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O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Rosangela Gomes de Araújo1

 

RESUMO:

O presente artigo traz como temática a alfabetização: o processo de alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental, tendo como foco principal a criança e o seu desenvolvimento linguístico alfabético, o papel do professor diante deste processo e ainda as políticas educacionais que amparam este processo, tendo como base a alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental. Este tem como objetivo principal expor de forma simples e complexa um breve contexto sobre o processo de alfabetização da criança de acordo com a BNCC, o processo de alfabetização da criança e o papel do professor com relação a alfabetização. De acordo com alguns os autores citados Ferreiro, Silva, a alfabetização deve ser considerada como uma das fases mais importantes da escolarização da criança, onde ela se apropria das palavras, e estimular este processo é de fundamental importância. Cabe ao professor preparar momentos de planejamento que instiguem a criança a procurar, momentos que despertem a curiosidade, para que assim se desenvolva.

 

PALAVRAS-CHAVE: Ensino Fundamental. Anos Iniciais. Alfabetização. Desenvolvimento. Criança.

  1. INTRODUÇÃO

Um dos processos de integração da criança na escola se dá através da aquisição da leitura e da escrita. Entender o processo de alfabetização das crianças através da leitura e escrita, condição esta fundamental a integração na vida social, oferece oportunidades de compreensão e respeito do universo da relação que influencia na construção da existência da criança e é nesse momento que o desenvolvimento humano ocorre a partir do entendimento do significado do mundo.

É preciso entender e colocar em prática este processo, levando aos nossos alunos, leituras interessantes que produzam uma identificação com a vivência diária de cada um.

Este processo de alfabetização é de suma importância para o desenvolvimento do estudante nas demais etapas de sua vida estudantil e que uma vez esse processo ocorrendo de forma incorreta as conseqüências são graves e por vezes até irreversíveis, perdurando por todo o percurso escolar. Com base nesse pensamento muitas pessoas questionam os processos de alfabetização utilizados atualmente, contudo, o que precisa se ter em mente é que o processo de alfabetização que é utilizado na escola nos dias atuais se baseia em alfabetizar a criança através do conhecimento holístico do texto que cerca uma palavra, sílaba ou letra, diferentemente da forma como ocorria a alguns anos atrás, onde os pequenos alunos aprendiam as letras através de seu fonema, sem qualquer preocupação com o contexto que cercava aquele símbolo.

Vale ressaltar ainda a importância do professor para que este processo tenha um bom resultado, contribuindo assim para a vida escolar e futuramente social e profissional do aluno.

  1. DESENVOLVIMENTO

    1. OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE ACORDO COM A BNCC

De acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) a etapa dos anos iniciais do ensino fundamental deve valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta ainda para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. (BRASIL, 2017)

A BNCC propõe o ensino fundamental dividido por áreas, a área de linguagens é composta pelos seguintes componentes curriculares: Língua Portuguesa, Arte e Educação Física.

 

No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, os componentes curriculares tematizam diversas práticas, considerando especialmente aquelas relativas às culturas infantis tradicionais e contemporâneas. Nesse conjunto de práticas, nos dois primeiros anos desse segmento, o processo de alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica. Afinal, aprender a ler e escrever oferece aos estudantes algo novo e surpreendente: amplia suas possibilidades de construir conhecimentos nos diferentes componentes, por sua inserção na cultura letrada, e de participar com maior autonomia e protagonismo na vida social. (BRASIL, 2017)

 

De acordo com a BNCC a área de linguagens deve garantir a crianças as seguintes competências específicas:

 

1. Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica, reconhecendo-as e valorizando-as

como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e identidades sociais e culturais.

2. Conhecer e explorar diversas práticas de linguagem (artísticas,

corporais e linguísticas) em diferentes campos da atividade humana

para continuar aprendendo, ampliar suas possibilidades de participação

na vida social e colaborar para a construção de uma sociedade mais

justa, democrática e inclusiva.

3. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como

Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressa e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.

4. Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que

respeitem o outro e promovam os direitos humanos, a consciência

socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional

e global, atuando criticamente frente a questões do mundo contemporâneo.

5. Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as

diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais,

inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade,

bem como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas,

da produção artístico-cultural, com respeito à diversidade de saberes,

identidades e culturas.

6. Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e

comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas

diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar

por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos,

resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos. (BRASIL, 2017)

 

Ao componente Língua Portuguesa cabe, então, proporcionar aos educandos experiências que contribuam para a ampliação dos letramentos, de forma a possibilitar a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens. (BRASIL, 2017)

De acordo com a BNCC ao trabalhar com o educando o componente língua portuguesa, no campo das linguagens o aluno deve e tem o direito de desenvolver as seguintes competências:

 

1. Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem.

2. Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de

interação nos diferentes campos de atuação da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de

construir conhecimentos (inclusive escolares) e de se envolver com

maior autonomia e protagonismo na vida social.

3. Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que

circulam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão, autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo.

4. Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos.

5. Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso/gênero textual.

6. Analisar informações, argumentos e opiniões manifestados em

interações sociais e nos meios de comunicação, posicionando-se ética e criticamente em relação a conteúdos discriminatórios que ferem direitos humanos e ambientais.

7. Reconhecer o texto como lugar de manifestação e negociação de

sentidos, valores e ideologias.

8. Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo, formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho etc.).

9. Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.

10. Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e

ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos

processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o

mundo e realizar diferentes projetos autorais. (BRASIL, 2017)

 

Desta espera-se que haja um melhor desenvolvimento com relação ao processo de desenvolvimento da alfabetização do educando, vale ressaltar a importância do papel do professor e ainda as especificidades de cada criança.

    1. O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA

Estudos sobre a noção de letramento e sobre o que é ser letrado numa sociedade letrada vêm merecendo a atenção de alguns pesquisadores (SOARES, 1998; KLEIMAN, 1995; TFOUNI, 1996).

De acordo com Goulart (2001), em termos gerais o letramento está relacionado ao conjunto de práticas sociais orais e escritas de uma sociedade e também, segundo Tfouni, à construção da autoria. O termo letramento vem sendo considerado necessário, uma vez que se observa o termo alfabetização muito relacionado a uma visão da aprendizagem da língua escrita como um processo de codificação de sons em letras, para escrever e o movimento oposto de decodificação para ler. Esta visão está de um modo geral, ligada à suposição de que a linguagem escrita é a fala por escrito ou de um outro modo, supõe que os sistemas escritos teriam sido inventados para representar a fala.

Os autores que defendem esta ideia entendem também que “a história da escrita seja a evolução progressiva que culmina no alfabeto” (Olson,1998, p. 93). Esta tem sido considerada, entretanto, uma visão etnocêntrica dessa história (Michalowski,1994). A questão tem gerado debates bastante interessantes que podem enriquecer nossos conhecimentos em três perspectivas: da elaboração da história da própria escrita; do ensino/aprendizagem da leitura e da escrita; e também de como a aprendizagem da escrita afeta a cognição. Meu interesse, neste momento, localizasse na segunda alternativa. (GOULART, 2001)

De acordo com com Ferreiro (1985), a alfabetização pode ser concebida de duas formas muito diferentes e conforme o modo de considerá-las as consequências pedagógicas mudam drasticamente, a escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras.

A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um sistema de representação e não um processo de decodificação, uma vez construído poder-se-ia pensar que, o sistema de representação é aprendido pelos novos usuários como um sistema decodificação, entretanto não é assim, no caso dos dois sistemas envolvidos no início da escolarização o sistema de representação dos números do sistema de representação da linguagem as dificuldades que as crianças enfrentam, dificuldades conceituais semelhantes a da construção do sistema e por isso pode-se dizer que em ambos os casos que que a criança reinventa esse sistema, entendido que não se trata de que as crianças resolvem as letras nem os números, mas que para poderem servir desses elementos como elementos de um sistema devem compreender seu processo de construção e suas regras de produção. (FERREIRO, 2017)

Para Ferreiro (2017), os indicadores mais claros das explorações que as crianças realizam para compreender a natureza da escrita são suas produções espontâneas entendendo como tal as que não são resultados de uma cópia imediato ou posterior, quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever ,certo conjunto de palavras está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder ser avaliado, essas escritas infantis tem sido consideradas displicentemente como garatujas, tendo como resultado o fazer como se soubesse escrever. Se pensarmos que a criança aprende a língua quando é submetida a um ensino sistemático e que sua ignorância está garantida até que receba certo tipo de ensino nada poderemos enxergar, mas se pensarmos que as crianças são seres que ignoram que devem pedir permissão para começar a aprender talvez comecemos aceitar que podem saber, embora não tenha sido dada a elas a autorização institucional para tanto, saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer necessariamente saber algo socialmente aceito como conhecimento saber que quer dizer ter construído alguma concepção que explica certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade.

As primeiras escritas infantis aparecem do ponto de vista gráficos como linhas onduladas ou quebradas (Zig Zag), fragmentadas ou então como uma série de elementos discretos e repetidos, como uma séries de linhas verticais ou de bolinhas, a aparência gráfica não é garantida de escrita a menos que se conheça as condições de produção.

O modo tradicional de se considerar a escrita infantil de acordo com Ferreiro (2017), consiste em se prestar atenção apenas nos aspectos gráficos dessas produções ignorando os aspectos construtivos, os aspectos gráficos tem a ver com a qualidade do traço e a distribuição espacial das formas a orientação predominante, da esquerda para direita de cima para baixo, a orientação dos caracteres individuais inversões rotações etc. Os aspectos construtivos tem a ver com que se quis representar e os meios utilizados para criar para que diferencie ações entre as representações.

 

Não é preciso primeiro aprender a técnica para depois aprender a usá-la. E isso se fez durante muito tempo na escola: “primeiro você aprende a ler e a escrever, depois você vai ler aqueles livrinhos lá”. Esse é um engano sério, porque as duas aprendizagens se fazem ao mesmo tempo, uma não é pré-requisito da outra. Mas, por outro lado, se a alfabetização é uma parte constituinte da prática da leitura e da escrita, ela tem uma especificidade, que não pode ser desprezada. É a esse desprezo que chamo de “desinventar” a alfabetização. É abandonar, esquecer, desprezar a especificidade do processo de alfabetização. A alfabetização é algo que deveria ser ensinado de forma sistemática, ela não deve ficar diluída no processo de letramento. Acredito que essa é uma das principais causas do que vemos acontecer hoje: a precariedade do domínio da leitura e da escrita pelos alunos. Estamos tendo a prova disso através das avaliações nacionais. O último SAEB mostrou um resultado terrível: aproximadamente 33% dos alunos com quatro anos de escolaridade ainda são analfabetos. (SOARES, 2003)

 

Do ponto de vista construtivo a escrita infantil segue uma linha de evolução surpreendentemente regular através de diversos meios culturais, de diversas situações educativas e de diversas línguas, estas podem ser distinguidos três grandes períodos no interior dos quais cabem múltiplas subdivisões:

 

Distinção entre o modo de representação icônico e não icônico;

A construção de formas de diferenciação controle progressivo das variações sobre os eixos qualitativos;

A fonetização da escrita que se inicia com o período silábico e combina no período alfabético; (FERREIRO, 2017)

 

A distinção entre desenhar e escrever é de fundamental importância em quaisquer que sejam os vocábulos com que se designam especificamente as ações, ao desenhar se está no domínio do icônico, as formas dos grafismos importam porque produzem as formas dos objetos, ao escrever se está fora do icônico as formas dos os grafismos não produzem a forma dos objetos, nem sua ordenação espacial reproduz o contorno dos mesmos, por isso tanto a arbitrariedade das formas utilizadas como a ordenação linear das mesmas são as primeiras características manifestada da escrita pré-escolar.

O passo seguinte se caracteriza pela busca de diferenciação entre as escritas produzidas precisamente para dizer coisas diferentes, começa então uma busca difícil muito elaborada de modos de diferenciação que resultam ser interfigurais, as condições de legibilidade intrafigurais se mantém mas agora é necessário criar modo sistemático de diferenciação entre uma escrita e a seguinte. Precisamente para garantir a diferença de interpretação ser atribuída as crianças exploram então critérios que permitem às vezes variações sobre o eixo quantitativo. (FERREIRO, 2017)

    1. O PAPEL DO PROFESSOR

As formas tradicionais de alfabetização inicial consistem num método no qual o professor transmite seus conhecimentos aos seus alunos. Porém, muitos desses professores não está capacitado para compreender algumas dificuldades que a criança enfrenta antes de entender o verdadeiro sentido da leitura e escrita.

Na aprendizagem inicial as práticas utilizadas são, muitas vezes, baseadas na junção de silabas simples, memorização de sons decifração e cópia. Tais maneiras fazem com que a criança se torne um espectador passivo ou receptor mecânico, pois não participa do processo de construção do conhecimento. (DUARTE, ROSSI, RODRIGUES, 2008)

De acordo com suas experiências com crianças, Ferreiro (1999, p.44-7), esquematiza algumas propostas fundamentais sobre o processo de alfabetização inicial.

 

- Restituir a língua escrita seu caráter de objeto social;

- Desde o inicio (inclusive na pré-escola) se aceita que todos

na escola podem produzir e interpretar escritas, cada qual em seu nível;

- Permite-se e estimula-se que a criança tenham interação com

a língua escrita, nos mais variados contextos;

- Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do

nome próprio;

- Não se supervaloriza a criança, supondo que de imediato

compreendera a relação entre a escrita e a linguagem.

- Não se pode imediatamente, ocorrer correção gráfica nem

correção ortográfica. (FERREIRO,1985)

 

Entretanto no processo de alfabetização inicial, nem sempre esses critérios são utilizados. Sabemos que os professores ensinam da mesma maneira como aprenderam quando eram alunos, e não aceitam os erros que seus alunos cometem. (DUARTE, ROSSI, RODRIGUES, 2008)

O letramento tem como objeto de reflexão, de ensino, ou de aprendizagem os aspectos sociais da língua escrita. Assumir como objetivo o letramento no contexto do ciclo escolar implica adotar na alfabetização uma concepção social da escrita, em contraste com uma concepção tradicional que considera a aprendizagem de leitura e produção textual como a aprendizagem de habilidades individuais. Essa escolha implica, ainda, que a pergunta estruturadora/estruturante do planejamento das aulas seja: “quais os textos significativos para o aluno e para sua comunidade”, em vez de: “qual a sequência mais adequada de apresentação dos conteúdos (geralmente, as letras para formarem sílabas, as sílabas para formarem palavras e das palavras para formarem frases)”. (KLEIMAN,2007)

Determinar o que seja um texto significativo para a comunidade implica, por sua vez, partir da bagagem cultural diversificada dos alunos, que, antes de entrarem na escola, já são participantes de atividades corriqueiras de grupos sociais que, central ou perifericamente, com diferentes modos de participação (mais ou menos autônomos, mais ou menos diversificados, mais ou menos, prestigiados), já pertencem a uma cultura letrada. Uma atividade que envolve o uso da língua escrita (um evento de letramento) não se diferencia de outras atividades da vida social: é uma atividade coletiva e cooperativa, porque envolve vários participantes, com diferentes saberes, que são mobilizados segundo interesses, intenções e objetivos individuais e metas comuns. Já a prática de uso da escrita dentro da escola envolve prioritariamente a demonstração da capacidade individual de realizar todos os aspectos de todas as atividades, seja: soletrar, ler em voz alta, responder a perguntas oralmente ou por escrito, escrever uma redação ou um ditado. (KLEIMAN,2007)

A diferença entre ensinar uma prática e ensinar para que o aluno desenvolva uma competência ou habilidade não é mera questão terminológica. Na escola, onde predomina a concepção da leitura e da escrita como competências, concebe-se a atividade de ler e escrever como um conjunto de habilidades progressivamente desenvolvidas até se chegar a uma competência leitora e escritora ideal: a do usuário proficiente da língua escrita. Os estudos do letramento, por outro lado, partem de uma concepção de leitura e de escrita como práticas discursivas, com múltiplas funções e inseparáveis dos contextos em que se desenvolvem. (KLEIMAN,2007)

Para Kleiman (2007), é evidente que o papel do professor muda sob esta perspectiva de alfabetização e letramento como prática social. Uma grande vantagem do enfoque socialmente contextualizado é a autonomia que ele ganha no planejamento das unidades de ensino e na escolha de materiais didáticos. O professor volta a ser o profissional que decide sobre um curso de ação com base em sua observação e seu diagnóstico da situação. É ele que deverá decidir questões relativas à seleção dos materiais, saberes e práticas que se situam entre o local, o aplicado e o funcional à vida dos alunos e da comunidade e o socialmente relevante, que um dia poderá ser utilizado para melhorar o futuro do próprio aluno e de seu grupo.

Os autores ressaltam ainda que o professor precisa ter autonomia para decidir sobre a inclusão daquilo que pode e deve fazer parte do cotidiano da escola, porque é legítimo e/ou imediatamente necessário, e, por outro lado, sobre a exclusão daqueles conteúdos desnecessários e irrelevantes para a inserção do aluno nas práticas letradas que, parece-nos, persiste por inércia e tradição.

A sala de aula deve contemplar espaços bem equipados para as atividades de toda a turma, como as rodas de leitura, para a atividade individual, para as atividades em pequenos grupos. Suas paredes devem se constituir em murais atrativos, renováveis periodicamente segundo as necessidades e interesses do grupo. O acervo da biblioteca deve ser significativo e estar acessível à criança. (KLEIMAN,2007)

Convivendo num ambiente enriquecido pela escrita – um ambiente letrado – mesmo o professor de formação tradicional poderá aos poucos refletir sobre como propiciar atividades que, de fato, contribuam para o letramento de seu aluno, sobre como fazer e registrar as observações avaliativas, tanto para diagnosticar como para mensurar aprendizagem. E ele virá talvez, nesse percurso reflexivo de letramento e auto-formação, a abandonar atividades que só lhe permitem preocupar-se com o tema da redação que seguirá a atividade de ler, ou com a entonação, postura correta e respeito à pontuação durante a leitura. É importante lembrar que ensinar a ler e escrever não é uma questão técnica, é uma questão política, conforme Paulo Freire sempre insistiu. Não atuamos no vácuo. (KLEIMAN,2007)

É necessário ainda que o professor considere as escritas do ponto de vista construtivo, representando a evolução de cada criança, é preciso que haja uma reestruturação interna na escola com relação à alfabetização e também no que se refere às formas de alfabetizar. (DUARTE, ROSSI, RODRIGUES,)

De acordo com Silva (2003) “Se existem objetivos, temos de caminhar para eles e para isso, temos de saber qual é o melhor caminho”, ou seja cabe ao professor buscar meio e métodos para que este objetivo seja alcançado, não basta que a criança esteja convivendo com muito material escrito, é preciso orientá-la sistemática e progressivamente para que possa se apropriar do sistema de escrita. Isso é feito junto com o letramento. Mas, em primeiro lugar, isso não é feito com os textos 'acartilhados' – “a vaca voa, ivo viu a uva” –, mas com textos reais, com livros etc. Assim é que se vai, a partir desse material e sobre ele, desenvolver um processo sistemático de aprendizagem da leitura e da escrita.

 

  1. CONCLUSÃO

Pode-se concluir que o processo de alfabetização da criança é de suma importância e que vai acarretar em toda a sua vida, como este processo é desenvolvido acarretará em todas as fases do seu desenvolvimento futuro. O mundo em que a criança está inserida é letrado e carregado de significados culturais. As crianças com suas capacidades vão, mesmo antes de ingressar na escola e iniciar o ciclo de alfabetização, construindo conceituações a respeito da escrita.

O processo de alfabetização da criança deve ser respeitado e realizado em conjunto tanto com professores e família, portanto, o professor deve se atentar, em suas escolhas, a trazer o mundo para a sala de aula. A escolha dos recursos, pensados a partir de um olhar individualizado, é o grande diferencial: não faz sentido a cópia e a escrita de textos sem função social na atualidade. É necessário trazer para a sala de aula situações que possibilitem que a criança escreva espontaneamente.

 

  1. REFERÊNCIAS

 

BRASIL, Base Nacional Comum Curricular: EDUCAÇÃO É A BASE. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017.

 

DUARTE, Karina; ROSSI, Karla; RODRIGUES, Fabiana. O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA SEGUNDO EMILIA FERREIRO. 2008. Acesso em: 22 set. 2020. Disponível em: < http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Pedagogia/aprocesso_alfab_ferreiro.pdf >

 

FERREIRO, Emília. ALFABETIZAÇÃO EM PROCESSO. São Paulo- SP. Cortez, 2017.

 

FERREIRO, Emília. REFLEXÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO. São Paulo- SP. Cortez, 2017.

 

FERREIRO, Emília. A REPRESENTAÇÃO DA LINGUAGEM E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO. 1985. Acesso em 21 set. 2020. Disponível em: < https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=A+REPRESENTA%C3%87%C3%83O+DA+LINGUAGEM+E+O+PROCESSO+DE+ALFABETIZA%C3%87%C3%83O.+&btnG= >

 

GOULART, Cecília M. A. LETRAMENTO E POLIFONIA: UM ESTUDO DE ASPECTOS DISCURSIVOS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO. 2001. Acesso em: 20 set. 2020. Disponível em: < https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=Letramento+e+polifonia%3A+um+estudo+de+aspectos+discursivos+do+processo+de+alfabetiza%C3%A7%C3%A3o&btnG= >

 

KLEIMAN, Angela B. O CONCEITO DE LETRAMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A ALFABETIZAÇÃO. 2007. Acesso em: 20 set. 2020. Disponível em: < https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=O+CONCEITO+DE+LETRAMENTO+E+SUAS+IMPLICA%C3%87%C3%95ES+PARA+A+ALFABETIZA%C3%87%C3%83O&btnG= >

 

SOARES, Magda. A reinvenção Da ALFABETIZAÇÃO.2003. Acesso em: 21 set. 2020. Disponível em: < http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/programa_aceleracao_estudos/reivencao_alfabetizacao.pdf >

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