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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: Formar para Educar na Diversidade

Aline de Oliveira

 

RESUMO

A pesquisa bibliográfica realizada para elaboração deste TCC tem como objetivo refletir o atual cenário da educação inclusiva e das práticas e processos formativos de educadores.  A cultura é variável a todo tempo, e vai se transformando em consequência da convivência e do próprio processo de comunicação. Os educadores são desafiados a todo tempo a pelas próprias variações dentro da escola, o que exige de toda a equipe escolar um saber/fazer, ou seja, uma constante qualificação, avaliação e reestruturação do currículo e suas propostas pedagógicas. A inclusão não se restringe apenas a pessoa com deficiência, no processo de inclusão devem ser observadas as particularidades de cada indivíduo sejam culturais, de gênero, opção sexual, social. Seja qual for essa particularidade precisa ser respeitada. O preconceito está presente na história do nosso país e a ideia de raça surgiu da associação de características biológicas, comportamentais e sociais, que precisam ser desconstruídas ao longo deste trabalho com base nas referências bibliográficas observa-se que esse preconceito ainda está presente nos ambientes sociais inclusive nos ambientes de aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva. Formação. Diversidade.

 

INTRODUÇÃO

 

A pesquisa tratará de analisar as práticas e processos formativos de educadores para educação inclusiva.

A problemática central é que os educadores são desafiados a todo o momento, pelas próprias variações dentro da escola, o que exige de toda a equipe escolar um saber/fazer, ou seja, uma constante qualificação, avaliação e reestruturação do currículo e suas propostas pedagógicas. Levando ao seguinte questionamento: esses educadores estão preparados para lidar com as diferenças culturais e sociais, no meio educacional e possibilitar a inclusão de todos?

Ao longo desses anos de estudos e docência, pude observar o quanto vem sendo discutido o tema inclusão, e partindo dessa perspectiva percebe-se uma lacuna entre a teoria da inclusão e a prática, pois, incluir é mais que inserir o educando na sala de aula como se tudo estivesse resolvido, sem se preocupar com suas possibilidades de aprendizagem, ou possíveis necessidades de aprendizado exigindo uma reestruturação da proposta. É no contexto escolar que se dá início ao processo de pertencimento a sociedade. Surgem a partir de então, as divergências decorrentes das próprias diferenças que nos constitui.

A educação fragmentada que nos submetemos proporcionou uma desestruturação humana que se encontra em crise de valores. Resultando na violência presente em todas as camadas sociais, violência que ocorre nos mais variados espaços sociais, escolas, ruas, trânsito, locais de lazer e no lar.

O cenário atual requer mudanças de paradigmas, requer profissionais preparados para lidar com a diversidade por meio de metodologias verdadeiramente inclusivas. E como tem sido feito essas práticas nas escolas? Será que incluir é inserir uma criança na sala de aula chamada do ensino regular? Ou incluir refere-se a oferecer um atendimento especializado exclusivamente?

O objeto de pesquisa foi constituído por pesquisas bibliográficas de temas sobre as práticas e processos formativos de educadores para a educação inclusiva.

 

1       DESENVOLVIMENTO

 

Os educadores são desafiados a todo momento pelas próprias variações dentro da escola, e isso requer mudanças em suas práticas, logo o processo de formação continuada deve ser repensado. A escola é um dos ambientes de convivência e de aprendizado, assim sendo, a educação escolar não pode ser pensada nem realizada sem partir da ideia de uma formação integral do aluno, deve ser um ambiente acolhedor.

Em suas afirmações (Mantoan 2003, p. 20) relata que: 

 

Nossas ações educativas têm como eixos o convívio com as diferenças e a aprendizagem como experiência relacionai, participativa, que produz sentido para o aluno, pois contempla sua subjetividade, embora construída no coletivo das salas de aula. (Mantoan 2003)

 

As escolas devem trazer em seus projetos políticos pedagógicos, nas avaliações, nas metodologias e em seus currículos práticas que valorizem um planejamento flexível e que trabalhe as diferentes possibilidades de aprendizagem dos seus estudantes. Elas têm papel fundamental no processo de inclusão, não podendo estar limitada a ação do professor e sim na construção de um conhecimento efetivo e significativo para todos os estudantes.

Mas se observarmos o Plano Nacional de Educação o PNE (2011-2020), documente norteador da educação nessa década vamos observar que ele possibilita em sua meta 4 que seja feita uma triagem, uma seleção de tipos de pessoas com deficiência que podem ou não estar na matriculados na rede de ensino regular:

 

Meta 4: Universalizar, para a população de quatro a dezessete anos, o atendimento escolar aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, preferencialmente, na rede regular de ensino, garantindo o atendimento educacional especializado em classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou comunitários, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível sua integração nas classes comuns (PNE, 2011).

 

Dessa forma entende-se que a inclusão não é para todos, pois essa meta possibilita a separação de classes comuns/regulares e classes de educação especial.

A autora Mantoan discorre em seu livro sobre as mudanças provocadas pela educação inclusiva e como tem se dado esse processo:

 

Se o momento é o de enfrentar as mudanças provocadas pela inclusão escolar, logo distorcemos o sentido dessa inovação, até mesmo no discurso pedagógico, reduzindo-a a um grupo de alunos (no caso. As pessoas com deficiência), e continuamos a excluir tantos outros alunos e mesmo a restringir a inserção daqueles com deficiência entre os que conseguem “acompanhar” as suas turmas escolares! (Moantoan 2003, p. 27)

 

Os gestores, docentes e demais envolvidos precisam entender que não apenas os estudantes com deficiência necessitam de um olhar mais sensível, todos os estudantes possuem suas particularidades que não podem ser ignoradas, caso contrário esse aprendizado fica não acontecerá de forma efetiva e significativa.

No que diz respeito ao atendimento do estudante com deficiência, não se trata apenas inseri-lo em uma sala de aula sem se preocupar em atender as suas necessidades de aprendizagem e achar que isso é incluir. A inclusão escolar implica além de mudanças nos espaços educativos, mudanças que envolvem todo o cenário educacional. E para os professores e demais envolvidos precisam passar por processos formativos constantes.

Precisamos reconhecer que a inclusão não se faz somente para os deficientes, ou com os marginalizados. Dentro da própria escola muitos alunos se sentem excluídos pelos professores e colegas. E essa exclusão se dá quando nunca são lembrados, ou quando são lembrados somente para serem taxados, devido suas diferenças. São excluídos quando a escola e até mesmo os pais exigem de pessoas com dificuldades intelectuais, emocionais ou até mesmo de relacionamento, o mesmo rendimento dos demais colegas sem oferecer-lhes condições de aprendizagem.

Portanto refletir a escola a educação, é refletir a ação docente no processo de ensino e aprendizagem, oferecendo espaço para uma análise sobre o papel social da escola, como se dá à formação docente no processo de ensino e de aprendizagem, as propostas de ensino, como se avalia, e o que avaliar. A escola deve ter em seus projetos a preocupação de estabelecer vínculos com a realidade, no anseio de incluir verdadeiramente a todos.

Moser em seu livro Educação e diversidade cita que:

 

A luta por uma educação pública e igualitária deve estar na pauta das lutas políticas nos mesmos níveis das demais lutas sociais e econômicas, como a reforma agrária, a luta por moradia, a defesa do setor público e a luta por salários dignos. (Moser 2017, p.32)

 

E é papel do educador promover a verdadeira inclusão das diferenças. Para se trabalhar educação e diversidade cultural, devemos lidar com todos os aspectos da vida do cidadão, como sujeito em construção, que deve ser orientado e não moldado. Sabendo conviver e respeitar as diferenças que cada indivíduo traz consigo.

O ambiente escolar deve proporcionar ao homem a oportunidade de se reconhecer como parte da sociedade com direitos e deveres iguais, independentemente de cor da pele, classe social, origens ou escolhas. Dessa forma, partimos do pressuposto que cultura é tudo aquilo que envolve o conhecimento de um determinado grupo, sobre crenças, contato com a natureza, arte, costumes, e outros hábitos herdados de geração para geração, decorrentes das convivências sociais.

Hoje o grande desafio para os educadores é saber lidar com as diferenças culturais e sociais, no meio educacional, a autora Moser discorre sobre o assunto:

 

A diversidade é um aspecto marcante da cultura brasileira. A histórica miscigenação da nossa população, baseada no tripé: indígenas, europeus e negros, formou o Brasil que conhecemos hoje. Somos uma sociedade multirracial e esta multiplicidade de cores, raças e etnias pode ser interpretada de variadas formas. (Moser 2017, p.75)

 

Ao longo da história, com observância na diversidade, sempre foram enfatizados os aspectos negativos dos “outros” tendo base nas características positivas, físicas e culturais próprias. Tais atitudes são chamadas de etnocentrismo. E Adriano traz a seguinte colocação em seu livro:

 

O contexto intercultural se faz presente no meio social e vinculado ao espaço escolar. Na atualidade, as sociedades se encontram numa organização complexa, com uma multiplicidade de culturas. Portanto, a multiplicidade de culturas presentes incita a necessidade que a escola contemple os estudos sobre o etnocentrismo cultural. (Adriano 2017, p. 34)

 

A partir do século XVI, com a expansão colonial europeia, caracteres como cor da pele e outros traços físicos dos povos encontrados por exploradores passou a ser um aspecto privilegiado no imigratório europeu, como marcador das diferenças entre povos. Foi a partir desta época que se inicia a escravidão dos povos indígenas sul-americanos e africanos, que se estendeu até o século XX.

A ideia de raça surgiu da associação de características biológicas, comportamentais e sociais, havendo uma expansão científica do racismo colonial luso-espanhol, sendo que na cultura luso hispânica, este movimento teve forte influência sobre o Brasil, como por exemplo, nos movimentos migratórios, desde a importação escravista até mesmo a tentativa de “branqueamento” do povo brasileiro.

É preciso que escola em suas práticas reconheça a necessidades dos educandos de expor seu saber, e de aprender verdadeiramente para serem cidadãos com pleno gozo dos seus direitos, que saiam desta escola sabendo ler e escrever saiba fazer operações matemáticas, e demais conhecimentos que são transmitidos na escola.

E falar de cultura na escola é falar das diferenças, que podem ser de concepções religiosas, morais, de linguagem, crenças, festejos, vestimentas, genéticas entre outras.

As variações são características muito importantes, cada comunidade tem suas particularidades, e se transpassam de geração para geração.

Para Adriano a cultura é o resultado da relação permanente com o meio natural e com os outros homens:

 

A cultura não consiste em um fenômeno natural decorrente das leis da física ou biologia, mas como um produto coletivo da vida social humana. Cada cultura em particular apresenta um contexto histórico social, às vezes interligado pelos fatos ocorridos. (Adriano 2017, p. 23)

 

Tratar diversidade cultural é falar dos diferentes costumes de uma sociedade entre os quais podemos citar vestimentas culinárias, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O Brasil por conter um território extenso apresenta diferenças climáticas econômicas e culturais de uma região para outra. E a partir do processo migratório as culturas acabam por se transformar, ou até mesmo serem esquecidas.

Nessa perspectiva o que diferencia uma cultura das outras são os elementos construtivos, que consequentemente compõem o conceito de identidade cultural ou pertencimento a um determinado grupo. Essas diferenças refletem dentro do espaço escolar.    

A escola tem o dever de propor as apropriações políticas do conhecimento científico e da cultura, pensando num o trabalho educativo interdisciplinar que estimule o estudante, tornando a aprendizagem coerente, com a intenção de oferecer uma prática pedagógica voltada e embasada na realidade social daquele grupo.

Ao longo da história das escolas brasileiras encontram-se dados de que a escola era muito homogênea, tendo a maioria dos alunos de cor branca. Com o passar dos anos as escolas públicas foram se tornando diversificadas, e foram surgindo com isso a necessidade de se qualificar, e buscar soluções para melhor qualidade de ensino. Mais o maior desafio era a convivência, de alunos e “alunos”, e professores e “alunos” já que o preconceito e a discriminação estavam presentes de forma muito viva em toda sociedade.

Para Cortela:

 

Vale observar que, favorável ou desfavorável, o preconceito sempre é prejudicial. O desfavorável ocorre de maneira mais óbvia e direta. E mesmo o preconceito favorável também é danoso. A pior coisa que pode acontecer para um educador, um gestor, um governante é a bajulação, que estimula o comportamento repetitivo, desfavorecendo a crítica. A bajulação é a anulação da crítica, portanto, é o desprezo da capacidade de crescimento da outra pessoa. (Cortela 2020, p.17)

 

E não raro nos dias atuais ainda se encontra educadores ou o que se chamam de educadores que são preconceituosos taxando o educando pela sua aparência física, ou classe social, esquecendo-se de que a escola deve ser um ambiente onde todos sejam respeitados e respeitosos, com relação às diferenças, que seja um ambiente acolhedor, mediador de saberes.

Formar professores capazes de respeitar e valorizar os diferentes saberes tem se tornado muito difícil uma vez que as escolas em sua grande maioria vêm adotando posturas cômodas, como por exemplo, tratar de temas importantes como a cultura africana, somente no dia da consciência negra, ou dia do índio, são atitudes que dão a impressão de que algo foi feito, que está é sim uma escola que valoriza a cultura enquanto o restante do ano deixa de valorizar essa diversidade entre os alunos, e consequentemente deixa de construir uma identidade entre os mesmos.

É preciso que entendamos que nossa sociedade não é formada por iguais, e sim que somos iguais nas nossas diferenças. Devemos nos conscientizar que diferenças não são motivos para discriminação ou qualquer forma de desrespeito as especificidades de cada grupo.

A escola deve valorizar o conhecimento cultural que cada indivíduo traz, de maneira acolhedora, de forma valorizar essa bagagem cultural, desenvolvendo atividades que tratem sobre essas diversidades, possibilitando uma melhor inclusão e identificação do educando no meio escolar e consequentemente social

 

 

2       CONCLUSÃO

 

Nessa perspectiva entende-se que os educandos não são um grupo homogêneo, e sim uma imensa pluralidade de saberes, informações, hábitos, costumes, linguagens e crenças.

A partir do tema abordado surge uma discussão, e se questiona o verdadeiro papel da escola, será que ela vem desenvolvendo o seu papel de formadora de cidadãos.  A escola não pode se fechar a um modelo de currículo, sem considerar o público ao qual está atendendo, sem reconhecer as culturas os conhecimentos trazidos pelos educandos.

Sendo o ambiente escolar um local de inclusão e respeito às diferenças, o caminho é trabalhar a diversidade em favor do desenvolvimento e aprendizado do educando, onde todos sejam envolvidos. E para isso é preciso oferecer uma boa formação para os professores e gestores e demais envolvidos nesse processo de educação.

 

3       REFERÊNCIAS

 

ADRIANO, Graciele Alice Carvalho. Educação integral e diversidade cultural. Idaial: Uniasselvi, 2017.

CORTELA, Mário Sérgio. A diversidade aprendendo a ser humano. São Paulo: Littera, 2020.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?. São Paulo: Moderna, 2003.

MOSER, Ana Cláudia. Educação e diversidade. Idaial: Uniasselvi, 2017.