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A INDISCIPLINA NO COTIDIANO ESCOLAR

 

Cristiane Dias Saboia Almeida da Silva
Léia Mazuchini Almeida
Fabiana Silva de Matos
Tatiane Gonçalves Costa da Silva
Tânia Silva de Almeida

 

RESUMO:

O presente trabalho tem como foco um novo olhar reflexivo com relação à questão indisciplinar no dia a dia escolar atual. Esta questão da indisciplina tem sido encarada como problema e desvio das diretrizes e normas que regem os sistemas escolares e de tal modo acaba por inviabilizar as práticas educacionais. Relacionada à desordem, ao desrespeito às normas de conduta das instituições, bem como à falta de limites, a indisciplina costuma ser centralizada na figura do estudante e em suas relações no ambiente escolar. Deste modo, primeiramente coloca-se em discussão o conceito de indisciplina escolar frente às mudanças ocorridas na sociedade que apresentam causas e especificidades de cada região. Ressalta-se a importância de um enfoque preventivo como uma das soluções ao enfrentamento deste problema e, simultaneamente, são enfatizadas algumas técnicas de encaminhamentos, bem como sugestões para a prevenção, além de uma postura compartilhada e de parceria, sempre pautada nas bases democráticas.

 

Palavras-chave: Indisciplina. Cotidiano escolar. Educação.

 

1. INTRODUÇÃO

 

A indisciplina nas escolas brasileiras é um fato. Alastrando-se em diferentes instituições e segmentos do ensino, a falta de limites, o desrespeito e as ocorrências de violência e vandalismo são queixas que se multiplicam entre pais, professores e gestores. Mas, afinal, de quem é o problema e como lidar com ele?

Se, por outro lado, a indisciplina fosse compreendida na sua complexidade, entendendo-se, em cada caso, a conjugação de fatores sociais, institucionais, pedagógicos, afetivos e relacionais, o desafio poderia ser enfrentado na parceria responsável entre famílias, escolas e poder público.

Assim, a disciplina deixaria de ser um requisito para a eficiência escolar, passando à meta do projeto pedagógico, tão legítima quanto ensinar conteúdos.

Enfrentar a indisciplina requer medidas conjugadas em diferentes planos de intervenção. Na esfera sociopolítica, cabe o investimento na valorização da vida, do trabalho, da educação e da escola.

A cooperação entre pais e educadores é, igualmente, indispensável para a reconfiguração da vida estudantil, pois a negociação de metas e linhas de conduta favorece a educação em valores e a conquista da postura crítica entre os alunos. Sob essa ótica, talvez, a questão possa ser respondida de modo mais efetivo: a indisciplina na escola é um problema de todos nós.

 

A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA AO SEU TEMPO

 

No entender de Cagliari (2009, p. 38):

 

a questão metodológica não é a essência da educação, apenas uma ferramenta. Por isso, é preciso ter ideias claras a respeito do que significa assumir um ou outro comportamento metodológico no processo escolar. É fundamental saber tirar todas as vantagens dos métodos, bem como conhecer as limitações de cada um.

 

 

Paulo Freire faz a seguinte constatação: a minha questão não é acabar com escola, é mudá-la completamente, é radicalmente fazer que nasça dela um novo ser tão atual quanto a tecnologia. Eu continuo lutando no sentido de pôr a escola à altura do seu tempo. E pôr a escola à altura do seu tempo não é soterrá- la, mas refazê-la. (FREIRE & PAPERT, 1996).

 

O TRABALHO DO PROFESSOR NA ESCOLA

 

 

Segundo AQUINO (1996). [...] não é possível supor a escola como uma instituição independente ou autônoma em relação ao contexto sócio histórico, não se pode supor que haja um espelhamento imediato entre ela e suas instituições vizinhas. Isso porque não se pode admitir que o cotidiano escolar seja marionete (e seus protagonistas, reféns) das imposições externas. (AQUINO, 2003, p. 40).

O trabalho do professor não é o de fixar, através de receitas prontas, comportamentos pré-estabelecidos, mas o de criar, segundo seus objetivos e as características daquilo que ensina, métodos de ação e pensamento que considerem valiosos. “Ter um método para transmitir disciplinas não é de ter um discurso sobre a disciplina, mas é criar uma maneira de trabalhar”. (AQUINO. 1996).

Como dizia Paulo Freire; Como educador, devo estar constantemente advertido com relação a este respeito que implica igualmente o que devo ter por mim mesmo. ...o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (FREIRE,1996, p. 59).

Segundo Aquino (1996), “há muito, os conflitos deixaram de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das escolas brasileiras para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais”.

 

O ALUNO NO SEU CONTEXTO SOCIAL

 

Fontana (2000) afirma que é preciso que o adulto assuma o seu papel com o objetivo claro da relação de ensino (que é o de ensinar), levando em consideração a condição de ambos os lados dessa prática, como parceiros intelectuais, desiguais em termos de desenvolvimento psicológico e dos lugares sociais ocupados no processo histórico, mas por isso mesmo, parceiros na relação contraditória do conhecimento.

A citação exemplifica nesse esse fato. [...] Alunos menos preparados, com problemas de disciplina ou de adaptação à rotina escolar, tenderiam a abandonar os estudos, mas não abandonar a escola, que aparece como uma das únicas alternativas de encontro de jovens. É nesse contexto que surge a figura do “aluno insistente” – aquele que, durante as aulas, fica principalmente na porta da sala de aula ou, então, perambulando pelos corredores, pelos arredores da escola ou pelos pátios, onde desenvolve atividades paralelas, perturbando o andamento das aulas e dificultando o trabalho de inspetores. Isso porque a escola nada tem a propor a essa população flutuante, que ocupa tanto suas instalações nas horas de atividade como fora delas. A disciplina formal de sala de aula não atinge esses alunos, e fora dela, nada é previsto para ocupá-los ou mesmo diferenciá-los dos colegas que frequentam regularmente a escola (FUKUI, 1992, p. 115).

 

O SUJEITO E A INDISCIPLINA

 

O aluno é o núcleo do processo educativo. É a partir dele e para ele que toda a educação é pensada. Infelizmente, este aluno tem protagonizado cenas de horror nas escolas, através da manifestação da indisciplina explícita. Boa parte dos alunos da atualidade perdeu o foco dos estudos e mira um norte divergente daquele apontado pela educação; talvez por esperarem algo diferente da escola, talvez pelos ensinamentos da sociedade das limitações, talvez pelo fracasso da família, ou ainda pela “inadequação” da escola.

As relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente (ALMEIDA, 1999).

O importante frisar é que o aluno está cada vez mais distante das boas questões educacionais, menos comprometido com a própria formação e muito mais agressivo.

Ainda segundo Aquino (1996, p. 09) “há muito os distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das escolas brasileiras, para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais”.

Rocha (1996, p.338) entende que "indisciplina é a falta de disciplina, que significa regime de ordem, imposta ou livremente consentida, a ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização". Diante da posição de Rocha percebe-se que a indisciplina é algo que pode desencadear a desordem no ambiente escolar, afetando assim o regulamento  da escola e por consequência o processo de ensino-aprendizagem. 

A escola é feita de momentos, sendo que a forma que ela assume em cada situação é sempre o resultado provisório do movimento permanente de transformação, pressupondo tensões, conflitos, esperanças e busca por propostas alternativas.

 

O FRACASSO FAMILIAR

 

Para Vasconcellos (2013):

 

A importância da colaboração escola-família é notória, pois, quando as famílias participam da vida escolar, torna-se mais fácil a integração dos alunos e melhora a qualidade do processo ensino-aprendizagem. Há estudos que comprovam que o envolvimento dos pais está positivamente correlacionado com os resultados escolares dos alunos. Muitas das vezes, a família não Educa, não dá referências básicas e transfere para a escola esta tarefa. (VASCONCELLOS, 2013)

 

 

No Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), encontramos que "é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais", ou seja, trazer as famílias para o convívio escolar já está prescrito no Estatuto da Criança e do Adolescente o que esta faltando é concretizá-lo, é pôr a Lei em prática. Família e escola são pontos de apoio ao ser humano; são sinais de referência existencial. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais significativos serão os resultados na formação do educando. A participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser constante e consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares.

Segundo Valenine (1995, p. 7):

 

... a cidadania é o espaço para a realização das pessoas. É por meio de seu exercício que a sociedade pode reassumir seus rumos, redefinir sua organização e reorganizar suas atitudes e objetivos, para que sejam voltadas para o bem comum e para que se atualizem de acordo com as mudanças que vão ocorrendo.

 

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O foco no processo pedagógico deve sempre ser o que se chama de binômio humano: a criança, para desenvolvimento das potencialidades, e o professor, como ser humano preparado academicamente e socialmente para ajudar no processo de desenvolvimento da outra pessoa. Deste modo, percebe-se que no enfrentamento da indisciplina escolar, o processo educativo não deve ser visto como sendo responsabilidade exclusiva das escolas. Tudo na vivência social pode ser pedagógico tanto no sentido positivo, quanto no negativo.

Seja na família, trabalho, meios de comunicação, nas relações políticas, nas cerimônias religiosas, ou em qualquer setor onde haja atividade e interação humana, estamos transferindo às novas gerações os modelos e propostas de conteúdo técnico, político e moral que temos como padrão atualmente.

Ainda que se considere a especificidade institucional, formativa e democrática da escola na busca de alternativas de intervenção pedagógica de cunho científico, na busca por soluções aos problemas de caráter indisciplinar, mostra-se óbvio que qualquer pessoa pensante deve buscar a mudança da educação de forma global, promovendo a cultura, como ainda praticando a ética na busca por uma sociedade humanista e mais humanizada, preocupada com a importância dos alunos, com o compromisso da construção de um futuro mais humano, de homens que sejam artífices e não meros produtos das práticas sociais.

Deste modo, é preciso sensibilizar a comunidade escolar sobre a necessidade constante de diálogos abordando este tema, não apenas com especialistas, estudantes, professores e outros profissionais da educação e das ciências humanas e sociais, mas também com todos aqueles que se interessam pela árdua tarefa de reinventar a educação e mesmo as relações sociais.

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA, A. R. S. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus,1999.

 

AQUINO, Júlio Groppa (Org.) Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 3ª Edição, São Paulo: Summus,1996 .

 

AQUINO, Julio Groppa (organizador). Indisciplina na escola – alternativas teóricas e práticas, 4. Ed. São Paulo: Summus Editorial, 1996.

 

BRASIL, Estatuto da criança e do adolescente – ECA. Brasília, Distrito Federal: Senado, 1990.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2002. ______. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 2009.

 

FONTANA, R.A.C. Mediação pedagógica na sala de aula. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2000.

 

FUKUI, Lia. Segurança nas escolas, in ZALUAR, Alba (Org.). Violência e educação. São Paulo: Livros do Tatu/ Cortez, 1992.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

 

ROCHA, E.A.C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia. Florianópolis: UFSC: Centr o de Ciências da Educação: Núcleo de Publicações – NUP, 1996.

 

VALENINE,L.D. Qual Cidadania? In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 15. Fortaleza CE, 1995. o Professor necessário na construção da cidadania. Fortaleza, AEC, Jul. 1995.

 

VASCONCELLOS, Celso. Disciplina e Indisciplina na Escola. Revista Presença Pedagógica, Belo horizonte, MG. v. 19, n. 112. P. 5-13, set/2013.