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O PAPEL DO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR

Moabe Nunes Camargo

Trabalho apresentado à faculdade FAVENI, como trabalho de conclusão do curso de Especialização em Docência no Ensino Superior.

 

RESUMO

O presente estudo aborda sobre o papel do docente no ensino superior, faz uma breve reflexão sobre a indissociabilidade: ensino, pesquisa e extensão e formação de professores para o ensino superior, destaca a importância da formação na docência do ensino superior e como é a relação professor-aluno no processo de ensino aprendizagem, onde o ensino é visto como um desafio, pois conhecimento envolve a ideia de construção coletiva, social e provisória. O estudo teve como objetivo refletir sobre a docência no ensino superior considerando a indissociabilidade, presente na tessitura, que compõem a tríade: ensino, pesquisa e extensão; e ainda discussões teóricas sobre a formação de professores para o Ensino Superior na atualidade. Como metodologia de estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, e baseados em estudos já publicados, utilizando palavras-chave: ensino, docente, prática educativa e educação superior. O estudo possibilitou pensar à docência no Ensino Superior enquanto atuação investigativa e na dimensão da construção coletiva, levar a uma reflexão sobre o lugar da pesquisa no Ensino Superior, repensar qual o papel do docente no Ensino superior, pois ele é visto como um profissional reflexivo, crítico e competente, voltado a transformação da sociedade, de seus valores e de suas formas de organização do trabalho. Repensar e analisas este profissional, quanto atitude de flexibilidade, abertura, capacidade de lidar com o imprevisto e o novo, pois há a necessidade de se transformar enquanto profissional e agente transformador.

 

Palavras-chave: Ensino. Docente. Prática Educativa. Educação Superior.

 

INTRODUÇÃO

 

O professor entende o ensino como um desafio, pois conhecimento envolve a ideia de construção coletiva, social e provisória, e sendo o educador o sujeito de sua prática, cabe a ele buscar o novo e desenvolver sua prática a partir das suas experiências, sua história, seus valores e sua afetividade, ou seja, trabalhar com essa construção pessoal e social partilhada, a qual vai sendo moldada dentro do que exige a educação, que ele precisa superar, com isto a prática deve ser pensada e analisada para que o professor como mediador auxilie na transformação da instituição e suas tradições.

A docência no ensino superior está implicada em ensino, pesquisa e extensão, formando uma tríade articulada entre si, podendo também ser realizada sob uma atitude investigativa e assim sucessivamente a extensão, que se relaciona a pesquisa, pois implica a produção de conhecimentos vinculados com a vida em sociedade, o que faz compreender que ser docente está vinculado ao ser pesquisador e que o fazer docente se dá por meio de investigações e pesquisas a qual vai se tornando parte da docência, na medida em que se reconhecem as relações intrínsecas da pesquisa aos fazeres e saberes que envolvem à docência no Ensino Superior, no percurso da formação e na prática dos professores.

A prática docente encontra-se na realidade do aluno, tal prática torna-se social estabelecida pela convivência com este aluno, passando o mesmo à coexistir na vida do aluno e resultando na construção do diálogo o que leva ao aperfeiçoamento da prática.

Pensar e ensinar devem ser formas de estimular os alunos, especificamente ao docente, pois ele também precisa ter incentivos e sentir-se realizado pessoal e profissionalmente; é a necessidade de sentir-se vivo, realizando atividades capazes de lhe trazer prazer e realizações pessoais, assim, é preciso ser mais que um cumpridor de regras da instituição onde atua ou repetidor de métodos aprendidos no momento em que foi aluno em seu curso de licenciatura.

O objetivo principal deste trabalho de pesquisa, é refletir sobre a docência no ensino superior considerando a indissociabilidade, presente na tessitura, que compõem a tríade: ensino, pesquisa e extensão; e ainda discussões teóricas sobre a formação de professores para o Ensino Superior na atualidade.

Ensinar deve constituir-se como parte de um processo criativo, onde professores e alunos possam ser constantemente desafiados, estar sempre à procura de respostas, conscientes da importância de manterem suas mentes ávidas na construção contínua do conhecimento, além disso, podem fazer uso da ânsia por conhecer conteúdos novos, com a qual o estudante chega à instituição de ensino e, diante disso, o professor do Ensino Superior precisa conscientizar-se da relevância que representa o fato de estar em uma universidade atualmente.

A partir de um levantamento bibliográfico é que o presente estudo foi realizado, baseado em estudos já publicados, sendo utilizados como palavras-chave: Docente, Prática Educativa e Educação superior, sendo inicialmente realizado a leitura das publicações e a seleção dos artigos, foram a partir dos resumos que abordavam o tema e textos completos das publicações em português, e pôr fim, a elaboração do presente estudo.

 

1 REFLEXÕES SOBRE A INDISSOCIABILIDADE: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

 

No Brasil as questões envolvendo a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão foram construídas ao longo da trajetória, onde as primeiras ações ocorreram no início do século XX por meio de cursos e conferências abertos ao público, tratando de temas distantes da vida e das questões reais. Em 1931 através do Estatuto da Universidade Brasileira esta concepção foi ampliada e passou a ter objetivos de difundir conhecimentos e informações, de interesse do governo. No entanto, o contato direto dos estudantes com a realidade social instigou reflexões e discussões que levaram as universidades e os gestores públicos a construir e reconstruir os conceitos e as práticas de extensão universitária (REIMER; ZAGONEL, 2014).

 

O capítulo da educação superior incorporou os princípios de um novo projeto para a universidade brasileira, formulado no início da década de 1980 pela Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) constituída, em grande parte, por integrantes do movimento estudantil da década de 1960 (MAZZILLI, 2011, p. 10).

 

A Universidade inicialmente era vista como um espaço de produção de conhecimento e, posteriormente, agregou a função de formação de profissionais, mas com a marca inerente ao conhecimento científico, porém no Brasil, a consolidação da Universidade ocorreu principalmente, na segunda metade do século XX, com base em modelos existentes na Europa e nos Estados Unidos. A partir de então, a ligação entre o ensino, à pesquisa e à extensão passa a ser vista como uma forma de estender o conhecimento para a sociedade, beneficiando também a população carente (GONÇALVES, 2015).

Os movimentos sociais tomam força ao final da década de 70, e com eles a necessidade do estabelecimento de um novo modelo de Universidade. Período em que teve forte participação da sociedade na busca pela redemocratização, eleições diretas para a presidência da República e fortalecimento dos movimentos sociais. Não foi diferente no campo da educação, onde o Fórum da Educação na Constituinte apresentou uma proposição de conteúdo sobre a área da educação para compor a nova Constituição, texto este elaborado pelas entidades científicas e sindicais que compunham o Fórum (MAZZILLI, 2011).

É neste cenário, que o termo indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é apontado como referência do padrão de qualidade acadêmica para as instituições de ensino superior no Brasil, onde uma emenda foi apresentada pelo Fórum Nacional de Educação na Assembleia Nacional Constituinte, onde propunha a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como um novo paradigma para a Universidade Brasileira, foi incorporado à Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 207, que estabelece: “As Universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Frente ao conceito ora exposto, o termo indissociabilidade passa a integrar o movimento institucional em prol da ação pedagógica no ensino superior (MAZZILLI, 2011).

O artigo 52º da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394 de 1996, estabelece que “As Universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano [...]”. Desta forma, a indissociabilidade é um princípio orientador da qualidade da produção universitária, porque afirma, como necessária, a tridimensionalidade do fazer universitário autônomo, competente e ético (MOITA; ANDRADE, 2009).

A universidade ainda tem sido palco de análises e debates que, ora enfatizam o ensino, e em outros momentos, a pesquisa e a extensão. Se for analisada a relação entre ensino e extensão com o intuito de sanar as questões sociais, a pesquisa deixa de promover a propagação do conhecimento. Por outro lado, os autores apresentam que a relação entre o ensino e a pesquisa conquista espaço frente a áreas como a tecnologia. No entanto, neste caminho talvez ocorra a perda da compressão da importância da sociedade. E, quando o ensino é esquecido do processo entre extensão e pesquisa, perde-se a dimensão formativa que dá sentido à universidade. Assim, a unidade dos três eixos torna-se ponto crucial para atender aos anseios da sociedade (MOITA; ANDRADE, 2009).

O desafio desta configuração é enorme, pois as Instituições de ensino superior devem desencadear políticas efetivas que venham ao encontro do estabelecido pela própria Legislação Brasileira e de forma que o tema proporciona um caráter tridimensional para o ensino, tornando a formação pedagógica mais completa, pois envolve o tripé ensino, pesquisa e extensão; que é complexa, pois aborda os três eixos de maneira integrada com foco na formação profissional do professor (SOARES, FARIAS e FARIAS, 2010).

É de fundamental importância estabelecer a teoria destes eixos, uma vez que estes se apresenta frente a efetividade do tripé de ensino pesquisa e extensão, além disso o ensino é uma forma privilegiada de acesso ao conhecimento, pois através dele, o melhor e mais recente conhecimento pode ser transformado em comportamentos sociais e também tem como base a formação de profissionais comprometidos com uma sociedade humanizada e sustentável, com autonomia intelectual, consciência filosófica e práticas criativas que permitem transcender o ambiente próprio de formação e contribuir para o desenvolvimento das demandas da sociedade (CESAR, 2013, PDI UnC, 2015).

A pesquisa é considerada um elemento inerente às atividades de ensino, promovido a partir do desenvolvimento de aptidões orientadas a procura do conhecimento de forma metódica e sistemática, também pode ser concebida como o conjunto de atividades voltadas à reflexão crítica e à produção do conhecimento, objetivando promover a ciência, tecnologia e inovação com vistas ao desenvolvimento regional de forma indissociada com o ensino e a extensão, a qual instiga a promoção e o compartilhamento de conhecimento, aspectos essenciais do ensino superior (CALDERÓN, 2007; PDI UnC, 2015).

Já a Extensão é concebida como o meio de integrar Universidade-Sociedade, através de um conjunto de ações de caráter interdisciplinar, capazes de articular as atividades de extensão com o ensino, a pesquisa e as demandas do entorno social; além disso a extensão deve promover a articulação da universidade com a sociedade a fim de que o conhecimento novo que ela produz pela pesquisa e difunde pelo ensino não fique restrito ao seu ambiente (PDI UnC, 2015).

Vale ressaltar que a consecução da associação entre ensino, pesquisa e extensão demanda a existência de projetos institucionais que sinalizem diretrizes com ações acadêmicas e administrativas, contando com a participação de todos os segmentos no processo de decisão, proporcionando condições para a realização destas ações (CÉSAR, 2013).

 

1.1 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO SUPERIOR

 

Nas últimas décadas a discussão acerca do processo de formação dos professores, sobre tudo os do Ensino Superior, tem se intensificado de forma constante, haja vista as diversas transformações pelas quais vem passando o processo de ensino/aprendizagem, bem como a importância fundamental exercida pelo docente em tal processo.

 

No contexto de ampla discussão acerca da formação do professor universitário e as condições pelas quais esses profissionais ingressam na vida acadêmica, surgem reflexões sob os diferentes enfoques e paradigmas relativos aos saberes pedagógicos e epistemológicos que mobilizam à docência gerando assim, uma tensão explícita no bojo das universidades que cada vez mais têm recebido professores sem experiência prévia na função de docente do ensino superior, além dos diversos professores que, apesar de esboçarem um excelente referencial teórico, necessitam, entretanto, rever sua prática pedagógica (VASCONCELOS; AMORIM, 2017).

 

A história da educação no Brasil nos revela que a formação do profissional superior e a sua atuação são importante, principalmente para a atualidade, em busca de uma educação e docência superior transformadora (CUNHA, 2000).

 

Fica nítido, portanto, que a ausência dessa formação pedagógica vem delegar um peso enorme a esses professores frente às interfaces do “que ensinar” “como ensinar” e a “quem ensinar”, os quais ao transitarem entre o amadorismo profissional e a profissionalização, confrontam com várias dificuldades que não são previsíveis e passíveis ao exercício da prática docente. No geral, os professores que por razões e interesses variados, adentram no campo universitário, são de variados conhecimentos e áreas de atuação e em sua maioria, não tiveram nenhum contato anterior com os conhecimentos nas áreas das Ciências humanas e sociais, para compreender, interpretar e aplicar a prática, numa perspectiva filosófica e política de educação como processo e produto que as várias correntes de pensamento dão a esses termos. (DAVID, 2017, p.1)

 

Partindo desse princípio, percebemos a vivência efetiva que as universidades enfrentam quando o seu corpo docente é composto, em sua maioria, de principiantes na docência do ensino superior e nunca tiveram contato com uma formação pedagógica que abarcasse os conhecimentos teóricos e práticos relativos às questões do ensino e aprendizagem em sua contextualização, tais como: o aluno – sujeito do processo de socialização do saber; o professor – agente de formação, e o contexto-lócus onde ocorre o saber e as relações que se travam entre suas interdependências (VASCONCELOS; AMORIM, 2017, p.4).

 

O avançar no processo de docência e do desenvolvimento profissional, mediante a preparação pedagógica não se dará em separado de processos de desenvolvimento pessoal e Institucional: este é o desafio a ser hoje, considerado na construção da docência no ensino superior. (PIMENTA e ANASTASIOU, 2002, p. 259).

 

A função própria da universidade é proporcionar momentos de reflexões cujo objetivo seja a mediação à construção e reconstrução dos conhecimentos, conjugando a qualidade formal com a qualidade política, componentes intrínsecos à formação docente para delineá-lo do saber pensar como condição subjetiva do homem de fazer sua história para a história; potencializando sua individualidade, ... (DAVID, 2017, p.5)

 

A formação universitária mostra-se, sobretudo, como sinônimo de transformações, adversidades, desafios e até mesmo confrontos com a vida cotidiana do “mundo real”. (DEMO, 1998)

 

A formação pedagógica, pensada em termos acadêmicos e didáticos, surge num panorama de compreensão sobre qualidade do trabalho docente no recinto da sala de aula, ou seja, no contexto da ação, que não se restringe aos saberes, mas na capacidade do docente de agir em circunstâncias previstas ou não em seu plano de ação. (...) Nesse sentido, os pressupostos de Perrenoud (2002), quando define competência como a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos (cognitivos), visando abordar uma situação complexa e quando referência em seus escritos as dez novas competências essenciais ao ensino do professor enfatiza o administrar sua própria formação como âncora para que o docente possa navegar os mares mais seguros do ensinar uma vez que, as turbulências da era globalizada, vão exigindo deste mobilizações maiores para a ação, considerando que são os mesmos que constroem e reconstroem seus conhecimentos a partir da práxis. (DAVID, 2017, p.5).

 

Acreditamos que, sem uma qualificação na perspectiva da “pedagogia da competência”, fruto da vontade e do comprometimento inovador, nada é possível, porque é na dinâmica do saber e do agir que o docente reconstrói os saberes do mais simples ao mais complexo, apoiado na qualidade organizada do saber, saber fazer e saber refazer sua prática de modo crítico e criativo face a realidade (VASCONCELOS; AMORIM, 2017).

Diante dessas afirmações, torna-se imperativo que as universidades invistam na formação efetiva do corpo docente para que estes possam transformar as instituições em lócus de produção de ensino, pesquisa e extensão. Enfim, despertar a consciência de uma nova identidade docente que leve e eleve a ampliação das concepções de ensino, permitindo um novo olhar e consequentemente, um novo docente (VASCONCELOS; AMORIM, 2017)

Fortalecendo os conceitos sobre competência acadêmica e competência didática, Demo (1998), aduz a seguinte definição:

 

Entendemos por competência a condição de não apenas fazer, mas de saber fazer e sobretudo de refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a natureza, usando como instrumentação crucial o conhecimento inovador. Mas que fazer oportunidade, trata-se de fazer-se oportunidade (p.13)

 

Percebe-se, portanto, que a atuação docente na atualidade diverge bastante da praticada do início aos meados do século passado. Destaca-se que o professor, tradicionalista, ocupava o papel de possuidor de todo o conhecimento e, como tal, era encarregado de depositar em seus alunos aquilo que lhe ensinaram em seu curso de licenciatura, configurando a chamada “educação bancária” (FONSECA, 2003.)

 

Atualmente, pode-se perceber que o docente mudou sua forma de atuação, seja porque os paradigmas educacionais mudaram ou a própria formação do docente mudou. Hoje, o docente é um facilitador no processo de ensino e aprendizagem, pois o ator principal neste processo é o aluno e o docente deve ensiná-lo a pensar, a questionar e a aprender a ler sua realidade, para que possam construir opiniões próprias (DAVID, 2017).

 

Ruiz, (2003) afirma que:

 

... o docente deve assumir o papel de transformador social e, ainda, que é um ser e profissional político, que deve engajar-se política e socialmente a fim de desenvolver um processo de aprendizagem mais rico e realmente emancipador aos seus alunos. (RUIZ, 2003)

 

No entanto Davi, (2017) afirma que:

 

... existe na própria sociedade outras exigências ao docente. O docente não possui somente o papel de educador, de facilitador no processo de ensino e aprendizagem, mas como um administrador das tarefas burocráticas – fazer provas, corrigi-las, passar nota, fazer exames, etc – e também como psicólogo que deve estar sempre em observação dos seus alunos atento a qualquer mudança de comportamento, tratar assuntos com os pais. Existem ainda as exigências de uma formação continuada, em que o docente deve estar constantemente se reciclando, fazendo cursos, se especializando e, muitas vezes, com seu próprio dinheiro, pois muitas instituições não pagam nem se quer parcialmente os cursos realizados pelos docentes. E a remuneração não é condizente com tantas tarefas, tantas exigências, o que desestimula o docente, deteriorando não somente sua prática docente, bem como sua própria saúde. (DAVI, 2017)

 

Reiteramos que o aprender e o ensinar são duas atividades unificadas pela relação que se estabelece entre o agente formador (professor) e o aprendiz (aluno) centrado em duas bases unidirecional: interação e respeito. Sobre interação apontamos a relação gerada no âmbito do recinto da sala de aula, quando apoiada na confiança e empatia mútua encontra no antagonismo de seus interesses e necessidades caminhos que os guiem ao encontro harmonioso do eu-outro como condição inerente às aprendizagens. Quanto à segunda base, reflete as conquistas adquiridas nas circunstâncias vivenciadas e que foram se consolidando através das relações e do equilíbrio entre as emoções e os valores (VASCONCELOS; AMORIM, 2017).

Masetto (2003) afirma que:

 

...só recentemente os professores universitários começaram a se conscientizar de que seu papel de docente do ensino superior, como o exercício de qualquer profissão, exige capacitação própria e específica que não se restringe a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou ainda apenas o exercício de uma profissão. Exige tudo isso, e competência pedagógica, pois ele é um educador. (2003, p. 13)

 

Destaca-se ainda a questão da formação docente de modo que se busque sempre o aperfeiçoamento das práticas pedagógicas no sentido de facilitar o processo de ensino/aprendizagem. Como apresentado abaixo:

 

Havendo, portanto, características a trabalhar na profissão docente pela capacidade que precisam possuir em facilitar o aprendizado, como por exemplo, a coerência entre discurso e ação, a segurança e a abertura a críticas e às propostas dos alunos (entendida como capacidade de diálogo), a clareza e a objetividade na transmissão de informações, a preocupação com os alunos e com seus interesses, o incentivo à participação e à capacidade de coordenação das atividades, a competência específica na área do conhecimento, o relacionamento pessoal e a paixão pela docência. O aluno e a sociedade não podem entender o papel do professor como solitário no processo de aprendizagem, pois esta ideia descaracteriza a profissão docente e profissional é o que o professor precisa ser, antes de tudo, para que possa desenvolver um bom trabalho, um trabalho dito marcante. (DAVID, 2017)

 

1.2 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM

 

Acredita-se que a relação professor aluno sofre influência da gestão educacional onde em alguns momentos do cotidiano escolar, convergem para o mesmo ponto, como se a gestão educacional se concretizasse nessa relação. Apesar de, num primeiro momento, parecer que a responsabilidade por essa relação seja somente desses dois atores, sabemos da influência da gestão educacional (RONCAGLIO, 2004).

 

A relação docente/aluno deve ser cultivada a cada dia, pois um depende do outro e assim os dois crescem e caminham juntos. E é nessa relação madura que o docente deve ensinar que a aprendizagem não ocorre somente em sala de aula. Assim, o aluno irá desenvolver um espírito pesquisador e interessado pelas coisas que existem; ele desenvolverá uma necessidade por aprender, tornando-se um ser questionador e crítico da realidade que o circunda. (FREIRE, 1996, p. 34)

 

É através da interação entre professores e alunos, que acontece o processo ensino-aprendizagem onde o objetivo comum é o da aprendizagem do aluno, porém uma questão que se põe é a do que acontece com o aluno enquanto ele aprende. O problema assim colocado implica procurar saber quais são as diversas modificações do desempenho do aluno à medida em que ele se relaciona com seus professores (GIL, 1993).

A relação professor-aluno na educação superior, pode ser considerada aquela que se constrói no cotidiano universitário e que nos permite perceber o perfil do contrato didático, ou seja aquele que se estabelece entre o professor e o aluno, como regras acerca do comportamento esperado de ambos, de cada um deles (BROUSSEAU, 1998 apud RONCAGLIO, 2004).

 

A relação professor-aluno, na educação superior, está sujeita a normas, escolhas pedagógicas, objetivos dos alunos, dos professores e do curso, critérios de avaliação, enfim, convenções que nem sempre são estabelecidas só pelos professores e alunos, mas também pela gestão do curso, e, algumas delas, pela legislação vigente no País. (RONCAGLIO, 2004 p.101)

 

Numa pesquisa realizada por Roncaglio (2004) cujo título foi: A Relação Professor-Aluno na Educação Superior: A Influência da Gestão Educacional, foi perguntado aos alunos sobre a relação professor-aluno, e a maioria dos alunos ressaltaram a importância de a prática do educador em sala de aula ser coerente com o seu discurso. O professor é considerado pelos alunos como o modelo a ser seguido e o elo do aluno com o conhecimento. Relataram que os professores criticam a escola tradicional e ensinam a importância de incentivar os alunos a trabalhar com o lúdico, mas, na sua prática, em sala de aula, na educação superior, passam muita teoria e não se utilizam da didática e dos recursos pedagógicos que dizem ser importantes. Com isso, os alunos salientam que, em algumas disciplinas, há um hiato entre a teoria e a prática, na ação docente.

No contexto escolar, há existência de uma teia, onde é possível identificar que o professor do ensino superior continua sendo modelo, uma referência, um espelho para o aluno. Assim como os professores atuais foram influenciados pela prática pedagógica de seus professores, podem, com certeza, influenciar seus alunos. O professor precisa estar consciente de que, através da sua prática docente, estará servindo de modelo, e, muitas vezes, o aluno o tem como modelo sem refletir sobre a sua prática (CUNHA,2001)

Conforme a pesquisa realizada por Roncaglio, (2004). Alguns alunos declararam perceber que há falta de respeito dos alunos para com os professores. Segundo eles, determinados educandos pensam que, por estarem na universidade, não há mais necessidade de respeito, como se tal postura só coubesse nos outros níveis de ensino. Outro aspecto interessante que detectamos é a relação existente entre o professor mais ou menos exigente e o respeito. De acordo com alguns alunos, quanto mais exigente for o educador, mais será respeitado pelos discentes. Os professores que mantêm um relacionamento de maior proximidade são mal interpretados por esses alunos, não recebendo o devido respeito. Isso denota que os alunos, ou alguns deles, no ensino superior, apresentam dificuldades em reconhecer os limites dos papéis representados por eles e pelos seus docentes.

 

Também Roncaglio, (2004, p. 106), da mesma forma que para os alunos, foi indagado aos professores como percebem a relação professor-aluno no ensino superior. Eles, a percebem como uma relação bem mais flexível, fundamentalmente, na forma de trabalhar os conteúdos. No discurso dos docentes, principalmente, nos que têm como base de formação a Pedagogia, vê-se a necessidade de acreditar na perspectiva humanizadora da Educação. Esses professores têm constatado que, nos outros cursos, muito mais do que no de Pedagogia, há um avanço maior nessa direção. Sob essa ótica, o curso de Pedagogia, que deveria ser o ‘carro chefe’ dessa visão de Educação, acaba ficando para trás. Isso contribui para que a prática dos docentes se distancie da teoria apresentada em sala de aula. Estes também percebem uma dicotomia entre a teoria e a prática. Pregam uma Educação mais humanizadora, criativa, na qual a história e o potencial dos alunos devem ser considerados, e, na realidade, enquanto professores, trabalham com provas, notas, cobranças, enfim, ensino e avaliação da aprendizagem nos moldes da escola tradicional, tendência pedagógica que impõe, a todos os alunos que integram um universo diversificado, o mesmo ritmo. A avaliação é realizada unicamente com o objetivo de aferir o quanto do conteúdo transmitido foi assimilado As seguintes falas expressam a visão da necessidade de um ensino mais flexível e de uma perspectiva humanizadora da Educação, tanto no nível de ensino, quanto no nível da gestão, e o descompasso entre teoria e prática.

 

Conforme o resultado da pesquisa, e de acordo com a fala dos professores, podemos observar que as tomadas de decisões do gestor interfere na relação professor/aluno, pois estas vão estar veiculadas no projeto político-pedagógico, e ao se constituir uma instituição educacional, é necessária a prática de concepções políticas e pedagógicas que se realimentam e se corporificam no seu projeto político-pedagógico. O caráter político desse projeto promove a ação da sociedade e o pedagógico é o substrato da função escolar. Da mesma forma, a maneira como o coordenador, representando a gestão do curso, vai orientar o aluno, e também a forma como esse aluno vai receber a orientação, modifica o comportamento do mesmo e pode alterar a sua relação com o professor (BORDIGNON; GRACINDO, 2000, apud RONCAGLIO, 2004).

 

2 CONCLUSÃO

 

A prática pedagógica é uma das maiores preocupações dos docentes, pois exige dedicação e preparo, sendo também um instrumento transformador da prática educacional, ele deve guiar-se através da pesquisa.

A formação de professores no Ensino Superior é atualmente muito debatida e ajuda a problematizar e discutir a articulação entre os campos da formação e atuação docente, uma vez que está em jogo a aprendizagem do aluno, com isso há de se questionar o docente no seu papel de ensinar, pois muitas vezes é visto como criador de conhecimentos, e também envolvidos com as questões sociais e políticas da instituição e preocupado em desenvolver uma práxis comprometida com as alternativas de vida.

Diante disso o presente estudo permite uma reflexão, e também ser suporte para conjeturar uma análise da docência no Ensino Superior e percebe-se a importância da formação pedagógica, (des)construindo e (re)articulando a docência.

Faz-se necessário pensar o ensino superior enquanto atuação investigativa e com dimensão da construção coletiva, ressignificar o lugar da pesquisa, articular e recuperar a relação entre o ensino e a pesquisa, pois o ensino foi pensado com finalidade além da instrumentalização técnica e formação pedagógica, e o docente como um profissional reflexivo, crítico e competente, que reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos; com atitude de flexibilidade, de forma que possa contribuir em seu espaço de atuação, criando grupos de pesquisa em torno de questões enfrentadas neste, e constitua nos grupos possibilidades de compreensão das questões ou até mesmo de ampliação destas.

 

REFERÊNCIAS

 

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