ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM
Simone dos Santos Batista Rocha
RESUMO
Frente às dificuldades enfrentadas atualmente no processo de alfabetização e letramento, a presente pesquisa tem por foco o processo de ensino/aprendizagem nas séries iniciais e Educação Infantil. Muito se discute sobre os problemas enfrentados nesta fase, bem como a importância de se alfabetizar letrando, além das consequências aos longo da vida escolar da criança caso hajam falhas nesse processo. Buscou-se ainda, a causa do insucesso vivenciado em alguns casos, bem como soluções que possam ser aplicadas no sentido de evitar o fracasso escolar. Para o cumprimento dos objetivos propostos neste trabalho, valeu-se da metodologia de revisão bibliográfica à luz de trabalhos de estudiosos do tema.
Palavras-chave: Alfabetização e Letramento. Fracasso escolar. Metodologia.
Introdução
Na Educação Infantil, o processo de alfabetização e sobretudo do letramento, mostra-se como um desafio ao professor. Mostra-se necessária uma organização pedagógica fundamentada na realidade das crianças a serem trabalhadas, bem como a adoção de práticas capazes de atrair a atenção dos mesmos para atividades que possam trazer avanços na aquisição dos conhecimentos e também nas questões motoras.
Nesse sentido, é importante perceber que a Alfabetização não mostra-se como um processo de aprendizado apenas mecânica, faz-se necessário que o processe de alfabetização esteja intimamente ligado ao letramento. Não basta ensinar a decodificar códigos, é precisa além disso ensinar que tal decodificação tem um porquê e que as informações contidas nos textos são parte da comunicação humana em sociedade.
Assim, entende-se que a criança deve aprender a decodificar os símbolos, mas aprendendo a entender o que está escrito.
Muito se discute ainda com relação à idade adequada para alfabetização, bem como sobre a metodologia mais adequada à esse intento.
Analisando-se resultados de avaliações nacionais de Ensino Fundamental e Médio, nota-se a necessidade de mais atenção com relação às práticas pedagógicas empregadas por professores na fase de alfabetização das crianças. Outro ponto importante é o fato de que um processo de alfabetização/letramento deficiente comprometem os anos seguintes da vida escolar do aluno e, como uma bola de neve, as defasagens de cada ano vão se acumulando, sobretudo em sistemas onde não hã a retenção do estudante que não compreendeu de forma satisfatória o conteúdo.
Por outro lado, em casos de retenção, outros problemas são discutidos, como o constrangimento do aluno em conviver com crianças de idade inferior à sua rotulado de repetente.
Com isso, percebem-se na organização dos sistema de ensino e, sobretudo, nas práticas pedagógicas empregadas pelo professor, as principais causas de insucesso no processo de ensino/aprendizagem na fase de alfabetização da criança, bem como em outros momentos da vida escolar. Assim, o professor deve enriquecer sua prática com conteúdos bem elaborados, materiais didáticos capazes de atrair a atenção da criança e bastante ludicidade. Tudo deve ser planejado ponderando-se a vivência dos alunos e suas experiências anteriores, para que o conteúdo trabalhado faça sentido para o estudante.
Sabe-se também que ainda hoje encontram-se severas deficiências nos processos de formação continuada dos professores. Neste sentido, percebe-se a necessidade que o professor mostre-se também como um pesquisador, um profissional sempre comprometido em aprender mais sobre as formas de fazer o seu trabalho, seja em cursos de capacitação ou mesmo no cotiano em sala de aula, no contato com o aluno e suas dificuldades na prática pedagógica.
Neste contexto, percebem-se as atividades de fala, leitura e escrita como ferramentas fundamentais na aquisição de conhecimento ao logo da vida.
Mesmo os bebês já fazem uso de processos de comunicação para externar seus sentimentos e necessidades. Conforme a criança se desenvolve seu processo comunicativo torna cada vez mais complexo e, neste sentido, podemos dizer que o processo de alfabetização e letramento nunca chegam de fato ao fim, haja vista que a pessoa alfabetizada continua o processo evolutivo no tocando à comunicação e interação.
Por fim, vê-se no professor alfabetizados o “mediador” capaz de levar a criança, a partir do processo de alfabetização e letramento, ao anos seguintes de sua vida educacional. Deste modo, evidencia-se que o trabalho do alfabetizador deve valer-se de todos os recursos disponíveis para que seja bem executado, sob pena de comprometer toda a vida escolar do indivíduo.
Desenvolvimento
Na prática, percebe-se que boa parte das crianças são alfabetizadas sem grandes dificuldades, porém, outras necessitam em maior ou menor grau de atenção e acompanhamento especial. Deste modo, um trabalho promovido de forma geral pelo professor nem sempre é capaz de alcançar resultados satisfatórios, chegando algumas vezes a levar parte significativa dos alunos ao quadro de fracasso escolar.
Diversos movimentos de renovação na educação já dedicaram-se à pesquisas produzindo livros, seminários, artigos e teses expondo pós e contras de métodos e técnicas empregados no processo de alfabetização e letramento. Ao estudar os métodos de alfabetização mais eficientes já utilizados, bem como suas falhas, o docente enriquece sua prática pedagógica permeando-a de experiencias já vivenciadas por outros profissionais. Este conhecimento literário acerca de sua área de atuação também trará ao professor mais condições de perceber os motivos pelos quais alguns alunos apresentam mais dificuldades no processo, bem como encontrar soluções e práticas capazes de sanar ou ao menos amenizar o problema.
Observam-se, muitas vezes, em instituições de ensino, professores perplexos frente às dificuldades de aprendizagem apresentadas por alguns alunos. Nesses casos, os professores acabam por ter a sensação de impotência frente ao quadro de fracasso escolar de parte de seus alunos. Neste sentido, Antunes (1999) afirma que:
...as dificuldades de aprendizagem envolvem alunos comuns, aparentemente sem danos de natureza medica ou psicóloga que necessitem de práticas educativas especiais. Esses alunos, examinados por uma equipe psicopedagogia e interdisciplinar, mesmo recebendo exercícios e atividades apropriadas para seu nível de idade e de capacidade, não rendem de acordo com esses.
Outro ponto observado no problema de aprendizagem é com relação à percepção psicológica das crianças sobre seu próprio quadro de dificuldade de aprendizagem. Enquanto alguns não se importam com a situação vivenciada, outros sentem-se constrangidos, diminuídos, duvidam de sua capacidade intelectual e chagam a se isolar socialmente.
Com relação aos problemas de aprendizagem, José e Coelho (1999) destacam o seguinte:
Os problemas de aprendizagem podem ocorrer no início da vida escolar como durante e surgem em situações diferentes para cada aluno, todo e qualquer problema de aprendizagem sugere um cuidadoso e amplo trabalho, além de uma investigação no campo em que se manifesta, este trabalho envolve a participação do professor e da família da criança, para fazerem uma análise da situação e levantar informações sobre o que está representando esta dificuldade ou empecilho para que este aluno não aprenda. (JOSÉ E COELHO, 1999)
Neste sentido, percebe-se a necessidade de o professor ser capaz de analisar seu alunos individualmente buscando perceber suas particularidades psicológicas, mentais, emocionais, enfim, tudo o que possa determinar a necessidade de uma atenção didática diferenciada em busca de resultados satisfatórios no processo de ensino aprendizagem. Com isso, o professor deve também estar capacidade para identificar quando o aluno apresenta algum transtorno que necessite de intervenção ou acompanhamento psicopedagógico, psicológico ou mesmo psiquiátrico.
Bruce (1997) destaca que:
... o conceito de problemas de aprendizagem ou atraso na aprendizagem abrange qualquer dificuldade observável enfrentada pelo aluno para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas da mesma faixa etária, seja qual for o fator determinante desse atraso. (BRUCE, 1997)
Fica ainda a cargo do professor planejar tarefas condizentes com o nível de aprendizagem de seu aluno, tais atividades devem ser interessantes para a criança, de fácil compreensão e capazes de despertar o interesse do aluno pelo estudo. Além disso, deve-se observar ainda a relevância didática das atividades no processo de ensino/aprendizagem. Para Sampaio (2009), esse o papel do professor mediador, caracterizado abaixo:
...o professor-mediador é que dará as coordenadas para que as descobertas aconteçam na vida escolar destas crianças, a melhor maneira para orientar seus alunos está em suas mãos, de modo que possam fazer deste conhecimento algo prazeroso e significativo para toda suas vidas. (SAMPAIO, 2009)
José e Coelho (1999) corroboram ao destacar que o professor mediador deve realizar intervenções e problematizações buscando incentivar seu aluno a raciocinar em busca de soluções para os problemas encontrados e, deste modo, fazer suas descobertas, através das atividades direcionadas. Assim:
O papel da escola está sendo modificado, pois a família tem delegado suas funções educacionais a escola, com isso a escola passa a desempenhar um duplo papel social ela é transmissora de cultura e transformadora das estruturas sociais, adequando seu trabalho as necessidades da criança e também da família e da comunidade. (JOSÉ e COELHO, 1999)
Contudo, observa-se grande dificuldade enfrentada por muitas instituições de ensino no tocante ao apoio da família no processo de escolarização das crianças. A própria Constituição Federal determina a família como corresponsável da escola nessa tarefa e, ainda assim, muitas famílias mostram-se alheias ao processo educativo de seus filhos.
Conforme a Constituição Federal Art. 205:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Assim, quando os professores têm as famílias como aliadas no processo de ensino/aprendizagem, as crianças apresentam rendimento notoriamente superior, além de mostrarem-se mais confiantes, autônomas e sociáveis. No tocante a essa parceria, José e Coelho (1999) acrescentam:
Nos adverte que é fundamental o papel do professor juntamente com a família, o acompanhamento de crianças com problemas de leitura e escrita, ajudando a criança na sua reeducação. O professor ainda precisa ter certeza do tipo de dificuldades que seu aluno enfrenta, evitando rótulos e distinguindo seus comportamentos como oriundos de vários aspectos como o emocional, o afetivo e o cognitivo, assim além do acompanhamento com especialista o aluno terá ainda um atendimento individualizado e de forma participativa das aulas de acordo com seus limites.
Bossa (2000) destaca a importância da família sobretudo no tocante às particularidades apresentadas por cada criança, haja vista que, ao conviverem de forma mais próxima, os familiares conhecem melhor tais particularidades, como destacado a seguir:
Não se pode jogar toda a responsabilidade do processo de ensino/aprendizagem somente ao professor, mas o educador também não pode se isolar do processo de ensino/aprendizagem, é comum, na literatura, os professores serem acusados de si isentarem de sua culpa e responsabilizar o aluno ou sua família pelos problemas de aprendizagem. É necessário lembrar-se da importância de se mudar os métodos, quando não está dando certo. Neste momento o professor precisa da ajuda do psicopedagogo, para direcioná-lo na melhor metodologia a ser utilizada. (BOSSA, 2000)
Deste modo, entende-se que a participação da família no processo/ensino aprendizagem mostra-se de grande valia, sendo até mesmo fundamento para o sucesso do processo dependendo do grau de limitação apresentado pelo aluno.
Somado a isso, muitos especialistas destacam a necessidade do professor perder o medo de fracassar com seu aluno no processo de ensino/aprendizagem, bem como levar o aluno a também perder seu medo não ser capaz de aprender e consequentemente não conseguir acompanhar a turma.
Mussi (2014) corrobora ao destacar o bom relacionamento entre professor e alunos como um passo importante no processo de vencer algum medo ou constrangimento que possa se apresentar no processo pedagógico:
É necessário priorizar ações de aproximação, de interação, de descobertas, de diálogos, de motivação, de traçar metas juntos, de mostrar-se tolerante e compreensivo, pois tolerância e compreensão terão como resposta o não medo do erro e a confiança na busca por acertos. A valorização do ponto positivo de cada um fortalece o grupo e leva à atrofia dos pontos negativos. Através da afetividade se tem um ambiente de harmonia onde haverá prazer na construção do conhecimento e confiança na busca de resultados. (MUSSI, 2014)
Mostra-se ainda a valorização dos pontos positivos, dos acertos da criança como uma importante ferramenta que além de melhorar a autoconfiança ainda é capaz de, ao tirar o foco dos erros, fazer com que eles sejam menos frequentes.
Assim, Mussi (2014) destaca que o trabalho do professor no tocante à afetividade mostra-se como fundamental para a construção e o fortalecimento da consciência de grupo em sala de aula, sendo tal consciência capaz de melhorar os resultados obtidos no processo ensino/aprendizagem.
Portanto, faz-se necessário compreender o funcionamento da mente da criança, como ela organiza suas ideias e com recebe uma ideia nova para, em um processo sinergético, o professor possa lançar mão das prática e também dos materiais didáticos mais efetivos para cada caso.
Nesse sentido as novas tecnologias oferecem diversos meios que, juntamente com os materiais didáticos e brincadeiras mais convencionais podem montar um importante arsenal para ser utilizado em sala de aula.
Ferreiro (2001) corrobora destacando que a linguagem pela qual se comunicam aluno/professor também é integrada pelos saberes e experiencias que a criança traz de casa, assim, a percepção desses saberes por parte do docente mostra-se de grande valia no processo educativo. Sem tal conhecimento, fica difícil para o professor planejar sua aulas e definir as práticas a serem empregadas.
Vasconcellos (2000, p. 35) define que:
Planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de acordo com o previsto; é buscar fazer algo incrível, essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal. (VASCONCELLOS, 2000)
Direciona-se, portanto, o foco do professor na elaboração de um bom planejamento, condizente com a realidade vivenciada por seus alunos e amparado por práticas pedagógicas capazes de atingir estes alunos. Só assim será possível encontrar maior exito no processo de alfabetização e letramento.
Conclusão
Por meio da presente pesquisa evidenciou-se a problemática acerca do processo de alfabetização e letramento. Sendo possível destacar a importância de se alfabetizar letrando para que não se construam apenas decodificadores de símbolos e sim leitores capazes de compreenderem o que foi lido.
Neste sentido o professor mostrou-se como o personagem mais importante do processo, cabendo a ele buscar o entendimento das vivências de seu aluno para, de posse deste conhecimento, planejar suas aulas de forma eficaz e selecionar o material didática de forma assertiva para a obtenção de uma bom resultado.
A afetividade em sala de aula para a construção de uma boa relação aluno/professor também foi destacada como um importante ponto na construção de um ambiente mais propício à aprendizagem.
REFERÊNCIAS
Brasil, Constituição Federal. Brasília. 1988. Acesso fev. 2020.
BRUCE, C. S. Seven faces of information literacy. Adelaide: Aslib, 1997
BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática/Nadia A. Bossa. – 2. ed - Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 2000.
FERREIRO, E. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2001.
JOSÉ, E. da A.& COELHO, M. T. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Editora Ática,
1999.
MUSSI, Luzinete da Silva. Sensibilização e Afetividade no Processo Ensinop-aprendisagem. ISCI Revista Científica. V.1, N. 1, 2014. Disponível em: http://isciweb.com.br/revista/13-numero-01-2014/16-sensibilizacao-e-afetividade-no-processo-ensino-aprendizagem. Acesso fev. 2020.
SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de Aprendizagem: a psicopedagogia na relação sujeito,
família e escola. Wak editora. Rio de Janeiro, 2009.
SOARES, M. Letrar é mais que alfabetizar. Jornal do Brasil, 26 nov. 2000. Disponível em: http://intervox.nce.ufrj.br/%7Eedpaes/magda.htm. Acesso fev. 2020.
VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São Paulo, Libertad, 2000.