A ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS DA EJA ATRAVÉS DOS GÊNEROS LITERÁRIOS: RECEITA E BILHETE

 

Almir Rogerio da Silva

Cleber Capelari da Purificação

Elma Bezerra dos Santos

 

RESUMO:

O presente trabalho versa sobre “a alfabetização dos alunos Da EJA através dos gêneros literários: receita e bilhete’’ e discorre sobre a importância do trabalho pedagógico priorizando o uso da leitura e da escrita de textos em sala de aula, utilizando a pratica social como elemento norteador, neste caso bilhetes e receitas culinárias. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi ampliar o aprimoramento intertextual na linguagem oral e escrita como forma de interação e atuação na vida cotidiana, buscando integração e participação na cultura letrada; comtemplando conforme a BNCC: (EF12LP04) Ler listas, bilhetes, convites, receitas, instruções de montagem (digitais ou impressos), com isso, pretendemos desenvolver: (Oralidade) - Relatar, com coerência, experiências vividas, usando diferentes elementos que marquem a passagem do tempo; (Oralidade e escrita) - Ditar ou escrever bilhetes e receitas, ainda que de forma não convencional, considerando a situação de interação; (Escrita)- Reconhecer a função dos itens de uma enumeração em textos instrucionais, utilizando-os para executar ações. Como suporte teórico para a análise deste trabalho, recorremos a autores que estão inseridos no contexto de EJA, tais como: Freire, Reis, entre outros. Como metodologia, optamos pela pesquisa-acão. O resultado após o trabalho foi bastante relevante, considerando a oportunidade de constatar que é no texto que a linguagem se materializa como discurso significativo, como forma de alguém o autor ou o locutor dizer aquilo que pensa, que sabe “escrita e leitura” e concretização das habilidades.

 

Palavras Chave: Gêneros Textuais. Educação de Jovens e Adultos. Alfabetização. Letramento.

 

Introdução¹

 

Este artigo é resultado de um plano de intervenção pedagógica realizado com alunos do I segmento com as turmas do 2º ano vespertino e noturno do CEJA Cleonice Miranda da Silva, localizado no Município de Colíder MT, a fim de atender o que estabelece a BNCC, cujas razões se deram em decorrência da necessidade do educando necessitar de meios reais, materiais concretos e metodologia diferenciada para melhor desenvolver suas habilidades, já que durante o ano letivo observamos que “alfabetizar vai a além da pronúncia dos sons".

A intervenção foi desenvolvida, a partir do diagnostico realizado junto aos alunos do 2º Ano do 1º Segmento noturno onde observou-se que a maioria destes liam e escreviam com fluência, no entanto, destes, 06 (seis) ainda apresentavam dificuldades no processo de leitura escrita e interpretação com a colaboração de quatro professores, das turmas do primeiro segmento, com a participação da coordenação pedagógica.

O respectivo trabalho objetivou em propiciar ao aluno a vivência no mundo letrado dentro do espaço escolar, buscando oferecer a interdependência entre alfabetização e letramento viabilizado por meio prática pedagógica diferenciada, onde através desta, tiveram a oportunidade de vivenciar situações que permeavam seu cotidiano e oferecessem sentido à aprendizagem da leitura e escrita. Buscamos por meio das atividades pedagógicas transporem as atividades cópias repetições de letras, palavras e frases.

Os procedimentos adotados despertaram no grupo requisitos básicos para aumentar a possibilidade de sucesso na aprendizagem.

 

Desenvolvimento do Plano

 

Baseado em algumas dificuldades encontradas em sala de aula, em relação a leitura e a escrita, desenvolvemos um trabalho com gêneros textuais que visasse minimizar essa situação. Para tanto, optamos em trabalhar com dois gêneros textuais, sendo estes, bilhete e receitas, uma vez que a turma demonstrava muito interesse prático para o desenvolvimento dessa habilidade, no entanto a dificuldade estrutural atrelada ao processo de aquisição da leitura e escrita permeava o cotidiano dos alunos.

Partimos assim da motivação dos alunos, pois autores como Murray (1986) e Garrido (1990):

 

...o sentimento motivador é um fator interno, uma força que tem origem no interior do individuo. Ainda que a motivação tenha um caráter individual, pessoal, acreditamos que cada qual achará a motivação dentro de si com maior facilidade se exposto a um contexto acolhedor, com pessoas receptivas, abertas ao diálogo, cheias de curiosidades e dispostas a se relacionarem, se envolverem e coletivamente construir sentido para a uma aprendizagem significativa.

 

Portanto, ao se pensar em motivação visando a aprendizagem, faz-se necessário considerar primeiro as características do contexto escolar. FREIRE, 1986 destaca que: “o problema da motivação paira sobre as escolas como uma pesada nuvem”.

 

Os estudantes da EJA, na perspectiva sócio-histórico-cultural, são sujeitos com conhecimentos e experiências (empíricas) do saber feito, com trajetórias constituídas no exercício de suas práticas/relações sociais, com experiências acumuladas que os tornam partícipes de seu próprio aprendizado. Esses saberes já constituídos se tornam currículos importantes na medida em que falam de seus lugares e atravessam todos os processos construtivos das aprendizagens significativas. (REIS, 2011, p.20)

 

De acordo com Reis (2011) buscou-se propiciar a aprendizagem atrelada à participação através da oralidade, da escrita, promovendo a liberdade do aluno em partilhar sua historicidade e saber pela experiência de vida, resultando num processo contínuo de avaliação condizente a sua realidade.

O aluno da EJA, independente da classificação, jovem, adulto ou idoso, é um cidadão que em grande maioria já estabelece uma relação direta com o trabalho, assim ao se pensar em planejamento para esse público requer uma proposta pedagógica clara e específica para atender as necessidades do educando/ trabalhador nas práticas cotidianas.

Para o desenvolvimento iniciamos com a roda de conversa, pois a mesma possibilita espaço para que os alunos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem estabeleçam diálogos e interações no contexto escolar, assim ampliando suas percepções sobre si e sobre o outro, denomina também como “Círculos de Cultura”, pois proporcionam momentos de fala e de escuta. Para Freire (1983) os Círculos de Cultura são o diálogo, é a pronúncia do mundo, ou seja, é o processo de ler o mundo, problematizá-lo, compreendê-lo e transformá-lo. É um diálogo, em que “[...] o pensar do educador somente ganha autenticidade, na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela realidade, portanto na intercomunicação [...]” (FREIRE, 1983, p.64)

Nesta ação os alunos participaram elencando suas raízes familiares, sua historicidade expondo como se dava a comunicação entre familiares e pessoas de antigamente, onde contextualiza os meios de comunicação abrangendo como eram usados, quais tipos e espaços de tempo que se levavam para chegar aos seus destinatários.

Num segundo momento trabalhamos a comunicação no sentido da demora, porém enfatizando a tranquilidade e princípios e ate de privacidade, garantindo a eles o direito de expressarem divergências de opiniões, bem como defendendo seus pontos de vista em relação aos diversos gêneros da comunicação atual.

Ainda foram trabalhados os gêneros contextualizados com a interdisciplinaridade, onde foram elementados como escrever bilhetes e receitas.

Afim de que os alunos se apropriassem da ideia do percurso a ser traçado pelo plano de intervenção fez-se necessário expor primeiramente o conceito dos gêneros a serem trabalhados, sendo como um dos nossos focos contemplar conforme a BNCCC:

 

(F12LP04) Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor ou já com certa autonomia, listas, agendas, calendários, avisos, convites, bilhetes, receitas, instruções de montagem (digitais ou impressos), dentre outros gêneros do campo da vida cotidiana, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do texto e relacionando sua forma de organização à sua finalidade. (EF01LP13) Identificar a função sociocomunicativa de textos que circulam em esfera social das quais participa, reconhecendo para que tais textos fossem produzidos, onde circulam quem produziu a quem se destinam.

 

Com esta ação pudemos contemplar o que preconiza os cinco eixos: 1-Compreensão valorização da cultura escrita; 2-Apropriação do sistema da escrita; 3-Leitura; 4-Produção da escrita; 5-Desenvolvimento da oralidade.

Em seguida os alunos tiveram um momento para pesquisarem sobre os gêneros elencado para este momento, pois só assim poderiam elaborar suas próprias produções com parâmetros. Assim cada aluno desenvolveu a criação da sua própria receita, bem como também desenvolveram na prática agregando teoria e prática, numa ação planejada e desenvolvida por eles. Com gênero textual bilhete, combinamos um momento com a turma, onde eles iriam escrever bilhetes entre eles.

No dia combinado, eles estavam bastante ansiosos, pensando, discutindo sobre o que escreveriam e assim resolvemos escrever convidando os colegas de sala para juntos promoverem a prática da receita. Foi bastante gratificante, pois eles seguiram os passos do gênero, em ressalva alguns tiveram um pouco de dificuldades.

Atendendo a um dos objetivos desta pesquisa, constatamos que escrita de textos mediada pelo bilhete, fez com que os alunos refletissem sobre seu texto, já que, através dessa prática, os alunos puderam repensar em suas produções, reescrevendo-as, de forma que esta reescrita tornou-se um processo contínuo, onde eles tornaram-se sujeitos ativos, atuantes que refletem sobre sua produção.

Como não havia tempo para execução de todas as receitas, elegemos uma delas, para que fosse executada:

Sugerimos que os alunos trouxessem uma caneca de casa para preparar a receita do “Bolo de Caneca”. Os ingredientes foram providenciados pelos professores, juntamente com os alunos, assim foi planejada uma aula para desenvolver a receita na sala 25 (laboratório de química e física).

Após juntar todos os ingredientes, cada um por vez, fez a leitura coletiva da receita e cada aluno desenvolveu, a partir das instruções evidenciadas, utilizando os utensílios e suas respectivas medidas.

Mediante o desenvolvimento da receita foram fazendo comparações de medidas e respectivamente preocupados com as unidades se dariam certo ou não. Percebemos nesse momento que a atividade foi bastante fundamental, pois faziam relevância da teoria com a prática.

No desenvolver da aula prática, observou-se que após uma leitura e interpretação do texto em questão, os alunos tiveram uma autonomia maior a partir das instruções dadas, parte que antes do desenvolvimento prático, não fora alcançado.

Ao finalizar a preparação, cada aluno pôde saborear seu bolo de caneca e ficou visível a satisfação dos mesmos com o desenvolvimento da atividade.

 

Algumas considerações

 

Dessa forma após a conclusão dessas habilidades, ouve uma troca da experiência vivenciada entre os alunos para uma correção da escrita, onde muitas vezes as expressões de um enunciado podem soar de forma de hipersegmentação, ou seja, evidenciam vocábulos autônomos, com isso mediado pele professor foram feitas realizadas as produções e reelaboração dos textos, observando as irregularidades do sistema de escrita.

Essa mediação constituiu-se num momento importante na ligação de elementos; professor, aluno e conhecimento, priorizando situações didáticas que envolveram e levaram todos a refletirem sobre a leitura e analise de diferentes gêneros, para que tenham boas referências das suas construções-produções.

Por acreditar que é pela mediação dialógica que acontece as interações em sala de aula, os sujeitos da aprendizagem produzem estratégias intelectuais que vão lhes permitir produzir ou apropriar-se de conhecimentos.

 

A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. (FREIRE 1981, p. 92)

 

Nesse sentido, o diálogo torna-se um instrumento potencializador para que a aprendizagem ocorra de maneira significativa, nesta etapa foram observados alunos que se desdobraram sobre o trabalho, outros ainda tiveram resistência em participar diretamente do processo, porem com a flexibilização docente ouve uma participação coesa por parte de todos.

 

Conclusão

 

Diante essa atividade, foram observados muitas dificuldades dos alunos em relação a escrita, bem como o desconhecimento de alguns em relação a gêneros textuais, porém o resultado após os trabalhos foram bastante relevantes, considerando a oportunidade de constatar que é no texto que a linguagem se materializa como discurso significativo, como forma de alguém o autor ou o locutor dizer aquilo que pensa, que sabe “escrita e leitura” e concretização das habilidades.

Assim pudemos perceber a melhora dos conhecimentos dos alunos com os gêneros trabalhados, portanto é preciso aceitar o desafio de uma prática em que possamos assumir um trabalho pós-produção que envolva estruturação, reestruturação ampliando a contribuição do conhecimento prévio, real e letrado do aluno, adotando uma postura que designem aos alunos alcançarem desenvolver suas competências e habilidades com o uso criativo e crítico das práticas sociais da leitura e escrita e principalmente a de “mundo”.

Referências

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2016. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio>. Acesso em: nov. 2019.

 

FREIRE, Paulo. A Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

 

______. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

 

______. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

 

GARRIDO, I. (1990). Motivacion, emocion y accion educativa. Em: Mayor, L. e Tortosa, F. (Eds.). Âmbitos de aplicacion de la psicologia motivacional (pp. 284-343). Bilbao: Desclee de Brower

 

MURRAY, E.J. (1986). Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan

 

REIS, R.H.A. Constituição do Ser Humano: amor-poder-saber na educação/alfabetização de jovens e adultos. Coleção Políticas Públicas de Educação. Organizadores: Cunha, Célio da; SOUSA, José Vieira de; SILVA, Maria Abádia Da. Ed. Autores Associados, 2011.

 

 

 

ANEXOS:

 

 

Receita escolhida pela turma para confeitar o “Bolo de Caneca”

 

 

 

 

Alunos confeccionando a receita “Bolo de Caneca”