ALFABETIZANDO ATRAVÉS DO LÚDICO
Daniele Ulrich da Silva[1]
RESUMO
O objetivo deste estudo foi destacar a importância e a contribuição do lúdico no processo de aquisição da linguagem oral e escrita. A metodologia adotada no desenvolvimento desta temática foi a revisão sistemática da literatura. Concluiu-se que o lúdico e suas práticas podem servir como importante ferramenta na promoção de facilidades na aquisição da linguagem oral e escrita.
Palavras-chave: Lúdico. Processo ensino aprendizagem. Linguagem oral e escrita.
INTRODUÇÃO
A linguagem caracteriza-se como sendo um exemplo de função cortical superior, sendo que o seu desenvolvimento se sustenta, por um lado, em uma estrutura anatomofuncional geneticamente determinada e, por outro, em um estímulo verbal que depende do ambiente (SCHIRMER et al, 2004).
Ainda, caracteriza-se como sendo um verdadeiro veículo na promoção da comunicação, ou seja, constitui um instrumento social usado em interações visando à comunicação. Assim sendo, necessita ser considerada mais como uma força dinâmica ou processo do que como um produto (SCHIRMER et al, 2004).
Atualmente percebe-se certa precocidade no ensino da língua escrita. Da criança, espera-se que aprenda a ler e a escrever o quanto antes, pois segundo o que pensam professores e pais, quanto mais conteúdos a criança aprender melhor será seu desenvolvimento intelectual e a possibilidade de ascender na escola e na vida. Com essa pressa, acaba-se esquecendo, que elas são crianças e adoram brincar, e isto é deixado completamente de lado. Desta feita, as pessoas não percebem que para um bom desenvolvimento intelectual e ascensão escolar é necessário que a criança viva a sua infância, por isso, possibilitar que ela brinque, pule, imagine, sonhe, crie, é essencial (AREND; SILVA, 2008).
Neste contexto, está incluído o lúdico, que tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo". No entanto, a definição do lúdico deixou de ser sinônimo de jogos, pois as implicações da necessidade lúdica extrapolam as demarcações do brincar espontâneo. Em suma, as brincadeiras lúdicas são aquelas atividades que propiciam uma experiência de plenitude, em que nos envolvemos por inteiro estando flexíveis e saudáveis (MAGALHÃES; ARAÚJO JUNIOR, 2012).
O objetivo deste estudo é destacar a importância e a contribuição do lúdico no processo de aquisição da linguagem oral e escrita.
A metodologia adotada no desenvolvimento desta temática será a revisão sistemática da literatura.
REVISÃO DE LITERATURA
Macedo et al (2011) consideram que a brincadeira é compreendida como situação imaginária criada pelo contato da criança com a realidade social. Por meio dela a criança recria aquilo que sabe de forma espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva a brincadeira dentro da sala de aula tem importância significativa no processo de ensino e aprendizagem.
Souza (2013) ressaltou que, na escola, o jogo é um meio de oferecer às crianças um ambiente de aprendizagem prazeroso, motivador e planejado, com possibilidades de aprendizagem de várias habilidades. Normalmente, professores preocupados com a alfabetização tradicional esquecem-se de que cada criança tem seu tempo e precisam de estímulos, para alcançar a alfabetização, acabam por deixar os jogos de lado, esquecendo-se que estes são instrumentos importantes de alfabetização.
Schirmer et al (2004) consideraram que todas as atividades de estimulação infantil devem ser realizadas de forma lúdica, através de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta prazer nas técnicas propostas. Destacaram também que é recomendável que neste exercício seja envolvida a família e, quando necessário, a escola. A estimulação através de canto, da conversa, das brincadeiras e da leitura propicia a aquisição de habilidades que favorecem o desenvolvimento. Isto é importante uma vez que a criança precisa ser motivada para que comece a ocorrer um processo de comunicação, devendo inclusive existir o que se chama de intenção comunicativa (através da fala serão conseguidos objetos de interesse da criança). Este aspecto surge através do contato diário com as pessoas e da estimulação que a interação lúdica propicia.
Cardoso et al (2005) em seu estudo destacaram as práticas educativas (métodos de ensino) da leitura e da escrita promovidas através do lúdico. Para os autores, pode-se utilizar-se do lúdico na alfabetização, observando a importância da criança que brinca. Destacaram ainda a evolução da leitura e da escrita, expressiva e criativa da criança, que pode ser facilitada pelo educador por meio de atividades lúdicas como apoio ao processo de aquisição da linguagem escrita e falada, do jogar e brincar que são atividades que, bem orientadas certamente, contribuirão no desenvolvimento da psicomotricidade no contexto do processo escolar. Para os autores, o brincar permite, ainda, aprender a lidar com as emoções. Da mesma forma, é pelo brincar que a criança equilibra as tensões provenientes de seu mundo cultural, construindo sua individualidade, sua marca pessoal e sua personalidade. Consideraram ainda, conforme a visão de Piaget, que o brincar implica uma dimensão evolutiva com as crianças de diferentes idades, apresentando características específicas, apresentando formas diferenciadas de brincar.
Arend e Silva (2008) realizaram um trabalho de reflexão acerca das implicações que as atividades lúdicas e o brincar propostos em sala de aula exercem no processo de aquisição da leitura e da escrita. Para os autores, a relevância desta investigação reside na possibilidade de fomentar as discussões referentes a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, tendo em vista a progressiva diminuição que se tem evidenciado nas instituições de ensino com relação aos espaços do brincar em decorrência da antecipação do ensino da leitura e da escrita. Logo, como forma de debrucar-me sobre tais questões desenvolveu-se esta pesquisa a partir de uma abordagem qualitativa e participativa, utilizando como instrumentos investigativos observações em uma turma de 1º ano de uma escola pública do Sistema Estadual da cidade de Santa Maria e, posteriormente, a proposição de estratégias lúdicas voltadas a favorecer o processo de aquisição da leitura e da escrita inicial. Para tanto, partimos dos estudos de Vygotski, Ferreiro, Mello e Bolzan entre outros, os quais propõem que o processo inicial de aquisição da linguagem escrita necessita ser realizado através de atividades que envolvam a interação entre os pares, ambiente propício para o desenvolvimento e confronto das hipóteses infantis acerca da linguagem escrita, sendo a escrita encarada como um objeto lingüístico e cultural a ser compreendido de forma lúdica e prazerosa. Os autores concluíram que tais atitudes frente ao ensino, possuem grande validade no âmbito escolar, pois contribuem significativamente, de forma a estimular a criança a aprendizagem da linguagem escrita.
Macedo et al (2011) buscaram identificar a freqüência com que ocorrem as atividades lúdicas no planejamento do professor do primeiro ano do ensino de nove anos. Para tanto será realizada uma pesquisa bibliográfica, onde serão analisados os planejamentos de aula do ano de 2010 de dois professores da rede municipal de ensino, do primeiro ano do ensino de nove anos. Pressupõe que o professor realiza atividades lúdicas sem sistematização em salas de aula, dessa forma o brincar se tornou um passa tempo e não uma atividade que visa o desenvolvimento da criança. Buscaram ainda fomentar discussões sobre a importância do lúdico como proposta pedagógica para o desenvolvimento da criança no processo de alfabetização. Concluíram que é preciso alfabetizar as crianças desde o começo do primeiro ano do ensino de nove anos, deixando de lado as atividades lúdicas e dinâmicas, que deveriam ser a prioridade nos anos iniciais da escolarização. Foi observada a importância do desenvolvimento de atividades lúdicas no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos e como a ausência dela prejudica o desenvolvimento da criança. Assim, foi possível observar no estudo a importância de se desenvolver pesquisas relacionadas ao tema para fomentar discussões que evidenciam a falta de encaminhamentos metodológicos para os professores que atuam no primeiro ano do ensino de nove anos e apresentar propostas que possam amenizar a problemática apresentada.
Magalhães e Araújo Junior (2012) afirmaram que, no processo de alfabetização, a presença da ludicidade é de fundamental importância para que as crianças e até mesmo pessoas de outra faixa etária como, por exemplo, na Educação de Jovens e Adultos, possam se sentir bem, flexíveis e saudáveis. Uma aula com características lúdicas além de jogos e brincadeiras, precisa muito mais de uma atitude do educador de educar o educando, trazendo uma mudança cognitiva principalmente afetiva onde o aluno interaja por completo com a aula.
Silva (2012) analisou a importância de colocar as crianças em contato com as várias dimensões da linguagem; identificar atividades que ajudem a desenvolver a linguagem oral através da Literatura Infantil, bem como refletir sobre o processo de construção da oralidade das crianças nas atividades desenvolvidas, em sala de aula, sob a mediação do professor. Para alcançar este objetivo, a autora realizou uma pesquisa com quinze crianças, de três anos e uma professora de uma escola pública de Educação Infantil na cidade de Parnaíba. Observou que, diante dos resultados obtidos, é possível realizar uma reflexão sobre a literatura infantil através da contação de histórias, enquanto instrumento capaz de favorecer de forma relevante o desenvolvimento da linguagem oral das crianças, a medida em que pode ser associada a outras formas de expressão de linguagem, contribuindo potencialmente para o desenvolvimento humano das crianças, ao constituí-las como seres culturais e participantes da sociedade em que vivem. Concluíram ainda que, nesse contexto, o papel do professor é fundamental no desenvolvimento da linguagem da criança, enquanto mediador, capaz de estimulá-la a se interessar pelos textos literários e suas diferentes linguagens, antes mesmo que ela saiba ler e escrever.
Magalhães e Araújo Junior (2012) em um estudo buscaram entender as contribuições e a grande importância que a ludicidade, como os jogos, brincadeiras, brinquedos, podem influenciar no desenvolvimento da criança e no seu comportamento, e até como uma aliada no ensino da leitura e da escrita. Ainda, apresentar a prática de alfabetização inserida numa perspectiva lúdica foi também o foco deste artigo. Para tanto, foram apresentados os resultados de experiências das inúmeras vivências e intervenções no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, do subprojeto de área do curso de Pedagogia (O desenvolvimento da leitura e da escrita através da produção de material didático na perspectiva da educação contextualizada em escolas situadas no semiárido da região norte do estado do ceará). Os autores, a partir dos resultados, destacaram a importância de se estimular a aprendizagem e a aquisição da leitura e escrita de maneira lúdica e prazerosa, oportunizando aos alunos uma aprendizagem que tenha como ponto de partida a realidade social a qual estão inseridos.
Souza (2013) entrevistaram professoras acerca da abordagem lúdica e sua contribuição para o ensino aprendizagem. As professoras entrevistadas destacaram um entendimento, mesmo que intuitivo, sobre a importância dos jogos, mas sem uma vinculação direta das atividades pedagógicas desenvolvidas com os alunos. É possível perceber claramente uma desvinculação entre os jogos e aprendizagem, pois, a partir desse pensamento, os jogos somente estarão presentes nas brincadeiras das crianças, e não na função de atuante e motivador do aprendizado, essa função de promotora de uma aprendizagem mais significativa, fica a cargo dos professores chamados especialistas (Educação Física). Ao professor da classe cabe o desenvolvimento das atividades primordiais de alfabetização, como por exemplo, matemática. A cobrança dos pais e da própria estrutura de aprendizagem leva os professores a acreditarem que esse tipo de atividade não leva ao conhecimento efetivo.
Sampaio et al (2012) apresentaram alguns questionamentos sobre a importância do brincar e do lúdico e suas implicações no processo de ensino/aprendizagem, sobretudo, contribuindo para um aumento de conhecimento. No decorrer deste artigo obtivemos reflexões acerca da importância do brincar, tendo sido possível que a ludicidade é de extrema relevância para o desenvolvimento integral da criança e são elementos indispensáveis ao relacionamento com outras pessoas. Assim, a criança estabelece com os jogos e as brincadeiras uma relação natural e consegue extravasar suas tristezas e alegrias, angústias, entusiasmos, passividades e agressividades, é por meio da brincadeira que a criança envolve-se no jogo e partilha com o outro. Observou-se que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, mas principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação integral da criança. Portanto, a introdução de jogos e atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido a influencia que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, o brincar se destaca novamente para nos revelar que os esquemas que a criança utiliza para organizar as brincadeiras, os jogos, os brinquedos são os mesmos que ela utiliza para lidar com o conhecimento.
Santos e Farago (2015) propuseram uma discussão sobre a oralidade e a importância de sua utilização nas salas de aula de educação infantil, também enfatizando as possiblidades de trabalho pedagógico do professor para desenvolver a linguagem oral nas crianças. Para isso, destacaram que é necessária uma reflexão sobre o desenvolvimento da oralidade e a importância de fazer com que as crianças participem de situações de comunicação real através de atividades que ajudem as mesmas a desenvolver suas capacidades de expressão oral, estimulando a fala, favorecendo a ampliação do vocabulário e uma melhor comunicação de forma geral. Para o desenvolvimento destas habilidades, destacaram que as atividades mais indicadas são a roda de conversa, música, leitura, reconto de histórias, dramatizações entre outras, todas elas devendo ser valorizadas e desenvolvidas no cotidiano do trabalho pedagógico, indispensáveis para o desenvolvimento desse processo.
DISCUSSÃO
O lúdico caracteriza-se como sendo uma ferramenta de grande importância a ser usada pelos profissionais de educação na promoção do processo de ensino-aprendizagem.
Na aquisição da linguagem oral e escrita, o uso de práticas lúdicas traz consigo inúmeras vantagens que devem ser observadas e colocadas em prática pelos profissionais.
A utilização da prática lúdica por meio dos jogos, proporciona uma melhor capacidade de flexibilização de conceitos, além da maior captura dos mesmos por parte do psiquismo infantil.
A interação entre as crianças para a realização dos jogos é também profundamente importante para a sociabilização que permitirá a formação de indivíduos saudáveis socialmente, capazes de coordenar e se apoiar mutuamente.
Corroborando com a visão de Souza (2013), por meio das práticas lúdicas pode-se oferecer às crianças um ambiente de aprendizagem prazeroso, motivador e planejado, com possibilidades de aprendizagem de várias habilidades.
Arend e Silva (2008) acreditam que o uso de práticas lúdicas tem, no processo de aquisição da linguagem oral e escrita, uma contribuição significativa no estímulo à criança a aprendizagem da linguagem escrita.
Macedo et al (2011) entendem que o lúdico deve ser prática fundamental e rotineira no processo de alfabetização das crianças. Destacaram ainda que, havendo a falha no uso do lúdico, há também um prejuízo no desenvolvimento da criança. Mesma visão foi de Magalhães e Araújo Junior (2012) que afirmaram que, no processo de alfabetização, a presença da ludicidade é de fundamental importância para que as crianças e até mesmo pessoas de outra faixa etária como, por exemplo, na Educação de Jovens e Adultos, possam se sentir bem, flexíveis e saudáveis.
Analisando ainda o emprego do lúdico na aquisição da linguagem oral e escrita, corroboramos também com Silva (2012) que este contribui potencialmente para o desenvolvimento humano das crianças, ao constituí-las como seres culturais e participantes da sociedade em que vivem.
Assim sendo, o ludico deve ser implementado na prática de rotina do processo de ensino aprendizagem, sendo de grande valia na promoção da linguagem oral e escrita.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o lúdico e suas práticas podem servir como importante ferramenta na promoção de facilidades na aquisição da linguagem oral e escrita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SOUZA, E.F. Alfabetização e o Lúdico: A Importância dos Jogos na Educação Fundamental. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 40p. 2013.
[1] Professora com Licenciatura Plena em História, com Pós Graduação em Metodologia do Ensino da Geo-história. Experiência de 17 anos em docências do Ensino Fundamental I , II e Ensino Médio. Atualmente coordenadora Pedagógica na Escola Estadual Mundo Novo, onde leciono há 10 anos.