A PRÁTICA DE ALFABETIZAÇÃO SEGUNDO OS PROFESSORES DAS REDES ESTADUAL E MUNICIPAL DE ALTA FLORESTA –MT, EM 2016
Gislaine de Souza Ribeiro [1]
Adriana Teixeira Rodrigues Selhorst [2]
Ana Paula Zanon ³
RESUMO
A alfabetização é um período de grandes transformações na vida da criança, momento em que ela passa para aprendizagem real, da leitura e da escrita. O professor precisa entender isso e trazer à realidade do educando para dentro da sala de aula, cada aluno tem determinadas particularidades e aprendizagens. Este trabalho visa problematizar a avaliação diagnóstica dos professores,considerando as diferenças e semelhanças entre as redes estadual e municipal de Alta Floresta – MT, em 2016. Busca entender se os professores aproveitam os conhecimentos trazidos da pré-escola ou da realidade de cada um, tendo em vista o processo de alfabetização. Teve-se a necessidade de analisar a prática dos professores, questionar os problemas enfrentados por eles no dia a dia da escola e entender as diferentes abordagens teóricas sobre a alfabetização, como a dos autores: Freire (1989), Franchi (2001), Ferreiro (2010), Soares (2004),Vigotsky (1998). A pesquisa realizou-se com uma amostragem de 5 professores e os dados foram coletados a partir de entrevistas. Conclui-se que eles fazem atividades diagnósticas, ao iniciarem o ano letivo, e que o método que cada professor usa para alfabetizar é importante. Portanto,não dá para demarcar grandes diferenças entre as redes municipal e estadual, uma vez que isso depende mais do profissional do que da rede que ele está atuando. Os entrevistados pontuaram dificuldades em realizar a alfabetização, principalmente, referente à participação da família e a desvalorização profissional.
Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Professores. Dificuldades.
THE ALPHABETIZATION PRACTICEACCORDING TO MUNICIPAL AND STATE TEACHERS FROM ALTA FLORESTA – MT, IN 2016
ABSTRACT
The literacy is a period of great changes in the child's life, moment when it passes for real learning, reading and writing. The teacher must understand this and bring the student's reality into the classroom, every student has certain peculiarities and learnings. This work aims to discuss the diagnostic evaluation of teachersconsidering the differences and similarities between the state and municipal schools in Alta Floresta - MT in 2016. Tries to understand if teachers take advantage of the knowledge brought from preschool or the reality of each one, in view of the literacy process. There was the need to analyze the practice of teachers, question the problems faced by them on the school day and understand the theoretical approaches to literacy, like the authors: Freire (1989), Franchi (2001), Ferreiro (2010), Soares (2004), Vigotsky (1998). The research was conducted with a sampling of 5 teachers and data were collected from interviews. We conclude that they do diagnostic activities, in the begin of the year, and that the method that each teacher uses to teach literacy is important.So, we can not demarcate big differences between municipal and state, since it depends more thanprofessional than where he is acting.Interviewees commented difficulties in literacy, especially regarding the participation of family and professional devaluation.
Keywords: Alphabetization. Literacy. Teachers. Difficulties.
1 INTRODUÇÃO
Quando se fala em alfabetização, logo se pensa que é simplesmente o fato de ensinar a criança a conhecer as primeiras letras, mas a alfabetização consiste em um aprendizado complexo da linguagem.Alfabetizar vai muito além de a criança saber ler e escrever. A função de um alfabetizador é orientar a criança através da escrita e da leitura.
A alfabetização é o período que marca a transição do aluno da fase lúdica caracterizada como Educação Infantil, para a de aprendizagem real da leitura e da escrita.Nesta nova etapa há uma exigência maior por parte do professor no que se refere a chamar a atenção do aluno para a seriedade desta etapa de escolarização. Os horários passam a ser mais rigorosos e há desafios que devem ser lançados aos alunos, por isso, pode-se dizer que é na alfabetização que o estudante sente o compromisso e a necessidade de adquirir conhecimento,ue o acompanhará no decorrer da vida escolar. Nessa parte da vida educacional o aluno brinca menos e a atenção desses é direcionada aos novos ensinamentos provenientes do ciclo inicial do ensino fundamental.
Atualmente, algumas discussões sobre alfabetização referem-se ao letramento. Segundo a autora Magda Soares (2006) é com o letramento que os alunos conseguem ler e compreender o sentido do texto, sabendo questioná-lo com clareza. Com o letramento a criança será despertada e motivada a aprender a ler e escrever, para isso, a alfabetização e o letramento devem andar juntos, um completando o outro e isso acontece durante a alfabetização do indivíduo.
Freire (1989) possui uma concepção crítica em relação à alfabetização realizada tradicionalmente, aquela em que o professor é um transmissor de conhecimentos e não considera os saberes dos alunos. Neste modelo, o professor é detentor do conhecimento e o aluno apenas receptor de informações. Nessa percepção Freire ressalta que o aluno é visto como um ser no qual se depositam informações reforçando o sistema de educação bancária, os resultados são frases prontas sem nenhuma criticidade.
Paulo Freire (1989) salienta que conhecimento libertador é quando um educador utiliza métodos de ensino com ações inovadoras, sem a separação da prática e teoria, sem o “be a bá” memorizado, sem a forma superficial se avalia permanentemente. O conhecimento que liberta é aquele que o aluno independente da fase: criança, jovem ou adulto, consegue estabelecer conexão com o ambiente, ter opinião própria e se colocar na sociedade como ser político. Ou seja, capaz de se posicionar frente aos desafios que serão apresentados.
Portanto, para Freire (1989), a alfabetização tem que ser libertadora. O autor saliente que as escolas não devem montar o plano de ensino somente em torno de apostilas, mais sim de livros, muitas vezes fabricado pelos próprios alunos. Os professores precisam alfabetizar a partir das palavras “geradoras”, que são palavras que já fazem parte da vida dos alunos, para que esse processo se torne mais interessante para . (FREIRE, 1989).
Precisa-se trazer a realidade do educando para dentro da sala de aula, cada aluno com a particularidade dele, ou seja, professor não pode ignorar a identidade como ser humano. O educador levando em conta essas questões formará alunos críticos, capazes de entender os atos políticos do próprio país e assim lutar pelos direitos e conscientemente cumprir os deveres perante a sociedade.
Como problemática, sabe-se que na fase da alfabetização, o professor se deparará com alunos que possuem alguns conhecimentos referentes à leitura e à escrita, ocorridos da frequência da pré-escola e outros que foram inseridos na instituição escolar sem antes passar pela Educação Infantil, ou seja, entrou na escola aos seis anos, logo na primeira fase do ensino fundamental. Diante disso, cabe questionar: Como os professores realizam a primeira aproximação/avaliação com os alunos, quando eles iniciam o primeiro ano sem tem frequentado a Educação Infantil? Existe diferença no modo de ensinar os alunos, nas escolas da rede estadual e municipal de Alta Floresta – MT?
Diante dos diversos métodos utilizados por alfabetizadores e devido à diversidade de conhecimentos trazidos pelas crianças, como hipótese, percebe-se que os professores encontram dificuldades em fazer uma avaliação prévia dos saberes dos alunos. Assim, em benefício daqueles que não frequentaram a Educação , os alfabetizadores homogeneízam a turma e iniciam o processo de alfabetização sem aproveitar os conhecimentos trazidos da pré-escola ou da realidade de cada um.
Os objetivos deste artigo é analisar a prática dos professores da alfabetização, questionar os problemas enfrentados por eles neste processo e entender novas abordagens teóricas sobre as variadas formas de alfabetizar.
Este trabalho se justifica pelo fato de que assuntos relativos à educação chamam a atenção para discussões acerca dos métodos de alfabetização e enfatizam a formação integral do aluno, na qual, o professor deve ser mediador na construção da identidade dos discentes. Considera-se que a ação do educador se dá em conjunto com a família, sendo ela responsável pela educação das crianças e o professor. Portanto, para que o educador tenha êxito em sua tarefa deve basear suas ações, tendo em mente, os princípios básicos da educação: éticos, políticos e estéticos que iniciam na Educação Infantil e seguem ao longo da vida do ser humano.
Os questionamentos que permeiam este trabalho acadêmico se justificam pelas observações feitas em práticas pedagógicas. Apesar da ampliação das reflexões sobre as diversas maneiras de alfabetizar, verifica-se que há professores que ainda utilizam métodos tradicionais, sem considerar os conhecimentos que cada aluno possui.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As discussões acerca da educação escolar têm sido variadas, procuram resolver problemas que são decorrentes de longa data, como, por exemplo: evasão escolar, baixo rendimento por parte dos alunos, acesso e permanência destes na escola, qualidade de ensino, funcionamento adequado das instituições, formação de professores e dentre estes assuntos abordados, pode-se destacar os métodos para levar conhecimento aos estudantes, principalmente na fase da alfabetização.
Em meio a tantas diferenças entre as crianças, surge a questão: Como levar conhecimento a uma turma de alfabetização tendo em mente os níveis de conhecimento que cada criança possui sem homogeneizar a turma, uma vez que, os alunos do 1º ano trazem para a escola diferentes motivações para aprender ler e escrever?
Os novos tempos trazem um enunciado da escola de construção dos saberes, ao contrário dos métodos tradicionais em que o professor era detentor do conhecimento e autoridade máxima em sala de aula, hoje, as discussões são em torno da aquisição da escrita e linguagem por meio da troca entre educador e aluno. Neste novo processo, o professor dialoga com as crianças a fim de oferecer condições favoráveis para aprendizagem.Sobre a atuação e planejamento do professor na construção do conhecimento, Franchi (2001, p. 42) relata:
Planejar não é prever uma rotina, mas um ato de imaginação; e é saber criar as condições para uma atividade conjunta em torno dos problemas que o professor prevê e que ele sabe adequados aos objetivos que se propõe. Nesse processo, mesmo quando decide, o professor não responde mais a um problema ou necessidade que ele tem: decide sim, mas sobre uma questão que já se tornou uma questão para todos.
Isso significa que o professor não planeja as ações sem analisar o ponto de vista das crianças. Ao preparar as atividades, ele não pode criar e estabelecer todas as regras, antes, ele deve partilhar as intenções das ações que planejou com os próprios alunos. Cabe ao professor o entendimento de que para realização de seu trabalho, é preciso pensar que as crianças são diferentes e que cada uma tem um jeito próprio e tempo de aprender. Os caminhos que levam a criança ao aprendizado da leitura e da escrita apresentam-se de variadas formas.
Franchi aponta que a aprendizagem significativa se dá por meio “das atividades com textos, frases, avisos, ou com seus próprios nomes escritos” (FRANCHI, 2001, p.123). Assim é importante que os alunos tenham contato com materiais de leituras presentes no dia-a-dia, com assuntos que façam sentido para eles. O professor precisa trabalhar de forma diferenciada ela escreve:
No caso, a extraordinária importância da opção por um trabalho em conjunto, dialogal. É nele, como resultado da contribuição recíproca de crianças, com diferentes níveis de desenvolvimento, que as hipóteses conceituais mais facilmente são estabelecidas e examinadas criticamente. É esse o melhor caminho para assegurar às crianças, com suas diferenças, uma socialização mais distributiva dos conhecimentos. (FRANCHI, 2001, p.)
Com tais palavras, entende-se que o professor deve realizar a tarefa de alfabetizador com base no diálogo e no trabalho em equipe, uma vez que o convívio entre as crianças em fase de aprendizagem não somente favorece a aquisição da leitura e da escrita como promove o conhecimento necessário para vida.Para a autora o aprendizado deve acontecer em uma sala que respeita as diferenças entre os alunos, ou seja, de forma heterogênea descartando assim a forma comum de homogeneização, em que todos os alunos são colocados em sala de aula e aprendem da mesma forma como se todos fossem um, sem respeitar as particularidades que cada aluno tem.
Cabe ao professor nesta etapa da educação se colocar como mediador na construção da leitura e escrita, que planeja as ações pedagógicas com base na realidade do aluno promoverá um aprendizado diferenciado que resultará em indivíduos letrados.Normalmente uma pessoa que sabe ler e escrever é considerada alfabetizada, mas ao longo do tempo este conceito vem mudando. Para algunslfabetizadores não é simplesmente ler e escrever, mas sim ter acesso ao mundo da leitura e da escrita.
Ler e a escrever está cada vez mais presente no cotidiano escolar e na sociedade como um todo. Esta é a preocupação do professor, fazer o aluno dominar a leitura e a escrita, para que ele venha ser um adulto preparado para o mercado de trabalho.
Para Soares (2006) o letramento vem como suporte no processo da alfabetização para que a mesma deixe de ser mecânica e passe a ser significativa. O letramento possibilita a criança de tornar-se crítica, ter visão e compreensão do mundo. Dessa forma, podemos definir letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetos específicos, aonde letramento vai além do conceito de escolaridade e de alfabetização. Soares ressalta:
Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais da leitura e escrita. O estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais” (SOARES, 2006, p.39).
Percebe-se que o letramento vai além da simples decodificação de signos linguísticos, ou pronúncia de palavras, pois ao indivíduo letrado compete ler e compreender o sentido do texto, bem como questioná-lo e inferir sobre o mesmo.
Para Soares (2006), o termo letramento surgiu porque apareceu um novo fato para o qual precisávamos de um nome, algo que não existia antes, ou seja, não nos dávamos conta dele. Então surgiu uma diferença em ser alfabetizado e ser letrado, pois enquanto o primeiro pode estar relacionado apenas ao saber ler e escrever, o segundo está relacionado com a condição ou estado de quem sabe ler e escrever e também se envolve nas práticas sociais da leitura e da escrita. Soares salienta:
Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter outra condição social e cultural – não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferentes (SOARES, 2006, p.37).
Com o letramento a criança será despertada e motivada a aprender a ler e escrever de forma mais ampla, a alfabetização e o letramento andam juntos, um complementando o outro, e acontece durante a alfabetização do indivíduo, possibilitando o desenvolvimento do mesmo no mundo letrado.
Soares (2004) escreve também dos caminhos e descaminhos, que as escolas vêm enfrentando nas tentativas de novos métodos, para que a alfabetização aconteça de forma mais completa. Quanto a isso a autora analisa:
Os conhecimentos que atualmente esclarecem tanto os processos de aprendizagem quanto os objetos da aprendizagem da língua escrita, e as relações entre aqueles e estes, evidenciam que privilegiar uma ou algumas facetas, subestimando ou ignorando outras, é um equívoco, um descaminho no ensino e na aprendizagem da língua escrita, mesmo em sua etapa inicial. Talvez por isso temos sempre fracassado nesse ensino e aprendizagem; o caminho para esse ensino e aprendizagem é a articulação de conhecimentos e metodologias fundamentados em diferentes ciências e sua tradução em uma prática docente que integre as várias facetas, articulando a aquisição do sistema de escrita, que é favorecida por ensino direto, explícito e ordenado, aqui compreendido como sendo o processo de alfabetização, com o desenvolvimento de habilidades e comportamentos de uso competente da língua escrita nas práticas sociais de leitura e de escrita, aqui compreendido como sendo o processo de letramento.(SOARES, 2004, p. 100)
Quando a autora refere-se a diferentes facetas, nada mais é que métodos ou metodologias de ensino, pode-se dizer que estão direcionadas aos métodos de ensino da alfabetização, que são os dois tradicionais conhecidos pelos os professores alfabetizadores, o sintético e o analítico. Eles são aplicados de diferentes formas, ela salienta o cuidado que professores devem ter ao seguir esses métodos, pois eles não focam no letramento, mas sim no ler e escrever apenas. Sobre isso, Soares afirma:
Assim, pode-se dizer que até os anos 80 a alfabetização escolar no Brasil caracterizou-se por uma alternância entre métodos sintéticos e métodos analíticos, mas sempre com o mesmo pressuposto – o de que a criança, para aprender o sistema de escrita, dependeria de estímulos externos cuidadosamente selecionados ou artificialmente construídos – e sempre com o mesmo objetivo – o domínio desse sistema, considerado condição e pré-requisito para que a criança desenvolvesse habilidades de uso da leitura e da escrita, isto é, primeiro, aprender a ler e a escrever, verbos nesta etapa considerados intransitivos, para só depois de vencida essa etapa atribuir complementos a esses verbos: ler textos, livros, escrever histórias, cartas, etc.(SOARES, 2004, p. 98)
A autora fala desses métodosiz que as escolas do Brasil utilizaram muito eles até os anos 80. Será que hoje não usam mais? Eis a pergunta, qual será que estão usando hoje? Não se vê muitas mudanças nas escolas com outros métodos. Para melhor compreensão desses métodos segue explicação: os sintéticos são aqueles que partem das sentenças menores para as maiores, por exemplo, primeiro ensinam-se as letras para depois entrar nas frases. São conhecidos como método fônico e silábico, também tem o alfabético que trabalha o alfabeto mais isolado, o fônico e o silábico utilizam muito o som das letras e depois a junção das sílabas. Já os métodos analíticos partem das sentenças maiores para as unidades menores. O professor pode trabalhar como base um texto e depois dividi-lo em frases e das frases chegar até as letras. São os métodos da sentenciação, método da palavração e o método global.
Soares (2004) faz uma crítica aos métodos sintéticos e analíticos, pois defende o letramento e percebe que trabalhando esses métodos separados não tem como alfabetizar letrando, e assim não se cria condições reais de aprendizagem da língua. Portanto, a alfabetização e o letramento devem caminhar juntos, para que a aprendizagem aconteça, e não haja um novo descaminho com efeito de um ensino dememorização e decoração como o velho método tradicional.
Segundo Emília Ferreiro (2010) a construção do conhecimento da leitura e da escrita tem uma lógica individual, seja ela dentro ou fora da escola. A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um elemento importante para as crianças ampliarem as participações nas diversas práticas sociais. É dada mportância para a interação com as outras pessoas através das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e até no pensamento.
A autora escreve “que o trabalho educativo pode assim criar condições para as crianças conhecerem, descobrirem e ressignificarem novos sentimentos, valores, costumes e papéis sociais” (FERREIRO, 2010, p.8). Neste caso, aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os significados delas. A educação constitui um espaço para a capacidade de comunicação e expressão, de acesso ao mundo para as crianças. Isso inclui o falar, escutar, ler e escrever.
Para a autora as crianças constroem o próprio conhecimento delas. Elas não esperam completar seis anos e ter uma professora à sua frente, para começarem a aprender. É um esforço para compreender o mundo que as rodeia, e de descobrir respostas para ele. Ferreiro ressalta que: “A escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal. As crianças não chegam na escola vazias, sem saber nada sobre a língua. (FERREIRO, 2010, p.10).
Para ela, os pequenos iniciam a aprendizagem da escrita em variados estilos, pois, desde muito cedo, têm acesso a informações variadas. Elas aprendem com cartazes, placas de trânsito, televisão, com revistas, computador, músicas de vários gêneros, imagens entre outros. Sabe-se que a crianças passam por uma série de passos ordenados antes que compreenda a natureza do sistema alfabético de escrita. Cada passo caracteriza-se por esquemas específicos, que implicam sempre, um processo construtivo os quais as levam em conta parte da informação dada, abrindo um caminho para o desenvolvimento da leitura e escrita.
Ferreiro (2010) divide esse processo em quatro momentos: pré-silábico, silábica, silábico-alfabético, alfabetizado. Pré-silábico: as crianças escrevem letras, bolinhas e números, como se soubessem escrever sem se preocupar com as propriedades da escrita. Para elas a leitura e a escrita só são possíveis se houver muitas letras, e até com variados estilos. Exemplos: (elefante) TEBBR, (borboleta) CWR1. Silábico: esse nível representa um salto qualitativo, é a descoberta de que a quantidade de letras com que vai escrever, uma palavra corresponde com as partes que se ouve na emissão oral. Exemplos: (bola) BOL, (cola) OA, (jacaré) JALE.(FERREIRO, 2010).
Silábico- alfabético: quando começam a descobrir que a sílaba pode ser escrita com uma, duas, três, ou mais letras. Tem sido considerado como “omissão de letras” pois para eles o som não garante a identidade de letras, nem a identidade de letras a de sons, mas a criança já acrescenta letras na primeira sílaba. Exemplos: (Tiago) TIAO, (cavalo) KVALO. Alfabético: caracteriza-se pela correspondência entre fonemas e grafias. Geralmente as crianças já conseguem ler e expressar graficamente o que pensa ou fala. Compreende a lógica da base alfabética da escrita. Nessa etapa, tem uma distinção entre letra e sílaba, palavra e frase. É possível a compreensão de que uma sílaba pode ter uma, duas ou três letras, mas ainda é possível que se confundam e podem até se esquecer de algumas letras. Exemplos: BOLA, MALA, CACHORO (cachorro)(FERREIRO, 2010).
O objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazerem coisas novas, com senso crítico, mentalidade aberta, atitude inquisitiva e espírito de participação na sociedade. Assegurando, principalmente, as classes menos favorecidas da América Latina, o direito a alfabetização.
De acordo com as reflexões de Vigotsky (1998) a criança passa por importantes processos na formação de conceitos, requisito básico para que a criança seja alfabetizada. O autor esclarece que “o desenvolvimento dos processos que resultam na formação dos conceitos começa na fase mais precoce da infância, se configura e se desenvolve somente na puberdade” (VIGOTSKY, 1998, p 72). No caso, a criança inicia o aprendizado de forma contínua até atingir a idade adulta e amadurece gradativamente.
Por meio de experimentos realizados com crianças pequenas, Vigotsky (1998) esclarece que os conceitos se formam em três fases básicas denominadas: agregação desorganizada, ou amontoados, pensamentos por complexos e abstração/conceito. Cada fase é dividida em estágios. “A agregação desorganizada ou amontoados, está dividida em: tentativa e erro; organização do campo visual a terceira compõe-se de elementos tirados de grupos ou amontoados diferentes” (VIGOTSKY, 1998, p.76). Assim, no primeiro estágio, durante a tentativa e erro a criança pega tudo de modo aleatório sem se apegar a nenhum elemento de modo especial. Na organização do campo visual a criança pega os objetos que visualiza somente pelo fato dos objetos estarem ao alcance da visão e no último estágio, a criança escolhe os elementos retirados do amontoado, mas ainda não sabe explicar por que os escolheu.
O pensamento por complexo inicia na fase do tipo associativa ou família, por coleções, pelo complexo em cadeia, complexo difuso e pelo pseudoconceito. Segundo o autor, na fase associativa “a criança pensa, por assim dizer, em termos de nomes de famílias” (VIGOTSKY, 1998, p.77). Ou seja, ela reconhece os objetos e os classifica pela percepção de semelhança na cor ou aparência.
Nas coleções “a criança apanhava alguns objetos que se diferenciavam da amostra por sua cor, forma, tamanho ou outra característica qualquer” (VIGOTSKY, 1998, p,78).Osobjetos foram agrupados pela criança pelas propriedades, como conjunto de faca, garfo e colher e prato.O complexo em cadeia dá-se pela “junção dinâmica e consecutiva de elos isolados numa única corrente, com a transmissão de significado de um elo para outro” (VIGOTSKY, 1998, p, 78). Nesse, a criança segue uma sequência de elementos semelhantes entre si, ela separa os objetos por cor e formato.
O complexo difuso “é caracterizado pela fluidez do próprio atributo que une os elementos” (VIGOTSKY, 1998, p.81). A criança escolhe os objetos pela semelhança, como no caso das figuras geométricas que podem ser separadas por triângulos, seguidos por trapézios, hexágonos, semicírculos e círculos. Nesta fase, a criança é capaz de sequenciar os objetos, mas ao se deparar com cores diferentes, a atenção dela se volta para a cor e não mais pelo formato dos elementos apresentados a ela.
Vigotsky (1998, p.85) afirma que: “o pseudoconceito serve de elo de ligação (sic) entre o pensamento por complexos e o pensamento por conceitos. A comunicação verbal com os adultos torna-se um fator poderoso no desenvolvimento dos conceitos infantis”. Então, pode-se afirmar que esta fase se refere à pré-escola. A abstração/conceito inicia na pré-escola e estende-se até o final do ensino fundamental.De acordo com Vigotsky (1998), quando a criança está no processo do pseudoconceito ela está pronta para aprender a ler pois entende as orientações que são dadas por meio da palavração ou linguagem oral.
3 METODOLOGIA
A pesquisa na área da educação terá como método de abordagem dialética. Lakatos e Marconi(2003, p. 100) ressaltam: “ Para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimentos: nenhuma coisa está “acabada”, encontrando-se sempre em vias de se transformar: o fim de um processo é sempre o começo de outro”. Ou seja, pode-se entender a escola em constante transformação, pois ela se modifica a partir do envolvimento dos diversos sujeitos sociais. Neste trabalho analisa-se a abordagem das professoras problematizando o entendimento que elas têm sobre as transformações no processo da alfabetização.
Como método de procedimento será empregado o comparativo. De acordo com Lakatos e Marconi (2003, p. 106), “considerando que os estudos das semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano, este método realiza comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências”. Neste caso, este método visa realizar comparações entre as informações obtidas com os entrevistados, com a intenção de encontrar semelhanças nos dados colhidos.
Lakatos e Marconi (2003, p. 195) esclarecem que “a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. Ou seja, esse método é facilitador do entendimento entre entrevistador e entrevistado. Para a realização deste trabalho, o método utilizado foi o da entrevista.
A técnica aplicada será a pesquisa de campo. Lakatos e Marconi (2003, p.188) afirmam que “o interesse da pesquisa de campo está voltado para o estudo de indivíduos, grupos, comunidades, instituições e outros campos, visando a compreensão de vários aspectos da sociedade”. Neste caso, esta técnica pode ser aplicada em diversos tipos de pesquisase pode alcançar variados temas e diversos grupos sociais.
A técnica da pesquisa bibliográfica será empregada neste trabalho. Para Lakatos e Marconi (2003, p. 183) “sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito sobre determinado assunto e tem por objetivo permitir ao cientista o reforço paralelo na análise ou manipulação de suas informações”. Portanto, a pesquisa bibliográfica possibilita ao pesquisador o conhecimento em determinadas áreas e permite o domínio dos assuntos abordados.
A delimitação do universo da amostragem partiu de cinco professoras que atuam na alfabetização, na sala do primeiro ano nas escolas: Escola Estadual 19 de Maio, que atende 590 alunos no Ensino Fundamental e Médio. A escola possui 12 salas com 43 professores no quadro de funcionários. Estão matriculados na Escola Municipal Geny SilvérioDalarincy388 alunos no Ensino Fundamental, em nove salas e 25 professores atuantes. A Escola Municipal Professor Benjamin Padoa atende alunos do Ensino Fundamental e estes somam 407, as salas de aulas são 12 no total e o quadro de docentes é composto por 13 professores.
As três escolas atendem nos turnos matutino e vespertino e estão localizadas no município de Alta Floresta, norte de Mato Grosso. A pesquisa foi realizada no mês de abril de 2016 por meio de agendamento de acordo com a disponibilidade de cada professor entrevistado.
A análise dos dados coletados será mediante análise qualitativa, pois esta considera conteúdos pesquisados juntamente com o embasamento teórico, a fim de analisar os dados colhidos em profundidade, o qual permitirá a compreensão da realidade estudada (LAKATOS; MARCONI, 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As professoras entrevistadas, número 1 (um) e 2 (dois), foram da Escola Municipal Geny Silvério Dalarincy, Elizoneide e Marli Silva1. A entrevista foi realizada nos dias 02 e 03 de maio na sala dos professores da escola. A Elizoneide Pereira de Andrade Santos, reside no bairro Jardim Panorama, na Rua das Palmeiras, com 42 anos de idade, dois filhos, é graduada em Ciências Biológica e Pedagogia, atualmente trabalha na escola Geny Silvério Dalarincy como alfabetizadora.
A professora Marli reside no bairro Jardim Panorama, com 48 anos de idade, quatro filhos, graduada em pedagogia, trabalha somente na escola Geny Silvério Dalarincy com a alfabetização.
Quando questionada o que significa alfabetização a professora Elizoneide disse:
Olha alfabetização além de ensinar a criança a ler e escrever, você tem que trazer para a criança um pouco da visão do mundo para ela, não só alfabetizar mais também letrar, você tem que conciliar essas duas coisas, no mundo de hoje não podemos oferecer para a criança só o ler e escrever no mundo de hoje com essa geração com tantas informações, precisamos inserir o letramento.
Para a professora Elizoneide a alfabetização vai além do que ensinar a ler e escrever, precisa inserir e conciliar o letramento junto à alfabetização, para assim formar cidadãos críticos. Para a professora Marli a alfabetização significa: “Alfabetizar leva o aluno a aprender a ler e escrever, ter uma nova visão do mundo, assim aprendem a questionar sobre as coisas”. Pode-se notar que as professoras entrevistadas pensam que alfabetização não é só ensinar a ler e escrever, que vai, além disso, precisa-se inserir o letramento para assim os alunos terem uma nova e ampla visão do mundo.
Segundo a autora Magda Soares “o indivíduo que vive em estado de letramento, não é só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e escrita, prática a leitura e escrita, responde adequadamente às demandas sociais” (SOARES, 2006, p.40). Portanto o indivíduo letrado não é só capaz de ler e escrever, mas de entender e questionar qualquer texto, associá-lo com o contexto em que está inserido com facilidade.
Em relação à definição de sua prática de alfabetização a professora Elizoneide disse:
É obvio quando a gente começa é difícil, a gente vai aprendendo com o passar do tempo, com os próprios erros, com os alunos que te trazem informações, aprende com os colegas. Hoje depois desses anos de alfabetização e em que eu fiquei no programa Mais Educação, eu considero que hoje tenho uma prática mais dinâmica, mais assertiva, eu acerto mais hoje do que nos outros nos.
Ela considera que hoje tem uma prática mais dinâmica com os alunos, assim possibilitando o melhor aprendizado para os mesmos, acertando mais do que errando. A professora Marli considera sua prática como: “Eu sempre a defini boa, sempre consegui alfabetizar os alunos, agora as coisas mudaram está mais difícil, agora de poder se avaliar eu tenho que trabalhar mais um pouco para poder fazer isso”. Como ficou alguns anos sem trabalhar com a alfabetização ela precisa de mais tempo para se avaliar.
Em relação ao recebimento na alfabetização de que forma inicia o trabalho, com alunos que vieram da pré-escola, e alunos que nunca foram à professora Elizoneide salienta:
É difícil também, esse ano eu não tenho nenhum que nunca foi na pré-escola, eu tive a graça de pegar uma turma que estão bem entendidos no alfabeto. No começo do ano a gente começa meio pisando em casca de ovos (rsrs), porque você não conhece, geralmente nas duas primeiras semanas eu procuro mais fazer uma sondagem, esse começo de ano percebi que meus alunos podiam ir mais além do que eu tinha planejado, que eu podia ir além, puxar mais com eles, no caso dos alunos que nunca foram para a pré-escola tem que começar do zero.
A professora acredita ser difícil conciliar os conhecimentos já trazidos da pré-escola de alguns alunos, enquanto outros nunca foi ela pensa que precisa começar do zero com esses alunos. A professora Marli disse: “Tem que trabalhar com eles para acompanhar os outros, tem que receber igual os outros”. Assim precisa-se trabalhar com esses alunos de uma forma que os faça acompanhar o restante da turma.
Quanto às atividades de diagnóstico do início do ano letivo a professora Elizoneide argumentou:
Bom eu faço até porque é uma exigência da escola, eu faço uma no começo do ano justamente para ver como eles estão que é a sondagem, aí a gente faz uma no final do primeiro bimestre, no final do segundo, do terceiro e do quarto. Geralmente a gente tem o costume de elabora uma lista de palavras e escolher um campo semântico, palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas e polissílabas e ao final uma frase para a criança escrever, esse tipo de atividade que a gente faz aqui na escola.
A professora faz atividades no início do ano para ver como que está o nível dos alunos, que a chama de sondagem. A cada final de bimestre ela repete esse processo.
A professora Marli salienta: “Eu tiro o nível deles todo o bimestre, com atividades especificas para saber como eles estão”. Dessa forma percebe-se que elas fazem o mesmo processo até porque é uma exigência da escola segundo a professora Elizoneide.
Sobre se à diferença no ensino de escolas municipais e escolas estaduais no conhecimento adquiridos pelos os alunos da alfabetização a professora Elizoneide disse:
Não eu acredito que não há diferença, o objetivo para a alfabetização é o mesmo, embora dependa muito do professor, alguns são mais esforçados buscam mais, da mesma forma que existe professore, vamos dizer light ele acaba não buscando muito é o jeito deles, mais a escola em si não.
A professora acredita que em si nas escolas não há diferenças, pois, o objetivo é o mesmo. Ela pensa que a diferença está nos professores, cada um trabalha de uma forma. A professora Marli diz: “Sempre tem um pouco, depende da criança que tem mais dificuldades ou facilidades, já convive com livros e letras”. Ela acredita que há diferenças, pois depende muito dos alunos que as escolas recebem alguns com mais informações e outros com pouca isso pode diferenciar.
Se o professor do município precisa proceder de modo diferente do professor do estado para levar os conhecimentos para os alunos à professora Elizoneide disse:
Não ele não precisa ser diferente, mais pelo que eu percebo na minha visão o estado é mais relaxado no sentido assim, ficou até feio essa palavra mais, por exemplo, com o ambiente alfabetizador, você chega em uma sala de 1°ano não é legal o ambiente, não tem cartazes, você não vê a questão do alfabeto, o cantinho da leitura as vezes não tem, e quando tem é mais uma obrigação exigida pelo pacto, foi o que eu observei nas salas em que fui, o município por estar mais perto por cobrar mais dos professores eu penso que as vezes por ter alguém mais próximo os professores ficam mais espertos.
A professora pensa que não, mas percebe que professores do município são mais preocupados com o ambiente alfabetizador, do que os professores do estado, ela acredita que o município é mais cobrado, por estar mais perto da secretaria de educação, e ser justamente do município. A professora Marli diz “Não penso que não, para ensinar tem que trabalhar igual em qualquer escola”. Ela salienta que o trabalho quanto nas escolas do estado tanto do município, para ensinar precisa-se trabalhar igual.
Se elas acreditam que os alfabetizadores homogeneízam a turma e iniciam o processo de alfabetização, sem aproveitar os conhecimentos trazidos da pré-escola ou da realidade de cada um a professora Elizoneide argumentou:
A princípio naturalmente é essa a ideia no geral, vai para essa tendência, mais a gente pode aproveitar, o que eles trazem sim, essa turma que eu estou eles estão bem avançados. Mais naturalmente a gente tem essa tendência, mais a gente precisa ligar o alerta e perceber isso.
A professora diz que no início do ano letivo a tendência é acontecer isso, mas precisa ficar atento para não continuar homogeneizando a turma, assim pode prejudicar alunos.
A professora Marli salienta: “Cada um tem um jeito de aprender, você às vezes trabalhar com todos iguais, mas percebe que alguns não acompanham, então tem que achar algum jeito de levar esse aluno a acompanhar a turma”. Ela pensa que cada aluno tem um tempo de aprender, que o professor precisa levar o conhecimento a todos.
Quando questionada sobre as novas abordagens teóricas para a alfabetização e como elas influenciam na sua forma de alfabetizar a professora Elizoneide disse:
O pacto eu acredito que ele tem colaborado com novas práticas, novas ideias, eu não faço ele porque não tive oportunidade ainda, mais as meninas que fazem me passaram como se faz uma sequência didática, a matemática trabalhada de uma forma mais lúdica, eu acredito que ele tem ajudado muito os alfabetizadores.
Elizoneide embora não tenha feito o pacto, ela acredita que ele tem ajudado muito os professores alfabetizadores em diversos sentidos.
Quanto a isso a professora Marli considera que:
Para a alfabetização essas abordagens foram pior, se complicou, para mim primeiro o aluno tem que ler e escrever para conseguir fazer outras coisas nas series seguintes, quando já está alfabetizado ai sim pode trabalhar outras coisas, mais primeiro é ler e escrever. Eles falam que alfabetização é até o 3° ano, mas depois vem uma renca de conteúdo, como que eles vão conseguir fazer se não sabe nem ler e escrever.
Para Marli essas novas abordagens acabam complicando a vida do professor de certa forma. Ela pensa que tem que ser uma coisa de cada vez, deveria ter menos conteúdos e com mais qualidade, para o aluno conseguir aprender do jeito certo.
Enquanto alfabetizadora, em que momento você considera que a criança está alfabetizada a professora Elizoneide diz: “De novo vou voltar à ideia de que quando a criança está alfabetizada é quando ela está lendo e escrevendo na verdade é isso alfabetização, teoricamente seria isso”. Para a professora Marli seria: “Pra mim pelo menos é quando ela consegue ler palavras simples, e quando ela adquire conhecimentos orais também”. Percebe-se que as professoras não têm a mesma linha de pensamento para uma o aluno alfabetizado é aquele que consegue ler e escrever, já para a outro é quando o aluno consegue ler algumas palavras e tem conhecimentos orais.
Quando se refere de modo geral, se o professor enfrenta dificuldades para realizar seu trabalho. No caso da alfabetização, o que dificulta o trabalho do professor para alfabetizar os alunos, a professora Elizoneide acentua: “Crianças com laudos, pais irresponsáveis e o professor muitas vezes não é valorizado pelos alunos, pelas autoridades o professor fica desmotivado, pelo salário”. Quanto às dificuldades enfrentadas a professora Marli pensa: “Essas mudanças que vêm demais, ninguém têm segurança mais de nada que faz isso que faz dificultar a alfabetização”.
Nota-se que as professoras enfrentam diferentes dificuldades na alfabetização dos alunos, enquanto uma pensa nas crianças com laudos, famílias desinteressadas, falta de valorização e baixo salário, que dificulta, a outra considera que são mudanças demais, o professor acaba ficando confuso, fica perdido em meio tantas abordagens e poucas orientações.
As entrevistas nº 3 (três) e 4 (quatro) aconteceram na sala de aula das professoras do primeiro ano após às 18 horas no dia 11 de maio de 2016. Participaram da entrevista as duas professoras alfabetizadoras. Nome das entrevistadas: Luzia Aparecida Soares e Elisângela Francisca de Melo. Atualmente, ambas trabalham na escola estadual 19 de Maio.
A professora Luzia tem 35 anos, não tem filho e reside na rua H e, setor Industrial da cidade, é pedagoga e está pós-graduando em Neuropscopedagogia. O que a motivou a estudar Pedagogia foi um professor. Ela relatou que havia terminado o Ensino Médio e seu professor José Carlos a convidou para ajudá-lo com a turma multisseriada, que ele atendia na zona rural e esta, por sua vez, aceitou o convite e sentiu que era possível continuar os estudos na área da Pedagogia, na modalidade à distância e trabalhar com a turma multisseriada. Este é o segundo ano que a professora leciona como alfabetizadora.
A professora Elisângela tem 31 anos e um filho, reside na rua B5 com a rua H14, também no setor Industrial. É pedagoga com especialidade em Psicopedagogia. Antes de atuar na educação a professora trabalhou seis anos em um cartório, todos queriam ela estudasse Direito, segundo ela, por conhecer as leis e os assuntos relacionados ao Direito, mas ela optou pelo curso de Pedagogia. A professora relatou que parou de trabalhar fora depois do nascimento do filho e após três anos ela voltou a estudar e é alfabetizadora há seis anos.
Quanto à maneira que as professoras entendem a alfabetização, as respostas foram as seguintes.A professora Luzia explicou, que “é tão complicado, porque tem aquela questão que o povo fala. A questão de alfabetizar letrando, porque uma coisa é a criança ler e outra ela entender o que ela leu”. Já a professora Elisângela:
(...) cada disciplina puxa um pouquinho. Que nem Educação Física mesmo, a gente tem que trabalhar lateralidade com a criança. Quando a criança vem pra escola e tá espelhado, por que que você tem que trabalhar lateralidade com ele? Por que você trabalhando, ele vai entender o que é direita e o que é esquerda ele vai tirar essa parte de espelhado. Muitas vezes, a mãe chega e diz: ai meu Deus, mas tá escrevendo ao contrário! A gente também não pode interromper, ele que vai ter que perceber que tá errado. Então, aonde que vem essa mudança? Você trabalhando lateralidade com a criança na Educação Física.
No entendimento das professoras alfabetização vai além de saber ler e escrever. Há muito mais envolvido no processo, além de aprender as letras a crianças precisa ser estimulada a entender o que está lendo e todas as disciplinas devem colaborar para que a alfabetização aconteça.
Quanto às outras “áreas de conhecimento também podem ser contempladas no trabalho pedagógico, objetivando atender às expectativas de aprendizagens da turma deverá planejar” (BRASIL, 2015, p.27). Portanto, toda a matriz curricular deve fazer parte do planejamento das aulas. O professor não deve deixar de lado as demais áreas: Ciências, Geografia, História, Arte. Todo os conteúdos das disciplinas devem ser ensinados.
A professora Luzia pratica a alfabetização de forma lúdica e a professora Elisângela diz: “A minha não é muito lúdica não”. Depara-se com duas práticas: uma baseada na ludicidade e outra centrada na forma mais séria, talvez com menos brincadeira. Assim, embora ambas sejam alfabetizadoras cada uma tem uma maneira de trazer conhecimentos aos alunos.
Quanto à maneira que iniciam o ano letivo, ao receberem alunos que frequentaram a Educação Infantil e outros que não a frequentaram, obteve-se as seguintes respostas:
Olha, eu tenho um aluno que não fez, ele é da zona rural e a gente sabe que a zona rural não tem acesso, que é poucos que têm a extensão da Educação Infantil. É um aluno assim, que eu to tendo que trabalhar com ele, tudo. To tendo que tentar inserir a Educação Infantil junto já com a alfabetização, junto. (PROFESSORA LUZIA).
Então, aí vem o apoio pedagógico né, que é o meu caso. Eu tenho uma aluna que ela não frequentou a pré-escola. Nunca foi nem sequer na creche e aí ela não conhece nem as cores. Então, eu trouxe ela pro apoio pedagógico e ela conseguiu desenvolver bastante. (PROFESSORA ELISÂNGELA)
Ao analisar as respostas das professoras percebe-se que elas têm apenas uma criança que não frequentou a Educação Infantil. No caso do aluno, que reside na zona rural, a professora Luzia realiza atividades para nivelá-lo aos outros alunos durante as aulas diariamente. A professora Elisângela atende a aluna após o horário normal das aulas, tempo destinado ao apoio pedagógico.
Quando questionadas sobre a realização de atividade diagnóstica no início do ano letivo, a professora Luzia disse:“Assim, o diagnóstico praticamente você acaba fazendo todo dia. É uma avaliação... diagnóstico é uma avaliação”. A professora Elisângela considerou: “Sim. A gente tira o nível, né? Nível da escrita, nível da leitura, a gente trabalha assim”. Uma das professoras faz diagnóstico conforme aplica as atividades diárias com observação referente ao aprendizado das atividades aplicadas e a outra faz atividade comparando os níveis em que as crianças estão.
Quanto a acreditarem se há diferença entre conhecimentos dos alunos da rede estadual e municipal em Alta Floresta – MT. A professora Elisângela explicou: “Eu acredito que não, sabe por quê? Os professores são os mesmos, até o da particular, eu mesmo trabalhei nas duas redes, agora só estou em uma”.A professora Luzia respondeu: “Olha eu tive poucos casos de alunos assim que vieram, te teve essa mudança de estado para município, a que eu tive tavanivelado. Excelente aluno”. Para elas, não há nenhuma diferença entre os conhecimentos promovidos pelas redes municipais, estaduais e escolas privadas.
Sobre a diferença no modo de proceder do professor do estado e município ao levar conhecimento para os alunos, a professora Luzia respondeu: “Acredito que não, porque esta questão do Pacto, tanto nós do estado quanto do município fizeram. Então eu acho assim que nós estamos no mesmo barco”. A professora Elisângela respondeu que “não”. Portanto, ao atuar no estado ou município não há diferença no modo de proceder do professor que segundo a professora Luzia, as duas redes aplicam as atividades com base no Pacto Nacional para Alfabetização na Idade Certa ().
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC foi implementado no início do ano de 2015 e visa garantir a alfabetização de todas as crianças até os oito anos de idade, ou, no primeiro ciclo da alfabetização, composta em três fases sendo: primeira fase aos seis anos, segunda aos sete e terceira aos oito anos. Esta parte da escolarização é comumente denominada primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Fundamental.
Ao tratar da homogeneização dos alunos em sala de aula sem considerar os conhecimentos trazidos da realidade destes ou da pré-escola, obtiveram-se as seguintes respostas:
(...) assim a gente... tem professores assim que é daquele método tradicional, a gente sabe, e que ele..., não é questão de falar assim: não eu não vou mudar a minha teoria, não vou mudar minha prática. Ele acha que ta dando certo do jeito dele e ele mantém fazendo aquilo. A gente que acabou de se formar, que já fez diversos cursos, que trouxe uma nova abordagem de como trabalhar, a gente é um pouco mais, dinâmico, dentro da sala de aula(...). Mais tem aquele professor que é tradicional, só que eu fico assim, naquela coisa, só que o tradicional também dá certo, incrível! Eu não sei como? Acho que eu não conseguiria trabalhar daquela forma. (PROFESSORA LUZIA)
A professora Luzia busca novas abordagens para levar conhecimento aos alunos e acredita que o método tradicional traz resultados positivos embora ela não saiba dizer como isso acontece. A professora Elisângela opinou: “Eu acredito. Vejo até pelas crianças especiais. Porque muitas mães chegam e falam assim: nunca ninguém me falou nada! Então o que está acontecendo? Estão deixando muito, aquela criança de lado”.
Para ela a homogeneização acontece e prejudica a criança que precisa de atendimento diferenciado, seja por ter dificuldade de aprendizagem ou necessitar de atendimento especializado. Segundo ela, este modo de proceder acaba excluindo o aluno uma vez que não há planejamento de atividades diferenciadas que facilite o aprendizado de tal criança.
Quanto às novas abordagens teóricas e a influência destas na forma de alfabetizar, as entrevistadas relataram:
A gente fez um curso, chamado Pacto né? De três anos, (...) que foi todo ele voltado para a alfabetização que é os primeiros três anos. A criança tem que sair lendo em três anos(...), o Pacto: pra mim foi uma mão na roda, porque ali tem muita teoria e muitos livros pra gente estudar. Só que como a gente tá numa sala, alfabetizadores, e sempre tem tarefa lá, tinha teoria. Você fazia teoria, tinha que levar pra sala, aplicar e trazer o resultado. Depois tinha a culminância, que é a troca de experiência, então ali você aprende muito. (PROFESSORA LUZIA)
A professora Elisângela disse: “Eu faço o Pacto tem três anos já. Então, o Pacto pra nós foi muito bom. Eu mesmo adorei. Me ajudou muito na prática pedagógica”. Nota-se que para elas, o Pacto é um divisor de águas na atuação delas como alfabetizadoras.
O governo lançou um desafio aos educadores do país que é alfabetizar todas as crianças matriculadas no Ensino , preferencialmente nos três primeiros anos da frequência escolar, ou seja, que todos os alunos de seis a oito anos saibam ler e escrever.
Para o PNAIC, o professor alfabetizador é, sem dúvida, componente de fundamental importância no processo de formação do aluno, para o exercício da cidadania. Para esse trabalho ser realizado com qualidade é preciso o educador ter clareza do que ensinar e como ensinar. Com efeito, o Pacto direciona o professor alfabetizador para o caminho que este deve trilhar ao levar conhecimento aos alunos:
Na perspectiva do PNAIC, a inserção das crianças em situações desafiadoras e contextualizadas para o efetivo uso da linguagem escrita não pode prescindir da compreensão, por elas, dos princípios de escrita alfabética (SEA). Ao contrário, a autonomia na leitura e na escrita é tida como condição necessária à ampliação de suas práticas de letramento e ao aprofundamento de seus conhecimentos nas diversas áreas. É prioritário o trabalho que garanta o domínio do sistema de escrita, de modo articulado ao domínio de habilidades de compreensão e produção de textos orais e escritos. (BRASIL, 2015, p. 24)
Segundo o Pacto, a criança não deve ser somente alfabetizada, ao sugerir um aprendizado autônomo, pode-se entender que o alfabetizador deverá conduzir os alunos ao letramento, que é a alfabetização centrada na inserção da leitura nas práticas sociais.
A Professora Elisângela considera que a criança está alfabetizada “quando ela já sabe ler e escrever”. A professora Luzia aprofunda um pouco mais ao responder à pergunta:
Olha pra mim, eu acho assim, ele tem que tá lendo e escrevendo com coerência, tipo, falei algo, ele relacionou e escreveu. Ele entender, que é a questão do letrar, alfabetizar letrando, tem que entender o que leu, interpretar bonitinho: ah é um texto informativo? É uma receita? É um recado? Nesse sentido. Aí sim eu vou entender, assim, ele não leu lá a palavra solta. (PROFESSORA LUZIA)
Assim, estar alfabetizado para ela significa ir além da leitura e da escrita, o aluno precisa interpretar o que leu e compreender que há diferentes tipos de textos. Para a professora, o aluno nesta etapa do aprendizado não lê as palavras soltas, pelo contrário, ele consegue entender que a função do texto é estabelecer comunicação oral ou escrita, e sabe em que lugar cada gênero textual se encaixa, como no caso de uma receita culinária, informação, recado, conto, poema, fábula entre outros.
As entrevistadas concordam que os professores enfrentam dificuldades para alfabetizar os alunos. Sobre o assunto elas pontuam:
Todos os anos anteriores a gente recebia livros. Livros que os alunos podiam consumir, escrever neles... do jeito deles. De uns anos pra cá, dessa última coleção que veio, não pode mais... Questão de muito colorido, coisa que criança precisa. Essas crianças que a gente vê que têm dificuldade, que são muito distraídas, as vezes um livro daqueles acabava sendo mais prazeroso, mais chamativo. Esse ano veio metade, só veio para uma turma, aí eu e a Elisângela, estamos trabalhando dentro do Pacto. Como não veio livro pra todos, a gente tá aguardando a segunda remessa. Aí tem lá as letrinhas pra ele recortar, pra ele montar o nome do objeto, pra montar o nome do desenho, recortar um quebra-cabeça, usar os números. Lá vai ter desenho de material dourado, quebra-cabeça. Ele não vai poder usar nada daquilo! (PROFESSORA LUZIA)
Falta materiais, essas provas que o governo aplicou, ele veio pra avaliar o professor anterior né e ele vai avaliar o que está com essa turma. Só que as provas não vêm diferenciadas! E meu aluno, que eu tenho diferenciado na minha sala de aula? E meu planejamento que eu faço diferenciado? Se eu faço...vamos supor, eutenho vinte e quatro alunos, seu eu faço vinte e três, pra um eu faço diferenciado porque ele é especial e a prova vem tudo igualNão vem uma prova diferente “pra” ele!E eu vou ser avaliada! (PROFESSORA ELISÂNGELA)
Percebe-se que uma das dificuldades que elas enfrentam é a falta de material, ou livros. O governo deveria enviar para a escola um livro para cada aluno, mas isso não aconteceu e elas trabalham com a metade do material que necessitam. O aluno não pode fazer atividade no livro, que ela o considera muito bom por serem coloridos, conterem quebra-cabeça, figuras para recortar. Segundo ela, as atividades do livro contribuem muito com o aprendizado da turma.
Para a professora Elisângela, além da falta de materiais didáticos, a forma de aplicação da Provinha Brasil para avaliação do aluno acaba por ignorar a presença do aluno com necessidade especial na sala. A prova é igual para todos e é prejudicial, pois não leva em conta que tal criança não deve ser avaliada como as outras são. A criança não consegue uma nota satisfatória na prova e reflete na média geral da sala e isso implica na hora de avaliarem a professora como alfabetizadora da turma. Ela recebe a nota de acordo com o resultado das provas obtidas pela turma que ela alfabetiza.
Entrevista número (5) cinco realizada na escola Professor Benjamim Padoa, no dia 23 de maio de 2016. A professora entrevistada foi Berenice Bisollo, 40 anos, casada e têm 2 filhos. Atualmente reside no setor F rua H, é formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e em especialização em Letras pela Uniflor. Trabalha com a turma de alfabetização há 15 anos.
Para a professora Berenice alfabetizar é: “Contribuir na construção e consolidação da leitura e da escrita e de trabalhos com o lúdico e formal”. Ela define que a prática de alfabetização é realizada através de dinâmica, do tradicional e com conceitos matemáticos.
Quando questionada sobre os principais problemas para esse processo, a entrevistada salienta que “é encontrar metodologias e atividades que chamam a atenção dos estudantes”. Em relação a essa preocupação a professora considera que fazer uso de materiais didáticos e pedagógicos apropriados ajuda a estimular o aprendizado.
As novas abordagens que influencia na forma de alfabetizar a professora diz que utiliza os métodos de alfabetização e letramento, procurando inserir no plano de aula essa concepção, quando os resultados são bons, porém acontecem de modo lento.
Quando, no início do ano, a professora Berenice recebe os alunos da Educação Infantil e eles ainda não frequentaram a instituição, ela informa que “explora bastante o nome da criança, trabalha com o alfabeto de diversas maneiras, realiza atividades com textos do universo infantil e muitos outros conceitos”. E para o diagnóstico no início do ano letivo, ela usa quatro palavras de um mesmo campo semântico. A primeira palavra é polissílaba, segunda trissílaba, terceira dissílaba e a quarta monossílaba. Ela pede para eles lerem e marcarem como leram, fazendo constantemente o registro dos avanços e das dificuldades no caderno de campo. Para Berenice a criança está alfabetizada, quando lê e escreve alfabeticamente.
A professora coloca que não existe diferença entre os conhecimentos adquiridos pelos alunos de alfabetização das escolas estaduais e municipais de Alta Floresta, porque, para ela, todos os profissionais trabalham mais ou menos do mesmo jeito. Isso quer dizer que os profissionais tentam levar seus trabalhos em base nos mesmos autores, nem sempre consiste, mas também não fica fora dos procedimentos adquiridos.
E, diante das dificuldades que os professores enfrentam para realizar seus trabalhos, a entrevistada relata que:
A indisciplina gerada pala falta de limites pela baixa tolerância à frustração e, sobretudo pala dificuldade que os alunos apresentam em regular suas emoções é o que mais atrapalha e dificulta não só o trabalho do professor alfabetizador, mas também os demais professores.
Nem sempre isso acontece em sala de aula, mas é preciso compreender como ajudar o desenvolvimento dessa criança em relação ao próximo e a si mesmo valorizando e respeitando suas capacidades.
Percebe-se que a professora é bem preparada e comprometida com as crianças nesta trajetória escolar, fazendo uso de seus materiais e das principais estratégias da alfabetização e o sincero amor pela profissão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar a pesquisa referente à alfabetização nas escolas estaduais e municipais de Alta Floresta – MT, após a realização de cinco entrevistas com professoras alfabetizadoras obteve-se os seguintes resultados: as entrevistadas afirmam que a alfabetização acontece quando a criança lê e escreve de forma autônoma, ou seja, ela entende o que está lendo: texto literário, receita, notícia, recado e interpreta situações problemas dentro da matemática.
Os dados colhidos sobre a questão referente à presença de alunos na escola sem ter frequentado à pré-escola, as professoras relatam que precisam atender de modo diferenciado estes alunos, seja em sala de apoio, que acontece após o término da aula, como é o caso de uma das professoras da escola 19 de Maio. Enquanto que as outras entrevistadas aplicam aulas no horário normal das aulas. Elas afirmaram que preparam atividades de acordo com a dificuldade que cada aluno apresenta.
Quanto a trabalharem de modo diferenciado em escolas municipais e estaduais, obteve-se a resposta unânime que não há diferença, uma vez que, segundo depoimento delas, professor é professor. Muda-se apenas o método de ensino que cada um desenvolve.
Para a que questão que trata da prática docente adotada pelas entrevistadas pode-se dizer que elas atuam de forma lúdica, sem abandonar ensinamentos da forma tradicional, elas afirmam que acrescentam dinâmica de grupo, atividades matemáticas e educação física e todas as outras disciplinas da matriz curricular.
Como problemas enfrentados no processo de alfabetização, uma das entrevistadas, relata que é difícil encontrar metodologias e atividades que chamam a atenção dos estudantes. Pontua-se a indisciplina, a presença de crianças com necessidades especiais de aprendizagem, a falta de compromisso por parte da família dos alunos, o surgimento de novas teorias sobre a forma de alfabetizar, desvalorização profissional da educação e falta de materiais didáticos disponibilizados pelo governo.
A sondagem sobre a diversidade de conhecimentos trazidos pelos alunos, segundo as entrevistadas, é vista de forma positiva. Elas trabalham no início do ano letivo com a avaliação diagnóstica para saber o nível alfabético que estes alunos estão. Este trabalho inicial acontece de forma homogeneizada, porém aos poucos migram para a , na qual a criança é vista como diferentes uma da outra no que se refere ao aprendizado, com o auxílio dos registros diários dos avanços e dificuldades da turma. Para facilitar o aprendizado de todos os alunos, as professoras elaboram atividades para serem aplicadas na forma coletiva e individual conforme a necessidade.
Assim, de acordo com os resultados da pesquisa que envolve a problemática, hipótese e objetivos deste trabalho acadêmico foram satisfatórios.
REFERÊNCIAS
ANDRADE. E.P. Prática da Alfabetização. [02 de maio de 2016]. Alta Floresta. Entrevista concedida a Ana Paula Zanon
BISOLLO.B. Processos da Alfabetização. [23 de maio de 2016]. Alta Floresta. Entrevista concedida a Gislaine Ribeiro
BRASIL. Pacto Nacional pela Alfabetizaçãona Idade Certa. Disponível em
<http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/pacto_livreto.pdf> Acesso em 14 de março
_______. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.Currículo na perspectiva da inclusão e da diversidade: as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e o Ciclo de Alfabetização. Disponível em<http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/Cadernos_2015/cadernos_novembro/pnaic_cad_1_19112015.pdf>Acesso em 14 de Março
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 6 questões de nossa época – 25ª ed. –São Paulo: Cortez, 2010. P 102
FRANCHI, Eglê Pontes. Pedagogia da alfabetização: da oralidade à escrita – 7ª ed. – São Paulo: Cortez, 2001. P 349
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica – 5ª ed. – São Paulo: Atlas, 2003.
MELO.E.F.Prática da Alfabetização. [ 11 de maio de 2016]. Alta Floresta. Entrevista concedida a Adriana Teixeira Rodrigues Selhorst
SILVA.M.Prática da Alfabetização. [ 03 de maio de 2016]. Alta Floresta. Entrevista concedida a Ana Paula Zanon
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento: caminhos e descaminhos. Artigo publicado pela revista Pátio – Revista Pedagógica de 29 de fevereiro de 2004, pela Artmed Editora. Disponível em
<http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40142/1/01d16t07.pdf> Acesso em 14 de Março.
________, Magda. Letramento: um tema em três gêneros.2ª.ed.Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
SOARES. L.A.Prática da Alfabetização. [ 11 de maio de 2016]. Alta Floresta. Entrevista concedida a Adriana Teixeira Rodrigues Selhorst
VIGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem.-2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[1] Acadêmica do sétimo semestre do curso de Pedagogia da Faculdade de Alta Floresta (FAF).Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
[2] Acadêmica do sétimo semestre do curso de Pedagogia da Faculdade de Alta Floresta (FAF). Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
³ Acadêmica do sétimo semestre do curso de Pedagogia da Faculdade de Alta Floresta (FAF). Email:O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
1 Pseudônimo da professora entrevistada, que pediu para não ser identificada.