O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE JOVENS E ADULTOS
Adriana Garlet Silva
RESUMO
O ser humano está inserido em uma sociedade letrada e, portanto, em constante contato com os códigos da língua escrita. Partindo dessa perspectiva não se deve ignorar os saberes que cada aluno leva consigo para a sala de aula, eles não são folhas em branco nos quais os professores irão inserir as primeiras impressões dos códigos escritos, levam para as salas de aula uma bagagem de conhecimentos e experiências. A escola tem um papel importante no desempenho do processo de alfabetização, garantido por lei, tornando o indivíduo capaz de ler e escrever, sabendo que ser alfabetizado não é necessariamente letrado, pois alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever, enquanto o letrado vive em estado de letramento. A Educação de Jovens e Adultos tenta alfabetizar letrando, numa abordagem simples e repetitiva, pois a alfabetização é um processo, o espaço/tempo vivido na escola é a imersão na cultura escrita.
Palavras-chave: Alfabetização e Letramento. Educação de Jovens e Adultos.
ABSTRACT
The human being is inserted in a literate society and therefore, in constant contact with the codes of the written language. From this perspective one should not ignore the knowledge that each student takes with him to the classroom, they are not blank sheets in which the teachers will insert the first impressions of the written codes, take a baggage of knowledge and experiences to the. The school has an important role in the performance of the literacy process, guaranteed by law, making the individual able to read and write, knowing that being literate is not necessarily literate, because literate is someone who can read and write, while the literate lives in literacy status. Youth and Adult Education tries to literate by writing, in a simple and repetitive approach, because literacy is a process, the space / time lived in school is immersion in written culture.
Keywords: Literacy and Literacy. Youth and Adult Education.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, o número de pessoas com idade igual ou superior a quinze anos analfabetas passa de quinze milhões. Logo, conhecer alguns aspectos sobre a Educação de Jovens e Adultos contribui para a construção de um país mais cidadão, pois a alfabetização é um instrumento básico para o exercício da cidadania. Entretanto, milhões de pessoas ainda não têm acesso a esse instrumento. Por outro lado, é sabido que uma significativa parcela da população do país é formada por analfabetos funcionais, pessoas que embora declarem saber ler e escrever, não compreende o que leem.
2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
É a partir de meados da década de 1930 que, realmente iniciou-se a consolidação do sistema público de educação no Brasil, a sociedade passava por grandes transformações, associadas ao processo de industrialização e o governo federal estava ampliando a educação e traçando diretrizes.
Durante a Era Vargas, a educação foi considerada um fator indispensável para o desenvolvimento da nação, fato que deu um salto de incontestável valor na história do Brasil, época também que registra-se a criação do Ministério da Educação e Cultura. No ano de 1945, é elaborado o projeto de lei “Lei de Diretrizes e Base para a Educação Nacional”, porém aprovado só em 1961.
Passado mais de meio século, a burguesia não foi capaz de dar às massas populacionais, nem mesmo o mínimo de ensino que convinha aos seus próprios interesses. A classe burguesa reconhece, que as suas escolas não asseguraram à grande parte da população o mínimo necessário de educação de que necessitam, e, reconhecem também a necessidade de reformar os programas e os métodos.
Nos últimos anos tal necessidade tornou-se mais evidente, fazendo com técnicos em pedagogia produzissem sistemas e planos, ou seja, uma nova metodologia, uma nova didática em substituição as velhas técnicas que traziam consigo, a memorização, fragmentação do ensino e da soletração.
Na época, a educação de adultos definiu sua identidade tomando a forma de campanha nacional de massa, no ano de 1947, alimentou-se a reflexão baseado no analfabetismo, Loyola (1983), comenta que adultos inadequadamente preparados para as atividades convenientes à vida adulta, também são postos à margem como elementos sem significação nos empreendimentos comuns. Ou seja, nesse momento que a sociedade passava momentos de grandes tensões, havia ainda que se preocupar com os analfabetos. Na medida que foram aparecendo e criando voz, as campanhas nacionais começaram a observar que esses seres poderiam ser produtivos, capazes de pensar e resolver problemas.
O pensamento pedagógico de Paulo Freire e sua proposta de alfabetização de adultos, idealizaram os programas de alfabetização e educação popular realizada no país a partir da década de 1960. Naquela época Freire fez uma crítica à educação bancária que considerava o analfabeto excluído e ignorante, uma gaveta vazia, onde o educador depositava o conhecimento. Para Freire (2008), a elaboração da proposta de alfabetização de adultos, considerada conscientizadora, deveria ter como princípio que a leitura do mundo precedia a leitura da palavra.
Com tal ideia, Paulo Freire deixou claro que os adultos deveriam trazer palavras que utilizavam no seu dia-a-dia, palavras geradoras, ou seja, sem utilização de cartilhas, com isso fazer da escrita a leitura da realidade, apresentando aos adultos as famílias silábicas.
O Mobral, Movimento Brasileiro de Alfabetização, foi lançado após o golpe militar de 1964 e, se constituiu como uma organização autônoma em relação ao Ministério da Educação, propunha a alfabetização a partir de palavras da vida simples do povo. O Mobral expandiu-se por todo o território nacional durante os anos de 1970, a partir do programa, o governo criou um importante programa de alfabetização conhecido como PEI – Programa de Educação Integrada (PCN 1º segmento, 2001).
Na década de 1980, foram apresentados muitos estudos em relação à educação de adultos, como pesquisas sobre a influência linguística no processo de alfabetização, com o objetivo de fornecer subsídios sobre a leitura e a escrita. Emília Ferrero (1983), em seus estudos afirmou que a convivência do alfabetizando com ambiente letrado facilitava o reconhecimento do sistema de representação. Assim, o aprendiz chega à escola com hipóteses e informações prévias, na concepção de crianças da pré-escola, em relação ao adulto, mostra que as informações sobre a escrita também eram igualmente proporcionais à criança.
Já na década de 1990, a Educação de Jovens e Adultos, é reformulada e consolidada pedagogicamente, ocorrendo em todo o ensino fundamental, a maioria é constituída por pessoas fracassadas, o sistema regulariza para não somente adultos, mas também a jovens excluídos do ensino regular. A Proposta Curricular 1º segmento, ressalta “que o sistema garanta um segmento no estudo para os marginalizados, socioeconômica e educacional um acesso à cultura letrada que possibilite uma participação mais ativa no mundo do trabalho, da política e da cultura”. (PCN 1º segmento, p. 34).
Paulo Freire (2008), enfatiza que a atividade de leitura e escrita deve ter como base a leitura de mundo feita pelo educando e não a transmissão de conhecimentos. Assim, é necessário que a atividade de leitura e escrita seja dinâmica e realizada com a integração do sujeito no seu mundo social. Freire atribui à alfabetização a capacidade de levar o analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência crítica e introduzi-lo num processo real de democratização da cultura e da libertação.
3. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
É importante relembrar que a forma mais antiga da escrita surgiu na Mesopotâmia, atual Irã e Iraque, a escrita suméria, dava-se através de várias peças de argila que eram utilizadas dentro de templos para gravar as relações de troca e empréstimo de mercadorias entre os povos da época. Já a escrita alfabética foi introduzida na Grécia e na Jônia por volta do século VIII a.C. A escrita pode ser uma das principais causas do aparecimento das civilizações modernas e do desenvolvimento científico da sociedade, e não se pode esquecer o fato das relações de poder e as dominações estarem por trás da utilização restrita e generalizada do código escrito.
Conceituar alfabetização remete ao ensinar/aprender a ler e a escrever, já o letramento não consiste apenas em ler e escrever mais sim no cultivo de atividades de leitura e escrita que respondam as demandas sociais.
Para Freire (1991), a alfabetização não é a repetição mecânica das famílias silábicas, nem a memorização de uma palavra alienada, e sim a difícil aprendizagem de nomear o mundo. Nesse sentido, aprender a ler e escrever envolve reflexão e ação sobre a realidade na qual os sujeitos encontram-se inseridos. A ideia de que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, é defendida por Paulo Freire, pois para ele a alfabetização vai muito além do aprendizado das letras, a alfabetização é a aquisição da língua escrita através da construção do conhecimento.
Alguns estudiosos utilizam o termo letramento para designar o processo de desenvolvimento das habilidades da leitura e da escrita nas práticas sociais e profissionais. É fato que as demandas da sociedade estão centradas cada dia mais na escrita, exigindo um ritmo acelerado e de constante atualização e grande mobilidade para ocupar os novos postos de trabalho, portanto o termo alfabetização não seria adequado para essa nova sociedade.
Alfabetizar não é letrar, alfabetizar é reinventar a escrita e letramento seria apenas uma parte da alfabetização, existem várias visões do processo de alfabetização, concebidas de diferentes maneiras. Foi por sua concepção política da alfabetização que Paulo Freire foi exilado. Para ele os métodos de alfabetização se apresentavam como puramente técnicos escondendo seus objetivos políticos.
4. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino criada para beneficiar jovens e adultos que não puderam, por motivos diversos, estudar na idade adequada. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9.394/96, no capítulo II, seção e artigo 37, está determinado que: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria” (BRASIL, 1996). Essa lei veio para reforçar a educação proporcionada aos jovens e adultos e diminuir a exclusão e marginalização social enfrentada pelos mesmos, que, em grande parte, se encontravam fora das instituições escolares.
O artigo acima citado, afirma que as escolas deverão assegurar oportunidades educacionais apropriadas aos estudantes da EJA e com o retorno desses discentes às salas de aulas, a escola e os professores passam a ter o desafio de ofertar uma educação de qualidade que favoreça a permanência dos estudantes e assim combata a evasão escolar. É certo que em qualquer modalidade de ensino a qualidade deve estar presente, porém no trabalho com jovens e adultos é preciso uma atenção especial, portanto é necessário que o professor elabore estratégias de ensino, metodologias específicas, que visem chamar a atenção desses discentes que não são crianças, nem adolescentes e não gostariam que fossem tratados como tais. O educador da EJA precisa refletir sobre sua prática constantemente, com o objetivo de melhorar cada vez mais seu fazer docente. Por isso ele necessita:
Ser um leitor de si mesmo, refletindo, sistematicamente, sobre a sua prática, o seu fazer pedagógico; o que sabe e o muito que desconhece, as suas contradições enquanto educador, os seus receios e inseguranças; para que possa vislumbrar as suas faltas e buscar suprí-las. É partindo desta leitura, leitura crítica de si, que poderá, em exercício concomitante, executar a leitura do mundo que o cerca. (MACHADO; NUNES, 2016, p.55).
É de extrema importância saber como professores trabalham a alfabetização e o letramento de jovens e adultos, bem como quais são os saberes que trazem de sua formação inicial relacionado diretamente com a EJA e saberes que adquirem com formações continuadas.
Leal (2006), fala que a alfabetização é o processo de aquisição do sistema de notação alfabético, que busca inserir o sujeito em situações que envolvam práticas de leitura e escrita, através dos diversos gêneros textuais que circulam na sociedade. Então é possível afirmar que alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever.
Segundo Ferreiro (2011), é importante o indivíduo ser alfabetizado, pois assim pode adquirir novos conhecimentos e se inserir na realidade, intervindo em seu contexto, pode colocar no papel o que pensa e falar sem medo, quando lhe for necessário.
O letramento está diretamente ligado à alfabetização, entretanto não possui o mesmo significado. De acordo com Morais e Albuquerque (2006), o termo letramento se origina como uma nova concepção de alfabetização, pois em 1980 o termo surge no Brasil com a finalidade de atribuir o uso de diversos gêneros textuais que existem na sociedade por meio das mais complexas práticas de leitura oral e escrita, ou seja, não é apenas ler ou escrever um texto simples, é fazer uso de textos complexos.
O letramento não pode substituir a palavra alfabetização, entretanto, os dois termos aparecem sempre associados. Nesse sentido, a alfabetização tem grande relevância, entretanto não basta apenas saber ler e escrever, ou decodificar e codificar palavras, é preciso que o educando utilize a leitura e a escrita como práticas sociais. Segundo Soares:
Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado. (SOARES, 1998, p. 47).
O letramento vai além da alfabetização, letrar está relacionado à prática da leitura, o uso social do texto, dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno, colocando-se como a prática social da leitura e escrita, onde o aluno consegue ler, produzir e interpretar textos.
Falar em alfabetizar letrando, para Albuquerque e Leal (2006), é referir-se à articulação de práticas de alfabetização e letramento, de modo que o professor trabalhe com as dimensões específicas da alfabetização e paralelo a isso, estimule os usos sociais do ler e do escrever nas práticas sociais.
O ensino da leitura e da escrita não deve ser transmitido de forma estática e mecanizada, em que o discente que está sendo alfabetizado memorize as letras e os sons sem conseguir compreender o real sentido do texto. É preciso compreender que alfabetização e letramento devem ser trabalhados de forma indissociável e a prática pedagógica do professor é fundamental nesse processo. Por isso, o docente necessita estar preparado, pois ser professor alfabetizador não é tarefa fácil.
Nesse sentido uma prática pedagógica eficaz na EJA, consiste em fazer com que o educando se aproprie das especificidades da alfabetização e do letramento em um contexto que envolva a leitura, a escrita e a produção de gêneros textuais diversificados. Desse modo, conforme escrevem Galvão e Soares (2006), a partir do momento que o professor considere o estudante jovem ou adulto, como produtor de saber e de cultura, ainda que não saiba ler e escrever, esse alfabetizando em práticas efetivas de letramento e o processo de alfabetização se torna muito mais significativo.
Fato real é que os discentes que frequentam a Educação de Jovens e Adultos nos primeiros ciclos, não são alfabetizados ou possuem pouco domínio sobre a leitura e a escrita, contudo esses jovens vivenciam as mais diversas formas de interação com a escrita e a leitura cotidianamente. Deste modo deve-se ressaltar que a alfabetização e o letramento devem ocorrer de maneira significativa, a partir da cultura e história de vida dos estudantes.
Moura (2009), destaca que é preciso pensar na formação do professor de jovens e adultos, frisando que no atual contexto socioeconômico, político e cultural, é necessária uma avaliação e uma revisão das práticas educativa e da formação inicial e continuada dos mesmos. Em suma, repensar a prática educativa e a formação continuada do professor é fundamental, já que esse docente precisa prender a atenção de seus discentes de modo que não se sintam desmotivados com aulas que não conseguem atraí-los. E essas aulas serão atrativas a partir de práticas eficientes que são adquiridas desde a formação inicial até o processo de busca pelo aperfeiçoamento profissional por meio da formação continuada.
Lançar conteúdos aleatórios que não fazem sentido à vida do educando, não é o suficiente, é preciso fazer uso de metodologias que valorizem sua experiência cotidiana, por meio dos conhecimentos prévios e saberes adquiridos ao longo da vida. Nesse contexto, é preciso que o professor utilize práticas pedagógicas que auxiliem no trabalho com a leitura e a escrita. Para isso, o docente não deverá desenvolver seu trabalho utilizando as mesmas estratégias que são realizadas com as crianças em processo de alfabetização, já que os públicos são distintos, e procurar alfabetizar jovens e adultos como se fossem crianças grandes faz com que muitos deles abandonem a escola por se sentirem desmotivados com os recursos utilizados em sala de aula.
Pinto (1991), afirma que o problema do método na educação de adultos é mais difícil, porque muitos professores tentam infantilizar os estudantes e não levam em consideração que são pessoas que possuem experiência de vida, trabalham, constituíram família e que já tem uma opinião formada. Por conseguinte, o professor deverá utilizar métodos que estimulem nos discentes a necessidade de aprender, para isso é importante que ministre conteúdos relacionados ao mundo de trabalho desse público, à sua vida cotidiana, ou seja, por meio de elementos que os motive a aprender. Freire (2003), dizia que a metodologia utilizada em sala de aula pelo professor, deveria ser baseada na realidade do educando, considerando sua história de vida, suas experiências.
Sendo assim, as práticas de alfabetização e letramento têm como objetivo promover o desenvolvimento de habilidades para que os discentes, jovens e adultos, se insiram com autonomia em práticas de leitura, interpretação e produção de diversos textos. Deste modo, o papel do educador na alfabetização e letramento é o de estabelecer diálogos com os estudantes, inserindo-os em práticas sociais de leitura e escrita. Por conseguinte, pode-se concluir que o intuito da Educação de Jovens e Adultos é desenvolver no sujeito jovem ou adulto o senso crítico, a capacidade de ler o mundo, além das habilidades e competências técnicas necessárias a vida em sociedade, ou seja, colaborar na formação e emancipação humana.
Por meio da EJA os educandos passam a ter igualdade de oportunidades tendo o direito a uma educação de qualidade na escola pública, também permite que os mesmos sejam reingressados no sistema de ensino. Desta forma a EJA possibilita que os índices de analfabetismo diminuam. De acordo com Tfouni (2002, p.9):
A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades para leitura, escrita e as chamadas práticas de linguagem. Isso é levado a efeito, em geral, por meio do processo de escolarização e, portanto, da instrução formal. A alfabetização pertence, assim, ao âmbito do individual. O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição da escrita, entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escrita de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas “letradas” em sociedades ágrafas. Desse modo, o letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social. (TFOUNI, 2002, p.9).
Para a alfabetização é necessária à conscientização, privilegiando a ação e o diálogo. Esse diálogo é uma relação de comunicação, de intercomunicação, que gera a crítica e a problematização, portanto o professor não deve definir o conteúdo que irá trabalhar antes de conhecer seus discentes e considerar os conhecimentos que trazem consigo. Freire (2007), relata que o papel do educador não é só ensinar os conteúdos básicos e sim, oportunizar os educandos a serem leitores críticos, a fim de compreenderem o que acontece no local e no mundo em que vivem.
É preciso ressaltar que o aluno da EJA não deve ser apenas alfabetizado, ou seja, que tenha apenas o domínio do sistema alfabético, sabendo simplesmente ler e escrever, mas é essencial que o mesmo seja letrado, isso significa que a leitura e a escrita devem ser consideradas e exercitadas como práticas sociais em seu cotidiano.
Também é necessário que o professor verifique sua prática pedagógica e as metodologias que deverá utilizar para facilitar e estimular o processo de leitura e escrita, identificando também os problemas que dificultam esse processo. Segundo Machado e Nunes (2001, p.55):
O educador da EJA é alguém que precisa ser um leitor de si mesmo, refletindo, sistematicamente, sobre a sua prática, o seu fazer pedagógico; o que sabe e o muito que desconhece, as suas contradições enquanto educador, os seus receios e inseguranças; para que possa vislumbrar as suas faltas e buscar supri-las. É partindo desta leitura, leitura crítica de si, que poderá, em exercício concomitante, executar a leitura do mundo que o cerca. (MACHADO e NUNES, 2001, p.55).
A escola deve ser transformada em uma comunidade de leitores e escritores. Leitores que busquem textos que tragam informações sobre conhecimentos que desejam adquirir. E escritores que criem seus próprios textos para transmitir suas ideias e opiniões. Lerner (2002, p.17):
Ensinar a ler e escrever é um desafio que transcende amplamente a alfabetização em sentido estrito. O desafio que a escola enfrenta hoje é o de incorporar todos os alunos à cultura do escrito, é o de conseguir que todos seus ex-alunos cheguem a ser membros plenos da comunidade de leitores e escritores. (LERNER, 2002, p. 17).
Ler e escrever são habilidades fundamentais na vida de todo cidadão, pois exercendo domínio sobre as mesmas ele será capaz de exercer a cidadania com eficiência, compreendendo o mundo que o rodeia, bem como a realidade que o cerca.
Para tanto, o docente deve buscar metodologias que facilitem e estimulem o processo de ensino-aprendizagem e utilizar textos que envolvam a vida cotidiana de seus alunos, entre outros. E assim, ajustando-os e adequando-os à realidade dos mesmos.
Integrar o aluno à sociedade é fundamental, nesse contexto, a leitura e a escrita tornam-se primordiais, pois enriquecem conhecimentos, melhoram competências técnicas e profissionais, aprimorando-os para suas próprias necessidades e as da sociedade. Diz Kleiman (2005), que é preciso compreender quais os impactos da leitura e da escrita em seus usos sociais, para assim desenvolver estratégias que possam acelerar a inserção plena dos adultos recém-leitores no mundo da escrita.
A escola precisa enfrentar o desafio de tornar a leitura e a escrita como práticas sociais na vida dos alunos.
O desafio é formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas sujeitos que possam “decifrar” o sistema de escrita. É formar leitores que saberão escolher o material escrito adequado para buscar a solução de problemas que devem enfrentar e não alunos capazes apenas de oralizar um texto selecionado por outro. É formar seres humanos críticos, capazes de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente à mantida explícita ou implicitamente, pelos autores dos textos com os quais interagem, em vez de persistir em formar indivíduos dependentes da letra do texto e da autoridade de outros [...]O desafio é promover a descoberta e a utilização da escrita como instrumento de reflexão sobre o próprio pensamento [...]. (LERNER, 2002 p. 27-28).
Em suma, é preciso considerar que leitura e escrita serão práticas sociais constantes na vida dos educandos da EJA quando o professor por meio de sua prática pedagógica possibilitar a inserção desses alunos no mundo cultural da leitura e da escrita. Formando discentes que sejam capazes de ir além de uma decifração da escrita, que saibam ler o que está nas entrelinhas, entendendo, questionando e criticando o que lhes está exposto.
5. CONCLUSÃO
As práticas de alfabetização e letramento objetivam promover o desenvolvimento de habilidades para que os discentes, jovens e adultos, se insiram com autonomia em práticas de leitura, interpretação e produção de diversos textos, visando a cultura do mesmo, bem como, sua preparação e inserção no mercado de trabalho.
Por isso é preciso que o docente crie atividades que estimulem os discentes para que possam ler e produzir diferentes textos. Por conseguinte, concluímos que o intuito da Educação de Jovens e Adultos é desenvolver no sujeito jovem ou adulto o senso crítico, a capacidade de ler o mundo, além das habilidades e competências técnicas necessárias a vida em sociedade, ou seja, colaborar na formação e emancipação humana.
Assim, o papel do educador na alfabetização e letramento é o de estabelecer diálogos com os estudantes, inserindo-os em práticas sociais de leitura e escrita. Contudo, o analfabetismo não está descartado, e não será eliminado sem a mobilização da sociedade, é preciso a força e a união entre as pessoas, todos juntos lutando pela igualdade social, e pela educação de qualidade oferecida a todo país sem distinção de crenças, raças ou cores.
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