeito ao fato de responder às demandas diversificadas que essa área apresenta como demanda. Nesta direção, por se tratar de uma área das ciências da natureza, o ensino-aprendizagem de química evidencia as mesmas fragilidades presentes em outras disciplinas, como matemática, por exemplo, e instala nos estudantes idéias equivocadas relativas a este campo de conhecimento, como pode ser exemplificado pela não aceitação da descontinuidade da matéria (POZO e GÓMEZ CRESPO, 2004) ou até mesmo a não aceitação do modelo atômico para a explicação de fenômenos macroscópicos.
A seguir o quadro explicativo evidencia algumas possibilidades em que a criatividade via utilização da arte e da música podem desenvolver quando utilizada em sala de aula.
Tabela 2: Análise do PCN – Conhecimentos de Química
Aspectos Analisados |
Aspectos positivos |
Deficiências |
Sugestões |
Fundamentação teórica |
O documento baseia-se em diversas teorias e concepções. |
As teorias que fundamentam o texto não são exploradas adequadamente. |
Aprofundamento da discussão de teorias norteadoras das orientações mostrando limitações e possíveis aplicações. |
Linguagem |
Simples e de fácil acesso. |
Sintética demais. |
Exploração dos conceitos mais complexos, ou de pouco conhecidos. |
Adequação à proposta |
Traz a tona conceitos e discussões relevantes para o Ensino de Ciências. |
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Reformulação e direcionamento maior do texto aos professores da ativa que possuem formação deficiente. |
Atualidade |
Os temas tratados são atuais e significativos. |
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Fonte: NUNES E NUNES (2007).
Fica evidente que a importância atribuída às habilidades e competências aponta para certo direcionamento no sentindo de alterar o foco do ensino, antes de base apenas nos conhecimentos conceituais. Nos tempos autiais, sabemos que a finalidade do Ensino Médio consiste em formar um cidadão crítico e com capacidade para transformar o espaço em que vive. Nesta direção, o ensino de Química deve colaborar com esta tarefa.
Na mesma perspectiva as habilidades que se espera sejam adquiridas neste campo de conhecimento tais como: decodificação da linguagem científica, valorização do conhecimento científico, compreensão dos mecanismos pelos quais a ciência produz conhecimento, nem sempre são conseguidos.
Fica evidente que os PCN´s – relativos aos Conhecimentos de Química nasceram com a tarefa de orientar os educadores químicos na transição da reforma educacional, apontando alternativas viáveis à sua prática docente. Daí a importância de que o ensino deste componente curricular seja desenvolvido da forma mais criativa possível.
Avaliar a capacidade desta secção do documento em fazê-lo é a pretensão deste trabalho, visando contribuir para uma crítica fundamentada às orientações oficiais dadas no campo de educacional.
Metodologia
A pesquisa relativa ao Ensino de Química foi desenvolvida na Escola Estadual Eucáris Nunes da Cunha e Moraes, no município de Poconé - MT. O objetivo da experiênncia consistiu em proporcionar aos estudantes a oportunidade de discussão sobre os problemas de aprendizagem,de forma criantiva e parpassada pela participção.
A fim de que os objetivos do projeto em tela fossem alcançados, organizou-se na escola em tela, um programa de atividades junto aos estudantes do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio, envolvendo também todos os professores dessas turmas.
Poconé situa-se a 100 Km da cidade de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso. Mantém limítrofe dentro do estado com os municípios de Nossa Senhora do Livramento, Cáceres e Barão de Melgaço, fronteira com o Estado de Mato Grosso do Sul, e também, fronteira com o país vizinho, a Bolívia.
A atual cidade de Poconé é a porta de acesso ao Pantanal mato-grossense, seguindo pela Rodovia Transpantaneira, por isso é conhecida como região pantaneira. Integra a mesorregião 130, da microrregião 535- Alto Pantanal, Centro-sul de Mato Grosso. Ocupa uma área territorial de 17.271,014 km², e uma população de 31.779 habitantes, sendo 72,60% concentram-se na zona urbana e 27,40 % vivem na zona rural. Administrativamente, compõe 14 bairros, 05 vilas, 02 distritos (Distrito de Cangas e Distrito de N. Senhora Aparecida do Chumbo), 72 comunidades (Zona Rural) e 11 Assentamentos3.
O município de Poconé, localizado na macrorregião pantaneira, possui diversidade humana e ambiental exuberante, porém em constante ameaça e degradação. A exploração aurífera ainda se apresenta como sua principal fonte de renda e trabalho, embora tenha se constituído ao longo dos anos como um grande problema socioambiental, haja vista o fato de que a crescente exploração garimpeira vem causando crescentes impactos nocivos à natureza por meio do uso indiscriminado do mercúrio, dos rejeitos e do surgimento de gigantescas crateras que chegam a causar inclusive abalos estruturais em residências, dado a proximidade de alguns desses garimpos à bairros e comunidades, além da exploração de mão de obra daqueles que possuem como única alternativa de trabalho os garimpos.
Sinalizando um explícito contraste, o município, mesmo sendo um grande produtor de riquezas minerais e naturais, possui um dos piores IDHs de MT, segundo a Lista de Municípios de Mato Grosso por IDH-M (dados de 2010), Poconé ocupa a posição 118, entre os 141 municípios analisados, um índice considerado mediano (0.652).
Para a realização da atividade utilizamos a música em sala de aula , a partir da paródia desenvolvida com a melodia da canção “Xibom Bombom” do grupo de axé “As Meninas”, por esta ser divertida e conhecida pelos alunos, elaborada por um grupo de professores de química na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRS4, que construíram a letra mediante conhecimentos da química para explicar as Propriedades da Tabela periódica e em função do fato da música ser animada, criou-se uma coreografia que faz um link com a letra da música, apresentada na tabela 1.
Tabela 1: Letra da música
Bom Xibom da Tabelinha |
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alisando essa tabela periódica Quero desvendar essa situação metódica[2x] O raio atômico do Frâncio é o mais rico E o raio atômico do Hélio é o mais pobre Mas o motivo todo mundo já conhece Para esquerda sobe e pra baixo cresce[2x] Bom, Xibom, Xibom, Bom, Bom, Tabelinha[4x] Mas eu só quero entender as propriedades Falando nisso temos a densidade De fora para dentro, de cima para baixo A minha densidade só tende a aumentar Mas o motivo todo mundo já conhece De cima para baixo é que cresce[2x] Bom, Xibom, Xibom, Bom, Bom, Tabelinha[4x] |
Analisando essa tabela periódica Quero desvendar essa situação metódica[2x] Onde o Flúor é o mais eletronegativo E o Frâncio é o mais eletropositivo Mas o motivo todo mundo já conhece É que os gases nobres não aparecem[2x] Bom, Xibom, Xibom, Bom, Bom, Tabelinha[4x] Mas eu só quero entender as propriedades Falando nisso temos a densidade De fora para dentro, de cima para baixo A minha densidade só tende a aumentar Mas o motivo todo mundo já conhece De cima para baixo é que cresce[2x] Bom, Xibom, Xibom, Bom, Bom, Tabelinha[4x] |
Fonte: XII Salão de Iniciação Científica – PUCRS. Outubro de 2011
Também foi desenvolvida uma oficina de artes. Nesta atividade contemplamos a mesma essência do convite feito por Canton (2006, p. 8), “Você também pode produzir tintas "pré-históricas", usando plantas espremidas, sementes, frutos e terra. Que tal experimentar?", onde procuramos mostrar possibilidades de trabalhos que podem ser feitos de forma divertida e criativa num espírito de liberdade e aventura. Na perspectiva do universo da Arte, esta atividade buscou articular à arte os conceitos de sustentabilidade de maneira a possibilitar o trabalho de integração entre as áreas da Arte e Química, tendo em vista que muitas matérias primas podem ser transformadas em tintas.
Análise dos Dados
Os docentes de Química e Arte aproveitaram que a escola promoveu uma semana de culminância do terceiro bimestre no ano de 2019 e desenvolveram o “Show de Arte e Química”. As atividades propostas teve início com uma dinâmica para animar a turma.
Os professores tentaram ao máximo motivar a turma, a fim de que todos pudessem se envolver na atividade. Foram distribuídas cópia da música e sugestão de atividades artíticas para os alunos que cantaram e produziram muita tinta.
Cada estrofe da paródia doi analisada e comentada por meio de diálogo com a turma. Para tanto foi indagado sobre: O que quer dizer essa estrofe da canção? Qual o motivo das propriedades serem identificadas dessa forma? (Ex: por que o raio atômico cresce da direita para esquerda e de baixo para cima?).
A experiência foi de grande relevância, uma vez que foi possível visualizar as dificuldades e dúvidas dos alunos e por meio da paródia foi possível resolver, simplificando o conteúdo. A experiência repercutiu na escola e entre os alunos de forma positiva.
Considerações Finais
Com base na experiência em tla, depois do desenvolvimento da culinância, foi possível observar que a dinâmica da produção de tintas, articulada com a paródia despertou a curiosidade e o interesse do aluno, de forma a motivá-los a aprender o conteúdo facilitando o processo de aprendizagem, ultrapassando o obstáculo que geralmente é enfrentado nas aulas de Química.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Nº 9394/96. De 20 de dezembro de 1996. Brasília.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: 1999.
CARVALHO, A. M. P. de. GIL-PÉREZ, D. Formação de professores de ciências: tendências e inovações. 5ª edição. Cortez Editora. São Paulo: 2001. 120p
MORIN, Edgar. A cabeça Bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro: 2006.
NUNES, A. O. O ensino de óptica no nível fundamental: uma proposta de ensino- aprendizagem contextualizada para a oitava série. Dissertação de Mestrado. UFRN. Natal, Brasil, 2006.
POZO, J. I..; GÓMEZ CRESPO, M. Á., Aprender y enseñar ciencia. Ediciones Morata. Madrid: 1998.
RICARDO, E. C., Implementação dos PCN em Sala de Aula, In A Física na Escola, v.04, nº1 p.8-11, 2003.
1 Professor de Química na rede Estadual de Ensino em Poconé- MT.
2 Professora de Artes da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá- MT e Estadual de Poconé – MT.
3 Informações disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Poconé. http://www.pmpocone.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=42&Itemid=10
4 Natália dos Santos Wermann, Bárbara Renata Garcia Mager, Concetta Schifino Ferraro (Orientador), Fabiana Gonçalves dos Santos, Franciele Longaray Bernard, Jessica Gotardi, Lucas Quadros Antoniazzi.