FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Celina Tardim Alves
Izalina da Silva Gonçalves
Joelma Simão da Silva Tardim
Mônica Damasceno Silva
Silvia José da Cruz Nunes
RESUMO
O objetivo deste trabalho é refletir sobre as possíveis contribuições do uso de metodologias ativas na educação infantil, por meio da formação de professores. Na atualidade vivemos o advento da tecnologia digital, e cada vez mais e mais cedo os educandos tem tido acesso aos meios de comunicação e informação digitais. Pensando nesse fato como algo inevitável, proponho neste artigo pensar o uso de metodologias ativas na formação de professores, pois estes precisam ser capacitados, no processo de alfabetização e de ensino-aprendizagem da educação infantil. Para entender essa possibilidade de uso das metodologias na educação infantil, perfaço uma revisão de literatura sobre as possibilidades de uso de metodologias ativas, os principais tipos, observando essa questão que é defasada na formação de professores, e termino discorrendo com algumas propostas integrativas de uso de metodologias ativas na formação de professores que trabalham com a educação infantil.
Palavras chave: Educação infantil. Formação de professores. Metodologias ativas.
Introdução
Como principal objetivo este trabalho pretendemos apresentar algumas possibilidades do emprego/uso de metodologias ativas que vem sendo utilizadas em aulas e como essas podem servir na formação de professores em sala de aula para atuarem na educação infantil, colocando o educando como responsável pelo seu processo de ensino-aprendizagem.
As consequências do uso de tais metodologias esbarram por exemplo nas desigualdades sociais, pois em ações que expõem, particularmente, aqueles estudantes que não tem acesso a alguns recursos digitais essenciais para desenvolver tais aulas com o auxílio dessas metodologias.
Essas desigualdades também acabam reforçando a prática preconceituosa e discriminatória no interior da sala de aula provocando dificuldades de aprendizagem em alguns casos, daí a importância de uma educação de qualidade, com investimento financeiro para suprir essas e outras questões.
Como forma de combater tal contexto, precisamos que a escola amplie seus investimentos em recursos didáticos, mas que ao mesmo tempo, também invista na formação dos professores, capacitando-os para a utilização dos recursos digitais existentes para desenvolverem aulas mais atrativas para os alunos desde a educação infantil e a educação básica como um todo, de modo que estes consigam trabalhar com os recursos digitais que vão sendo inovados e aperfeiçoados a cada dia.
Para tanto, a classe docente necessita entender, que o uso de metodologias ativas e recursos digitais é algo que será inserido de forma coercitiva, e os professores precisarão se adaptar para desenvolverem suas aulas com seu novo público que já têm nascido digitalizado.
Desenvolvimento
Sabemos que a formação continuada de professores é um instrumento eficaz para a ressignificação das práticas pedagógicas dos docentes envolvidos no processo formativo, pois é por meio dessa atividade, que é possível contribuir para a minoração do preconceito evidente no posicionamento dos sujeitos envolvidos nesse processo dialógico em sala de aula.
Ao considerarmos essa diversidade pensante em sala de aula, é necessário que o professor esteja devidamente formado para o ensino sob essa perspectiva, desse modo, consideramos que os estudos sobre metodologias ativas possibilitam ao docente o ensino vinculado às práticas sociais, tendo em vista que o discurso é social e é o lugar em que a ideologia se inscreve, levando os alunos a refletirem sobre os sentidos silenciados a partir daquilo que foi dito e ensinado.
As metodologias ativas podem ser entendidas como ações educativas em um novo contexto de como ensinar, se apropriando dos conhecimentos já dominados pelos educandos e que produzem sentidos na sua práxis social, dessa forma fazendo uma conexão entre a prática metodológica docente e os conhecimentos/conteúdos a serem mediados entre professor e aluno, um aprendendo com o outro.
Algumas das metodologias ativas que vem sendo utilizadas são: a sala de aula invertida, o ensino híbrido, a aprendizagem baseada em projetos, a aprendizagem baseada em problemas, o estudo de caso, a aprendizagem entre pares ou times, entre outras, no entanto, essas são as mais comuns, as quais possuem a característica comum entre si, de colocar o educando como agente principal do seu próprio processo de ensino-aprendizagem.
Conforme RICHIT e et.al (2019, p. 56) “Os processos formativos centrados no desenvolvimento profissional docente têm interessado pesquisadores e professores por suas possibilidades de promover mudanças nos processos educacionais em distintos sistemas e níveis de ensino”, inclusive para entender e promover o emprego das metodologias ativas na formação de professores para o ensino na educação infantil e outros níveis da educação básica.
Ao pensarmos o ensino sobre metodologias ativas na educação infantil por meio da teoria da Análise do discurso (doravante AD), reiteramos a importância de o professor estar em Formação Continuada (doravante, FC), a fim de que acompanhe as discussões de sua área de atuação, dessa forma, refletindo no desenvolvimento crítico dos alunos.
Assim, cabe-nos aqui, discorrer sobre o que entendemos como FC. Corroboramos com Rodrigues& Esteves (1993), quando nos dizem que a FC é,
(...) aquela que tem lugar ao longo da carreira profissional após a aquisição da certificação profissional inicial (a qual só tem lugar após a conclusão da formação em serviço), privilegiando a ideia de que a sua inserção na carreira docente é qualitativamente diferenciada em relação à formação inicial, independentemente do momento e do tempo de serviço docente que o professor já possui quando faz a sua profissionalização, a qual consideramos ainda como uma etapa de formação inicial (RODRIGUES& ESTEVES, 1993, p. 44).
A partir do que nos dizem as autoras, destacamos que nesse processo contínuo de formação, o professor assume um papel inovador, de mudança, sendo que é por meio dele que a práxis se tornará possível, como um elemento indissociável à atividade de ensino.
Consideramos que a FC do professor reflete diretamente no aprendizado e, dessa forma, será um espaço em que a troca e interação estarão imbricadas, objetivando a busca de novos conhecimentos, a fim de que construa instrumentos que possibilitem aos alunos atribuírem sentidos nos diferentes contextos em que se inserirem, por meio dos conhecimentos proporcionados pela pelo dispositivo de interpretação que a AD oferece, ou seja, ne análise e interpretação de situações que o educando terá que fazer.
Ainda, no que se refere à FC, sabemos que o ensino com metodologias ativas na escola é um terreno movediço aos professores, uma vez que ainda nos dias de hoje, apresentam carência no que se refere a essa temática, uma vez que eventualmente apresentam-se discussões em cursos de formação inicial.
Portanto, o professor apresentará dificuldades ao ensinar conteúdos que não fizeram parte de sua formação inicial. Ademais, muitos professores encontram resistência por parte dos documentos norteadores, tanto a nível nacional, quanto local, para discussão e principalmente se arriscarem com novos métodos de ensino com o uso de metodologias ativas na escola, e muito ainda da comunidade escolar.
Metodologia
Neste trabalho nós reunimos alguns artigos que discorrem sobre a formação de professores, a educação infantil e o uso das metodologias ativas.
Nosso principal objetivo foi promover a discussão e suscitar reflexões que incomodem a classe docente para que procurem soluções diante da carência na formação de professores e o uso de metodologias ativas da educação infantil, por meio das leituras de alguns artigos descritos nas referências.
Nesse artigo nós sugerimos com os jogos, como exemplo de metodologias ativas no ensino da educação infantil, devido a esta metodologia ser uma das mais empregadas no ensino de diversas disciplinas e por ser mais atrativa para crianças, no entanto, cabe destacar a importância de trabalhar com projetos, sala de aula invertida, atividades em grupo, mediadas pela internet, ou mídias, etc.
Diante de algumas leituras foi possível constatar que tanto nos jogos em que os alunos jogavam em times/equipes, quanto nos jogos que eram individuais, esses conseguiram formular estratégias para ganhar, estratégias essas primeiramente criadas no raciocínio (plano metal) e aplicadas no concreto (plano físico), logo fazendo correspondência com o que foi dito anteriormente neste trabalho, que para aprender o aluno precisa fazer uma relação do uso/aplicabilidade do conhecimento em questão, dar significado ou sentido em sua prática social, seja ela um jogo.
Algo que se destacou durante a leitura dos artigos, foi a necessidade do emprego de metodologias ativas na formação dos professore de matemática, uma vez que não é contemplado na ementa dos cursos de formação de professores, menos ainda em sua prática docente.
Portanto, o uso de metodologias ativas na formação de professores é urgente, tendo em vista que estamos em uma sociedade tecnológica e digital, a qual tem permitido cada vez mais o uso de tecnologias aliadas as metodologias no processo de ensino-aprendizagem, mesmo com crianças na educação infantil.
Sugestão de atividade de alfabetização/letramento com jogos
Abaixo trazemos a descrição de duas atividades que desenvolvem a alfabetização em crianças: “Dominó dos sons e Bingo da ortografia” que foram desenvolvidas pelas professoras: Melissa Gatto Regonha e Jaqueline Angelo dos Santos Denardin.
A técnica lúdica é um recurso didático dinâmico que tem garantido resultados na educação, pois estabelecem uma forma de atividade para entreter e de aperfeiçoar ao mesmo tempo. Ao desenvolver as atividades lúdicas o educador deve planejar com cuidado a elaboração e a aplicação.
O jogo é a atividade lúdica mais trabalhada pelos professores atualmente, pois ele estimula várias inteligências, permitindo que o aluno se envolva em tudo que esteja realizando de forma significativa.
O dominó é um jogo interativo que tem por objetivo proporcionar o raciocínio lógico e aritmético dos aprendizes. Como o dominó é uma atividade lúdica, compete ao docente investigar o conhecimento que seus educandos têm sobre o jogo, pois ao jogar se constrói um novo contexto para outras descobertas, que poderão ser utilizadas em recursos complementares.
Observar e sentir gestos e movimentos com vibrações sonoras são atos de primeiro contato com o mundo, por isso em nosso trabalho consideramos a identificação sonora das palavras como forma de aprendizagem importante no 6º ano do Ensino Fundamental.
A utilização de jogos lúdicos em sala de aula contribui não só para mudar a rotina de ensino, como também despertar o interesse dos alunos, aumentar a motivação para a aprendizagem, desenvolver a organização, a autoconfiança, a atenção, a concentração, o raciocínio lógico-dedutivo, o senso cooperativo, bem como desenvolver a socialização dos alunos em sala.
O jogo “Dominó dos sons” é bem simples, sendo jogado entre quatro pessoas. Inicialmente, as peças são colocadas sobre a mesa, viradas para baixo e misturadas. Depois, cada jogador pega cinco, enquanto as demais continuam viradas sobre a mesa. Em seguida, decidem-se quem inicia o jogo e o primeiro jogador coloca uma peça qualquer virada para cima, sobre a mesa. O segundo jogador deve colocar uma peça, em que uma das extremidades represente o som final da palavra que o jogador anterior colocou sobre a mesa. E assim sucessivamente, só pode ser jogada uma peça de cada vez e caso o jogador não tenha uma peça que possa ser encaixada, deve “comprar” outra peça até que encontre uma que se encaixe. Caso as peças acabem, e ainda assim não conseguirem uma peça adequada, o jogador deverá passar a vez. Vence o primeiro jogador que fica sem peças.
Também será aplicado um “Bingo da Ortografia” no qual ao visualizarem as imagens expostas pelo professor, os alunos deverão escolher 16 imagens e escrevê-las de acordo com a ortografia padrão. Após preenchidas as cartelas, o docente “cantará” os nomes das imagens e a aluno que marcar todas as palavras escolhidas por ele anteriormente, ganhará. Desde que as palavras escolhidas por ele estejam escritas de acordo com a ortografia correta.
Os jogos educativos têm como finalidades pedagógicas revelarem a sua importância, pois promovem situações de ensino-aprendizagem e aumentam a construção do conhecimento, introduzindo atividades lúdicas e prazerosas, desenvolvendo a capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora.
Espera-se que com estes jogos – Dominó dos Sons e Bingo da Ortografia – os educandos consigam identificar/diferenciar os sons das letras e aprender a ortografia das palavras, de acordo com a norma padrão[1].
Conclusão
A partir das leituras realizadas, entendemos que precisamos reforçar a ideia de que a escola é uma instituição que serve como um instrumento poderoso para o exercício da cidadania, bem com para a (trans)formação dos sujeitos.
Além disso, o uso de metodologias ativas é algo que precisa ser inserido a acessível, de modo a diminuir as desigualdades e contemplar a pluralidade presente no espaço escolar.
Nós, professores, ao falarmos sobre as metodologias ativas na escola precisamos pensar as diferenças, propiciar acesso a informação e comunicação de qualidade, para que qualquer cidadão e cidadã brasileira, ou não, viva e apresente-se para a sociedade da maneira e forma que quiser, conseguindo gozar dos seus direitos, e um deles é o acesso à educação de qualidade.
Ainda assim falar nas escolas e inserir metodologias ativas é garantir que todos e todas sejam respeitados e respeitadas por serem quem são, sujeitos que são, pelo direito de ser quem são.
Levei em conta, ao pensar o sujeito, em sua materialidade, significando-o e significando-se no espaço urbano, que havia uma especificidade em seu processo de significação que se relacionava fortemente ao seu corpo. Havia, por exemplo, marcas produzidas pela inserção do sujeito com sua materialidade em um outro espaço de significação: o urbano e o rural. A interpelação do indivíduo em sujeito pela ideologia produz uma forma sujeito histórica com seu corpo. Há, eu diria, uma forma histórica (e social) o corpo, se pensamos o corpo do sujeito. (ORLANDI, 2015, p.17)
O uso das metodologias ativas aparece como uma perspectiva emancipatória desses educandos, como já dito, colocando-os como sujeitos do seu processo de ensino-aprendizagem, mas principalmente como sujeitos críticos e capazes de encontrar outras formas resolução dentro dos conteúdos, mesmo que na educação infantil.
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[1]Disponível em: file:///D:/Meus%20documentos/Downloads/IV%20ENCONTRO%20DO%20PIBID%20UNIOESTE.pdf. Acesso em: 25.set.2020.