PSICOMOTRICIDADE: Suas Contribuições nas Séries Iniciais
Déborah Rísia da Costa Tavares Silva[1]
Luciana Jane Marcelino de Paula Arantes[2]
Maria Aparecida Moreira da Silva3
Placidina da Silva Machado4
Vilma de Sousa Oliveira5
RESUMO
Este trabalho com o tema a PSICOMOTRICIDADE: Suas Contribuições nas Séries Iniciais aborda conceitos de psicomotricidade, a função do psicomotricista e a importância da psicomotricidade na Educação Infantil, com a intenção de alertar os profissionais da educação a importância de trabalhar o movimento, os jogos e o brincar, pois a criança precisa aperfeiçoar seu desempenho tanto físico, quanto mental, através da integração mente e corpo. A Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo, pois são suas experiências e sensações somadas ao seu meio que constituirão a base de seu EU, sua identidade. É uma ação educativa que visa o esquema corporal na finalidade de facilitar e desenvolver a percepção, o conhecimento e a motricidade da criança. Ao observar os alunos, os professores identificam que alguns são diferentes, que mesmo possuindo o mesmo tipo de educação e inteligência normal, alguns são desastrados, inquietos ou hiperativos. A educação psicomotora tem relação com uma formação de base indispensável a toda criança que seja com ou sem distúrbios. Muitas das dificuldades apresentadas dentro da sala de aula podem ser sanadas dentro desse mesmo ambiente pelo docente responsável, mostrando assim a importância da observação, da formação e informação por parte do mesmo. A inserção na Educação Infantil é um passo importante na vida da criança, pois o mesmo constitui a base para suas demais experiências escolares. É nessa fase que a criança coloca no papel seus sentimentos e sensações através de rabiscos, e é nessa fase que se percebe a falta de coordenação motora e equilíbrio daqueles que não conseguem segurar o lápis ou participar das brincadeiras e atividades propostas. Nesse momento, o professor, pedagogo ou psicomotricista pode através de uma Educação ou Reeducação Psicomotora trabalhar o comportamento e as funções cognitivas e mentais por meio do corpo, enfatizando o movimento, influenciando assim no desenvolvimento da identidade, na aprendizagem, no autoconhecimento e na habilidade motora. O processo evolutivo da criança ocorre progressivamente, através de transformações e aquisições, com atividades psicomotoras, o aluno aprende por seus próprios movimentos de seu corpo, promovendo uma maior interiorização, e aprendendo a se comunicar e expressar de forma mais adequada.
Palavras-chave: Psicomotricidade. Criança. Educação Infantil. Psicomotricista. Movimento.
INTRODUÇÃO
No final da década de 70, o Ministério da Educação e Cultura implantou a Psicomotricidade na educação das crianças. Seu objeto de estudo é o corpo em movimento, o homem e suas ações, é a ciência da educação, pois trabalha os movimentos aprimorando o intelectual. É através do corpo, dos gestos que demonstramos nossos sentimentos, emoções, constituindo assim uma forma de comunicação.
A Psicomotricidade contribui para o desenvolvimento do controle mental, da motricidade, atendendo de forma consciente as limitações e habilidades de cada indivíduo.
Logo após o nascimento, a criança inicia sua fala sobre seu corpo através de seu choro e gestos. A criança se desenvolve a medida que interage com seu corpo, com as pessoas e objetos de seu meio.
Conforme seu crescimento essa exteriorização de sentimentos se intensifica, pois o corpo é o meio de relação e comunicação com o mundo exterior. Com o crescimento urbano, casas, fábrica e apartamentos invadem os quintais das casas, tirando das crianças a liberdade de brincar, se movimentar.
As brincadeiras e jogos que para muitos são apenas momentos de descontração, utilizados no recreio, mas é na verdade um grande aliado para o aprendizado dos discentes. Hoje é sabido que corpo e alma devem andar juntos e que um não consegue expressar sem o outro. O brincar pode e deve fazer parte da educação, pois através desse brincar corpo e alma expressam seus sentimentos, é com as brincadeiras que as crianças vivem o “mundo real”, exteriorizam seus sonhos, sua imaginação. Dessa forma, educadores entendem que só a partir da relação com o outro, com o meio, o ser humano poderia desenvolver-se plenamente.
A escola é fundamental não apenas na propagação e instrução de conhecimentos, mas também pela difusão de valores baseados em cada cultura. A criança constrói seu olhar, sua identidade pela interação que tem com o meio, pela interação professor-aluno-escola-comunidade. Mas, ainda há educadores que não possuem consciência do que é a Psicomotricidade e sua importância.
A causa do fracasso escolar está ligada a problemas afetivos e emocionais, que na grande maioria das vezes estão ligados aos processos negativos de experiências corporais, se essa bagagem problemática não for sanada, poderá vir a apresentar problemas cognitivos e relacionais, prejudicando todo o processo ensino-aprendizagem e sua vivência e interação com o mundo.
A instituição escolar precisa repensar, com um olhar pedagógico o processo ensino-aprendizagem, substituindo a limitação dentro da sala de aula por propostas mais abrangentes com base no desenvolvimento de sua clientela: seus discentes.
1 PSICOMOTRICIDADE
O termo psicomotricidade apareceu pela primeira vez com Dupré em 1920, significando um entrelaçamento entre movimento e pensamento.
Defontaine (apud Oliveira, 1997, p. 35) define os dois componentes da palavra; psico significando os elementos do espírito sensitivo, e motricidade traduzindo-se pelo movimento, pela mudança no espaço em função do tempo e em relação a um sistema de referência. Já Fonseca (1988, p. 332) afirma que se deve tentar evitar uma análise desse tipo para não cair no erro de enxergar dois componentes distintos: o psíquico e o motor, pois ambos é a mesma coisa.
Ainda no útero materno a criança é envolta por seus movimentos e pelos movimentos da mãe. Através de seu corpo, exterioriza seus pensamentos, rejeições e emoções, mesmo ainda não se dando conta destes e do que significam.
Conforme Filho (2001, pp. 36 e 62) Psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção, em que como ciência da educação procura educar o movimento ao mesmo tempo em que desenvolve as funções da inteligência considerando todos os aspectos emocionais. Para esse autor, as professoras estão no primeiro plano da educação psicomotora, pois cabe a elas acabar com a idéia de que os jogos psicomotores constituem perda de tempo, fazendo, assim, com que as crianças trabalhem o tempo inteiro sentadas em frente de uma folha de papel ofício, cobrindo pontinhos, colorindo com limites desenhos pré-elaborados, executando tarefas em livros ou folhas mimeografadas, deixando alguns pais satisfeitos ao final de cada mês, pois recebem uma pasta cheia de trabalhos que na verdade tolheram a criatividade de seus filhos.
A criança tem sua personalidade e inteligência embasada em sua experiência de vida. É a partir de suas descobertas, percepções desde sua vida intra-uterina que cada indivíduo se estrutura como um todo, esse processo é contínuo em que a psicomotricidade desempenha um papel fundamental.
Para Le Boulch (1987), “a educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola elementar, ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares”, em que a atitude em psicomotricidade deve ter sua própria identidade.
Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2007, apud Oliveira, 2008) a psicomotricidade é a ciência que tem como objetivo de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo.
A psicomotricidade visa relacionar corpo, mente, espírito, natureza e sociedade, possibilitando o indivíduo a demonstrar o que sente através do seu corpo, pois é essa relação somada com suas experiências que constituirão a base de seu EU.
De acordo com Assunção & Coelho (1997, apud Lima) a psicomotricidade integra várias técnicas com as quais se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes), relacionando-o com a afetividade o pensamento e o nível de inteligência. A criança descobre o que gosta e adquire consciência de seu esquema corporal através da ação, do movimento, o que além de tudo leva ao aprendizado e ao desenvolvimento motor. É “através” do movimento que a criança adquire o conhecimento de si, de seu corpo e do mundo que o cerca.
Oliveira (1997, p. 47) afirma que “O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo”.
Desde bebê, o ato de olhar e tocar confere ao recém nascido segurança para se manifestar e expressar. O desenvolvimento psicomotor do bebê ocorre de forma natural, no entanto os adultos intervêm nesse desenvolvimento. Esse desenvolvimento está relacionado a componentes biológicos (maturativos) e relacionais, em que o sujeito expressa vivências e emoções baseados com o meio em que vivem.
Através da recreação a criança desenvolve suas aptidões perceptivas por meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Esta deve considerar seus níveis de maturação biológica. As brincadeiras, jogos possibilitam o desenvolvimento das crianças, auxiliando a vida em comunidade, tornando-a capaz de obedecer a regras e normas e reconhecer suas possibilidades e seus limites, garantindo o auto-conhecimento de seu corpo e o desenvolvimento de suas potencialidades expressivas e superação de seus limites.
É através de uma ação pedagógica e psicológica que a criança aprende a conhecer e desenvolver seu psicomotor, dentro de seus limites corporais, podendo assim movimentar-se organizadamente dentro de seu espaço.
Segundo Barreto (apud Barbosa 2009), “O desenvolvimento psicomotor é de suma importância na preservação de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura do direcional da idade, da lateralidade e do ritmo”.
O educando compreende e domina o diálogo corporal, em que aprende a se interagir com o mundo sendo capaz de se expressar com o corpo, através de suas ações, sentimentos e emoções.
Vygostsky (1997, apud Oliveira, 2008), já dizia que a relação que o sujeito estabelece com o meio, assim como consigo mesmo, tem consequências para a aprendizagem. Sendo que a interação e a colaboração da criança com o meio social, com outras crianças, com a escola propicia a esta seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico. Pois a criança busca experiências em seu próprio corpo, permitindo-o a se expressar e comunicar através do mesmo. Além do que a psicomotricidade no processo de ensino-aprendizagem deve se relacionar com a afetividade, desempenhando na criança um papel de suma importância, pois se trata de uma experiência afetiva no qual a criança na idade escolar pode confrontar com o meio, possibilitando-o a vida em grupo, o desenvolvimento fisiológico e psicológico. Lima (2009) relata que é importante as atividades motoras na educação, pois elas contribuem para o desenvolvimento das crianças.
Em um ambiente tranquilo e feliz, a criança por meio de jogos e brincadeiras aprende a desenvolver suas aptidões e vencer suas limitações. A reeducação psicomotora auxilia a criança a perceber melhor seu corpo, seu espaço, sentimentos, estruturando o indivíduo como um todo, possibilitando-o a desenvolver-se dominando seu corpo, aumentando seu equilíbrio, suas ações, seus pensamentos desenvolvendo seu intelectual.
2 O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA
O psicomotricista é o profissional habilitado com curso superior da área da saúde e da educação que previne, avalia, trata e estuda o indivíduo na aquisição e no desenvolvimento de transtornos psicomotores. Na sala de aula o professor atua como facilitador do processo de desenvolvimento psicomotor, pois é profissional responsável pelo processo de linguagem, motricidade, afetividade e cognitivo da criança.
O professor deve auxiliar no potencial de relação pela via do movimento, incentivando o gosto pelo brincar, ampliando a intelectualidade, a imaginação e a possibilidade de comunicação. Esse facilitador deve interagir com a criança, criando um laço afetivo através de atividades e brincadeiras, garantindo à criança uma maior flexibilidade na relação consigo mesmo, com os amigos, os familiares e com os diversos grupos com os quais se relaciona.
É indispensável a educação psicomotora nas instituições escolares, sendo esta realizada de acordo com a faixa etária da criança. Esta educação é um processo de desenvolvimento integrado do pensamento, do movimento e da emoção dos indivíduos, visando a sua melhor integração individual e social, é de responsabilidade do professor de cada sala, pois a maioria das escolas não contam com o apoio do psicomotricista.
Silva (2008, p. 125) relata que o papel do facilitador e do psicomotricista é garantir a melhoria no desempenho nas aprendizagens cognitivas, em que propicia assim exercícios de equilíbrio, coordenação e orientação espacial.
Estes profissionais devem facilitar a aprendizagem, atentando as etapas do desenvolvimento do aluno. Devem desenvolver a capacidade de observar intervindo quando necessário, devem ainda planejar suas aulas levando em consideração o espaço físico e a disponibilidade de materiais. É o educador que deve auxiliar os alunos a centrar sua atenção sobre si mesmos para uma maior interiorização do corpo.
Segundo Silva (2008, p. 127) é importante que o psicomotricista crie um ambiente no qual a criança possa manifestar-se de diferentes formas, seja verbalmente, através das linguagens plásticas, pictóricas, entre outras. Para tanto cabe ao psicomotricista e ao professor manter-se constantemente em formação pessoal, adequando suas metodologias a realidade dos discentes, buscando compreender melhor a si mesmo refletindo assim, numa melhor disponibilidade corporal, podendo atender as necessidades de cada aluno.
O psicomotricista deve estar constantemente observando as crianças para identificar quando intervir, pois há crianças que precisam de ajuda e estímulos para ampliar o potencial de exteriorização. É papel do facilitador olhar, auxiliar, proteger e motivar cada aluno, fazendo da escola a segunda casa do discente – ou a extensão da mesma, pois é assim que ele se sente -, dando-lhe a atenção, segurança e afetividade que necessita.
De acordo com Arnaiz Sánchez (2003, p.76), o psicomotricista deverá ter funções privilegiadas:
Ser dinamizador da comunicação; Garantir a segurança de todos; Saber escutar (o individual e/ou o grupal) e amplificar (comunicar ao resto do grupo) aquelas situações de interesse para o grupo; Ser receptivo aos bloqueios que possam ser produzidos em algumas crianças; Fazer propostas coletivas que são anunciadas no início da sessão e, também, propostas complementares ou individuais durante e depois da sessão; Servir de modelo e também de espelho em que possam ser refletidas as vivências, as emoções, as percepções e as representações das crianças; Ser um mediador entre os diversos ambientes educativos que as rodeiam.
Assim, como relata a autora, é função do educador ou psicomotricista criar uma interação com os alunos, criando um ambiente que confira segurança para que os discentes possam se expressar, ajudando-os a se comunicar quando necessário, buscando estratégias de intervenção, evidenciando a opinião de cada criança (mesmo que dita após as aulas ou reuniões) com atividades que reforcem e completem suas ações valorizando-as e reconhecendo-as, atendendo as necessidades individuais e em grupo. Para tanto o educador deve ter segurança de sua função e respectivos atos e ações, pois será o modelo que as crianças buscarão para suas vidas.
O papel do psicomotricista é através do movimento permitir à criança estabelecer uma situação concreta e inteligível, inter-relacionando com o seu Eu, com seu corpo, habilidades e dificuldades, é provocar uma conexão do indivíduo com o meio ambiente, adquirindo conhecimento, é criar um ambiente no qual o educando utiliza para comunicar a trajetória que realiza no decorrer de uma sessão de psicomotricidade relacional, garantindo a criança um ambiente no qual possa manifestar-se de diferentes formas, seja verbalmente, seja através das linguagens plásticas, entre outras.
O psicomotricista deve ter a sensibilidade suficiente para intervir quando necessário, ajudando a criança na superação de obstáculos, possibilitando-a e garantindo o conhecimento através da relação ensino-aprendizagem, trabalhando o corporal e o cognitivo simultaneamente. É função desse educador compreender os sentimentos e pensamentos que o aluno procura transmitir através dos gestos e postura.
2.1 Psicomotricidade Funcional
Para Silva (2008, p.124), a psicomotricidade possui dois enfoques diferentes: um de origem funcional e outro de cunho relacional, sendo que ambos têm características peculiares. Sendo que:
(...) a Psicomotricidade Funcional utiliza como referencia inicial o perfil psicomotriz da criança, avaliando a partir de testes padronizados. A intervenção psicomotora funcional utiliza o método diretivo, através da realização de atividades baseadas em famílias de exercícios, não deixando espaço para o sujeito exteriorizar a sua capacidade de expressão motriz.
Nesse diagnóstico verifica-se o equilíbrio estático e dinâmico, coordenação motora, lateralidade e orientação espacial. Dependendo do resultado, é passado como terapia exercícios na busca de sanar possíveis descompassos do desenvolvimento motor, não deixando espaço à exteriorização da expressividade motriz. Cabe ao professor comandar o aprendizado e planejá-lo a partir do déficit de cada criança, descartando a necessidade, mesmo que momentânea, que possa vir a apresentar. A ação do psicomotricista tem um caráter reeducativo, em que através desses exercícios são diagnosticados possíveis problemas, perturbações psíquicas, afetivas e motoras no desenvolvimento infantil.
Para a Psicomotricidade Funcional o desenvolvimento de habilidades é que vai permitir que as crianças melhorem o desempenho nas aprendizagens cognitivas, no entanto para alguns autores tal enfoque funcional, pode fazer com que o discente torne dependente das ações do psicomotricista, impedindo de tal forma de exteriorizar sua expressividade motriz.
Esse método diretivo faz com que se evidencie o certo ou o errado, trazendo implicações importantes para o desenvolvimento da criança (SILVA, 2008 p. 33), em que o professor ou psicomotricista não se interage com os alunos, apenas os dirige para o resultado esperado, em que através da Educação Física visa melhorar o comportamento dos educandos.
2.2 Psicomotricidade Relacional
A Psicomotricidade Relacional utiliza-se das brincadeiras como propulsor da aprendizagem, para provocar a exteriorização corporal da criança. Tem um caráter preventivo no qual a criança possui a liberdade para se expressar e melhorar seu desenvolvimento utilizando o jogo como elemento pedagógico. Silva a caracteriza:
(...) a Psicomotricidade Relacional de um método não-diretivo, para atingir seus fins, sustenta-se na ação do brincar como atividade-meio, utilizando o jogo como elemento pedagógico, privilegiando a criação, a representação e a imaginação do sujeito (2008, p.124).
Dessa forma, é com a prática corporal, a liberdade de interação com objetos que se obtém o conhecimento através do movimento em que a ação de brincar impulsiona processos de desenvolvimento e de aprendizagem.
O papel do facilitador, de acordo com a concepção da psicomotricidade relacional, caracteriza-se por um conjunto de ações e estratégias de intervenção pedagógica não-diretivas que utiliza a via corporal como meio para aprimorar as relações da criança com o adulto, com os iguais, com objetos e consigo mesma (SILVA, 2008, p.126).
“A intenção fundamental do Psicomotricista Relacional é auxiliar o sujeito na detecção de suas dificuldades psicoafetivas e no seu processo de conquista de identidade e autonomia, com vistas à socialização” (SILVA 2006, p. 57). Segundo o autor, o fato de o psicomotricista reconhecer sua história pessoal e suas emoções contribui para o desenvolvimento harmônico da personalidade das crianças. Para tanto Silva alerta que é necessário que esse educador tenha formação nessa direção, tendo a consciência que o seu trabalho deve ser fundamentado no diálogo, ditado pelos componentes da história pessoal de ambos e por suas constantes transformações, utilizando-se da interação que cria com o discente, o ajudando, escutando e mediando quando precisar.
3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação visa o desenvolvimento das capacidades física, intelectual e moral da criança. A educação psicomotora propicia ao individuo meios para que se estruture como um todo enfocando não só a emoção, mas também a compreensão e a contenção dessa emocionalidade, que em algumas situações, pode ser excessiva, em outras inibida ou agressiva. Para tanto essa educação se inicia primeiramente com o contato com a família logo após o nascimento, e tem continuidade na educação infantil nas escolas, evidenciado na primeira fase do ensino fundamental, que constitui a base para as experiências escolares vindouras.
A base do trabalho com as crianças na Educação Infantil consiste na estimulação perceptiva e desenvolvimento do esquema corporal, o professor deve deixar a criança livre, permitindo-a que realize suas ações sozinha, mas este deve desenvolver o hábito de observar se algum aluno possui um desenvolvimento psicomotor inadequado, podendo evitar o desenvolvimento dessa dificuldade e previní-lo, tomando assim um caráter preventivo, e/ou reeducativo.
A escola é um ambiente propício para verificar distúrbios nas crianças, pois é onde se relacionam com os colegas e professores, indivíduos que antes não fazia parte de seu vinculo social, é onde adquire a educação formal, evidenciando dificuldades na leitura, na escrita e consequentemente no aprendizado, podendo assim que verificado proporcionar a reeducação psicomotora, condicionando seus movimentos, habilidades e dificuldades.
A ausência de reeducação é um abandono da criança em sua dificuldade de viver, de perceber uma imagem valorizante de si, corresponder convenientemente à expectativa dos quais a cercam (rendimento escolar, insatisfação, falta de habilidade às refeições). Uma educação bem dirigida ajuda a criança a resolver seu problema quando ele surge e a perder menos tempo para se desenvolver afetiva e intelectualmente. Em resumo, a reeducação torna a criança feliz na escola e na sociedade (FILHO, 2001, p. 63).
O ato de ignorar suas dificuldades e distúrbios acarretará problemas em sua vida afetiva e escolar. São as experiências e descobertas da criança que se estruturam para formar sua personalidade, sua identidade. É através da Psicomotricidade que a criança adquire as noções de seu corpo, controle postural, da lateralidade, tempo-espaço, segurança, evoluindo de acordo com sua idade e experiências.
A primeira demonstração de interação da criança com o meio é sua tentativa de linguagem através dos gestos, do choro, que aos poucos toma consciência de ações e as usa conforme convém. A identidade da criança é construída baseada nas experiências e sensações de seu corpo, associada ao seu mundo exterior e suas relações, por isso é necessário educar tanto o corpo quanto a mente.
Ao ingressar na escola, a maioria das crianças possui dificuldades na coordenação motora, pois não conseguem segurar o lápis, ou brincar com jogos didáticos que necessitam dessa habilidade. Evidenciando a importância da psicomotricidade na Educação Infantil, pois a mesma propicia ao educando a relação com o concreto, de acordo com o ritmo de cada pequenino e atento ao cuidado de não ultrapassar nenhum estágio desse desenvolvimento.
Imaturidade da criança para a freqüência sistemática à escola, deficiências sensoriais ou motoras, retardo mental, perturbações emocionais, carência de interesse e motivação para aprender, níveis de exigência escolar ou familiar muito elevado, métodos escolares inadequados, são fatores que influenciam a capacidade de aprendizagem (Sachsse, 2004).
A autora alerta ainda, que é função da instituição escolar estimular na criança as relações que existem entre cada indivíduo com o meio, garantindo a consciência como um todo que funciona integradamente, percebendo-o interna e externamente e reconhecendo cada uma de suas partes e respectivas funções.
É uma tarefa importante, mas ao mesmo tempo difícil, pois o educador está lidando com um dos processos iniciais do desenvolvimento infantil.
Le Boulch (1987, p. 26), afirma:
(...) na perspectiva de uma verdadeira preparação para a vida que deve inscrever-se o papel da escola, e os métodos pedagógicos renovados, devem, por conseguinte, tender a ajudar a criança a desenvolver-se da melhor maneira possível, a tirar o melhor partido de todos os seus recursos preparando-a para vida social. Mas ligar o conceito social na profissão e no lazer não é um problema cuja solução pareça evidente. Ou fica-se ao nível das intencionalidades generosas, expressas no plano verbal e que constituem o objeto de grandes declarações de intenção, ou então, utilizam-se as formas tradicionais de ensino que não mais se voltarão para as aquisições escolares, mas para a aprendizagem das pretensas habilidades sociais, utilizadas no trabalho ou no esporte.
Para esse autor, “menosprezar a influencia de um bom desenvolvimento psicomotor seria limitar a importância da educação do corpo e recair numa atitude intelectualista”. Para tanto cabe à Educação Infantil garantir uma verdadeira educação psicomotora integrada aos conjuntos das disciplinas escolares.
A psicomotricidade favorece ao aluno ainda na Educação infantil, o desenvolvimento de seu raciocínio lógico através do lúdico com jogos e brincadeiras, que despertem a aprendizagem.
O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil (Piaget apud Sachsse, 2004).
Com o uso de jogos a criança aprende brincando e melhora as relações com outras pessoas, desenvolvendo diversas formas de raciocínio, pois os mesmo exteriorizam os desejos e sonhos, simulam relações sociais e faz com que os alunos expõem seus pontos de vista e discutem opiniões, promovendo experiências de aprendizagem.
Ao selecionar um jogo para se trabalhar em sala de aula, o educador deve analisar suas próprias jogadas e refletir sobre os possíveis erros, assim terá condições de entender as dificuldades que os alunos irão enfrentar. Além disso, ter um cuidado especial na hora de escolher os jogos, que devem ser interessantes e desafiadores, onde o conteúdo deve estar de acordo com o grau de desenvolvimento e a faixa etária, pois o jogo não deve ser fácil demais e nem tão difícil, para que os alunos não se desestimulem.
Crianças que possuem algum tipo de distúrbio psicomotor demonstram sintomas na educação infantil, no convívio com demais colegas, visto a real importância do psicomotricista nas instituições escolares. Mesmo o educador em suas observações e atividades diárias pode identificar alunos com distúrbios, podendo a partir desse momento, aplicar uma reeducação psicomotora conforme a necessidade do educando, encaminhando-o para profissionais da área quando necessário.
É incumbência da Educação Infantil, proporcionar o trabalho da Psicomotricidade na sala de aula, para que haja o melhoramento da capacidade, o rendimento adequado aos diferentes níveis de habilidade e mobilidade e o amadurecimento psicoafetivo, já que fomenta a comunicação e a evolução das capacidades básicas para o desabrochar de seu mundo emocional, cognitivo, social e de sua fantasia.
CONCLUSÃO
O corpo é o meio pelo qual exteriorizamos nossos sentimentos e pensamentos, é a origem de todo conhecimento.
Dentro da sala de aula, o professor nota que algumas crianças são “desastradas”, demasiadamente tímidas, lentas, agressivas e inquietas, fazendo com que esses alunos possuam dificuldades na fala e na exteriorização de seus movimentos. É necessário assim, que os profissionais da área Infantil tenham as definições de Psicomotricidade, podendo então dar a atenção necessária àqueles que carecerem.
Crianças que possuem falta de atenção, capacidade motora fraca, dificuldades em se movimentar podem apresentar também dificuldades na aprendizagem, para tanto a formação do educando aliada à Psicomotricidade é essencial, pois uma Educação Psicomotora através de atividades, jogos e brincadeiras confere a possibilidade de melhorar a aprendizagem e a inserção dessas crianças nesse mundo que visa a produtividade.
A criança que não tem consciência de seu corpo tem dificuldades para identificar as posições no espaço e localizar-se no mesmo, além do que se fecha em si mesma, se abstém no seu “eu” interior, não se relacionando com os demais.
Durante o trabalho envolvendo a Psicomotricidade, a criança aprende a descobrir as interfaces do seu poder sobre o próprio corpo e sobre os objetos que lhe rodeiam, confrontando com suas limitações e desenvolvendo suas habilidades, tornando assim dona de seus próprios atos.
No entanto, para que haja mudança significativa, é de suma importância que além de repensar a escola, repense também a formação dos docentes, principalmente a formação dos pedagogos, profissionais da área Infantil, garantindo assim a qualidade no ensino e na instrução de nossas crianças, pois a adaptação da criança no ambiente escolar é um processo muita das vezes difícil para o pequeno educando, sendo que tal etapa é a mais importante para a vida escolar porque condiciona o acesso à plenitude das etapas posteriores.
Diante desses fatores, cabe à escola promover atividades e jogos psicomotores que abram espaço para o autoconhecimento, garantindo aos alunos a liberdade de brincar e se movimentar, adequando-se ao processo natural de desenvolvimento e evolução do discente, pois é pelo domínio do movimento do objeto que a criança atinge progressivamente o dom do gesto, da linguagem e do corpo.
Psicomotricidade: CONTRIBUTIONS IN THEIR EARLY SERIES
ABSTRACT
This work Psicomotricidade with the theme: Contributions in the initial series, addresses concepts of psychomotricity, the function of psicomotricista and the importance of early childhood psychomotricity with the intention of alerting the professional education of the importance of working the movement, and the games play as the child needs to improve its performance both physical, as mental, by integrating mind and corpo. The Psicomotricidade is a science that aims at the study of man, through his body in motion, in relations with their internal world and externally, as are their experiences and feelings to their environment that together form the basis of its I., your identity. It is an educational activity which aims to outline the body in the purpose of facilitating and developing the awareness, knowledge and drive of the child. When observing the students, the teachers identified that some are different, that even having the same type of education and normal intelligence, some are awkward, restless or hyperactive. The psychomotor education is related to a basic training essential to every child that is with or without disturbances. Many of the difficulties presented in the classroom can be remedied within that environment by teaching responsible, thus showing the importance of observation, training and information for the same. The inclusion in the Child Rearing is an important step in the life of the child, because it is the basis for their other school experiences. It is this phase that the child puts on paper their feelings and sensations through the gibberish, and it is this stage that understands the lack of motor coordination and balance those who cannot hold the pencil or participate in games and activities proposed. At that time, the teacher, or educator can psicomotricista education through a work or Reeducation psychomotor performance and cognitive and mental functions through the body, emphasizing the movement, thus influencing the development of identity in learning, the self and the ability motor. The evolutionary process of the child occurs gradually, through acquisitions and changes in psychomotor activity, students learn by their own movements of your body, promoting greater interiorization, and learning to communicate and express more adequately.
Keywords: Psicomotricidade. Child. Child Rearing. Psicomotricista. Movement.
REFERÊNCIAS
ARNAIZ SÀNCHEZ, Pilar; MARTÌNEZ, Marta Rabadán; PEÑALVER, Iolanda Vives. A psicomotricidade na educação infantil: uma prática preventiva e educativa. Trad. Inajara Haubert Rodrigue. – Porto Alegre: Artmed, 2003.
FILHO, Audir Bastos; SÁ, Claudia Maria Ferreira de. Psicomovimentar. Campinas, SP: Papirus, 2001.
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
LE BOULCH, Jean. Educação Psicomotora: psicocinética na idade escolar. Trad. Jeni Wolff. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
LIMA, Aline Souza. Psicomotricidade na Educação Infantil. São João de Meriti, 2007. Disponível em: http://www.colegiosantamaria.com.br/santamaria/aprenda-mais/artigos/ver.asp?artigo_id=9. Acesso em 29 abr. 2009
LIMA, Sandra Vaz de. A importância da Psicomotricidade na Educação Infantil. Disponível em: http://www.artigonal.com/educacao-artigos/a-importancia-da-psicomotricidade-na-educacao-infantil-340329.html. Acesso em 29 abr. 2009
Lussac, Ricardo Martins Porto. Psicomotricidade: história, desenvolvimento,
conceitos, definições e intervenção profissional. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 13 - N° 126 – Nov. 2008. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd126/psicomotricidade-historia-e-intervencao-profissional.htm. Acesso em 15 jun. 2009
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade – Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1997.
Sachsse, Liselotte. O Tempo e o Espaço da Psicomotricidade na Educação Infantil. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http://www.avezdomestre.com.br/monopdf/7/LISELOTTE%20SACHSSE.pdf. Acesso em: 30 jun. 2009
SILVA, Daniel Vieira da. Educação psicomotora. Curitiba: IESDE, 2006.
SILVA, Katia Cilene; OLIVEIRA, Aniê Coutinho. Ludicidade e Psicomotricidade. Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). – Curitiba: Ibpex, 2008. 157 p.
[1] Professora no Colégio Estadual Senador Teotônio Vilela; acadêmica do Curso de Licenciatura Plena Parcelada em Pedagogia
[2] Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena Parcelada em Pedagogia
3 Auxiliar de Secretaria no Centro Educacional Infantil Municipal (CMEI); acadêmica do Curso de Licenciatura Plena Parcelada em Pedagogia
4 Supervisora Especial da Merenda Escolar no Colégio Estadual Calumério Rodrigues Galvão; acadêmica do Curso de Licenciatura Plena Parcelada em Pedagogia
5 Secretária Geral da Escola Estadual Calumério Rodrigues Galvão; acadêmica do Curso de Licenciatura Plena Parcelada em Pedagogia